Capítulo 45

Ainda que tivesse se oferecido para arrumar os pratos na mesa de almoço, Rachel foi ignorada pela mãe que sequer a disse "boa tarde".

— Tem certeza, princesa? — Rickard a pergunta segurando a mão com força.

Concordando rapidamente, ela foi se sentar na mesa, uma vez que sua mãe pediu que todos fossem lá comer e ciente que não era bem vinda, fez questão de sentar-se afastada do resto de sua família.

O que não passou despercebido por ninguém presente. Assim como o fato dela não ter tocado na comida.

Resultado do estômago sensível do porre de horas atrás. Que toda a cidade já falava a respeito.

— Oremos a Deus pela tarde abençoada que estávamos tendo, a gravidez da varoa e pela oportunidade de redenção dos irmãos. — alfinetando aos dois o pai de Richard o fez fechar a cara desgostoso.

Por puro deboche Rachel respondeu com "glória" em voz muito alta atraindo a atenção de todos.

Sua cabeça doía, mas irritá-los era a única função que veio desempenhar ali. Sendo assim, o melhor era que começasse de uma vez.

— Vamos agradecer também ao Senhor pela oportunidade que ele nos dá todos os dias de melhorarmos e sermos pessoas melhores  mesmo que já estejamos condenados ao inferno, não é pai?

Ela devolve tomando a frente da fala, passando por cima da prece do pastor. Um pastor que era o animal que aquele fariseu dentro de casa, não merecia respeito algum.

— Repreende Senhor, esse espírito de contenda! — alguém pedindo a faz sorrir.

— Repreende também Senhor, a mulher que julga o próximo, mas se esquece que fez de tudo para roubar o amigo da melhor amiga! — Rachel rebateu a voz da senhora Madeline, que já conhecia de anos a fofoca dela na igreja.

Ia expor todos que tentassem bancar os santos sim.

Não era um baú nem nada. E se achavam que iam ficar fazendo ela e seu namorado de tapete estavam enganados.

Vendo que a língua da moça estava mais afiada que as facas da prataria da dona de casa, organizadora e fornecedora do evento, as orações continuaram os ignorando, o que to tornou os minutos tediosos, a levando a revirar os olhos várias vezes.

— Se não está confortável, pode voltar ao antro de pecado onde esteve, irmã Grayson. — o pai de seu namorado comentando rude a faz rir.

— Voltar? Não! Sinto-me em casa, irmão! Estou sentada a mesa de adúlteros, pedófilos, alcolatras e até mesmo um prostituta barata que dá seus filhos como moeda de troca para ter algum bem a mais..

— Já chega! — seu pai grita do outro lado da mesa impaciente.

Com o silêncio sepulcral que se fez a mesa Rachel conseguiu respirar fundo antes dele dizer:

— Se acha que vou tolerar suas mentiras...

— A única mentira é a que vocês vivem! Fazendo-se se bons, imaculados, irrepreensíveis quando.a verdade são tão falhos quanto eu! — acusando a todos os olha um por um, causando um desconforto enorme.

— Mais uma palavra e você estará proibida de de entrar aqui! Minha casa minhas regras! Diabo nenhum entra! — o monstro que a criou avisa a deixando furiosa.

Mentirosa, ela?

Havia ficado dias, semanas e meses presa a uma cama, tendo somente Richard, Eliiot e John para a cudiar e dizer palavras de conforto.

Mesmo estando cientes do que houve, nenhum dos dois nem mesmo a mandou um e-mail, mensagem ou telefonema!

Sequer a visitaram.

— Você como minha mãe deveria tentar me entender e me proteger ao invés de me jogar para seu marido doente! — Rae acusou por fim a sua mãe que a olha furiosa.

— Eu te fiz um favor! O imbecil do seu pai de sangue ia jogá-la fora! Até mesmo a deixou no meio fio e saiu de vista! Eu a escutei chorar, peguei no colo e a trouxe comigo! Tem ideia de quantas pessoas fariam isso? — sua mãe quebra o silêncio a pegando de surpresa.

— Como assim? — resmungando descrente recebe um olhar igualmente chocado de Richard.

Aquilo era uma confissão de que não era parte da família ?

Porque se fosse adotada ficaria muito mais contente que se sentia desde a noite anterior. Não compartilhar laço sanguíneo com nenhum deles era um grande alívio para a mulher.

Maior até que descobrir que nunca esteve grávida.

— Quando todas as pessoas apenas passavam sem dizer nada eu a trouxe comigo para criar junto do meu filho! Você deveria ser grata a nós! — sua mãe gritando na frente de todos recebe um sinal negativo de seu irmão.

— Está dizendo que RaeRae não é minha irmã de sangue? — o homem perguntou curioso a olhando de cima a baixo.

— Sim! E ao invés de ser feliz por aceitá-la mesmo sem nenhuma herança sanguínea, vem na minha casa atacar meu marido! Francamente garota... — esbraveja a dona da casa a fazendo se colocar de pé.

— É por isso que você não se importa com o fato de seu marido ter tentado me estuprar, não é? Preferia que fosse a garota de rua que você acolheu a ser seu filho de sangue, o brinquedo nas mãos desse animal? — Rachel Grayson acusa a mulher que não nega, mas também não concorda, como se fosse necessário algo além do seu silêncio para legitimizar o que a mulher pensava.

Sentindo sua raiva alcançar um ponto inimaginável, Rachel, só relaxou ao sentir Richard levar uma mão ao ombro dela e sussurrar:

— Vamos pra casa, princesa.

— Perdão por estragar seu chá de bebê, mas... É a última vez que venho. — Rachel contou a mãe da criança que assentiu e abaixou a cabeça.

Ciente que a confusão já estava formada.

Embora tivesse ficado de pé e virado de costas para mesa, rachei acabou voltando-se para todos na mesa ao escutar sua mãe, não biológica, adotiva dizer:

— Criei como se fosse minha filha para que meu enfeitiçasse meu marido.! Você tentou roubá-lo de mim! Isso sim é um absurdo! Agradeço a Deus que te levou pra longe! Graças a ele meu casamento vai muito bem!

— A senhora pode enfiar a língua no cu! Nem pensa em colocar a culpa na minha mulher pela doença desse lixo aí! — Richard Roth grita já fazendo menção de aproximar-se da mãe dela.

Embora soubesse que Dick não suportava a ideia de agredir uma mulher, Rachel preferiu não testar o auto controle dele.

Achando muito engraçado o "minha mulher" na frase, ela optou por segurá-lo pela mão dizendo em alto e bom som:

— Eu era uma criança! Se ele tentou me estuprar o único culpado foi ele! E não vou continuar no mesmo ambiente que esse pedófilo nojento!

— Se vocês fossem pelo menos um terço do cristão que dizem ser, fariam o mesmo! Um animal desses merece acabar sozinho! — o Roth repreendendo os demais, acabou por se virar para saída furioso.

Ao menos entendia o porquê do tratamento tão negligente e recriminatorio da mãe, em contrapartida do tratamento tão cheio de mimos e sufocante do pai.

— Você não fale de mim! Se está desviado dos caminhos o problema é seu, mas não venha me afrontar na minha casa com esse projeto de Jezabel! Fora os dois! — levantando impaciente o dono da casa recebeu resmungo de concordância dos convidados.

— Peça desculpas ao irmão Grayson, John. Se não o fizer saiba que não o considerarei mais como meu filho. Estará morto para mim! — o pastor Richard exigiu do seu filho que riu por puro deboche.

— E o quê? Vai me dar uma surra também e jogar água com sal nos meus ferimentos como fazia? — Dick devolve recebendo reações chocadas de todos.

Sim, porque ninguém até então sabia das agressões que o filho mais velho do pastor sofria entre quatro paredes. Quando ninguém estava olhando.

— Você é outro que merece arder inferno, seu bêbado atribulado dos infernos! — Rachel gritando com o homem o deixa em choque.

Para forçá-la a continuar a ir para saída, Richard Roth a segura com força e guia para fora, sendo afastado pela mulher que se afastou dele voltando-se para os convidados e os donos da casa.

— Se me derem licença tenho mais o que fazer além de ficar aqui bancando a santa! Espero que vocês descubram enquanto há tempo que transar vale mais que ficar julgando os outros!

Rachel fala chocando os presentes que começaram a conversarem entre si horrorizados. Não ia sair sem deixar claro que não havia a feito mal algum.

Mesmo que sua descoberta naquele dia tivesse a chocado por completo.

Deixaria para chorar quando tivesse sozinha e bem longe de todos eles.

— Passar bem, de preferência todos vocês, seus hipócritas, no inferno! — Rachel Grayson despediu-se antes de sair com Richard Roth a abraçando.

— Se quiser posso voltar lá e atear fogo na casa. — ele comenta travesso a fazendo rir.

Só mesmo seu namorado para mudar o péssimo humor dela naquele momento.

Ignorando seu coração que doía com a descoberta de ter sido adotada, Rachel só se deu conta que Richard a chamava quando ele parou o carro para segurar sua mão e olhá-la nos olhos.

— Sabe o que me ocorreu? — Dick a perguntando pensativo faz Rachel focar sua atenção nele.

— Seu pai parece um esqueleto? — sugeriu ao homem que ri.

O vício em bebidas estava matando aquele pastor do diabo.

— Também, princesa. Só que o que sua mãe disse. Que você chorava e ela a trouxe para casa...

Tentando entender o que estava sendo processado na cabeça de Richard o viu discar um número com uma expressão séria no rosto:

— O que mesmo disseram que houve com a sua filha? — foi direto ao assunto como de costume.

O repreendendo pela falta de cuidado, Rae o deu um tapa no braço, que não doeu em nada no homem, que sorriu e a mostrou sua língua.

— Seu insensível. — xingando ele RaeRae cruza seus braços e semicerra seus olhos.

Foi então que algo muito importante a ocorreu.

Tinha a mesma idade que a filha desaparecida de Sonya. E até mesmo havia sido abandonada.

— Ele a deixou na rua. E alguém a pegou. Não sabem quem foi, mas foi um dia antes do dia das bruxas. — a senhora Grant comentou em tom melancólico. — Não há registros de adoções, tampouco entrada no orfanato da cidade... — ela conta frustrada a Rachel que ficou de boca aberta com a conexão rápida que Dick havia feito.

Como ele conseguiu pensar em uma possibilidade daquelas? Seria uma possibilidade válida?

— Mulher, digo, senhora Grant, se importa de tirar uma dúvida minha e da Rae? — perguntando cauteloso Richard levou Sonya a rir.

— Claro, qual a pergunta? — a mulher respondeu por fim antes de Elliot colocar uma música infantil para tocar em algum lugar.

Ele não ia dizer que ela poderia ser a filha de Sonya.

Não podia. Não suportava a disse dela ser enganada de alguma forma por eles. Olhando assustada para o namorado, Rachel tenta o calar, mas é impedida por ele que logo disse:

— Acho que sem querer achei sua filha, mas assim, são só suposições. Se quiser podemos fazer colher sua saliva amanhã e o dela quando ela tiver disponível...

— Ela está aí? — a voz animada da mulher fez Rachel o olhar preocupada.

Não queria dar falsas esperanças à ela. Tampouco criar falsas esperanças.

— Talvez.. Só dá pra ter certeza com o exame. Posso levar a candidata para fornecer a amostra dela agora e você pode ir também. Rachel está aqui pesquisando o endereço do laboratório da cidade...

— Já pesquisei e estou te mandando, palmito. Vou levar o Ell comigo. Lá a Rae toma conta dele? — interrompeu o homem agitada como sempre.

Era bom ver sua chefe do jeito que costumava ser. Aquela melancolia desde que descobriu do que houve a sua neném era muito triste de ver.

E mesmo que quisesse ir para casa e chorar pela sua mãe ter se mostrado um monstro, a Grayson focou na ideia de perder uma falsa e ganhar uma ótima mulher para chamar de mãe.  Pois ao que parecia Deus escrevia muito certo e pals linhas mais tortas possíveis.

Por estarem mais perto, aliado ao fato da Rachel estar em jejum forçado, os fornece saliva para que fosse feito os exames, indo aguardar Elliot sentada no carro de Richard.

Cansada, a mulher acabou dormindo e só acordou no hotel com Richard e El brincando de Uno com Sonya, o que só terminou bem tarde e os fez acordar já próximo do horário de voltar para a cidade.

— Gente! O exame! Precisamos buscar o exame... — ela lembra enquanto ia saindo do quarto, com Elliot no seu colo e uma bolsa de mão na outra.

— Calma princesa. Dá pra passar lá antes de embarcar...

— Tem certeza? — ela o perguntando ansiosa recebe um aceno rápido do namorado.

— Impressão minha ou você está mais ansiosa que eu Rae? — Sonya observou a fazendo olhá-la assustada.

Optando pelo silêncio para não ficar dando mais bandeira ainda pra o seu deslize.

Com um trânsito tranquilo, chegaram todos ao lugar, com a Rachel Grayson agradecendo aos céus por exames de paternidade serem bem rápidos se comparados aos demais.

— Aqui está o resultado, senhoras... — Richard mostra o dois envelopes que Rachel viu em silêncio Sonya pegar e olhar confusa.

De início procurando a tal moça que forneceu a amostra e depois sem entender o que diziam no papel.

— Não entendi nada. Pode me explicar? — perguntando ao homem o faz rir e olhá-la com seu olhar típico de quem ia fazer algo que Rae desaprovaria.

— Dick... — ela começou a ameaçar o namorado que abriu o envelope destinado dela e leu, fazendo uma cara de confuso.

— Bem. Isso é engraçado. — Richard Roth replica coçando a nuca desconfortável.

— Sim ou não? — ela e Sonya disseram juntas olhando irritada para o rapaz.

— Então. Infelizmente, sinto em lhe dizer que... — o Roth resmungou baixo ainda com os olhos no papel.

— Não é? Foi um engano? É isso? — a mulher com lágrimas nos olhos fez Rachel ir abraçá-la, juntamente de Elliot que nada entendia, mas tentava confortar a adulta.

Sabia que era impossível algo como aquilo acontecer. Ter uma mãe tão legal quanto Sonya era algo que não podia ter.

Richard estava assistindo séries demais.

— Aqui está dizendo que Rachel é mesmo sua filha. O que explica a mão pesada das duas e a cabeça dura, como herança de família, creio eu... Só não explica o porquê dela ser esse Pinscher nervoso, mas... Fé que a NASA vai descobrir o porquê. — seu namorado conta para a chefe deles que ficou em choque com a notícia, ao contrário dela, que só soube ficar com raiva.

Tinha que ser o atribulado dos infernos para fazer uma brincadeira tão idiota com a cara das duas num momento tão sério.

— Eu vou te fazer engolir o papel, seu filhote de filisteu ordinário! — fazendo menção de ir pra cima dele é contida por Sonya que a abraçou chorosa e desarmou por completo.

Em só um dia havia se livrado de uma família tóxica e havia se visto fazendo parte da família de Sonya Grant, que até então era uma grande amiga que RaeRae estava tentando a todo custo ajudar a reencontrar a filha perdida.

Que no caso era ninguém menos que ela.

Definitivamente o mundo dava voltas. E ia esperar em silêncio pela volta que daria ao seu pai adotivo tudo que ele merecia com juros e correções monetárias.

Notas Finais:
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