8. why you don't die?
Tremendo. Eu estava tremendo muito. Ter que falar com Any não era fácil, pra mim então era quase que impossível. Como eu ia chamar ela? Não seria melhor falar por mensagem? Acho que deveria encarar essa. Talvez no intervalo? Ou no fim dos horários? Ah, minha cabeça estava latejando de pensar, e o nervosismo mal me deixava olhar para a porta do banheiro. Mil pensamentos me deixavam confuso e isto era praticamente visível quando se é meu amigo, mas o resto das pessoas parecia não notar, e se notava só não se importava.
Enfim saí do banheiro e pude me ver no espelho. Tudo bem, é só sorri e fingir que nada aconteceu, depois é só ir falar com Any, vai dar tudo certo, dizia a mim mentalmente.
Nos corredores da escola, avistei de longe Any e seu círculo de amizade - inclusive Josh - , mas também vi outro grupo de pessoas que conhecia bem: Carl, Stevan, Juan e Scott. Estes garotos, e o Scott em especial, fazem brincadeirinhas de mal gosto comigo desde a 3a série do ensino fundamental, ou seja, a muito tempo. Por culpa deles tive diversas crises de pânico ou de ansiedade, e me sinto assim sempre que vejo qualquer um deles, mesmo que de longe. Porque toda vez que os vejo, tenho a certeza de que eles também me viram e que não vão me deixar passar em paz.
Por este motivo, desisto da pouca coragem que havia reunido e busco me esconder na primeira sala que achar no corredor que estava, ou então me misturar e ficar disfarçado entre os vários alunos iguais que estavam no mesmo corredor que eu. O que foi (igual a todas as vezes que tentei fazer isso) falho, já que ainda sim os garotos me viram e vinham em minha direção, olhando - me como se eu fosse a presa e eles o caçador. Atrás deles, Josh, Any, Joalin, Hina, Sofya, na perfeita visão do que aconteceria. Agora, meu coração já estava tão acelerado quanto um motor, o choro entalado na garganta, suava feito um porco, ainda buscava me misturar ou, sei lá, correr para longe dali, mas minhas pernas não obedeciam os comandos.
Em pouco tempo, o quarteto já estava na minha frente, me encurralando contra os armários do corredor. Eu só conseguia pensar não chore, não chore, já vai acabar, ninguém vai ver. Agora eu estava tremendo, segurando o choro, suando, meu coração quase saíra pela boca. Todos estavam vendo, mas passavam reto, ou observavam de longe. Inclusive Josh. Com as costas nos armários do corredor, as ofensas começavam, e com a cabeça baixa, ouvia sem revidar:
- Olha quem nós temos aqui hoje, colegas - Juan começou a provocar, com seu sotaque mexicano irritante.
- Faz um tempo que a gente não se vê né, viadinho de merda. - continuou Scott. Eu odeio esse "apelido" mais que tudo na vida.
- Pelo visto não mudou nada desde a última vez. Olha só esses brincos, não se lembra que mandamos parar de usar? - complementou Carl.
- Sinceramente, tu só aprende na porrada né, caralho, bem que eu queria quebrar a cara de uma bixa hoje - Stevan praticamente gritava na minha cara, antes de por a mão no meu cabelo e puxar de leve. Logo fechei os olhos, esperava o tapa, que foi dado na minha cara. Carl tirou a mão do meu cabelo, e agora foi a vez de Scott segurar minha nuca, forçando meu rosto a ficar frente a frente com o seu, já que temos a mesma altura.
- Por que você não percebe que ninguém te quer aqui e morre? - cuspiu as palavras na minha cara. Fechei os olhos e esperei que ele me soltasse e fosse embora, ainda segurando o choro. Me soltou e virou - me suas costas, andando em outra direção do corredor que estávamos.
- Você é um monstro horrível, eu te odeio - sussurrei só para que eu ouvisse, o que foi falho, já que Scott também ouvira e não deixara barato. Recebi um soco no estômago e caí no chão, e quase recebi outro no rosto se não fosse por Joalin, que segurou seu braço e começou a brigar com eles, seguida de Sofya e Any. Só então percebi a multidão que estava formada ao nosso redor. Apavorado e ainda com dor, levantei e corri em direção ao banheiro. Tudo acontecera tão rápido que não passara de 10 minutos. Antes de correr, apenas lembro de ouvir a voz do diretor gritando para que todos saíssem do corredor e ver meus amigos tentando me ajudar. Me esquivando de todos que tentavam falar comigo ou tocar em mim e de olhos marejados, segui o caminho ao banheiro, até ver o rosto de Josh. Quase sem saber andar, continuei meu caminho.
Trancado numa cabine, apenas chorava. Chorava, chorava, chorava. Chorei o máximo que pude, de soluçar. Talvez ninguém realmente me queira aqui, talvez Scott esteja certo. De fora da cabine, pude ouvir a voz de Bailey e de Sina. Mas calma, o que Sina fazia no banheiro masculino? Não faço ideia, mas era reconfortante. Ouvir a voz deles era reconfortante. Saí da cabine e os abracei o mais forte que pude, ainda chorando. Não precisava explicar o assunto para Sina, mas Bailey estava confuso. Sim, ele entendia que eu gostava de usar brincos e outras coisas consideradas "de mulherzinha", mas ele não se importava com isso e me respeitava. Todos sabiam que eles sempre fizeram isso, que não é a primeira vez e provavelmente não seria a última, mas precisava acabar. Mas ninguém fazia nada. Ninguém fez nada, nunca. Por que fariam agora?
Faltei o primeiro horário. Não estava em condições de assistir aula. Assisti as outras aulas até o almoço. Os olhares eram muitos, até porque tinha acabado de apanhar, mas no outro dia sempre acaba desaparecendo. Tentando me esconder, sentei no lugar mais afastado e isolado que pude junto dos meus amigos. Sabina e Sina estavam preocupadas, Heyoon estava revoltada, e Bailey só pensava em fazer eles pagarem, principalmente Scott e Carl, que faziam parte do time de futebol. D
De repente, pude ver Joalin, Sofya e Any se aproximando da nossa mesa. Confuso pela presença delas, apenas sorri.
- Ah, oi? Tudo bem? - perguntei sorrindo de mal jeito
- Sim, nós queríamos falar com você, ver se tá tudo bem, como que cê tá agora depois do que aconteceu. - Joalin começou a falar.
- Tô melhor agora, não precisa se preocupar. Já aconteceu outras vezes, e eu estou vivo, por que não estaria agora, né - respondi abrindo um sorriso. Li outra vez que sorrir alivia as pessoas.
- Realmente espero que esteja, pra quê que esses idiotas fizeram isso com você? - Foi a vez de Sofya falar
- Eu não faço ideia, na verdade. Pelo o que eu sei nunca fiz nada pro Scott nem pro grupinho dele. Sinceramente, acho que eles são só um bando de surtados com muito ódio de alguém e descontam em mim - digo da maneira mais leve que pude
- Ei, posso falar contigo? Em particular? - Any me sugeriu - Não vai demorar, as meninas ficam aqui esperando sem problemas, é rápido. Por favor?
- Oh, claro - olhei para meus amigos na mesa quando Any virou de costas com a cara de "o que ela quer comigo meu deus???" e segui com ela para outra mesa, próxima a que estávamos. E ela começou:
- Vou ser direta pra não deixar as meninas esperando tanto, o negócio é o seguinte: por quê você é assim? - perguntou a morena, enfatizando o assim.
- Como assim? Isso soou ruim, é ruim? - devolvi a pergunta
- Assim, parecendo gente boa sem parecer ao mesmo tempo. Sei lá, qual é, te conheci tocando uma música mó gostosinha que eu nunca vi na vida na sala de música, ficou mó estranho me pedindo pra não contar pra ninguém, tento me aproximar e você sai fora, sempre na tua panelinha, e hoje você apanha do Scott sendo que já aconteceu outras vezes e ninguém viu???? O ponto é: eu quero amigar, é isto. E quero saber qual a música que você tava tocando na sala de música.
- Ah, nossa, que surpresa. - respondi - eu, realmente, não faço ideia do por quê você, Any Gabrielly famosíssima iria querer ser minha amiga mas, por mim tudo bem.- continuei, sorrindo. - Sobre a música, acho que como você já viu de todo jeito, não adianta mentir. Eu sou "músico" entre várias aspas, sabe, faço uns sons mas só meus amigos e outras pessoas que convivem comigo ou me viram tocar sabem, e aquela música é minha e não gosto de tanta exposição, e prefiro que continue assim, tá? - sugeri.
- Bem, sem problemas por mim. E eu não sou "famosíssima" eu sou sociável ok - a morena retribuiu o sorriso junto de uma gargalhada, e então decidimos voltar para a mesa que estávamos.
Muita gente olhava, e de repente eu não ligava com isso. A galera na mesa estava se dando super bem, principalmente sabina e Joalin, isso é bom. Tempos depois, o sinal toca para o restante das aulas. Pelo meu bem, escolhi não assistir o restante para não trombar com Scott ou alguém do grupinho dele, apenas fui embora pra casa.
Em casa, encontrei ela vazia, ou ao menos pensava que estava já que depois de abrir a porta e rodar a sala vi uma figura muito bem conhecida: era Mariana, minha irmã mais velha. Ela fazia faculdade no Canadá, por isso a frequência das suas visitas eram poucas, mas eu amava quando ela estava aqui. Ela é tipo, tudo pra mim.
Mais que depressa, soltou o que estava comendo e veio me abraçar, me soltando depois, mas não sem antes uma cheirada no cabelo e um beijo na testa. Temos 3 anos de diferença só, mas pra ela parecem duas décadas. Logo ela percebeu marcas no meu rosto onde havia apanhado e uma reclamação de dor ao me abraçar. Ela percebeu que eu tinha apanhado e veio tirar satisfação.
- Noah Urrea, quem fez isso com você?
<3 <3 <3
1700 PALAVRAS DE CAP que é pra compensar a saudade (desculpa, juro que vou me controlar).
Cap na visão de outros personagens vem vindo aí, e o que vocês estão achando da nova amizade do grupo da Any e do Noah? Será se dá bom?
Obrigada pelo apoio, não esqueçam de votar e comentar, tchaaau!
Ps: Mariana, irmã do Noah é a @marisouzaramirez (instagram, ela é perfeita).
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