Capítulo 3 - John Logan
"Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar,
Que tudo era pra sempre
sem saber que o pra sempre
sempre acaba."
Por Enquanto — Cássia Eller
Dez Meses Após A chegada em New Jersey
Faziam alguns meses desde que Richard havia começado com seu trabalho numa boate.
O antes religioso extremista havia se tornado um homem muito menos regrado e bem mais divertido, o que desapontou bastante Rachel para felicidade de John Logan, o terceiro ocupante do apartamento.
Pois em sua concepção, um crente chato já tinha sido desviado, só faltava a outra que ainda se mantinha irredutível, do ponto de vista de Logan.
Ainda que naquele dia em especial a moça tivesse ficado em êxtase com o fato de Richard ter aceitado ir à igreja com ela, pois, fazia aniversário e queria comemorar a data naquele lugar tedioso, John apenas observou em silêncio enquanto ela se arrumava na saída do trabalho para que Richard fosse a buscar.
Algo o dizia que o garoto não lembrava daquele compromisso, pois, o escutou no telefone combinando de sair com uma mulher chamada “Rita” depois das aulas, o que tinha certeza que não era para ir junto dele e sua amiga para a igreja.
— Vai ficar aí mesmo? — John pergunta baixo a moça que concordou depressa com um sorriso no rosto.
— Richard disse que ia me buscar. Pode ir pra casa — Rachel Grayson respondendo honesta o faz dar de ombros e sair.
Ficar lá meia hora plantada seria bom pra ela. Assim pararia com a ideia imbecil de converter a John e seu melhor amigo para a religião idiota que a Grayson tanto adorava.
Estava indo bem, quando na metade do caminho para saída do campus quando raios começaram a iluminar o céu escuro e ele logo se preocupou.
O jogo de beisebol deveria a uma hora daquelas ter sido interrompido e a mulher estaria sozinha sendo cercada por um bando de adolescentes bêbados, o que por si só era uma receita para o desastre.
— Isso não é da sua conta, John Logan. Ela que se vire com o Deus imaginário dela — repreendeu a si mesmo voltando a caminhar.
E se um dos caras pensassem que a Grayson tinha que abrir a lanchonete para que eles entrassem? Poderia ser ruim. E querendo ou não, ela por ser uma mulher não podia se defender sozinha.
Uma multidão bêbada e irritada pelo jogo interrompido poderia render muitos problemas a uma garota que não tinha ideia dos quão maus todos poderiam ser, sozinha a uma hora no campus com a chave de uma lanchonete.
Richard deveria ao menos te ligado para avisá-la que não iria. O que custava parar os amassos com a namorada nova e ligar para sua melhor amiga?
Já na porta do campus, as pequenas gotas de chuva começaram a cair fazendo o parar e olhar para trás em busca da moça que não vinha. Não seria ela tão inocente a ponto de ficar lá esperando por seu amigo, seria?
Incomodado, Logan saiu correndo pelo campus, voltando para a lanchonete onde Rachel tentava fugir de dois garotos que a provocavam por conta sua roupa visivelmente incomum.
— Mas diz aí, você é mórmon não é? — um dos caras pergunta a ela se escorando na moça que continuou de cabeça baixa esperando alguma coisa.
— Eu acho que ela é católica! Tipo, uma noviça! Se bem que dessa cor aí… Talvez uma muçulmana, né? — outro rapaz começou a interrogá-la visivelmente bêbado.
— Você está com alguma bomba aí na bolsa? — o que se escorava nela tentou tirar a bolsa de Rachel o que fez Logan gritar para chamar a atenção dos dois.
— Posso saber o que vocês querem com a minha namorada? — John os repreendeu a distância fazendo os garotos saírem apressados.
Chegando até a moça, logo a chuva que ameaçava cair começou e para sua surpresa a Grayson não queria ir, uma vez que seu amigo havia dito que a encontraria por lá. O que fez ele duvidar seriamente da suposta inteligência da mulher a sua frente tamanha a inocência dela em não entender que havia sido deixada de lado.
— Rachel. Pelo amor de Deus. Qual parte do “ele não vem”, você não entendeu? — ele a repreende como se fosse sua irmã, Brianne.
Assim como a pestinha, quando a Grayson cismava com algo era muito difícil tirar daquela cabeça dura dela.
Acostumado a intervir nas brigas da garotinha e seu pai, John respirou fundo e parou ao lado dela, que pareceu se incomodar.
— Pode ir, varão — Rachel tentou o mandar embora em vão.
— Se vai ficar aí nessa chuva ficaremos os dois! — soou mais decidido do que se sentia, a fazendo começar a caminhar para a saída do campus.
Finalmente a coisa crente decidiu ter senso, pensara aliviado. A acompanhando até o ponto, voltou para casa com ela que, embora molhada, ainda tentou ligar para seu amigo que não atendia.
— Uma hora dessas ele deve estar fudendo até não poder mais e ela aqui pegando pneumonia — reclamou com moça que caiu no chão por nada. — Grayson? — correu até a moça que tentou engatinhar até sua bolsa na entrada.
Mandando ela ficar parada, foi buscar a bolsa que Rachel virou no chão e mexeu nas coisas, as espalhando, até que pegou o que parecia uma cartela quase vazia de analgésicos.
— Rachel? Hey? Quer que eu ligue para ambulância? Grayson? — chamou a mulher que o olhou confusa e negou com a cabeça.
— Dor de cabeça. Me deixa aqui um pouco... — mentiu para o rapaz cobrindo seu rosto com o pano que usava para cobrir o sofá.
Vendo que ela deitou no chão e ficou colocando louvor alto, John logo concluiu que a moça estava ótima, com isso a deixou lá, esperando que ela fosse trocar de roupa e ir dormir na sua cama.
Mas para sua surpresa, sábado de manhã, deu de cara com Rachel Grayson deitada no mesmo lugar, o que levou o rapaz a correr para socorrê-la, com medo que a mulher tivesse morrido e ele fosse preso por aquilo.
— Rachel! Olha só sua roupa! Tira! Agora! — ordenou a ela que começou a se tremer e chorar como uma criança.
Vendo que ela no mínimo estava num estado de semiconsciência, provavelmente relembrando alguma coisa que aconteceu há muito tempo atrás, John a guiou até o banheiro e deixou que ela ficasse por lá até que saiu, meio-dia de banho tomado e uma cara de quem havia chorado muito.
O que porra ela havia tomado na noite anterior? E que lembrança faria uma garota chorar daquele jeito?
— Tá tudo bem, Grayson? — chamou-a recebendo um olhar vazio em resposta.
— Desculpa por ontem. É que eu não gosto quando tocam em mim — confessa constrangida o que faz Logan a olhar um tanto curioso.
Haveria alguma hipótese da filhinha de papai ter sofrido um abuso naquele tempo que levou para chegar até ela?
Aquela reação da Grayson ao ser tocada era a mesma que sua tia teve depois que foi vítima de um estupro. Será que ele havia chego tarde demais?
Com medo de saber mais do que deveria uma pessoa com quem não queria nenhum vínculo, John se limitou a analisar a postura concluindo que havia alguma coisa de errado com a sua colega de apartamento.
— Se quiser conheço um ótimo psicólogo — ele tenta sugerir para a moça que o olhou surpresa.
— Não! Não há necessidade. Com Deus eu não preciso dessas coisas, mas obrigada pela gentileza — Rachel Grayson sorrindo artificial o faz avaliá-la de maneira minuciosa.
Aquela mulher era louca de pensa que Deus a ajudaria a se livrar de um trauma, mas não seria ele a dizê-la aquilo. Ela e Richard que se entendessem.
— Trouxe um antigripal pra você — John avisa deslizando o medicamento do lado dele até onde ela o alcançasse.
Constrangida, Rachel pegou os comprimidos e tomou perguntando de Richard que não havia aparecido ainda. Muito ocupado, fudendo alguma mulher ao invés de acalmar sua amiga.
— Obrigada, John — escutou a moça dizer em tom choroso.
O Roth precisava pelo menos mandar um SMS para avisar a ela que estava vivo. A pobre infeliz estava a beira de uma crise de choro ele não sabia lidar com crianças e tampouco com mulheres chorando.
— Quer assistir alguma coisa? — muda o foco da garota que pareceu se animar.
— Posso mesmo? — perguntou a ele que concordou depressa.
Tudo para que a crente ficasse bem longe dele e sem chorar, pensou em resposta a pergunta, mas a guardou para si.
Durante o dia ela cozinhou, limpou, arrumou e fez tudo o que sempre fazia, contudo Logan não conseguia deixar de se irritar com a frequência de vezes que a viu conferir o tijolo que ela chamava de celular.
— Ele está bem. Deve estar com alguma namorada, relaxa, Grayson — John tenta a convencer fazendo a moça olhá-lo perdida.
— Ok…
Um silêncio incômodo se seguiu pelo resto do dia até que durante a noite, John acordou com os gritos de Rachel pedindo que alguém parasse com alguma coisa.
O que só serviu para confirmar que havia de fato acontecido alguma coisa.
Preocupado com a ideia dela se machucar, como sua tia fazia por vezes sem se dar conta, tudo graças aos seus pesadelos, levou seu colchão para o corredor e dormiu por lá para se certificar que nada aconteceria.
E, agora domingo, acordou com o cheiro do café da manhã e tratou de logo ir comer, não fazendo questão de perguntar sobre nada do que aconteceu na noite anterior, pois como já havia se dito antes, não era nada que fizesse a diferença na vida dele.
— Desculpa por ontem — sussurrando gentil, a Grayson entrega ao rapaz uma panqueca com um coração desenhado com calda de chocolate.
— Não há de quê. Tem certeza que está tudo bem? — voltou a perguntar-lhe mesmo que ciente da resposta mentirosa.
— Sim.
O mesmo sorriso afetado deu o ar de sua graça fazendo com que ele logo fechasse a cara.
Qual era o problema dela em assumir que precisava de tratamento médico? Onde estava seu amigo de infância que não via que aquela garota estava desmoronando? E como Richard não via que estava ajudando a enterrar a moça em seus problemas psicológicos?
Era simplesmente doentio.
Já havia acabado a tarde quando Richard finalmente apareceu, na hora que Rachel ia para igreja.
— Paz do Senhor irmão! Quer ir à igreja comigo? — cumprimentando ao rapaz recebe um olhar irritado dele.
— Não, Rachel. Pode ir.
— Tem certeza? Posso esperar você se arrumar — a Grayson sorriu com gentileza para ele que a olhou notavelmente bêbado.
— Só vai de uma vez! Não aguento mais olhar pra sua cara, Rachel! Quero dizer! Você é sempre a melhor! A mais inteligente, bonita… Estou cansado de tudo isso! — Richard gritando faz ela se encolher um tanto assustada.
Decidindo esperar um pouco para ver se ele não voltava a si, viu Richard rodear a moça que segurou sua bíblia com força.
— Vai fazer o quê? Me exorcizar? — debochou dela que ficou mais assustada ainda.
— Rachel. Pode ir. Quando sair me liga que chamo um táxi para você — John avisa a ela que saiu assustada como se sua vida dependesse daquilo.
Que tipo de babaca aquele crente tava virando para achar que podia falar com alguém daquela forma?
Deixar de ser um crente até vai. Agora deixar de ser alguém educado era um absurdo.
Sem falar nada, John o empurrou no chão e chutou algumas vezes até que Richard vomitou e ele parou o que fazia o olhando sem remorso algum. Seu pai quando bebia virava um bêbado imbecil, logo já estava mais do acostumado a lidar com aquele tipo de coisa.
— Você quer beber? Ok. Quer ficar puto com Deus e o mundo? Tudo bem. Agora descontar na garota que saiu da roça e do conforto dela pra vim aqui ser tua babá é uma babaquice sem tamanho! — repreendeu Richard o dando mais um chute na barriga.
Quem era aquele idiota pra pensa que ia se crescer numa mulher indefesa? Se ele estava perdendo o seu senso, foda-se, agora fazer mal a quem só queria converter ele já era demais.
— Ela é minha e faço o que quiser com ela! — Richard Roth ainda tenta se justificar levando um chute na sua perna estirada no chão.
— Quer sair por aí enchendo a cara e comendo Deus e o mundo!? Vai, só não mexe com a garota que ela tá ajudando aqui!
— Foda-se! Você não tem nada a ver com isso! — Roth reclama com ele tentando se levantar.
— Tem noção que ela ficou lá plantada na chuva te esperando, seu idiota? Não, né? Se não quer saber dela fala de uma vez! Seja homem! Manda ela voltar para casa! — John gritando com Richard o faz olhá-lo de cima a baixo.
— Me erra, Logan! Você nem gosta dela!
— E isso te dá o direito de ser um bosta com a garota por quê? — exigiu saber recebendo um silêncio absurdo em resposta.
Concluindo que ele finalmente havia caído em si, foi pra seu quarto onde esperou até que Rachel o ligasse para chamar um táxi para moça.
— Levanta daí e limpa esse chão! Ela está vindo — avisou ao bêbado caído no chão que se moveu um pouco.
Puta que pariu, que macho embuste o projeto de pastor se tornou. Teria alguma hipótese de salvação para aquele homem?
Observando Richard limpar de maneira péssima o chão, não o deu atenção alguma, até que Rachel chegou, num silêncio que parecia quase sepulcral.
— Ele está dormindo? — ela pergunta a John que a olha por alguns segundos.
— Julgo que sim?
Antes que pudesse falar algo mais, vê Richard sair do seu quarto com cara de poucos amigos e caminhar até eles bem mais sóbrio. Um dos maiores resultados de surras bem dadas.
— Rae… — Richard começa a falar sendo impedido pela mulher que apenas deixou sua bolsa num canto e o olhou com mágoa notável.
— Tudo bem, varão, façamos o seguinte. Daqui a por diante, cada um por si. Não quero te incomodar e não quero ser um peso. Apenas, vamos ser conhecidos. Quando tudo acabar, cada um segue seu rumo. Pode ser?
— Princesa. Não é… — parecendo abalado o Roth faz John olhar para Rachel e para ele assistindo o desenrolar da situação.
Tava ficando interessante. Melhor que muitas novelas mexicanas por aí.
— É melhor assim. Tenho Deus e isso é tudo que me interessa. Segue sua vida que farei o mesmo, Roth. Acabando a faculdade, ou antes, se ficar ruim pra vocês, posso ir pra o campus e sair. Ficar lá até me formar.
Achando aquilo uma burrice sem tamanho, uma vez que Richard conseguiu perder uma ótima aquisição para eles, John se viu obrigado a intervir na situação, uma vez que não tinha dinheiro pra arrumar alguém que pudesse fazer tudo que Rachel Grayson fazia.
— Se alguém tiver que sair que seja ele. Você não fez nada de errado, ok? Peça, desculpas e encerramos isso de uma vez, Richard — Logan interveio na situação olhando sério para o Roth que parecia em choque.
Pois, é a noviça se rebelou e decidiu que seguiria solitária os caminhos do Senhor. Acontece nas melhores famílias. Não havia o que ser feito. Richard sozinho acabou com a amizade deles. Faz parte da vida. Encerrar ciclos e tudo mais.
— Sinto muito, Rae! Juro que não vou fazer nunca mais. Por favor, me perdoa, você é minha melhor amiga. A única que tenho…
Revirando os olhos pelo espetáculo ridículo que o Richard vinha se prestando a fazer, quase aplaudiu quando ele se ajoelhou perante a mulher que, irredutível o ignora e, mais fria que um iceberg, vai para seu quarto, onde se tranca e não sai por nada.
Acabar com uma amizade de anos em meses era um feito que precisava ser estudado. Richard com toda certeza deveria ter quebrado um recorde no que se referia àquilo.
Ao contrário do que John pensou, o ex melhor amigo de Rachel Grayson não ligou de sentar no sofá e se colocou a chorar até que dormiu por lá mesmo, comprovando que por debaixo da postura de revoltado ainda havia um homem apaixonado que tentava de toda forma conhecer um novo mundo sem perder o coração dele, no processo.
Sim, porque entre eles dois não havia amizade alguma sob a ótica que John estava vendo. Restavam os dois imbecis se darem conta disso.
Notas Finais:
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