Capítulo 01.
Três meses depois.
Rachel.
- Querida você vai conseguir na próxima. – Phill estava na minha casa tentando me animar depois de mais um dia tentando conseguir emprego e falhando miseravelmente. Ele sempre tenta dizer que vai melhorar e eu vou conseguir algo, mas nós dois sabíamos que depois do processo as minhas oportunidades de um novo emprego estavam escassas, fui a várias empresas nesses meses e em algumas sequer me atenderam.
- Você sabe que não vou. – Me joguei no sofá derrotada. – As portas se fecharam pra mim. – Suspirei me sentindo perdida. – O que eu vou fazer agora Phill?
Nem dinheiro para pagar o aluguel por muito tempo eu vou ter, mesmo se usar minhas economias e o fundo de aposentadoria, quanto tempo eu vou conseguir me virar sem emprego? Não posso mais aceitar ajuda de Layla e Phill, eles já fazem demais por mim, com certeza não vou pedir ajuda a Marcos, meu irmão nem sabe o que aconteceu.
- Você vai conseguir um emprego. – Ele segurou minhas mãos, Phill é o único homem com o qual eu fico a vontade depois do que me aconteceu. – Você é forte e não desiste, se precisar eu lhe dou meu sofá.
- Obrigada meu amigo. – O abracei. - Você é um ótimo amigo.
Depois de passar mais um tempo tentando me animar ele me arrastou para a cozinha dizendo que ia me preparar o jantar, reclamou abrindo os armários falando que tem pouca comida, eu não ando com ânimo nem pra comprar comida e agradeço a Deus por não sentir mais vontade de tomar remédios, porque eu sei que seria muito difícil me controlar se eu ainda tivesse a compulsão do vício, eu não seria forte, não agora.
- Você ainda tem pesadelos? – Perguntou enquanto preparava o seu especial molho de queijo para o macarrão.
- As vezes. – Menti, pois tenho pesadelos todos os dias.
- Rach... – Me repreendeu. – Você não está bem, tem que procurar ajuda.
- Eu estou fazendo terapia. – Me defendi. – Mas, pelo visto não está ajudando muito.
- Talvez fosse bom você viajar um pouco, sair dessa droga de cidade. – Ele sugeriu. – Eu poderia pedir pra antecipar minhas férias e viajar com você.
- Você sabe que eu não tenho esse dinheiro todo pra ficar viajando estando desempregada. – Antes que ele falasse algo acrescentei. – E obviamente não vou permitir que você pague pra mim. - Ele sabia que nem adiantava insistir, não é orgulho, é que eu não me sinto bem com a situação.
- E se você visitar seu irmão?
- Você sabe muito bem que eu não quero que o Marcos saiba o que aconteceu e se eu for pra Chicago e me recusar a ir pro trabalho com ele vai desconfiar e fazer eu me contar. – O olhei. – Igual quando éramos adolescentes e fumamos maconha escondido.
Marcos é meu irmão mais velho, ele é bombeiro em Chicago, cidade onde nascemos, ele sempre foi muito protetor comigo e com Layla porque fala que é seu dever como dever mais velho cuidar de nós. Sempre que eu vou visita-lo ele não me deixa sozinha em casa, porque segundo ele Chicago é uma cidade muito violenta e sempre me leva com ele pro quartel, sempre gostei de ficar no quartel, seus colegas de trabalho são gentis, protetores e adoram a minha comida, se eu me recusar a ir pra lá ele com certeza vai desconfiar. Marcos sempre conseguiu me ler muito facilmente mais do que a qualquer um e olhe que ele é bom em ler pessoas, tanto que eu tenho evitado ligar pra ele por chamada de vídeo.
- E que tal visitar a Layla? – Me tirou dos meus devaneios. – Ela já sabe de tudo e está muito preocupada com você, tanto que me liga as vezes pra saber como está.
- Ah claro eu não me sinto a vontade perto de homens então vou para um lugar cheio de homens enormes que exalam testosterona. – Falei ironicamente batendo dois bifes para fritar .
- Você sabe as coisas que Layla nos contou sobre eles e sabe que estaria tão segura lá quanto comigo. – Sorriu. - Ela não mentiria.
- Ainda assim não sei como me sentiria. – Suspirei deixando o martelo de carne de lado.
- E quanto aos seus pais? – Deu a última cartada.
- Estão viajando, depois da aposentadoria eles resolveram viajar pelo mundo. – Peguei uma frigideira de ferro e coloquei para esquentar no fogo. – E ir visita-lo significa ir pra Chicago o que me leva ao problema do Marcos.
Ele baixou os ombros derrotado e mudou de assunto tentando me distrair, as vezes eu me sentia como se estivesse presa aquela situação, ao que aconteceu comigo, ao trauma que eu desenvolvi e isso me irrita muito, não quero ser a garota traumatizada. Talvez fosse realmente bom deixar tudo pra trás e relaxar por alguns dias.
**
Rachel.
Acordei mais uma vez suada, cansada e com o rosto banhado em lágrimas, olhei pelas janelas vendo que ainda está escuro do lado de fora, mas prefiro não voltar a dormir, não quero correr o risco de ter o mesmo pesadelo novamente. As vezes eu sinto que estou fazendo drama, que eu não deveria ficar assim tão traumatizada com o que aconteceu, pois tem gente que passou por coisa pior do que eu passei e seguiu em frente sem se deixar prender pelos seus medos, me sinto fraca e dramática por me sentir assim. Minha psicóloga diz que cada um lida com os eventos traumáticos de maneira diferente, mas me sinto frustrada por não seguir em frente, sinto como se estivesse presa a isso que me aconteceu e não sei como sair, o fato de estar desemprega e sem nenhuma ideia de como vou pagar as contas do próximo mês não me ajudam em porcaria alguma.
Levanto da cama sentindo como se os lençóis me prendessem e me sufocassem, ando até o banheiro tirando minhas roupas no caminho, a água fria cai em meu corpo fazendo minha pele se arrepiar com a sensação, encosto minha cabeça na parede do box e as imagens dos últimos meses passam em minha cabeça me fazendo pensar que eu devia ter agido de forma diferente, se eu tivesse ido embora na primeira cantada, hoje eu estaria com um emprego e sem esse trauma. Sim, a culpa da vítima, nossa sociedade tende a culpabilizar a vítima por não ter tido cuidado suficiente, por não ter pedido ajuda, não ter usado outra roupa, é o que eu sinto agora, culpa. Lágrimas escorrem pelo meu rosto se misturando com a água que vai sobre meu corpo, sento no chão abraçando os joelhos e descansando a cabeça sobre eles.
Depois de um tempo me lamentando e sentindo pena de mim mesma eu resolvo me levantar, termino o banho pensando na conversa que eu tive com Phill dias atrás, talvez sair da cidade seja bom pra mim, mas eu não me sinto segura estando sozinha em lugar algum, nem disponho de muito dinheiro. Desligo o chuveiro, me enrolo em uma toalha e passo outra por meus cabelos, depois de seca-los e escovar os dentes eu saio do banheiro. Uma olhada pela janela e eu vejo que o sol está nascendo, derramando seus primeiros raios sobre a cidade, os tons de azul e laranja se misturam no céu, abro a janela me encostando no peitoril e observando o nascer do sol sobre a cidade, é um espetáculo e tanto, embora não se compare com o nascer do sol no campo, o canto dos pássaros, o cheiro das árvores, o ar puro era calmante.
Quando o sol já estava alto no leste tornei a fechar a janela e fui até o closet, vesti uma camisa de Phill que eu roubei em uma das vezes que dormi lá, coloquei um short curtinho e fui para a cozinha fazer meu café da manhã, decidida a não aparecer na entrevista que teria hoje pela manhã, chega de só encontrar portas fechadas na minha frente, seria apenas tempo perdido.
Tomei meu café na bancada da cozinha mesmo, lavei a louça e voltei para a sala pegando meu notebook, o liguei fazendo uma pesquisa básica em busca de empresas de contabilidade em outras cidades, detesto a ideia de deixar São Francisco, mas preciso recomeçar e acho que um passo importante vai ser fazendo isso pelo trabalho e já que todas as portas estão fechadas pra mim aqui não me resta outra coisa a não ser procurar em outro lugar.
Horas depois e alguns currículos enviados peguei meu telefone resolvendo que preciso de um tempo longe da cidade que me faz lembrar o que eu passei, disco o número e espero que me atenda.
Ligação on *
- Irmã. – Layla fala animada do outro lado da linha alguns toques depois.
- Irmã. – Respondo no mesmo tom. – Estou te atrapalhando?
- Você nunca me atrapalha, mas não estou no centro médico, mas está tudo calmo aqui, se algo acontecer me chamam. – Me explicou. – Como você está?
- Podia está melhor. – Não adianta mentir pra ela, já sabe de tudo e me conhece o suficiente para saber que não estou bem. – E você?
- Estou bem.
- E o Nova espécie gato que você me falou semana passada? - Da última vez que liguei pra ela me disse que tinha visto o mais belo Nova Espécie que tem, mesmo de longe.
- Ele fica mais em Homeland. – Ela suspirou. – Voltou no dia seguinte e deve permanecer por lá.
- Uma pena e você não teve nem tempo de falar com ele. - Ri do barulho que ela fez.
- Até parece que um homem como aquele ia olhar pra mim. – Ela soprou um riso sem graça.
- Deixa de besteira Layla, você é linda. - Falei pronta pra começar o meu sermão.
- Então, mas eu duvido que você tenha me ligado para me falar da minha vida amorosa inexistente. – Mudou de assunto como sempre faz quando falamos sobre a sua aparência. - O que aconteceu?
- Então. – Comecei a falar aceitando a mudança de assunto. – A sua proposta para eu ir visita-la ainda está de pé?
- Espere, você quer vir na reserva? - Seu tom era de surpresa e animação.
- Sim, se eu ainda puder. – Afastei o celular do ouvindo escutando o seu grito animado do outro lado da linha.
Ouvi uma porta bater, passos abafados e uma voz grave falando parecendo preocupada, Layla respondeu que estava bem e se desculpou, então fez-se silêncio na linha.
- Eu falei que eles são muito protetores. – Ela falou depois que a porta foi fechada. – As vezes eu esqueço o quão boa é a audição deles. - Rio sem graça. - Quando eu gritei Destiny ouviu e veio me socorrer. – Ela falou rapidamente.
- Fico feliz em saber que você está segura. - Disse com sinceridade.
- Você também estará se vier pra cá. – Ela falou. – Eles protegem as fêmeas, aqui você não vai precisar se preocupar com sua segurança, nova espécie algum vai tentar nada a força com você e nenhum humano que trabalha aqui se arriscaria a fazer algo assim e sofrer com a raiva deles. – Fez o mesmo discurso de quando me chamou da primeira vez.
- Tudo bem Layla, eu realmente quero sair um pouco de São Francisco, ficar uns dias perto da natureza seria perfeito e o melhor de tudo eu estaria perto da minha irmã. - Sorri sentindo meu peito apertado de saudade.
- Estou tão anima. – Eu podia imaginar o sorriso em seu rosto era quase como se o visse pela sua voz. – Vou hoje mesmo na segurança informar que você vem me ver e pedir os arranjos necessários.
- Obrigada. – Suspirei.
- Uma coisa Rach, eles não vão te forçar a nada, nunca, mas são muito diretos, então se algum se interessar por você ele vai chegar em você e chama-la pra compartilhar sexo com ele. – Engoli em seco quando ela disse isso. – Se não quiser basta dizer um sonoro não, sem floreio, sem desculpas, seja direta ou ele vai entender como uma brecha para insistir.
- Tudo bem. - Disse com a garganta seca.
Continuamos conversando por mais um tempo e ela estava muito animada fazendo planos pra quando eu estiver lá com ela.
Ligação off*
Deixei o celular de lado e olhei para a janela suspirando, acho que eu tomei a decisão certa, vai ser bom pra mim, eu preciso sair daqui, nem que seja um pouco. Peguei o celular novamente e mandei uma mensagem para Phill contando minha decisão, ele me respondeu dizendo que vinha jantar comigo para conversarmos.
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O que esperar dessa viagem da Rach?
Até breve.
Beijo da tia Leila. 😘
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