Capítulo 4 - Richard Roth

“Ninguém retorna tão ferozmente
Na sua ira
Nenhuma das minhas dores ou feridas
Podem transparecer. ”
Behind Blue Eyes — Limp Bizkit

Embora estivesse brigado com Rachel, ou melhor, ela havia brigado com ele na noite anterior, Richard Roth acabou se sentindo mais aliviado do que deveria com a quebra daquele laço.

— É o melhor a ser feito — pensando alto continua a mexer em seu celular enquanto a sua conhecida dirigia.

Sim, tinha quer ser o melhor, porque Richard não conseguia mais olhar pra Rae, sempre tão doce, inocente e adorável, ao contrário dele. Que além de ser um stripper, o tirando de vez dos caminhos que seu pai o doutrinou desde cedo, começou a fazer os “trabalhos extras” sob a supervisão de Rita, a mulher que dirigia o carro alheia aos conflitos do seu passageiro.

— Você deveria me agradecer pela oportunidade que estou te dando, lindinho... Seu rosto bonito vai nos levar longe! — comemorando animada, a stripper continua a manobrar o carro.

A loira, que o apresentou a dona da boate, além de convencer Sonya a dar a ele uma chance, usando o fato de Roth ter um rosto agradável e um charme natural com mulheres. Também havia convencido o rapaz a sair com clientes da boate fora do expediente para arrumar algum dinheiro a mais.

O que o rapaz aceitou pela necessidade de levantar dinheiro para sua universidade. Pois, seu pai infeliz estava ocupado demais colocando dinheiro no seu bolso, gastando em bebidas, para que pudesse ajudar seu filho com a faculdade. Deixando Richard, um jovem inexperiente na cidade grande sem muitas opções de como levantar dinheiro.

O que o levou para cama de várias mulheres aleatórias que não o dava prazer nenhum, mas que embora se sentisse um lixo pelo que estava fazendo, confortava-se com a ideia de estar ali pelo seu futuro, não por coisas fúteis.

— Sério, detesto fazer isso. Aquela mulher era simplesmente mais velha que a Sonya. Não deveria ficar gastando a aposentadoria com essas coisas — Roth reclamou com a mulher que estacionou o carro dela entrada do prédio.

— Deixe de ser chorão. Velha ou não, ela deu um bom dinheiro e a gorda gorgeta que o pagou no final valeu à pena, não valeu? — Rita Black o repreendeu ajeitando sua maquiagem pelo espelho retrovisor do carro.

Uma hora daquelas Rachel deveria estar dormindo, no milésimo sono como garotas boazinhas como ela mereciam ter. E à Richard restava ficar andando pela noite, indo de uma cama para outra como o monte de lixo que era.

A impedindo de beijá-lo, o homem apenas estende sua mão para a mulher que ri e o entrega seu montante pelo trabalho feito.

Irritado consigo mesmo pela situação degradante que vivia, Richard tira o seu cinto de segurança, sai do carro e bate a porta com força ainda mal consigo mesmo. O que o lembrava que beber era a única solução plausível para melhorar seu ânimo. Entretanto, se o fizesse estaria fadado a ser um fracassado como seu pai era. Um alcolatra inútil que não era capaz de fazer nada direito graças ao seu vício e por ser tão frustrado, acabava descontando seu ódio de si mesmo nos outros, para tentar sentir-se menos merda do que era.

Para um garoto criado sob o regime de sexo após o casamento, de forma que somente deveria ser feito para reprodução e somente sob o mais sagrado voto do matrimônio, transar com mulheres por dinheiro era a última coisa que gostaria de fazer. Mas lá estava ele, acabando de voltar de um “serviço extra” com seu coração mais pesado que uma rocha e se sentindo tão sujo quanto poderia estar.

E não importava quantos banhos tomasse, nada tiraria dele aquela sensação ruim de estar fazendo algo que não o dava prazer algum, só nojo e desgosto consigo.

— Qualquer coisa eu te ligo, Dick. Tenha uma ótima noite! — Rita se despede do universitário que fingia não a ouvir.

Desde que começou na boate, por conta da sua criação fechada e religiosa, Richard não foi bem recepcionado por conta dos seus preconceitos, uma vez que ele julgava a todo baseado nos ensinamentos cristãos de maneira quase que automática.

De forma que todos começaram a se referir a ele como “Dick”, achando graça na raiva do rapaz pelo apelido. Descontentamento que não deu em nada, entretanto, o fez aprender a lidar com todos e mudar bastante com os conselhos de sua patroa. E aos poucos o fez desistir de ser chamado pelo seu nome, preferindo o apelido infame, uma vez que era bem condizente com como o Roth se sentia.

Na verdade, qualquer coisa soava melhor que o seu nome, que de maheira bem estúpida era o mesmo que o de seu pai, escolhido por sua mãe para perpetuar o maldito nome dele, numa tradição antiga dos Roth.

— Só mais um pouco... Você consegue. Vai dar tudo certo. Pelo diploma. Isso é pelo seu diploma. Não surta. Você consegue — Richard Roth insiste consigo mesmo fechando com mais força seu casaco.

Tao logo que entrou no prédio, o universitário foi chamado pelo zelador que o entregou o que Richard estava esperando a alguns dias, tirando um sorriso do mesmo.

— Valeu, cara. — agradece ao senhor de cabelos grisalhos que sorri e faz um sinal positivo.

Se Rachel não ficasse feliz com aquele presente, ao menos ele não iria se sentir tão mal como se sentia por tê-la magoado faltando no dia do aniversário de Rae, coincidentemente mesmo dia que Rita marcou como sendo um dos trabalhos extras mais caros de Richard.

— Algum dia vou mandar ela enfiar esses trabalhos onde bem entender. Ah, se vou. — fantasia sorrindo consigo mesmo, antes de segurar mais forte as alças da embalagem pequena.

Parando de subir as escadas, ele abre a sacola pequena, confere a caixinha de veludo preto e volta a subir apressado as escadas, louco para que ela reagisse bem àquele presente meio que pedido de desculpas indireto. Levando Richard a checar seu relógio e constatar que eram quase duas da manhã, logo não encontraria ninguém no apartamento acordado.

Isso é, até que pegou John Logan tentando abrir a porta do apartamento com as chaves do cadeado da sua bicicleta, o que era patético.

— Boa noite? — John fala com Richard que, abre a porta agitado o ignora, indo direto ao quarto de Rachel.

Alheia ao rapaz, Rae dormia debruçada sobre seus livros, o que força seu amigo a tirar um a um papéis, livros e cadernos, organizando todos na mesa de cabeceira do quarto.

— Pinscher teimosa. O que custa priorizar seu sono? — Richard reclamando com sua velha amiga a olha inconformado, entre uma e outra organização dos materiais de estudo dela.

Lá, sobre os exemplares, deixou o colar na própria bolsa de papel reciclado, mas não sem antes escrever “Desculpa, princesa” na sacola branca com um marcador vermelho.

Não era muito, não valia quase nada, mas sendo honesto consigo mesmo, Richard Roth jamais seria capaz de fazer um terço por Rae do que ela o fez por todos os anos desde que se conheciam.

— Você é meu pedacinho de estresse mais fofo sabia disso? — falando com a moça dormindo sorri sem se dar conta disso.

Aquela garota era um anjo na vida dele e todos os dias se odiava por não ser capaz de ser para ela um terço do que Rachel era pra ele. Porque sendo honesto? Jamais seria bom o suficiente para a filha mais nova dos Grayson. E mesmo sendo burro sabia disso.

— Algum dia vou ser bom o suficiente para você — o Roth fala baixo tirando os cachos do rosto sereno da sua amiga. — E quando isso acontecer, vou fazer todo seu esforço comigo, valer a pena, princesa. Juro — sussurrou no ouvido dela que gemeu algo desconexo, fazendo ele sorrir, dando por fim um beijo na bochecha da moça.

Se aquela não era a coisa mais linda e estressante que ele conhecia? Era sim. Se Richard Roth se importava em tê-la o incomodando todos os dias para o resto de sua vida? Claro que não.

Ser incomodado por Rachel Grayson era sinal de que a moça se importava. E naquele silêncio incômodo entre eles quando se viram havia a coisa que Richard mais temia: A indiferença da sua melhor amiga.

Certo, RaeRae era um mero reflexo da criação em retrógrada que havia recebido, assim como ele. Um amontoado de ideais cristãos e puritanos fermentado com palavras da Bíblia, ódio a diferenças e muita inocência para se dar conta que não havia como entender de maneira ampla, tampouco clara e consistente, o certo e o errado. Além de extremamente dócil, submissa, puritana, cega em seus princípios cristãos e incapaz de tomar decisões por conta própria. Ainda sim, dentro dela havia algo que não deixava Richard Roth nunca pensar em tê-la como menos que uma mulher inteligente.

Rachel Grayson não via, mas havia uma fagulha dentro dela, que era seu verdadeiro eu, que uma vez ou outra dava as caras na superfície cristã que tinha.

Seja por meio de olhares, repreensões, ânimo para impor seu ponto de vista, altivez para tomar a frente em situações que havia necessidade de liderança, postura de pessoa íntegra,o correta, coerente em seus ideais e principalmente focada em seus objetivos pessoais. Nesses momentos, pequenos, curtos, subjetivos e imperceptíveis para outros, era possível ver o quão forte era a verdadeira Rachel Grayson.

E ele, como um homem fraco, falho, burro, incapaz de tomar boas decisões e muito pouco inclinado a tomar a frente de seja lá o que fosse, gostava naquilo em sua amiga.

Algum dia desses ela conseguiria trazer a si mesma à tona e mostrar a todos que ia além do que viam. E Richard Roth torcia para que fosse logo, pois, RaeRae já havia perdido muito tempo seguindo os ensinamentos de seus pais.

Decidindo parar de olhá-la como um psicopata faria, Richard se afasta um pouco mais da moça que leva uma das mãos ao rosto dizendo:

— Varão?

— Não queria te acordar. Passei só pra ver se estava bem. John disse que você passou mal ontem — ele mentiu para a amiga logo fazendo uma careta.

Estava tão imerso na vida do pecado que até mesmo mentir para sua melhor amiga e confidente por anos estava fazendo. Quando trair alguém se tornou tão fácil?

Bem, era mais que óbvio que precisava se distanciar ao máximo de Rachel. Ela não poderia ser contaminada por aquilo que Richard vinha se tornando. Ao menos não por influência dele. Se Rae fosse viver de acordo com os novos tempos que fosse por escolha própria, não sendo induzida por seu melhor amigo.

Porque ele jamais se perdoaria se fizesse RaeRae tornar-se alguém como o Roth era apenas por um capricho egoísta e bobo dele.

— Estou ótima. Tomou o chá que deixei pra ti, benção? — ela perguntando baixo continua a cobrir seus olhos sem olhá-lo nenhuma vez sequer.

O chá para curar ressaca foi de fato bem útil. O que significava? Bem, mais uma vez sua super melhor amiga salvando seu dia. Como sempre.

— Tomei sim, princesa. Obrigado... Volta a dormir. Vou tomar um banho e deitar também — começa a tentar falar antes da moça se sentar na cama devagar, sem tirar sua mão dos seus olhos.

— Glória. Só tenta não ser igual a ele, varão. Os erros dos teus pais não te definem. Sabe disso, não sabe? — Rachel Grayson comentou com o amigo que tenta segurar na mão, sendo impedida por ele.

Estava sujo, ainda que tinha saído de banho tomado da casa da mulher, mas mesmo assim não se sentia bem para ser tocado por ninguém. Richard Roth só queria tomar um banho e se esfregar até arrancar toda sua pele. Levando com ela a sujeira do que havia feito antes.

Rachel era simplesmente boa demais pra ser manchada com aquele monte de merda que ele vinha fazendo pelas costas dela.

— Vamos só esquecer o lance de amigos e sermos bons colegas de apartamento, que tal?

— Não sou o tipo de cara que se contenta com pouco, RaeRae… — ele diz se sentando na cama para olhá-la melhor.

Aquela pele negra exposta, ficava perfeitamente harmoniosa com os cabelos pretos e bem cacheados dela, pedindo por algo que desse destaque ao melhor lugar para se olhar de Rachel à meia luz. E não eram os seios grandes, mas de quaisquer forma os dela eram perfeitos de tamanho médio.  Já que a mulher tinha as curvas do corpo dela, todas no seu devido lugar, visto que, todo corpo de sua velha conhecida tinha era simplesmente lindo demais para não serem notadas com aquela camisa social branca que vestia. O fazendo focar como sempre no pescoço dela, porque de uma maneira incomum atraía a atenção do rapaz desde novo por conta de uma marca de nascença que ela possuía lá.

Sem pensar muito no que fazia, o Roth pegou o presente dela, mostrou a embalagem sob a luz, abriu a caixa, largou em um canto qualquer e exibiu o colar.

Era uma joia folheada a ouro que possuía bolinhas e no pingente uma cruz, que logo que vê Rachel olha perplexa para o item, sorrindo constrangida dizendo:

— Pra mim?

— Sim! Pra você! Posso colocar? — pergunta para a amiga que concorda animada.

Engolindo a seco sua vontade de se aproximar mais, Richard Roth põe o colar no pescoço dela, ficando com os lábios de Rachel a milímetros do dele.

Se poderia beijá-la ali? Sim, mas tinha consciência que ela merecia bem mais que uma noite pra satisfazer a vontade de Richard.

Rachel Grayson merecia um homem que cuidasse, fosse presente e acima de tudo fiel a ela. Coisa que Roth jamais seria, dormindo com outras mulheres por aí. O deixando sem muitas opções senão apenas a admirar a distância e de alguma maneira pôr fim ao seu amor platônico pela sua melhor amiga.

— Amei, varão, mas… Sobre nós — ela tentando dizer é logo interrompida pelo rapaz que se afastou depressa.

— Bem, melhores amigos seremos até a morte. Eu e você contra o mundo, lembra? Nem sempre estarei do seu lado, mas garanto que se tiver que bater em alguém só precisa me ligar — Richard contou a amiga a olhando mais minucioso uma última vez.

Se ela soubesse o quanto era linda, jámais se sentiria inferior a mulher alguma, como vivia sendo ao ver os filmes e séries com mulheres brancas e magras demais.

— Misericórdia, Richard. Vai dormir, vai —  RaeRae expulsa ao rapaz que apenas gargalha e sai do cômodo.

Algum dia deixaria Rachel Grayson saber sobre sua paixonite de infância, mas esse dia não seria hoje, nem depois. Não enquanto ela estivesse presa à sua vida em bolha de cidade pequena.

N

otas Finais

Hello! Então! Felizes pela atualização???  Deixe seu voto e se possível seu feedback.
Outra coisa! A partir de hoje, estarei dando um trecho antecipado a quem estiver comentando e deixando seu voto aqui.!! Quer saber como funciona??
Simples! Só deixar um comentário, ou mais se quiser, é mandarei um trecho do novo capítulo no privado.
Ah! E pra quem conseguir convencer aquela amiguinha gente finíssima a vir aqui dar uma olhada na história, votando pelo menos na dedicatória, vou liberar um capítulo completo antecipado!
E aí? Vamos interagir?? Rsrs
**Ninguém é obrigado a fazer isso, mas se quiser participar só fazer que eu irei recompensar a todos que participarem dessa interação aqui. Kkk

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