Capítulo 16


Capítulo 16

Ninguém ficou mais chocado do que Maurício. Ele estava congelado no lugar, olhando estupidamente para Caio. "Ele sabia". O gângster sabia que Alexandre foi seu amante... e que ele queria algo mais. "Como?" A mente de Mau girou com perguntas, tentando compreender sua atual situação, mas ele estava absolutamente aterrorizado.

Era nessa parte que Caio o jogaria no Tietê? De preferência com uma pedra no pescoço? Isso tudo era uma armadilha horrível?

‒ Você trouxe um X-9 até nós? Por quê? ‒ Laerte rosnou.

‒ Minhas intenções com Maurício não são da sua conta ‒ disse Caio friamente. ‒ Mas posso garantir que ele não é uma ameaça para nenhum de vocês.

‒ E o meu irmão? ‒ Laerte exigiu.

‒ Você receberá sua dívida de sangue de outra maneira. ‒ Resmungou Caio, arreganhando os dentes. ‒ Não vai conseguir hoje à noite e certamente não vai conseguir de Maurício.

Mau se agarrou ao pulso de Caio, encarando Laerte para ver o que ele ia fazer.

Laerte recuou, claramente insatisfeito, mas leal o suficiente para se afastar. ‒ Tudo bem, chefe ‒ disse ele amargamente. ‒ Você deve saber o que é melhor.

Mica abaixou a arma, passando para o lado de Laerte e apoiando a mão no ombro. Eles trocaram um breve olhar, algo terno e significativo que acabou rápido demais quando Carlo estalou.

‒ Acho que não. Eu tenho meus próprios assuntos pessoais com o Dr. Alexandre. Os olhos de Carlo se voltaram para Maurício, acrescentando desagradável ‒ E eu adoraria contar ao garoto aqui tudo sobre isso.

‒ Sim? E deixar você colocar suas mãos nele novamente? ‒ Roberta rosnou, olhando os restos da garrafa no chão. ‒ Não sei o que está acontecendo aqui, mas se acha que vai machucar o Mau? Ohhh, eu vou esticar a porra do seu couro no sol ...

‒ Roberta ‒ disse Caio, sua voz rápida e severa.

Roberta olhou, mas respirou fundo tentando se acalmar.

Todos os Senhores observavam em silêncio, o ar tenso pesava ao redor. Houve uma grave violação do decoro e agora tinha que ser corrigido. Todos pareciam saber o que estava por vir.

‒ Carlo ‒ disse Caio, sua voz estranhamente calma. ‒ Acho que você está esquecendo algo muito importante aqui. Nós, Signori, temos regras. ‒ Guiando Maurício até os braços de Roberta, seus olhos se voltaram para Nano em um comando silencioso.

Nano agarrou Carlo sem questionar, prendendo os braços atrás das costas.

‒ Regra número um: eu sou o chefe. ‒ Caio recuou e golpeou Carlo na mandíbula com um estalo ensurdecedor. Ele respirou fundo e bateu nele novamente, o nariz de Carlo quebrou e começou a sangrar.

‒ Não! Espere! ‒ Carlo protestou, lutando para se libertar do aperto de Nano. ‒ Eu não quis ofender!

‒ Eu sou o chefe, e você sabe o que isso significa? ‒ Caio retirou calmamente o casaco, oferecendo-o a Mica por segurança. Ele esticou o pescoço e rolou os ombros para trás enquanto tirava as abotoaduras. Ele as colocou no bolso da calça e começou a arregaçar as mangas. ‒ Isso significa que você não toca no que é meu.

Um jorro grosso de sangue escorria pelo rosto de Carlo e Maurício se sentiu estranho. Seu corpo estava leve, leve como uma pena, e ele estava flutuando. Não estava dentro da mansão agora. Ele estava de volta em casa, o antigo lar de sua família. Ele podia ver seu pai batendo na mãe, gritando que ela era culpada por ter um filho bicha. E ele se preparando para levar uma surra também e livrar sua mãe, mesmo ela sendo conivente com a violência do pai.

A sala começou a girar, ele conseguia sentir os golpes das mãos e depois do cinto do seu pai enquanto sua mãe gritava para deixar seu filho em paz. Ele não parava...

‒ Mau? Maurício! ‒ Era a voz de Rô chamando por ele enquanto embalava seu rosto docemente.

Maurício se mexeu, gemendo. Um tapa forte em sua bochecha o fez gritar.

‒ Ah, aí. Vê? ‒ Roberta murmurou. ‒ Ele está bem!

Mau abriu os olhos, percebendo que estava no chão. Ele viu Rô pairando sobre ele e Caio agachado ao lado delu. A testa de Caio estava franzida, e Maurício podia jurar que realmente parecia preocupado. Isso fez seu coração pular uma batida, esperando a sala parar de girar.

‒ Você está bem? ‒ Roberta perguntou com uma careta.

Mau olhou em volta. ‒ Isso é... o que aconteceu? Onde está todo mundo?

‒ Carlo saiu para lamber as feridas. Todo mundo está brincando na piscina. Você desmaiou, querido ‒ disse Roberta, gentilmente acariciando seus cabelos. ‒ Não tem estômago pra sangue, hein?

‒ Eu acho que não, hum. Não. Não mesmo. ‒ Maurício gemeu, lutando para se sentar e encarando Caio. O gângster estava vestido de novo como se nada tivesse acontecido, mas havia um leve borrifo de sangue respingado em sua bochecha que Mau não conseguia tirar os olhos.

Caio olhou para Roberta com um olhar interrogativo.

Elu limpou a garganta, batendo na própria bochecha. ‒ Tem um pouco de sangue em você.

Caio fez uma careta e levantou-se com um suspiro frustrado. Ele pegou o lenço e se limpou. Todo mundo havia saído da sala, exceto Nano, que estava cantarolando para si mesmo enquanto limpava o sangue, a bebida e os cacos de vidro do chão.

O estômago de Maurício torceu com a visão. ‒ O que... o que você fez?

‒ Oh, é que nariz sangra muito. ‒ Roberta tentando tranquilizar Mau, dando um tapinha em seu ombro. ‒ Carlo realmente parece melhor com o nariz quebrado!

Maurício ficou horrorizado. ‒ Quebrou o seu...? Quebrou o nariz dele?

Caio zombou da reação de Mau, caminhando em direção ao bar para tomar uma dose de qualquer coisa. Ele derramou um segundo para Nano, dizendo ‒ Deveria ter arrancado um dedo dele.

‒ Ainda há tempo. ‒ Nano ofereceu com um sorriso, juntando-se a ele em um brinde.

‒ Oh, meu Deus. ‒ Maurício ofegou, sentindo o gosto amargo da bile subindo pela garganta.

Roberta franziu o cenho com simpatia. ‒ Querido. Carlo é um filho da puta e não é exatamente o Signore mais leal. Veja bem, ele foi o último a se juntar, e só fez isso quando ficou claro que Ném venceria. Além disso, ele...

‒ Roberta. ‒ Caio avisou. ‒ Acho que ele já teve muito de história do crime organizado de São Paulo por agora.

‒ Oh sim? ‒ Rô sibilou, pulando e girando para encarar o irmão. ‒ Ei! Que tal me contar uma pequena história? Por que diabos não me contou sobre a ligação do Mau com a polícia!

‒ Eu sabia ‒ disse Nano dando de ombros, mastigando uma casca de limão.

‒ Não vem com essa! ‒ Roberta gritou com raiva.

‒ São negócios ‒ disse Caio, friamente. ‒ Nada para você se preocupar.

‒ E é por isso que me deixou levá-lo às compras? Me deixou pensar que era legal sair com ele? Ah, porque são apenas negócios? ‒ Rô estalou, completamente destemide enquanto elu encarava seu irmão. ‒ O que realmente quer com Mau?

‒ Temos um acordo. ‒ Foi à resposta calma de Caio, não alterada pela raiva de sua irmã.

Rô zombou com nojo, os olhos procurando no rosto dele por algum tipo de dica de seus reais sentimentos.

‒ Maurício e eu vamos conversar um pouco sobre isso agora ‒ disse Caio, ignorando a risada alta de Nano e se aproximando de Mau. Ele ofereceu a mão e puxou-o apoiando os pés instáveis.

Maurício tremeu, mas seu pulso vibrou com o contato. Seu estômago estava começando a borbulhar com energia nervosa novamente. Não tinha ideia do que esperar de Caio agora.

Olhando por cima do ombro para sua irmã, Caio sorriu. ‒ Aproveite o resto da festa.

‒ Ném... ‒ disse Rô com firmeza. ‒ ... não terminamos de falar sobre isso.

‒ Boa noite, Nano! ‒ Caio gritou, ignorando-u e enrolando possessivamente o braço em volta da cintura de Mau enquanto se afastavam.

‒ Boa noite! Boa noite, garoto! ‒ Nano respondeu alegremente, rindo quando Roberta caiu em um ataque de raiva que faria um marinheiro corar.

Um de seus sapatos passou voando, batendo no chão enquanto elu gritava atrás deles ‒ Não acabei!

‒ Boa noite, querida irmã! ‒ Caio disse de volta, deixando-u gritar de raiva enquanto guiava Maurício em direção a uma grande escada. Ele parecia muito satisfeito consigo mesmo e riu baixinho.

Mau ainda estava um pouco tonto, mas surpreendentemente sóbrio quando Caio começou a levá-lo para o andar de cima. Ele tentou tirar as imagens do sangue de sua mente, concentrando-se no som de sua própria respiração. Olhando para frente, ele se esforçou para prestar atenção aonde Caio o estava levando.

Eles estavam no andar de cima e entraram em um enorme hall de entrada com uma pequena área de estar. Estava cheio de dezenas de sacolas que Maurício reconheceu como suas compras com Rô.

Depois do vestíbulo havia outro cômodo, mas havia toques pessoais do homem que morava aqui. Os móveis eram mais gastos e confortáveis, coisas velhas e gastas que a maioria das pessoas deixaria de lado. Havia um grande toca-discos com uma impressionante coleção de vinil. Alguns pôsteres e fotografias estavam pendurados nas paredes, mas estava escuro demais para Mau perceber muito.

O quarto era maior do que os lugares que Maurício morou, agora de pé dentro do santuário interior do quarto principal do Sacarafaggio. A cama era enorme, com quatro postes que chegavam ao teto e cobertores e travesseiros macios, todos perfeitamente arrumados. Os móveis aqui eram mais ornamentados e quentes, talvez antigos, embora todas as cores ainda fossem tons escuros.

Mau ficou inquieto, olhando em volta, ansioso, enquanto Caio acendia uma pequena lâmpada ao lado da cama.

‒ Há quanto tempo você sabe? ‒ Ele perguntou antes mesmo de pensar, as palavras derramando como um copo de vinho tinto no tapete branco. Ele não podia pegá-las de volta agora, ele tinha que saber, tinha que descobrir a profundidade da bagunça em que se metera. ‒ Quanto você sabe?

Caio apertou os lábios, pensativo, mas não respondeu, acenando para Maurício se sentar em uma pequena espreguiçadeira ao pé da cama.

‒ Antes ou depois do sexo? ‒ Mau cuspiu, sentando-se na espreguiçadeira.

‒ Antes. ‒ Respondeu Caio após uma longa pausa.

‒ Por que não disse nada?

‒ Por que você não disse nada? ‒ Caio disse de volta com toda a maturidade de uma criança de quatro anos e a cara indignada.

‒ Ei, eu tentei! Tentei te contar, mas você não me deixou! ‒ Maurício protestou, cruzando os braços sobre o peito. ‒ Lembra?

Caio bufou, movendo-se para um grande armário de bebidas e abrindo-o. Dentro havia um frigobar e uma pequena máquina de gelo. Ele enrolou alguns cubos em uma pequena toalha do lado da pia, levando-a para Maurício e pressionando-a contra o lábio inchado.

Mau estremeceu, mas segurou o gelo no lugar. Não sabia se deveria tentar correr ou implorar de joelhos. Caio não parecia estar zangado com ele, e não faria muito sentido arrastá-lo para seu quarto pessoal se ele o mataria.

Sem palavras, voltando ao bar, o gângster serviu-se de algo escuro de uma garrafa cara.

Maurício engoliu em seco, reajustando o gelo na boca, onde começava a doer. Ele ficou esperando o gângster falar, mas nenhuma conversa parecia estar chegando. Várias batidas de silêncio se passaram antes que Mau não aguentasse mais. ‒ Então, foi antes da segunda vez? Antes da primeira vez?

‒ Olha garoto, por um momento, finge que não sou tão idiota quanto você pensa que eu sou. ‒ Replicou Caio secamente. ‒ Já sabia tudo sobre você antes de pisar no loft emprestado.

O coração de Maurício caiu. ‒ Mas por quê? Quero dizer, você nem precisava aceitar a sugestão de Demi de fazer um acordo comigo, mas... ‒ Ele estava confuso, estreitando os olhos para Caio com suspeita. ‒ Por que tentar me abalar, se você já sabia do meu envolvimento antigo com um policial? Não que tenha grandes significados devido a minha profissão. Só que Alexandre me fez pensar que nosso relacionamento seria diferente. E eu acreditei.

Caio riu por cima da borda do copo. ‒ Por que de fato.

A compreensão foi um soco no estômago de Mau. ‒ Isso não era sobre mim. Era sobre chegar até ele.

‒ Esse era o plano. ‒ Caio deu de ombros, sem sequer ter a decência de parecer que sentia remorso por isso.

‒ Que plano, exatamente? ‒ Maurício exigiu, zangado demais para se preocupar se isso iria deixar o gângster bravo demais. Como ele era idiota.

‒ Eu queria fazer um acordo. ‒ Respondeu Caio com sinceridade. ‒ Cobrar sua dívida, assustá-lo, mandá-lo chorando para o delegado. Quando ele viesse bater na minha porta, eu me ofereceria para considerar sua dívida paga em troca dele recuar. ‒ Ele inclinou a cabeça, pensativo. ‒ Mas então algo aconteceu.

‒ O quê? ‒ Mau franziu a testa suavemente. Ele estava se sentindo péssimo por ter um coração mole que se apaixona fácil.

‒ Você. ‒ Respondeu Caio com simplicidade, seus olhos piscando para se fixar nos de Maurício por um longo momento. ‒ Quando Nano te ameaçou, você não gritou que tinha um amante policial para fazê-lo recuar. Ah não. Você se ofereceu. Não era o que eu estava esperando, mas com uma oferta como essa... quem poderia recusar.

Mau sentiu-se doente e engoliu audivelmente. ‒ E Alexandre?

‒ Por que acha que eu o recebi em um hotel muito público e muito popular? ‒ disse Caio. ‒ E então você foi direto à recepção para pegar uma chave? Fiz tudo para garantir que o delegado descobrisse que estava comigo. Se você não fosse até ele, eu teria certeza de que ele viesse até mim.

O rosto de Mau estava quente, tentando não ficar chateado. Ele não podia acreditar como havia sido usado. ‒ É por isso que você não me deixou contar sobre mim ontem à noite. ‒ Ele percebeu, as peças lentamente começando a se encaixar. ‒ Você queria manter essa farsa estúpida.

‒ Correto. ‒ disse Caio com uma pequena inclinação de cabeça. ‒ Mmm. Eu não esperava que Laerte ou Carlo o reconhecessem hoje à noite. Um erro de cálculo raro da minha parte. Eu sabia que havia uma chance com Laerte por causa de sua história com o Dr. Alexandre mantando o irmão, mas Carlo me surpreendeu.

‒ Mas por quê? Por que me impediu de falar sobre Alexandre? ‒ Maurício estalou.

‒ Eu teria mais chances de manobra ‒ disse o gângster com um pequeno encolher de ombros. ‒ Se você não me dissesse que Alexandre tinha sido seu amante, nosso acordo continuaria de pé, mesmo se eu tivesse que fazer algo sobre ele mais tarde. Matar um policial traz muito holofote, mas farei o que for preciso.

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Olá lobinhes,

vou deixar o link para a playlist que montei no spotify. vai estar no meu perfil. já tem o de A Maldição da Colina que vou repostar nesse perfil tb. 

bjokas e até a próxima att

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