EPIGRAPH
Tony Stark
Stark estava escorado sobre a grade de proteção do segundo andar, bebericando uma das taças de champanhe que era distribuída para os convidados que andavam de um lado para o outro pelo enorme salão da torre dos Vingadores.
A ideia de fazer uma festa para comemorem o ano novo havia surgido do nada. Apenas mais uma das ideias malucas que ele tinha. E levando em consideração a lista dos convidados, era muito mais que maluca. Vilões e heróis no mesmo ambiente, parecia mais como um palco de UFC.
Ele sorriu sozinho só de imaginar como aquela noite terminaria. Virando mais um gole da bebida em sua boca, se endireitou e abriu os botões do terno preto, caro e sobre medida que ele usava. Observando cabelos loiros se moverem pelas escadas, fazendo ele encolher seus ombros de forma tensa.
Já se arrependia de ter convidado certas pessoas.
E ao ver Carol se aproximando de forma desinibida, com um longo vestido prateado, e os cabelos presos no alto da cabeça em um penteado bem charmoso. — Ele sentiu mais arrependimento ainda. Estaria ferrado com a presença dela ali.
— Stark! — A loira balançou a cabeça, ao estar de frente para o bilionário.
— Danvers. — Ele maneou a cabeça, em um gesto parecido com o dela.
— Fiquei surpresa ao receber seu convite.
— E eu em ter lhe enviado. — O comentário foi baixo, abafado pela taça que levou a boca novamente. Mas sabia que ela tinha escutado, mesmo não demonstrando nenhum semblante de que poderia estar ofendida. — Desculpe, Carol. Aquele convite foi automático, foi mais como um agradecimento pela noite.
— Eu sei. — Ela lhe deu as costas, se apoiando na grade, virando a taça que também segurava, na boca. — Não vim aqui procurar por relacionamento, vim me divertir.
— Não se preocupe, terá muito divertimento por aqui. — Ele garantiu ao se aproximar dela, voltando a se apoiar na grade. — Rhodes anda meio sozinho, vivo dizendo a ele que precisa encontrar uma mulher.
Stark apontou para o moreno de terno cinza escuro, que se encontrava sentado sobre um banco em frente ao balcão de bebidas. Distraído em uma conversa com Scott Lang.
— Esta querendo me empurrar para o seu amigo? — A loira arqueou as sobrancelhas, fuzilando o Stark com seus olhos azuis.
— Longe de mim fazer isso. — Balançou a cabeça de forma negativa. — Mas eu acho que tenham muitas coisas em comum.
— Assim como você e a Barnes?
A pergunta atingiu o futurista como um certeiro tapa na cara.
Estava ficando tão nítido assim, que ele tinha interesse na irmã de seu inimigo? Mas os olhares que Danvers lhe lançavam, eram o bastante para dizer que todo mundo notava aquilo.
Ele desviou os olhos da loira a sua frente, mas se arrependeu de tal ato, já que flagrou o exato momento em que o quarteto atravessou o elevador. Theresa estava próxima de Barnes, enquanto Mia tinha um braço enganchado ao de Rogers, e todos riam com a maior intimidade do mundo.
Ele desejou poder ouvir o que eles tanto conversavam, não queria parecer atrevido. Mas realmente qualquer coisa que envolvesse a pequena garota de cabelos pretos e olhos verdes, lhe interessava intensamente.
E como se lê - se os pensamentos dele, Mia desviou os olhos de Steve e finalmente encontrou os castanho esverdeados do Stark. Escondendo o sorriso logo em seguida, aderindo a uma face mais séria e profissional. A mesma face que o bilionário estava enjoado de ver todos os dias.
— Você tem razão, Danvers. Até por que, o proibido é uma maravilha de se provar.
Tony se afastou da grade e acenou para a loira, antes de andar pelo corredor para descer ao andar de baixo. Seguindo em passos largos e rápidos até a garota que tanto lhe intrigava e até mesmo lhe intimidava em alguns momentos.
Miranda Barnes
O central Park de New York estava repleto de transeuntes que seguiam de um lado para o outro, todos desfilando com casacos pesados, gorros e cachecóis por conta do frio que começava a fazer decorrente do inverno chegando. As temperaturas haviam caído drasticamente da noite para o dia, quase perto de chegar ao negativo. A neblina já dava forma a pequenos flocos de neve que enfeitavam o topo das árvores de folhas acizentadas e laranjas decorrentes do fim de outono.
Para um lugar que havia acabado de passar por um ataque alienígena, aonde a maioria dos prédios ainda estavam sendo reconstruídos, tudo parecia calmo e pacífico demais. Como se ninguém se lembrasse de enormes monstros voadores, de um enorme monstro verde saltando de prédio em prédio, um bilionário vestindo uma armadura blindada, um deus empunhando um martelo e criando raios, ou até mesmo um loiro de capa de revista vestindo um colã azul e impondo um escudo. — Era como se nada disso tivesse acontecido.
O governo junto da S.H.I.E.L.D. limpavam a bagunça em silêncio, garantindo que incidentes como aqueles não ocorreriam novamente, apagando todos os vestígios alienígenas que pudessem, fazendo as pessoas viverem novamente sem lembranças algumas, como uma lavagem cerebral. Tudo deveria ficar no passado e nunca mais sair de lá.
Mas até onde o passado pode ficar enterrado?
Em meio a todas as pessoas, uma se destacava como um borrão branco de cabelos negros completamente bagunçado. Estava enrolada em um fino lençol, com alguns tons de vermelho que entregavam serem manchas de sangue. Descalça, ela tremia mediante ao clima gélido, considerando não estar vestindo nada além daquele lençol branco. Seu rosto estava pálido, os olhos com profundas olheiras como se não dormisse há meses, tropeçava em seus próprios pés e olhava ao redor como uma criança que acabava de descobrir o mundo. Parecia com uma pequena garota pela estatura, mas já se tratava de uma mulher formada, que em meio a mão que segurava a barra do lençol, também carregava consigo um colar de brasão dourado, nele estava grafado o logotipo da S.H.I.E.L.D. e não havia nada no mundo que a fizesse soltar aquilo.
— Steve... — Ela começou a sussurrar, chamando pelo nome em meio as pessoas. Olhava para os milhares de rostos que a encaravam, mas apenas um nome escapa por seus lábios. — Steve... Steve Rogers... Você viu Steve Rogers? — Ela começou a questionar para as pessoas que passavam por elas, mas nenhuma se prestava a responder, alguns outros apenas balançavam a cabeça negativamente. — Eu preciso encontrar Steve Rog... — A frase morreu pela metade, no instante em que ela parou no pico central de todo o movimento de pessoas, suas pernas pareceram não aguentar mais o peso de seu corpo e ela cedeu ao chão diante de todos.
No meio da queda, o lençol a cobriu por quase completo, deixando exposto apenas a mão na qual ela ainda carregava o brasão de uma das maiores organizações do mundo.
Steve Rogers
Ano de 1940
Steve abriu a boca logo depois de ter ouvido os planos de Mia, para se alistar no exército. Ambos estavam parados em frente a uma padaria, há alguns quarteirões de distância da casa dela. Assim como esperado, Steve havia atendido ao pedido dela enviado por um bilhete e bem cedo estava na casa dela, mas a garota o puxou para que saíssem logo e durante a caminhada lhe explicou como andavam sendo seus dias e os planos nos quais Bucky a tinha apoiado.
— O que você espera que eu faça por você? — O loiro questionou logo depois de garantir que a garota havia falado tudo o que queria.
— Apenas quero que me acompanhe para me alistar. Você não ia fazer isso hoje? Me leve junto. — Ela uniu as mãos quase em uma suplica.
Steve deixou um longo suspiro escapar por seus lábios e coçou a nuca um pouco sem jeito. Uma parte de si queria poder socar Bucky Barnes, por que ele era quem deveria acompanhar a irmã. Ainda mais que já havia passado no alistamento assim que se tornou maior de idade. Não Steve, que tinha apenas uma lista de fracassos. Mas ele sabia que não conseguia negar nada para a garota.
— Tudo bem. — Assentiu em seguida. — Vamos nos alistar, quem sabe você me de um pouco de sorte. — Ele estendeu o braço para a garota que se enganchou a ele e o acompanhou na caminhada.
Mia era a primeira mulher que não via problema algum em andar de braços dados com Steve, ela simplesmente não se importava com o fato dele ser baixinho ou magro demais. Ambos eram da mesma altura e ela era gentil em não usar saltos quando estava com Steve, o que poderia deixa-los na mesma altura.
— Eu vou ter que tirar a roupa na frente de vários homens? — A garota questionou depois de terem andando um longo trajeto.
— Possivelmente, mas tem salas privadas para os exames. E eu vou estar lá, não tem com o que se preocupar. — O sorriso amarelo de Steve, entregou que ele não estava cem por cento seguro com aquela ideia, mas não precisava fingir muito com Mia. Ela o conhecia o bastante para aceitar até mesmo a falta de senso dele. — Por que não me conta um pouco sobre esse Pierce? Ele é um cara legal?
— Sim. — Mia se permitiu dar um breve suspiro ao se recordar do encontro no dia anterior. - Você sabe que eu não elogio ninguém se a pessoa realmente não me surpreender, mas ele parece ser diferente dos outros. Tem algo nos olhos dele que me intriga, mas eu vou tentar arriscar. Pelo menos meus pais me deixam em paz por um tempo. E o Theodore me apoia também.
— Fico feliz por você, espero que consiga encontrar alguém que te faça feliz. Mas sabe que se precisar, eu posso me casar com você para que possa fazer tudo o que deseja. — O loiro olhou para a garota ao seu lado, sem ao menos pararem de andar.
— Eu sei, mas você merece alguém muito melhor que eu. Alguém que dedique a vida te amando e não correndo atrás de um sonho que parece impossível.
O loiro ia corrigi-la, mas se calou quando pararam de frente para a agência. Alguns homens entraram no local e Mia se afastou de Rogers para também entrar. Ela nem se quer pareceu incomodada por ver diversos homens sem camisa e nem que eles desviaram os olhos para ela. Apenas saiu caminhando até a fila que dava acesso a sala de exames.
Steve seguiu logo atrás dela, diferente da mesma, não gostava nem um pouco de ver todos aqueles homens a observando como se ela fosse algum prêmio que eles tinham de conquistar. Ele parou logo atrás dela na fila e apenas esperou que fossem chamados. Ainda tinha um pouco de esperança que um dia ele fosse ser escolhido, e esperava que fosse logo. Estava ficando mais velho a cada ano e parecia ser cada vez mais difícil.
— Gracinha, isso aqui é só para homens. — Um moreno que estava na frente de Mia, se virou para encara-la.
— Então você deveria voltar para casa e dar lugar a um de verdade. — A garota rebateu com um sorriso estampado no rosto.
O homem fechou a cara pra ela, mas não disse mais nada pois o médico chamou pelo próximo e ele seguiu até seu destino.
A garota olhou para trás, apenas para ter certeza que Steve ainda estava ali com ela. Não queria estar sozinha naquele momento, e ele era a melhor pessoa para acompanha-la naquela decisão tão grande.
— Boa sorte. — O loiro sussurrou para a amiga, que apenas assentiu.
Theresa Bardot
Ano de 1940
Mia olhou ao redor, esperando não ver nenhum conhecido. E então, se pôs a correr pelas ruas do Brooklyn. Por mais que ela estivesse extremamente atrasada para tudo, ainda tinha esperanças de encontrar pelo menos a sua amiga. Ela precisava de alguém que não fosse julga -lá ou condena-la naquele instante. Precisava de qualquer coisa que não a ligasse no inferno que sua vida estava se formando.
A cafeteria de encontro das duas, não ficava muito longe da mansão do Stark. Em cinco minutos de corrida, Mia já se encontrava na porta do estabelecimento, com a respiração alterada, cabelos bagunçados e sua roupa muito mais do que amarrotada.
Theresa estava lá, em uma mesa afastada com um prato cheio de pães de mel e dois copos de café vazios, sem contar o que estava em sua mão pela metade. — Mia cambaleou até a mesa, e despencou sobre a cadeira de frente para sua amiga, que não esboçou nenhum semblante de surpresa com a imagem horrível da outra.
— Me desculpe pelo atraso. — Mia pediu, completamente arrependia.
— Duas horas e meia não é um atraso. — O sarcasmo na voz da outra era bem mais que visível. — Mas eu não estou surpresa com isso. Por onde você andou? Foi caçar um leão sozinha e perdeu a briga? Você está péssima.
— Estou de ressaca. — Mia Inclinou seu corpo pra frente e agarrou o copo da morena, bebendo o conteúdo, de uma só vez. Sem se importar se o café estava quente e fazia sua garganta arder. — Aliás, eu preferia ter brigado com cem leões, em vez de ter feito a merda que fiz mais cedo.
— Matou alguém? — Theresa pegou um dos pães e mordeu despreocupadamente. Até parecia que estava conversando com uma psicopata. Mas seus olhos azuis estavam brilhando com intensidade, demonstrando a curiosidade dela. — Não me diga que... Lutou com alguns homens para te aceitarem no exército?
— Na verdade eu... Dormi com um homem. — A menor respondeu rapidamente, voltando a ocupar sua boca com o café. Tentando esconder suas bochechas coradas.
Theresa abriu a boca em completo estado de choque, seus olhos azuis agora estavam em completo pavor mediante as palavras de sua amiga. Mas sua reação durou poucos segundos, já que a mesma começará a rir logo em seguida. Tendo de por uma mão sobre a boca para abafar a risada alta.
— Seu estado é por causa disso? — Comentou com certa desdém.
— Fala como se não fosse nada.
— E não é. Aliás, estou surpresa que tenha acontecido só agora.
— Elizabeth! — Mia quase gritou em reprovação.
— Theresa. — A outra semicerrou os olhos para sua amiga, enquanto praticamente rosnava seu nome. — Meu nome é Theresa. Sabe que odeio esse segundo, maldito e desnecessário nome.
— Reclame com seus pais. — Mia deu de ombros.
As duas se fuzilaram com olhares, como se a qualquer momento fossem avançar uma sobre a outra e rolarem sobre o piso daquela cafeteria. Sabiam muito bem como provocar uma a outra, mas no fundo, a amizade sempre falava mais alto. O que fez com que as duas rissem juntas dois minutos depois.
A Barnes abriu a boca para voltar a falar, mas travou ao sentir uma mão sobre seu ombro. Sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiarem e seu estômago congelar. Nunca pensou que o sentimento de culpa, fosse deixa-la tão paranoica, como se encontrava naquele momento.
Respirou fundo e virou a cabeça lentamente, observando os olhos azuis de um loiro de sua altura, que tinha um olhar preocupado e os lábios em uma única risca de claro alívio e tensão.
— Te procurei o dia todo. Aonde esteve? — Ele afastou a mão dela e cruzou os braços, tentando fazer sua melhor pose de superior. Mas não deu muito certo, levando em consideração que fez as garotas sorrirem para ele.
— Steve! — Mia se levantou em um salto de sua cadeira e abraçou ao loiro, depositando um beijo estalado em seu rosto. — Eu estou bem, me desculpe. Eu... Eu fiquei muito mal e precisei esfriar a cabeça. — Ela disparava as palavras rapidamente, quase sem mal respirar. — Bom, eu preciso ir embora. Estarei encrencada quando chegar em casa. Aliás, Steve essa é a Elizabeth Bardot. - Apontou para a morena de olhos azuis sentada na mesa.
— Theresa Bardot. — Ela corrigiu a amiga com certa ignorância.
— Isso. — Mia balançou as mãos de forma agitada. Entregando o copo com dois dedos de café para Steve. — E isso era dela. Agora pode pegar para você. — A eletricidade da garota parecia estar assustando o loiro, que mal conseguia acompanhar as mil palavras que ela disparava ao mesmo tempo. Olhando entre ele e a garota sentada na mesa. — Aliás, Theresa esse é meu amigo Steve Rogers. Você sabe... Sempre falei dele com você.
Theresa apenas balançou a cabeça concordando, como se estivesse se recordando de alguma conversa das duas.
— Mia, você está bem? — Rogers voltou a perguntar com mais preocupação do que inicialmente.
— Estou sim, claro. Mas eu preciso mesmo ir. Divirtam-se crianças. — Ela apenas acenou para os dois e saiu em disparada para fora da cafeteria. Fugir de Steve naquele momento, não era algo apropriado. Mas era o melhor a se fazer.
Bucky Barnes
O ex soldado invernal, se sentia claustrofóbico dentro da pequena caixa de metal que abrigava ele, sua irmã, Steve e Theresa. Sua ex companheira da Hidra se encontrava parada logo ao seu lado, com uma expressão tão fechada quanto a dele. Quanto a sua irmã, tinha um iluminado sorriso no rosto, um gesto de causar inveja, já que ela sempre parecia confortável com qualquer ambiente. Assim como Steve que segurava o braço dela enganchado ao seu como se fossem um belo casal de capa de revista. Se não fosse pelo histórico romântico do amigo e o fato de sua afair estava dividindo o mesmo oxigênio com eles. Barnes até torceria para que sua irmã e seu amigo ficassem juntos.
— Eu espero que isso acabe logo. — Mia comentou em um tom choroso. Atraindo a atenção de todos pra ela.
— Eu achei que estivesse feliz de vir aqui. — O irmão a alfinetou com um sorriso irônico. — Até porque, seu convite foi bastante íntimo. — Terminou a frase trincando o maxilar, não tinha quem o fizesse engolir a imagem de sua irmã com outro Stark.
Mia revirou os olhos, ignorando completamente a presença do mais velho.
— Eu não acredito que você me fez entrar na droga desse vestido, sendo que nem você mesma queria estar aqui. — A voz de Theresa se fez presente um palmo mais alto. Considerando que o volume da música aumentava a cada andar que subiam.
A menor encolheu os ombros, dando um longo suspiro.
— Eu não queria vir sozinha.
— Steve está muito mais que disposto a vir.
— Por que estão reclamando tanto? — O loiro inclinou a cabeça para observar o outro casal. — Essa é a primeira festa que vocês frequentam, deveriam dar uma chance. Acreditem, não é tão ruim quanto aparenta ser.
— Suicídio também não é ruim, Steve. — Theresa brandou.
— Homicidio também não. — Bucky completou, trocando olhares com a mulher ao seu lado que lhe acompanhou em um sorriso sádico como se ambos compartilhassen juntos da mesma piada.
— Ninguém vai matar ninguém, hoje. — Mia obteve uma expressão mais séria com os dois. — Vamos ser pessoas normais e nos divertirmos. Isso realmente não deve ser tão ruim.
— Bom... Vai ser legal conhecer as ex namoradas do Steve. — A Bardot foi quem se deu a honra de alfinetar.
Bucky e Mia dirigiram os olhares automaticamente para o enorme loiro do outro lado do elevador, que agora tinha os músculos apertados contra a parte superior de seu terno preto, e as maçãs do rosto vermelhas como um tomate. Os irmãos sentiram uma enorme vontade de rir, sabendo que Theresa havia feito de forma proposital para desconcerta-lo.
— Eu não... Não tenho ex namoradas.
— Não no plural. — O amigo completou. Recebendo um olhar ameaçador do Capitão América.
— Qual o problema de vocês, hoje?
— É sempre bom zoar um mais velho. — O outro começou a rir, sendo acompanhado por Theresa que também se deixou perder em uma boa risada. Momentos raros de ambos, considerando que estavam sempre com uma expressão intimidadora.
— Ninguém nesse elevador tem menos de 80 anos. Mas todos se comportam como crianças de cinco. — Mia despejou. — Vamos aproveitar, pessoal, é como nos velhos tempos.
— Nos velhos tempos Steve era menor. — James começou.
— E você tinha um braço. — O loiro rebateu.
— Mia era mais inteligente. — Theresa prosseguiu.
— E você tinha estabilidade mental. — A menor completou.
Por fim, um silêncio se instalou dentro da pequena cabine de metal, que deixava ecoar apenas a música estridente de rock que tocava no cômodo aonde o elevador havia parado.
Os quatro trocaram olhares rapidamente e então sorriram um para o outro. Deixando que aquele gesto gentil se tornassem uma sonora e intensa risada vindo da parte de todos. As portas do elevador se abriram e saíram todos juntos, ainda rindo de seus atos infantis.
O ambiente parecia bastante convidativo, apesar da música alta e alguns rostos familiares que deixavam a todos desconfortáveis, ainda parecia algo atrativo. A risada de Mia foi a primeira a cessar, o que chamou atenção de Bucky para a irmã que tinha os olhares direcionados ao andar de cima. Ele a acompanhou, descobrindo o motivo da expressão desgostosa da caçula. Sabia que o Stark a afetava, mesmo que ela disfarçasse e negasse sobre qualquer tortura que não sentia nada pelo bilionário.
James observou atentamente o Stark sair de seu posto e começar a descer as escadas, mesmo vendo que ele teve pequenas paradas durante o trajeto, a demora para faze - lo chegar até eles, o deixava mais nervoso do que já estava. Fazendo com que o mesmo tomasse uma atitude mais protetora, se colocando na frente de sua irmã caçula como se fosse um escudo humano. Ninguém chegaria até ela se ele não quisesse.
— Não tem necessidades disso, Bucky. — Steve começou, a voz estava um palmo mais baixa que o normal como se fosse um segredo. — Ele não vai machucar ela, Tony não é como o Howard.
— Mesmo assim, eu não consegui impedir as coisas ruins que aconteceram com ela no passado, mas garanto que agora eu agirei como um bom irmão.
No segundo seguinte, o ex soldado sentiu uma leve repuxada em seu braço, nada que pudesse lhe causar dor. Mas atraiu seu olhar para baixo, encontrando a mão de sua irmã, envolvida entre os dedos da mão metálica dele. Não conseguia sentir o toque dela naquela posição, mas se sentia bem por ela estar tão próxima dele. E naquele momento, se sentiu como se fossem mais jovens de novo, quando ele era um adolescente e ela uma criança curiosa e extrovertida ao qual ele deveria cuidar e proteger para que ela não se ferisse em suas próprias brincadeiras perigosas.
— Por favor, não diga que não é mais uma garotinha. — Ele pediu, envolvendo sua mão metálica envolta da dela, com cuidado para não machuca - lá.
A menor apenas sorriu, mostrando a fileira de dentes brancos. Inclinando a cabeça para apoiar sobre o ombro metálico do irmão, que retribuiu com um meio sorriso.
— Acreditam que essa semana eu vi um filme que lembrava muito vocês? — A voz do Stark quebrou qualquer momento de paz e confraternidade que eles pudessem estar tendo um com o outro. — Se não me engano, o nome é Era do Gelo. Já ouviram falar?
— Stark, você não está facilitando. — Steve retrucou em forma de advertência.
— Mia, você está maravilhosa como sempre. — O homem prosseguiu, fitando a Barnes com uma expressão contente.
A jovem se afastou do irmão, obtendo uma postura mais rígida e séria.
— Primeiro você diz que eu nasci na era glacial, agora está dando encima de mim?
— Vamos, Mia. Quanto mais idade, mais experiência e eu adoro mulheres que tenham mais conhecimentos que eu. — Houve uma risada do mesmo, que não foi acompanhado pelas expressões sérias dos quatro novos integrantes do local. — Vocês não tem nenhum senso de humor, que horror.
— Como você pode sair com tantas mulheres, sem fazer uma cantada decente?
— Nunca sai com mulheres mais velhas, talvez eu possa não estar acertando as coisas.
— Não está acertando em nada mesmo. — Mia se voltou para Steve, passando seu braço pelo dele novamente, deixando claro que queria escapar dali.
Tony balançou a cabeça parecendo um tanto atordoado, Bucky não pode deixar de esconder sua expressão de satisfação com aquilo, mesmo sabendo que ele não se daria por vencido tão cedo.
— Você quer dançar? — Sugeriu, estendendo a mão para a Barnes que lhe encarava de volta com desdém.
— Sou velha demais pra você me acompanhar. — Ela rebateu, puxando Steve para que ambos seguissem para a pista de dança.
O Stark acompanhou o casal com o olhar, antes de se voltar aos outros dois que permaneceram no mesmo lugar. Agora, estendendo a mão na direção da outra morena como se ela fosse ser seu bálsamo depois do navio ter afundado.
— Então, o que acha de me acompanhar, Theresa?
— Acho que eu vou procurar algo mais interessante pra fazer, nos vemos depois, Barnes! — Ela deu um tapinha no ombro de seu companheiro antes de se misturar aos convidados da festa, ignorando completamente o bilionário.
— Mulheres. Ruim com elas, pior sem elas. — Tony sorriu vagamente, antes de ir dar atenção a um dos garçons que serviam champanhe.
Erika Winters
As portas do elevador se abriram permitindo que entrasse os últimos convidados que faltavam, Erika tinha o braço passado pelo de T'Challa, que a guiava de forma paciente e cavalheira para dentro do novo recinto, repleto de pessoas que ambos conheciam e detestavam. O rei de Wakanda, usava um terno inteiramente branco e sapatos da mesma cor, enquanto Erika parecia estar vestida para combinar com o rei. Um longo vestido com camadas finas de ceda branca, que descia justamente até seu quadril e pendia em uma longa e volumosa saia até o chão, um presente que a mesma havia recebido do rei para aquele evento. Seus cabelos estavam presos pela metade, a parte de cima em uma trança que mais se parecia com uma tiara, deixando o restante de seus cabelos escuros caírem sobre os ombros.
— Stark se superou nessa festa. — O moreno avaliou depois de checar todas as pessoas presentes.
— Por que eu não estou com uma boa sensação quanto a isso? — A psicóloga tentou inutilmente não ver o rosto de todos os convidados, começando a sentir um certo nervoso em seu interior.
— Vai ficar tudo bem. — T'Challa acariciou a mão dela por baixo da sua, de forma a passar certa segurança a mesma. — Você ainda é uma ex-agente, sei que conseguiria dar conta de muitos deles. Além do mais, eu estou aqui, junto com outros diversos heróis.
— Isso não é reconfortante. — A morena encarou seu acompanhante, quando enfim, pararam diante do centro do salão de festas. Sendo rodeados por diversas pessoas que se divertiam em uma dança agitada por conta da música eletrônica que ecoava por todo o local.
— Aonde está a Erika Winters que eu conheci? — O homem voltou a falar, em um tom de voz mais elevado para que sua acompanhante lhe escutasse. Ambos haviam se afastado e agora estavam de frente um para o outro, enquanto fingiam começar a dançar como as outras pessoas. — A mulher que eu conheci não era séria e insegura desse jeito, você me deu muito trabalho em Wakanda, senhorita.
— Eu sinto muito decepciona - lo. — Ela gritou em resposta para que o rei lhe escutasse. Ambos estavam se sentindo idiotas tendo de fazer aquilo.
— A única pessoa que você decepcionou, foi você mesma. Por que não vai falar com ele? — T'Challa abriu um largo sorriso travesso.
Erika no entanto, piscou algumas vezes sem realmente conseguir entender do que o homem tanto falava. Ela desviou seus olhos do rei como se seu corpo soubesse exatamente para onde ela deveria olhar. E em sua direita, bem distante da maioria dos convidados, praticamente escondido perto das escadarias que davam acesso ao segundo piso. Estava o homem que ela não via há muitos meses, vestido agora em um terno azul escuro sobre medida. Os cabelos estavam cortados e penteados em um belo topete formal. Ele estava tão diferente, que se ela não tivesse notado a mão metálica dele, nunca o teria reconhecido.
Voltou seus olhos rapidamente para seu acompanhante, mas T'Challa não se encontrava mais lá. A mulher olhou envolta, tentando inutilmente encontrar o rei. Mas não conseguia enxergá-lo em nenhum canto do perímetro. Ele só poderia estar brincando com ela.
Girou a cabeça de volta aonde estava o soldado e quase congelou ao reparar que ele agora a observava. Havia uma expressão de surpresa em seu rosto, que destacava seu desconforto assim como o dela.
Winters teve vontade de desaparecer, de sair correndo e se enfiar embaixo de qualquer uma daquelas mesas. Mas além de ser ridículo e uma atitude completamente infantil, seu lado racional sabia que ela nunca conseguiria fugir dele. E que ela deveria ser uma adulta profissional e ir questiona - lo se ele estava bem. Se não tinha tido nenhuma recaída ou se os pesadelos haviam parado de perturba - lo. — Antes mesmo que ela pudesse ter certeza do que realmente deveria fazer, já estava caminhando em passos rápidos e decididos na direção dele. Mantendo seu olhar sustentado ao do mesmo, até que estivessem próximos o bastante para que ela pudesse começar a falar.
Mas agora, estando parada diante dele, se sentindo pequena mesmo estando encima de grandes saltos. Ela não conseguiu dizer nenhuma palavra, nem se quer conseguia formular uma frase decente que pudesse não prejudica - la naquele momento tão constrangedor.
— Você está bonita. — Barnes foi quem tomou a iniciativa, esboçando um sorriso quase discreto em seu rosto tão duro e frio.
— Obrigada, o terno também lhe caiu muito bem. — Ela retribuiu ao elogio, se sentindo uma adolescente completamente apaixonada e boba diante do cara mais popular do colégio. — Como você está?
— Não estou melhor que você, mas também não estou pior. — Balançou a cabeça de forma breve, não afastando em nenhum momento, suas iris verdes dos dela. Até mesmo seus olhos pareciam se encaixar perfeitamente. E ela sabia que aquilo o assustava, tanto quanto assustava a ela mesma.
Erika esboçou um sorriso sem graça.
— Você não me procurou mais para as sessões.
— Você não queria mais me ver e eu respeitei suas escolhas. — Admitiu.
— Eu nunca disse que não queria mais te ver.
— Eu mesmo conclui depois do nosso último encontro.
— Você ainda continua sendo um hipócrita teimoso.
— É você a insistente e teimosa mulher de sempre. — Por fim, ele abriu um largo sorriso. Que por breves segundos pegaram Erika desprevenida, a deixando sem reação alguma, diante daquele Bucky que ela desconhecia.
Um longo e perturbador silêncio se instalou entre os dois por segundos que pareceram os piores da vida de Erika. Ela desviou os olhos do ex-soldado invernal, e encarou alguns garçons que passavam com bandejas repletas de taças de champanhe, desejando ardentemente que algum deles fossem até lá, para que ela pudesse beber e voltar a se sentir corajosa como se sentiu antes de se aproximar de James.
— Eu não sabia que você frequentava festas. — Ela alfinetou, voltando a encara - lo novamente.
— Você me conhece o bastante para fazer uma avaliação muito melhor do que isso, Erika.
Seus olhos se encontraram novamente. E ela teve de engolir em seco, finalmente reconhecendo que ele a conhecia melhor do que ela mesma poderia conhece - lo.
Stephen Strange
Agnes Reyes
A ruiva estava parada em frente ao enorme espelho, terminando de arrumar as pequenas pulseiras de prata em seus pulsos. Apenas alguns detalhes sórdidos para esconder as cicatrizes mais escuras que faziam questão de enfeitar sua pele.
O vestido de cor lilás, tinha longas mangas de rendas que cobriam seus ombros e braços. Um decote bem vantajoso na frente e completamente transparente nas costas. Caindo em uma saia de cascata retas, cobertas por rendas transparentes, que emitiam um certo brilho de forma charmosa e elegante.
Seus cabelos estavam presos em um coque frouxo no topo da cabeça, fazendo algumas mechas caírem sobre seus olhos azuis. A maquiagem era simples e leve, apenas para que ela não parecesse tão pálida quanto realmente era.
Duas batidas na porta, foram o bastante para que fizesse a mulher despertar de qualquer pensamento que ela pudesse começar a ter. Stephen se encostou no batente, e cruzou os braços, esboçando um sorriso discreto. Estava vestido com um terno caro sobre medida, que lhe caia perfeitamente bem.
— Wong costurou isso para você? — Ela observou, desviando os olhos de seu reflexo no espelho, para fitar o homem a sua frente.
— Como... ? — Ele arqueou uma sobrancelha, mas por fim balançou a cabeça deixando uma respiração pesada escapar. — Você tem de parar de fazer isso.
— Mas eu não fiz nada. — Sorriu enquanto se aproximava dele, apenas para ajeitar a gravata borboleta que estava torta. — Preto combina com você. — Comentou em um tom mais baixo.
— Achei que gostasse de vermelho e azul. Minha capa tem sentimentos. — Sua voz rouca se destacou, seguida da risada que ele emitiu. — Você está bonita. — Sussurrou apenas para que ela soubesse daquilo.
— Eu sei.
Ela se afastou e passou pelo homem, atravessando a porta de seu quarto, para caminhar pelos corredores do Sanctum. Tendo a certeza de que o Strange lhe seguia logo em seu encalço.
Desceu as escadas rapidamente, algo incrível para ela. Levando em consideração que estava sobre enormes saltos, que apertavam seus pés de forma a lhe irritar o suficiente para sentir vontade de chuta-los ali mesmo, e ir descalça.
— Você está muito apressada para quem não queria ir.
— Mas eu não quero. — Parou no centro da sala e rodou sobre seus calcanhares para fitar o homem. — Aliás, por que mesmo nós temos de ir à essa festa?
— Stark teve a gentileza de nos convidar.
— Mas você odeia ele. — Ela disparou.
Stephen se calou por alguns segundos, antes de prosseguir:
— Eu não odeio, nós só temos uma mentalidade muito avançada, é difícil nos entendermos as vezes. — Balançou as mãos um tanto nervoso, sabia que a mulher estava lhe medindo de cima abaixo. — Que tal irmos logo, Agnes? Quanto mais cedo chegarmos, mais cedo vamos embora.
O homem se virou de costas para a mulher, e colocou seu anel transportador nos dedos. Começando a girar seus dedos no ar, fazendo algumas faíscas se ascenderem, até que um círculo se formasse no meio da sala, abrindo um portal que trazia consigo uma ventania forte e gelada. Junto com o barulho alto de música, acompanhado do cheiro forte de álcool.
— Que nojo. — A ruiva rosnou antes de atravessar o portal.
O homem riu com o comentário de sua acompanhante, e atravessou o portal logo atrás dela. Dando três passos, para enfim pisar na calçada de frente para a fachada do enorme prédio dos Vingadores. O local era completamente enfeitados por luzes de milhares de cores diferentes, se destacando em meio às paredes de vidro que causavam um reflexo exagerado demais.
Também havia milhares de carros estacionados ali em frente, e uma fila que os guiava para a entrada do enorme prédio. Aonde havia um esquadrão de seguranças vestidos em smoking, checando os convites de todos.
Agnes seguia na frente levando os dois convites, estava impaciente, nervosa e irritada com o fato de estar ali. Mas quais escolhas ela teria? Já havia tentado se fingir de doente, mas Stephen lhe entregou tantos chás, que se ela não acabasse logo com aquela farsa iria acabar ficando doente de verdade.
— Você poderia tentar fingir que gosta disso. — O mago sussurrou logo atrás dela na fila.
— Assim como eu finjo gostar de você? — Ela o encarou por sobre o ombro, vendo ele fechar a cara e um sorriso involuntário brotar nos lábios dela.
Peter Parker
Peter havia ido até o hospital e para seu azar, ele realmente havia quebrado o nariz. Uma enfermeira enfaixou o local e o médico lhe recomendou que ficasse com o nariz imobilizado por no mínimo duas semanas. Mas a maior preocupação do rapaz, era o que sua tia iria achar?
May já não tinha conseguido aceitar muito bem o fato de seu sobrinho ser um super herói. Ela estava sendo muito mais rigorosa com ele. Se ele se machucasse muito, era para esquecer os dias de heroísmo pela cidade. E mesmo que dessa vez o seu nariz quebrado, tenha sido um dos acidentes mais fúteis de sua vida. Sabia que seria uma barra convence - lá de que realmente não havia sido culpa de uma missão.
Ele pegou as chaves da porta no bolso de sua calça e tentou entrar de forma silenciosa. Mas ainda era cedo, e sua tia estava na sala esperando por ele.
Os olhos dela foram direto para o rosto dele, especificamente sobre seu nariz engessado. O que a fez mudar a feição de preocupada, para uma carranca.
— Olha tia... — Peter começou a falar, mas logo foi cortado pela mulher.
— O que eu te disse sobre missões perigosas? — A mulher se aproximou do sobrinho, segurando no rosto dele entre suas duas mãos para avaliar a gravidade da fratura. — Peter, você quebrou o nariz?
— Sim, mas não foi em uma missão. — A voz dele estava rouca por conta do nariz engessado. — Isso foi um acidente.
— Como assim acidente? — May mudou sua expressão para preocupada novamente.
— Uma garota acertou uma porta no meu rosto, foi um acidente.
A expressão que May havia feito, foi a mesma que Ned também esboçou no dia seguinte, quando Peter lhe contou sobre o ocorrido. Foi um misto de curiosidade, indiferença e até mesmo zombação. Claro que ninguém conseguia acreditar naquela história. Se fosse apenas um incidente com Peter Parker, o garoto nerd, tímido e que não tinha nenhum poder. Eles até acreditariam. Mas como se tratava do Homem Aranha, chegava a ser comparado a uma piada muito divertida.
Ned não conseguiu se conter a não rir do amigo, enquanto os dois paravam no pátio da escola e jogavam suas mochilas sobre o banco.
Peter havia removido o gesso do nariz aquela mesma manhã. Mas o local ainda se encontrava em um tom mais roxo e até mesmo inchado.
— Peter, eu não acredito que você deixou isso acontecer. Esta manchando a imagem do Homem....
— Cala a boca, Ned. — O rapaz o interrompeu, desviando os olhos do amigo para olhar ao seu redor. — Quantas vezes eu tenho que repetir, que não podemos citar esse nome em público?
— Desculpe, as vezes eu me empolgo. Sabe, não é fácil se acostumar com isso. — O outro deu de ombros, esboçando um sorriso de desculpas.
— Eu que o diga. — Peter deixou seus ombros encolherem pra baixo, enquanto balançava a cabeça de forma negativa.
— Com licença.
O Parker paralisou ao ouvir a voz logo atrás dele, seus batimentos cardíacos se aceleraram no mesmo instante ao perceber que era a mesma voz que ele ouvirá no dia anterior. A mesma voz que lhe encheu de desculpas, logo após ter acertado a porta no rosto dele.
— Peter! — Ned estalou os dedos na frente do rosto de seu amigo.
O moreno balançou a cabeça rapidamente e respirou fundo, como se tivesse acabado de despertar de um transe. Ele se virou, ainda sentindo sua cabeça pesar, como se sua mente evitasse processar as lembranças dele.
Se virou e finalmente fitou a pequena garota diante de si, os cabelos loiros, olhos grandes e azuis. Suas orbes o fitavam como se ele fosse um completo estranho, e Peter sentiu alívio em ver essa reação.
— Eu... Han... Estou perdida, aonde fica a sala de aula de literatura? — Ela questionou enquanto desviava os olhos para os vários papéis que segurava.
O rapaz não respondeu, apenas a fitou como se a qualquer momento ela pudesse gritar, "Olha o Homem Aranha". Mas ela não tinha visto ele sem máscara, mesmo assim ele estava se sentindo completamente inseguro, conforme os olhos dela lhe encaravam como se lhe acusassem de algo. Mas ela não tinha nenhuma outra expressão a não ser de confusão.
— É no segundo prédio, sala 23B. — Ned respondeu.
— Obrigada. — Ela sorriu para o outro garoto e deu as costas para Peter, pegando sua mochila que ela também havia deixado sobre o banco próximo aonde eles estavam.
Ele a observou se afastar, sentindo seus músculos doerem de tanta tensão. Só poderia ser alguma pegadinha com a cara dele.
— Hey, Pete. — Ned deu um soco no ombro do amigo, lhe chamando atenção.
— Han... Oi, Ned.
— Cara, você saiu fora de área. O que aconteceu?
— Aquela garota. — Ele desviou os olhos da entrada da escola, para ver a feição confusa estampada na cara de seu amigo. — Foi ela, é a garota que bateu com a porta na minha cara.
— Sério? — Ned apenas observou o outro balançar a cabeça concordando. — Acha que ela sabe que você é.... Sabe quem?
— Por qual outro motivo ela teria se matriculado na mesma escola que eu? Estamos na metade do semestre e essa garota aparece aqui um dia depois de ver o Homem Aranha? — Parker deu meia volta e pegou sua mochila sobre o banco, jogou sobre os ombros e seguiu em direção a escola.
Ned fez a mesma coisa e correu logo atrás de seu amigo, para que pudessem continuar a conversa.
— Pode ser apenas uma coincidência.
— Não existem coincidências, Ned.
— Você ter saído com a filha do Abutre, não foi coincidência? — O amigo rebateu, segurando o riso ao se lembrar do ocorrido de dois anos atrás.
— Eu conhecia a Liz, nós estudávamos juntos. O pai dela se tornou um vilão, depois.
— Ou ele poderia saber que o Homem Aranha saia com a filha dele. — O rapaz alfinetou. — Vamos, Pete. Pare de insegurança, foi só uma coincidência.
Peter apenas concordou com um aceno, finalmente se dando por vencido. Realmente a garota não deveria saber quem ele era de verdade, era apenas mais uma das milhares de coincidências que haviam em sua vida.
O sinal tocou e todos os alunos se aglomeraram no corredor, seguindo rapidamente para suas respectivas salas. E os dois amigos não ficaram para trás, entrando logo na sala de química, a primeira aula do período deles.
Os dois se sentaram na mesa dupla, as aulas eram sempre compostas por experiências em dupla e ambos sabiam se ajudar naquele quesito. Ainda mais que Peter tirava a maioria de suas ideias para o uniforme, daquela aula.
Ele jogou sua mochila sobre a mesa e a abriu para pegar seu livro. Mas o que puxou lá de dentro foi um tecido, que escorregou para fora da mochila e caiu sobre o colo dele. — O rapaz prendeu a respiração e agarrou o tecido rapidamente, por um segundo achando que fosse a sua roupa de Homem Aranha, mas aquele pano era rosa e estava muito longe de ser um uniforme.
— Tá fazendo balé agora, Parker? — O grito de Flash Tompson ecoou pela sala inteira. Arrancando alguns risos.
Peter juntou o tecido e o enfiou dentro da mochila rapidamente, vendo um caderno de capa vermelha e um estojo roxo. Aquela não era sua mochila.
— O que é isso? — Ned sussurrou, se sentindo embaraçado pelo constrangimento do outro.
— Droga, é a mochila daquela garota. Ela está com a minha, e meu uniforme está nela. — Ele começou a falar, já se levantando e correndo para fora da sala.
Esbarrou com seu professor na porta, e ainda pode escutar ele gritar um palavrão. Conforme Peter escorregava pelo corredor, correndo o máximo que podia em direção a sala de literatura. Ele nem sequer parou para pensar um segundo em como iria alcançar a garota, também não pensou quando finalmente alcançou a sala e entrou de supetão, empurrando a porta e invadindo a sala de aula.
A garota loira estava em uma das carteiras do fundo, sua mochila estava sobre a mesa e ela estava prestes a abrir. Peter pousou o pé sobre uma cadeira e pulou a carteira, para alcançar a fileira aonde ela estava. Jogou a mochila dela sobre a sua e puxou a alça da debaixo, a trazendo para perto de si e mantendo longe dela.
Os olhos da garota estavam espantados diante dele, e de tal atitude abrupta. Ela olhou para a mochila que ele jogou sobre sua mesa e depois para a que ele segurava.
Elas eram idênticas.
Ela nem precisou pensar muito para saber o que estava acontecendo.
— Trocamos a mochila no pátio, essa é minha. — Afirmou enquanto recuperava o fôlego.
— Ah... — Ela pareceu um pouco confusa. — Obrigada?
— Sr. Parker! — A voz da professora se fez presente, um tom muito mais alto que o normal. — Essa não é a sua aula.
Peter se virou e observou a Sra. Aurora lhe encarando com sua típica feição de poucos amigos. Os braços estavam cruzados e ela lhe intimidava com um olhar mortal por sobre as lentes de seus pequenos óculos.
— Foi apenas um pequeno acidente. — Peter ergueu sua mochila como se aquele gesto explicasse tudo.
— Seu nariz também deve ter sido um. — Rebateu.
Ele sorriu um pouco sem jeito, colocou a mão sobre seu nariz que ainda estava um pouco inchado e roxo e seguiu rapidamente para fora da sala de aula.
Já no corredor, ele se apoiou em um dos armários e respirou fundo. Sentindo um completo alívio por ter conseguido recuperar a mochila antes que ela descobrisse o que havia dentro.
Camilla Sath Stark
O tic tac do relógio era acompanhado pela batida frenética dos dedos da garota sobre o balcão envernizado. Seus olhos azuis estavam elevados para cima, observando o redondo relógio que marcavam 2:35PM. O expediente mal havia começado e ela já se perdia absorta em um tédio descomunal que chegava a lhe irritar. Nem mesmo o dono da loja estava tagarelando como costumava fazer com os poucos funcionários que haviam ali, tinha sumido para o depósito há mais de trinta minutos e ainda não tinha sinal algum de retorno. A loira abaixou a cabeça de forma a se escorar mais ainda, usando o balcão como um travesseiro duro e desconfortável, fechou os olhos e inspirou bem fundo.
Por um breve momento ela se permitiu relaxar, sentia seus músculos doerem um pouco, entregando toda a tensão que ela já carregava alguns meses, sendo bem mais familiar do que uma boa noite de sono que ela não conhecia há semanas. Teve impressão de ouvir o sino tocar logo acima da porta, o que indicava a presença de algum cliente, mas não se atreveu a se mover, considerando que a maioria das pessoas que entravam ali, apenas passavam para olhar um produto, fazer uma pergunta idiota sobre o preço que estava estampado na cara deles e irem embora. Se ela fingisse que estava dormindo, ninguém a perturbaria naquele momento tão necessariamente sagrado.
Ela ouviu o barulho de saltos se aproximando, o que fez com que a mesma erguesse a cabeça contra sua própria vontade, sentindo alguns fios rebeldes cobrirem seu rosto, ao qual ela afastou rapidamente com a ponta dos dedos. Havia uma garota morena parada de frente pra ela, o rosto tombado para o lado e uma expressão de cachorro que acabou de ser abandonado na beira da estrada. Camilla piscou algumas vezes confusa, já que a mesma não exibia nenhuma outra expressão ou ao menos se dava ao despacho de falar uma palavra.
— Han... Olá? Posso ajuda-la? — Questionou com certa confusão, se esquecendo totalmente de seu próprio procedimento de atendimento.
A expressão da outra mudou drasticamente, para um olhar mais baixo e um bico nos lábios cobertos por batom escuro, como se tivesse sido ofendida.
— Como assim? — Ela balançou a cabeça mais atordoada do que a outra. — Camilla Stark, não brinque comigo.
A loira elevou seus olhos azuis com certo assombro, dando um passo atrás, como se tivesse acabado de levar um choque. Ela olhou para os lados buscando por alguém próximo que tivesse ouvido aquilo, mas por sorte só estavam presente as duas. Voltou os olhos para a estranha e abriu a boca diversas vezes, sem conseguir soltar nenhuma palavra. Na sua cabeça já se passava milhares de coisas horríveis, ela tinha sido descoberta e não demoraria para sua vida ser totalmente exposta.
— Você... Acho que está enganada. Meu nome não é esse.
— Por Odin! — A morena bateu com a própria mão na testa, balançando em descaso a cabeça. — Eu espero que sonsa seja um novo papel que está interpretando. Porque eu não consigo acreditar que você não reconhece mais a sua melhor amiga.
Por um segundo Camilla parou para observar toda a situação, tentando desviar o foco de suas paranoias para encarar melhor a garota a sua frente. Sua mente parecia estar um pouco mais lerda aquela tarde, considerando que os cabelos escuros e olhos escuros, pele pálida e estatura alta lhe eram familiar, só não conseguia se recordar de onde. A palavra "melhor amiga', algo que não ouvia há uns 3 anos, só lhe fazia recordar de uma única pessoa.
— Lilly? — Ela questionou receosa, com medo de ter errado o palpite e aquela garota realmente estar ali para tirar sarro da cara dela e ameaçar contar seu maior segredo.
— Acho que sim. A não se que você tenha uma outra melhor amiga, dai eu terei que matar ela.
No segundo seguinte, a pequena loira se viu correndo para atravessar a portinha que dava acesso para de trás do balcão, passou por ali tão rápido quanto poderia imaginar que conseguia correr, se atirando encima da morena em um abraço apertado, quase levando as duas ao chão se a outra não tivesse conseguido se equilibrar sobre os saltos e retribuir ao abraço da menor com o mesmo carinho em que recebia. Ambas permaneceram em um longo silencio, apenas aproveitando um pouco uma da outra, tentando amenizar naquele abraço, toda a saudade que o afastamento abrupto lhes trouxe. Cam era a que mais parecia sentir por tudo, não querendo de nenhuma forma largar da maior, como se tivesse medo que ela sumisse ao se afastar.
— Se fizer alguma piada sobre esse momento, eu quem mato você. — A Stark quebrou o silencio depois de longos minutos.
— Não acredito que eu senti falta desse seu mal humor. — Lilly riu, agarrando a menor pelos ombros e afastando dela para que pudesse dar uma boa olhada em sua amiga. — Você está um trapo. — Admitiu depois de torcer a boca em uma careta com o macacão jeans, junto de uma regata branca e tênis hall star brancos que a loira usava, sem contar os cabelos presos em um coque no alto da cabeça, com fios rebeldes caindo por todo seu rosto e a franja toda bagunçada sobre os olhos. — Eu fico fora por três anos e você vira moradora de rua? Que eu saiba seu papai pode lhe dar uma agencia inteira de modelo se você pedir.
— Cale a boca. — Cam rosnou em sussurro. — Não pode falar isso em publico. Esqueceu?
— Eu ainda não acredito que você insiste em guardar esse segredo de estado. Se eu fosse filha do homem mais rico e mais cobiçado de Nova Iorque, ia deixar claro pros quatro cantos do mundo.
— Só que eu não sou você e amo a minha vida simples. — Camilla deu as costas para a Gandy, voltando para seu posto atrás do balcão, no mesmo instante em que o Sr. Delmar surgia vindo direto da cozinha.
O homem olhou entre a garota morena e sua funcionária, como se tivesse escutado algo que não deveria, criando um pequeno temor que percorreu todo o corpo da Stark em um calafrio até a espinha.
— Você já foi atendida, señorita? — O homem a questionou em um breve espanhol.
Cam soltou um suspiro discreto, se virando por sobre o balcão para encarar sua velha amiga que apenas balançou a cabeça de forma positiva, abrindo um largo sorriso.
— Eu apenas vim visitar uma velha amiga que não via há anos. Não quero atrapalhar o expediente dela. — Garantiu, abrindo sua bolsa e retirando um pequeno papel azul bebê, passando por sobre o balcão nas mãos da loira. — Esse é meu número, liga privado. Meus pais não mudaram muita coisa. E não suma novamente, já foi difícil demais te encontrar. — Piscou para a menor, antes de acenar mais uma vez para o dono da loja e sair tão rápido quanto havia chegado.
A loira se afastou do balcão, seguindo em direção a porta que dava acesso ao corredor de armários dos funcionários. Ela abriu o papel e reconheceu as letras bem desenhadas, com uma caligrafia irrevogável.
"Gostou da surpresa? Espero que Lilly não tenha sido a Lilly que já estamos acostumados. Estou com saudades de você, querida. Organizei um jantar especial para nós três. No mesmo lugar de sempre, Happy vai te buscar mais tarde. Espero que eu não tenha que te aturar com cheiro de queijo novamente. — Eu te amo. S.T."
A mesma não pode deixar de revirar os olhos com o conteúdo da mensagem, mas também não conteve o sorriso que brotou em seus lábios por saber quem era o responsável daquela maravilhosa surpresa. Dobrou o bilhete novamente e o enfiou em um dos bolsos de seu macacão, antes de voltar para seu posto de atendente na frente da loja.
&&&
Havia acabado de anoitecer quando Camilla atravessou a rua por de trás de seu prédio e dobrou a esquina, seguindo em direção a o único beco que havia ali. Não tinha muito movimento no local aquela hora, apenas algumas poucas pessoas voltando do trabalho. E o trecho ao qual ela seguia, era um dos menos iluminados. Tanto que ela só conseguiu reconhecer Happy encostado no para-choque da BMW M4, depois de finalmente ter se aproximado do mesmo. Ele sorriu de forma cordial a ela, fazia tanto tempo que não se viam, que a jovem se conteve ao intuito de pular no pescoço dele em um abraçado apertado. Se limitando apenas a segui-lo em silencia, o vendo abrir a porta traseira para que a mesma entrasse.
Se sentiu confortável no banco de couro, se encolhendo logo atrás do banco do carona, para que pudesse ver Happy se acomodar ao lado do motorista, sabendo que ele também poderia ter uma boa visão dela pelo retrovisor.
— Como ele está? — Questionou assim que o veículo começou a se mover.
Happy a encarou rapidamente pelo retrovisor e balançou os ombros.
— Você sabe como ele é. Está sempre trabalhando, dando trabalho a Pepper, já que ele não sai daquela oficina nem ao menos para comer. Disse estar ocupado com um novo projeto de armas para a S.H.I.E.L.D.
— Ele odeia a S.H.I.E.L.D.
— Sim. Mas também gosta de monitora-la, acha que trabalhar com ela pode fazer as coisas fluírem melhor. Não que eu concorde muito com isso, Fury é um homem de muitos segredos.
— Meu pai também.
O segurança maneou a cabeça de forma a concordar com aquela questão. Só existiam quatro pessoas no mundo que conheciam Anthony Stark como ele realmente era em sua pura essência. Happy, Pepper, Rhodes e Camilla. E eles se resumiam no único circulo de amigos a quem o homem realmente poderia confiar. Apesar de haver também aquela promissora mulher e assumir o lugar de Fury na S.H.I.E.L.D, o nome dela deveria ser Mia Barnes, mas Cam não era boa em decorar nomes.
— E como você está, Happy? — Inclinou a cabeça para o lado e um pouco o corpo pra frente para ver a feição do homem. Se importava com ele tanto quanto se importava com seu pai. Happy era como ela costumava dizer "seu tio". O melhor que ela poderia ter.
— Eu estou bem. — A resposta foi curta e sorridente.
— Colesterol?
— Controlado.
— Pressão?
— Tentando controlar. — Cam riu com a resposta sincera dele. — Trabalhar para Tony Stark não garante sempre um ambiente de trabalho silencioso.
— É... Mas você gosta desse ambiente. — A loira se recostou novamente no banco, enquanto o carro dobrava a entrada da mansão.
Logan Howlett
A morena se afastou de um dos garçons, depois de pegar uma das taças de champanhe disponiveis sobre a bandeja que o mesmo carregava. Bebericou da bebida e de longe pode observar Logan sentado sozinho em uma mesa mais afastada de todos. Ela desviou os olhos dele para encarar o restante dos convidados na festa, mas acabou por suspirar em frustração consigo mesmo, quando ja tinha virado sobre os calcanhares e seguia em passos intensos e apressados na direção do mutante solitário.
Ela deslizou seu corpo sobre uma das cadeiras de frente pra ele, pousando sua taça sobre a mesa e atraindo os olhares claros dele sobre ela. Por um momento, se esquecendo de toda a nuvem negra que pairava sobre suas cabeça e que um dia ela ja o odiara mais do que tudo em sua vida. Mas, ele estava tão lindo naquele terno escuro sobre medida e os cabelos penteados para trás, mesmo que ela o preferisse com jeans e jaqueta, com os cabelos totalmente selvagens. Se sentiu até uma adolescente nervosa com o primeiro namorado, diante dos olhos selvagens dele.
— O que faz sozinho aqui, monstrinho? — Ela questionou com um tom de ironia e brincadeira.
— Talvez, eu só queira estar sozinho. — Resmungou de mal humor ao pegar seu copo com whisky e o virar na boca.
Kate revirou os olhos com o mal humor dele, por um instante, ela parecia ter se esquecido com quem conversava. Mas, não deixou que a postura autoritária e mal humorada dele lhe afetasse. Esboçando um pequeno sorriso em divertimento.
— Pro seu azar, ou sorte. Eu não estou com vontade de deixar ninguém sozinho. Então, eu não vou sair daqui até que eu seja expulsa da festa.
— Isso não vai demorar a acontecer. Mesmo que estejamos bloqueados pela saída do elevador, te jogar pela janela ainda é uma boa opção. — Um sorriso finalmente brotou nos lábios dele, um tom ameaçador que divertiu a garota.
— Eu vou adorar ver você tentar. — Ela pegou sua taça e bebeu o liquido gelado de forma despreocupada. — A ultima vez que me pegou nos braços, foi pra me jogar na sua cama. O que me garante que hoje não me jogue sobre uma dessas mesas? — O mutante pareceu ter engolido em seco com as palavras dela, como se estivesse se recordando claramente das ultimas lembranças deles juntos. — Me ame ou me mate, Logan. Nós dois sabemos que você só é capaz de uma coisa.
Ele a observou por de trás de seu copo, os olhos estreitos e em tom ameaçador e selvagem para tentar assusta-la, não pareciam surtir efeito nela. E ele sabia que não surtiriam, ela não se assustava facilmente, nem se ele fosse o próprio diabo ela teria medo. E isso o deixava orgulhoso de ¨sua garota¨, mesmo que ela não fosse mais sua. Como na verdade, nunca havia sido, exceto na cabeça dele.
— Aonde esta seu psiquiatra?
— Cuidando do meu progenitor.
— E porque você não esta com eles?
— Porque eu nunca gostei de reuniões familiares. e... Porque eles também me expulsaram da rodinha deles, estavam em um papo sério e me mandaram passear. Parece que alguém vai morrer esta noite. — O tom despreocupado dela quase o fizera relaxar, se não tivesse prestado atenção atentamente nas palavras ditas pela mesma.
— Do que esta falando?
— Algo sobre ter uma bomba relógio no prédio. Eu não entendi muito bem o que estavam falando, Wade as vezes fala merda com merda. Mas, parece que tem alguém aqui que pode colocar esse prédio abaixo e todos estão preocupados com os planos do Stark quanto a isso. Não que eu me importe, na verdade....
— Você nunca se importa, Kate. — Logan a cortou, ja se levantando da mesa, deixando o copo quase vazio sobre a mesma. — Eu vou conversar com Charles e Erik, depois falo com você novamente. Vá com Wade e Robert, te encontro com eles.
Kate tentou impedi-lo de ir, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, o mutante ja tinha desaparecido em meio a multidão. Ela suspirou frustrada, correndo o risco daquela ainda ser sua ultima noite viva e não teria nem a chance de aproveitar um pouco com quem queria.
Ketissidy Wilson
O carro em alta velocidade, atravessou a quinta avenida e dobrou na esquina de forma que o mesmo quase pendesse em direção ao chão, os pneus cantaram e fora muito mais que impossível não chamar atenção das pessoas que transitavam no local. O próximo barulho foi o de um tiro, o que fez todas as pessoas se abaixarem em proteção, clamando por suas vidas, conforme o vulto de uma moto também dobrava a esquina, seguindo logo no encalço do carro que acelerava sem ao menos se importar com os outros carros, desviando em movimentos radicais e ultrapassando todos os sinais. O piloto da moto ergueu a mão mais uma vez e disparou com sua pistola contra o vidro traseiro do veículo que se despedaçou em milhares de pedaços, espalhando-se pelo chão.
Ambos dobraram a esquerda na próxima rua, o que deu uma chance para o piloto da moto acelerar e finalmente alcançar a mesma velocidade, apontando agora o revólver na direção do motorista que mantinha os vidros fechados. Ele olhou de relance por um segundo, antes de jogar todo o carro na direção da moto, o piloto diminuiu a velocidade, se desviando para o mesmo lado, agora disparando sua arma contra o espelho retrovisor. A corrida acirrada parecia não querer se encerrar em nenhum instante, até o momento em que a moto mais uma vez ganhou velocidade, acelerou ao máximo até atravessar o carro, se jogando na frente do mesmo, ao fazer as rodas do pneu rodopiarem na pista, estacionando em meio a avenida, obrigando o motorista a pisar fundo no freio de uma única vez. O asfalto se encheu de fumaça com o atrito dos pneus que ralaram todo o chão numa tentativa de cessar a velocidade, jogando todo o peso do mesmo pra frente, empinando a traseira e fazendo o capo do carro se chocar contra o chão, uma, duas, três vezes o veiculo rolou para a esquerda, até parar totalmente no centro, obrigando os outros veículos a pararem também.
O piloto da moto desceu da mesma, retirando o capacete conforme se aproximava do veículo, ele largou o capacete no chão e se abaixou parando próximo a porta do motorista, aonde o vidro se abaixou, revelando os cabelos negros da jovem garota do lado de dentro, preenchendo todo o teto. Havia um corte na testa dela e suas mãos também apalpavam a parte superior do veículo, tentando amenizar a pressão por estar de cabeça para baixo. Ela olhou na direção do loiro, com uma expressão fechada, os olhos semicerrados e a respiração ainda alterada pelo choque do rodopio do veículo.
— Me promete que não vamos fazer isso de novo... Hum... — Ela gemeu, balançando a cabeça um tanto atordoada.
— Chega de brincadeiras, hora de voltar pra casa, maninha.
— Mas ainda nem é Natal.
— Não, mas temos uma missão para cumprir. Chega de ficar brincando de mercenária por ai, papai nos quer presentes no almoço. — O loiro se reergueu em uma postura mais séria, esperando que a outra finalmente deixasse de birra e saísse logo.
Kate jogou a cabeça pra trás no banco e respirou bem fundo, deixando escapar um gemido de dor por todo seu corpo que latejava pelas pancadas causadas durante o acidente.
— Acho que eu prefiro morrer, me deixe aqui pra isso.
— Fomos contratados para ajudar a pegar uma pessoa muito ruim. Que a propósito, está trabalhando com seu ex namorado. — Ele torceu a boca em um riso nasalado.
O silencio pairou por alguns segundos, antes de ouvir o destravar da porta e a mesma se abrir. A Wilson arrastou seu corpo para fora do carro, gemendo em meio a todos os esforços que fazia, o restante de seu corpo pendeu contra a calçada e ela riu para não chorar com a dor que aquilo lhe causou. Deitada no asfalto, ela se virou de barriga pra cima, para observar melhor seu irmão gêmeo.
— Beleza. Só me dar uma arma e dizer aonde essa pessoa está, que eu faço todo o trabalho. É hoje que eu mato aquele filho da puta.
Robbin sorriu para a irmã, satisfeito em saber que a proposta nunca falhava.
&&&
Só existem três coisas que ela mais odiava no mundo:
Bebidas alcoólicas, assassinos e mutantes.
Na verdade eram quatro. Porque acima de todas as três opções, ela também odiava seu pai e ele estava no hanking, ganhando em primeiro lugar como a coisa que mais detestava em toda sua maldita e merda de vida.
Parecia até que era uma adolescente revoltada, mas quando se cresce tendo o estilo de vida ao qual ela foi obrigada a ter, passa-se a odiar tudo e a todos sem remorso algum, da mesma forma como eles também te odeiam e nem se importam de esconder.
Kate nem ao menos sabia porque estava se lembrando de todas aquelas coisas. Talvez fosse mais uma reação adversa a terapia. Estar diante do seu psiquiatra costumava a deixar frágil e indefesa, algo ao qual não suportava de forma alguma, mas se obrigava a passar uma hora três vezes na semana com ele. Ainda mais que a porcaria daqueles olhos azuis, eram tudo que ela ainda mais admirava.
Tantos psiquiatras no mundo e tivera de ser tratada logo pelo que mais a conhecia.
Seu irmão.
— Está me ouvindo, Kate?
A voz dele a trouxe volta a realidade, lhe fazendo piscar algumas vezes, um pouco confusa por talvez ter perdido mais alguma coisa que ele tinha a adicionar no longo sermão da sua sessão.
— E eu tenho outra escolha? — Revirou os olhos, torcendo o canto da boca em uma careta de desgosto.
Rob forçou um breve sorriso de lado, antes de abaixar seus olhos novamente para uma ficha que tinha em mãos, a ficha dela. Não que ele realmente precisasse dela para lidar com a garota a sua frente, mas gostava de parecer um ótimo profissional, não importava se as sessões eram para tratar de sua irmã. Na verdade, ele sempre gostou de usa-la como rato de laboratório de seus projetos de estudos para medicina. Ela até costumava gostar, mas agora, nem sabia mais do que eu realmente gostava.
— Você conseguiu pegar o Maxon? — Questionou como se fosse a coisa mais normal do mundo conversar sobre as pessoas que ela caçava. Chegou até mesmo a se acomodar em sua cadeira.
— Ainda não, mas ele está na minha mira. Mas, eu consegui pegar o Travis e ele não ta nem um pouco contente, felizmente mortos não reclamam. — Sorriu triunfante. Chegava a soar sadicamente macabro.
— Eu soube disso. Fazer ele de espeto de carne não foi muito legal.
— É claro que foi e no fundo você concorda comigo. Mas, agora é um dos mocinhos e finge que não está com vontade de fazer alguma coisa com certas pessoas.
— Kate... Sou seu psiquiatra. Não estamos aqui pra falar de mim e do que eu gosto.
— Você ainda é meu irmão.
— Não dentro deste consultório.
Mais uma vez ela se pegou revirando os olhos com aquela constatação. Inclinou a cabeça para o lado e observou a carteira do médico, o logotipo da S.H.I.E.L.D. desenhado sobre o mesmo, entregando para quem ele realmente trabalhava. Mais um médico que tinha sido vendido para mais uma das organizações do governo. Ainda se sentia traída quanto a isso, seu irmão e melhor amigo, simplesmente havia lhe dado as costas para fazer parte de algo que nunca se importaria com pessoas como eles, que não os compreendiam e que a maior vontade deles era a de coloca-los uma cela como animais. Não queriam os curar. Mas no adestrar para que pudessem obedece-los e em troca poderiam viver na sociedade sem ser um perigo para qualquer outra pessoa.
Charles Xavier
Depois de mais uma briga com Erik Lensherr, a última coisa que Xavier queria, eram novas notícias. Alguns alunos estavam feridos devido a provocações de Magneto que os mesmo corresponderam, contra as ordens do professor, que sentia um enorme peso por aquilo. Era responsável pelas crianças, apesar de seus atos rebeldes, se preocupava com cada um deles, cuidando e tentando zelar ao máximo por seu bem estar. Logan estava furioso, Jean tentava amenizar alguns traumas sofridos e Ororo tentava manter todo o local em ordem. Os mais velhos também tinham sido afetados de certa forma, mas se esforçavam para não demonstrar que a ira de Lensherr era uma das piores que já tinham presenciado.
Xavier andava pelo corredor, fazendo uma checagem mental dos alunos, para saber se estavam todos bem. Ainda tinha que se preocupar em ir atrás de seu ex amigo e tentar se esclarecer perante ao incidente. Estava quase cogitando na possibilidade de denunciar o mutante para as autoridades tomarem de conta dele.
Ao passar próximo do quarto de Thalia, encontrou com Scott na soleira do mesmo, havia acabado de fechar a porta atrás de si e tinha uma expressão séria, o queixo estava tão trincado que nem precisava ler a mente dele para saber que o mesmo também estava furioso pela garota ter sido uma das mais atingidas pela ira do mais velho dos mutantes.
— Como ela está?
— Estável, consegui fazer ela dormir, mas está reclamando de fortes dores de cabeça, parece que Magneto afetou a mente dela de alguma forma desconhecida. — Apesar do ódio, era nítido a forma como ele se encontrava para fazer as palavras soarem menos cortantes.
— Eu não sei porque ele agiu dessa forma, irei atrás dele para descobrir. Aquele não era o Erik que eu conheço.
— Se o senhor não for, eu irei. E não vou com disposição para conversar. — Confessou, fechando as mãos em punho.
Charles abriu a boca para responder que não era necessário o uso de agressão, que eles não deveriam ser como Magneto, mas uma forte dor de cabeça lhe atingiu antes que as palavras saíssem de sua boca. Xavier levou as mãos até sua tempora, a dor era aguda, como se alguém estivesse enfiando agulhas em seu cérebro, ele grunhiu com a dor e caiu de joelhos no chão, perdendo totalmente o controle de seu corpo. Se curvou pra frente, até a dor desaparecer no mesmo instante em que havia surgido. O mutante ômega apoiou as mãos sobre o piso, ouvindo Scott lhe chamar, mas parecia tão distante a voz dele. Diferente do tom feminino que tomou conta de toda a mente do professor, fazendo ele erguer a cabeça em completo choque.
— Olá, Xavier. Sentiu a minha falta, querido? Erik sentiu.
O tom de voz debochado, foi quase um sussurro em sua mente, alarmado e surpreso pela presença consciente da Fênix que dominava todas as células de seu corpo.
— Mas... Como pode ter despertado? — O professor sussurrou com a voz trêmula, antes de terminar de cair inconsciente no chão.
— Professor?! Professor Xavier. — O mutante se abaixou diante do tutor, o balançando desesperado, clamando para que o mesmo acordasse, um gesto que parecia impossível.
Erik Lensherr
De todos aqueles que Erik havia machucado em meio ao seu surto psicótico, que desencadeou uma terrível fileira de acidentes interligados, uns do que ele mais se arrependia de ter feito, era a jovem de cabelos negros que agora dormia em sua cama como um anjo, apesar de ter milhares de hematomas espalhados por seu corpo, o que o fazia odiar cada célula de seu corpo. O Lehnsherr ainda tentava se manter estável, mesmo que seus poderes formigassem em sua mão, sentindo uma coceira irritante na palma da mesma. Nunca havia se sentido assim antes, nem mesmo quando perderá sua mãe, esposa e filha. Nada se igualava a profundidade de poderes que corria por suas veias, que o fazia querer e voltar ao pico de tudo para terminar o que começará.
— O que está fazendo, Erik? — A loira surgiu dentre o corredor, alcançando o homem parado a porta. Pousou uma mão sobre o ombro dele, desviando os olhos para a figura da garota adormecida sobre a cama. — Eu ainda não acredito que você realmente me trocou por ela. Eu te dei a oportunidade de uma nova vida e você simplesmente a joga no lixo por ela?
— Não se ofenda, Aurora. Mas ela é uma parcela do que você nunca vai ser em nenhuma vida.
A loira torceu os lábios em uma careta de desagrado, afastando sua mão do mutante, para cruzar os braços abaixo do busto. Sua expressão chegava a ser comparada como a de uma criança mimada que não conseguia o que queria. Vendo Evie deitada sobre a cama, ela apenas conseguia desejar que aquela pequena mutante morresse, isso se ela mesma não fizesse o trabalho. Controlar Erik para que ele surtasse e atacasse todos do Instituto, havia sido a coisa mais fácil, mas faze-lo matar aquela insignificante mutante ia muito além do que seus poderes alcançavam nele. Apesar de negar, o Lehnsherr tinha coração e ele era indomável, ainda mais quando permitia se entregar a outra pessoa.
Aurora
1687 - Londres
O convento de Santa Teresa estava sofrendo um pouco com a louca tempestade que caia do lado de fora, raios que emitiam um enorme clarão iluminavam todos os cômodos da enorme casa de freiras. Os estouros dos trovões assustavam as mais novas, que se punham a esconderem-se embaixo dos cobertores de suas camas. Por mais que tempestades do tipo fossem normais,. Aquela era de certa forma a mais assustadora. Era como se os céus gritassem e clamassem por socorro e as gotas grossas de chuva que batiam violentamente contra o teto, fossem as lágrimas de desespero.
As madres superiores correram pelos corredores por conta dos barulhos de batidas do lado de fora, era como se a tempestade fosse arrancar o telhado de todo o local. Elas passaram rapidamente pelos corredores dos quartos das jovens freiras, se certificando de que não havia nenhuma garota fora de seus respectivos dormitórios.
A irmã Agnes chegou primeiro a sala, mas escorregou sobre uma poça de água que se formará de uma goteira recém formada no teto, quase indo ao chão se não tivesse se apoiado sobre uma mesa de madeira próxima. Houve um estrondo que fez com que a mulher gritasse e abaixasse a cabeça temendo pelo pior.
— Oh meu Deus! — O grito da irmã Betty, fez com que Agnes a encarasse.
Os olhos claros de sua irmã refletiam completo assombro como se ela tivesse acabado de ver o próprio diabo. Agnes rezou mentalmente por suas almas e se virou para observar o que tanto havia assustado sua irmã.
As portas da frente do convento se encontravam abertas, o clarão dos raios iluminavam uma silhueta feminina coberta por um longo pano fino que balançavam violentamente contra seu corpo. Os cabelos loiros em um tom quase prateado se encontravam completamente encharcados assim como a vestimenta da garota. Seus olhos brilhavam em um tom de violeta que escondia a verdadeira cor deles.
— Disseram que aqui é uma das casas de Deus. — A silhueta deu alguns passos para dentro do local e as portas se fecharam logo atrás dela em um estrondo que fez com que as freiras pulassem para trás. — Aonde ele está?
As velas espalhadas pela sala eram a única iluminação naquele momento, houve mais um estouro de trovão do lado de fora e como num rompante de raios a chuva parou, deixando a sala em completo silêncio. As duas madres estavam uma ao lado da outra apavoradas pelo que seus olhos viam, era óbvio que a imagem daquela jovem garota que vagava na frente delas não era humana. A áurea luminosa que emanava de seu corpo fisíco, lhe dava uma aparência mística e apavorante.
— Quem é você? — A mais nova das madres se atreveu a perguntar.
A garota parou próxima a um castiçal com uma vela acesa, observou a chama por alguns segundos sem nem se quer piscar e por fim voltou a fitar as duas figuras apavoradas no meio da sala.
— Eles me chamam de Aurora.
— Quem te chama assim? — Agnes resolveu prosseguir.
— As pessoas que me colocaram nesse mundo.
— Seus pais! — Agnes sussurrou sua afirmação, tentando amenizar o tom tremulo. — E aonde eles estão?
A garota abriu a boca prestes a responder aquela pergunta, mas uniu seus lábios novamente e desviou os olhos das duas mulheres para o corredor logo atrás delas, como se houvesse algo do outro lado que fosse muito mais interessante do que aquela conversa sem futuro.
A loira caminhou em direção as madres que se afastaram e apenas observaram a garota caminhar para o corredor que dava acesso ao quarto das freiras novatas. Elas não puderam deixar de seguir a mais nova intrusa do convento. Não se atreviam a se meterem no caminho dela, era de longe perceptível o poder que a figura parecia ter.
Ela parou na segunda porta a direita e sem que ao menos tocasse a madeira, a mesma se abriu permitindo que a garota entrasse no quarto de Kalie, a caçula de todas as garotas.
A jovem de cabelos negros e olhos extremamente azuis, se encontrava embaixo de suas cobertas, os olhos fixos na imagem da entidade que entrou em seu quarto. Era impossível desviar os olhos do tamanho brilho que emanava dela, era como se fosse um anjo, sua áurea resplandecia iluminando todo o local.
— Não precisa ter medo, minha querida. Não vim machuca-la. — Aurora se sentou ao lado da garota na cama e tocou a face da menina com a ponta de seus dedos. — Seus pais a abandonaram nesse fim de mundo mundano de um Deus que não se importa com pessoas como você. Mas eu me importo. E vim para te levar para casa.
Os olhos de Kalie brilharam em um intenso dourado antes de voltarem a cor azul novamente. Aurora sorriu enquanto via o reflexo da mutação da garota, se levantou da cama e estendeu a mão para ela. A morena pareceu refletir um pouco sobre aquele convite, mas por fim, retirou os cobertores de cima dela e se levantou da cama, segurou na mão de Aurora e no mesmo instante os cabelos negros da garota ficaram vermelhos de onde pequenas chamas saiam da pontas deles.
— Que o senhor tenha misericórdia de nossas almas. — Agnes exclamou em voz alta, colocando a mão sobre a boca.
— Ele terá, Agnes. — Aurora olhou em direção às freiras e esboçou um pequeno sorriso gentil. — Ele tem misericórdia das almas humanas, mas sou eu quem cuida da dos mutantes.
Aurora ergueu a mão livre e assoprou sobre a palma da mesma, houve uma pequena iluminação como se toda a poeira do local largasse seu posto e se iluminasse envolta das duas freiras que caíram no chão desacordadas.
— Céus! — Kalie pôs a mão sobre a boca em total assombro.
— Elas só estão dormindo, não se lembrarão dessa noite e nem de você, minha pequena criança. Vamos! — Aurora puxou a garota pela mão e a guiou para fora do quarto.
Do lado de fora do convento, o céu escuro já estava iluminado por estrelas, as mesmas que dariam lugar ao clarão de bombas de uma nova guerra que se aproximava.
As duas garotas atravessaram a rua mal iluminada por lamparinas e desapareceram no final da esquina antes mesmo que a primeira se apagasse.
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