13
SOLUÇO E BANGUELA MERGULHARAM no ar e acertaram o flanco da rainha com uma carga de plasma poderosíssima, fazendo ela tombar para o lado. Lenora sorriu com o coração na mão, sentindo a terra tremer com o impacto. Uma nuvem de poeira tomou conta da praia e os vikings cobriram seus olhos, Randi saltou na frente de Lenora e abriu as asas, formando uma barreira entre ela e as partículas de areia.
O Morte Rubra ergueu uma das asas enormes, elevando-se sobre a multidão de vikings e Lenora percebeu o plano de Soluço.
━ Deuses! ━ Ela praguejou, sentindo Astrid e Leo pousarem ao seu lado.
Randi choramingou, Lenora ficou paralisada ao ver o dragão gigante se impulsionar para o alto, batendo suas enormes asas e perseguindo Soluço no céu. Lenora não compreendia como um dragão daquele tamanho e de grande peso poderia ter forças para se erguer no ar. A cada batida de asas, era como um vendaval, asfixiando os vikings com poeira, mas Randi se manteve firme, servindo de barreira para proteger ela e Leo, que havia ficado ao lado da irmã.
Nora ficou assistindo, sentindo-se impotente, somente Soluço poderia pôr um ponto final naquela história. O cavaleiro e seu dragão pareciam uma formiga perto de uma baleia, comparado ao tamanho colossal do Morte Rubra, mas Soluço poderia usar isso ao seu favor, usando a agilidade de Banguela e sua mente sua voraz... e Lenora acreditava que Soluço e Banguela eram capazes.
━ Vamos, espinha de peixe! ━ Leo liderou os gritos de apoio.
━ Vocês conseguem! Eu sei que conseguem! ━ Lenora gritou, jogando os punhos para cima.
Soluço era o viking mais corajoso que ela conheceu... depois dela, é claro.
Eles continuaram a subir e subir, saindo da vista dos vikings, e isso gerou desespero e inquietação sobre o que estaria acontecendo em meio às nuvens cinzas. Lenora passou o braço pelo pescoço do Espectro de Areia e segurou a mão de Leo, tentando acreditar que tudo ficaria bem.
Então o céu se iluminou em flashes e Lenora acreditava que eram os disparos do Fúria da Noite. Momentaneamente, entre as nuvens tempestuosas, ela via um monte cinza perseguindo um ponto preto.
Soluço estava usando o tamanho do Morte Rubra contra ele mesmo. Jogada inteligente, mas arriscada.
Ragnar chegou mais perto e repousou sua mão enorme no ombro da filha, ele sabia que ela e Soluço tinham uma ligação, e ele nunca se arrependeu tanto em sua vida como depois de tê-la chamado de decepção, quando Lenora sempre tentou ser seu orgulho... e ele estava orgulhoso da viking que ela estava se tornando.
Lenora sentia vontade de vomitar, somente o pensamento de perder Soluço para sempre já lhe rasgava o coração... por quê de tais sentimentos? Eles eram apenas amigos, certo?
Certo?
Uma explosão de violeta enfeitou os céus e logo em seguida uma enorme cortina de chamas iluminou entre as nuvens. O fogo ficou selvagem e logo a rainha já estava mergulhando atrás do filho do raio com a própria morte. Lenora apertou a mão de Leo e o aperto de seu pai ficou mais firme, enquanto ele trocava um olhar preocupado com Stoico. Banguela girou em pleno ar e Lenora percebeu sua cauda pegando fogo, então o dragão começou a disparar dentro da garganta da rainha, que tentou parar, apenas para abrir buracos em suas asas. Soluço e Banguela se perderam nas chamas assim que a rainha se chocou ao solo.
━ Soluço! ━ Lenora soltou um grito gutural, sentindo as lágrimas pinicarem seus olhos avelãs.
Randi agarrou o casaco de lã de Lenora, impedindo a garota de correr diretamente para as chamas. A ruiva sentiu seu coração sangrar com a incerteza de Soluço ter sobrevivido.
Soluço foi a pessoa que abriu seus olhos para a triste realidade dos dragões, ele lhe apresentou um mundo novo, uma nova maneira de pensar... e ela não poderia estar mais agradecida por isso.
━ Soluço! ━ Stoico liderou a busca ━ Soluço!
Lenora correu imediatamente para o meio da fumaça, tentando ter algum vislumbre do seu amigo. Stoico empurrou qualquer viking que estivesse em seu caminho ━ Filho!
Lenora perdeu o fôlego quando viu Stoico de joelhos em frente ao corpo de Banguela... mas sem nenhum Soluço em sua sela.
━ Não, não, não, não... ━ Ela chorou e Leo correu para lhe abraçar e lhe segurar junto ao peito. ━ So-Solu-luço...
Os vikings ofegaram com a tristeza de seu líder. Nenhum deles tinha se esforçado para tentar compreender os pensamentos de Soluço, sempre o humilharam e o viram como um pária, a decepção de Berk que logo acabaria isolado da vila assim como Bolor. E agora cada um deles, incluindo Lenora, se arrependeu de suas atitudes, de cada xingamento e frases mal intencionadas direcionadas ao filho do chefe.
━ Oh, filho... sinto muito ━ Stoico chorou.
Lentamente os olhos de Banguela se abriram e ele estudou a figura melancólica de Stoico, e com um gemido ele abriu suas asas, revelando o corpo encolhido de Soluço Haddock.
━ Soluço! ━ Stoico exclamou e correu para o filho.
Ele agarrou o corpo flácido e começou a acariciar seus cabelos, aproximando seu ouvido do peito do garoto para ouvir algum batimento. Lenora olhou atentamente, rezando a Odin para lhe devolver Soluço.
━ Ele está vivo! ━ Stoico grito cheio de felicidade ━ Você trouxe ele vivo!
Uma onda de alegria cobriu a multidão e Lenora quase sufocou Leo em um abraço de felicidade. Os dragões se juntaram à comemoração rugindo e batendo asas, Lenora nunca sentiu-se tão feliz e orgulhosa de alguém como naquele momento.
Soluço estava vivo, não totalmente inteiro, mas mesmo assim, ele estava vivo!
DURANTE OS QUINZE ANOS DE SUA vida, Lenora Bjornsen costumava sentir-se presa em quem ela deveria ser, sentiu-se acorrentada nas expectativas frustrantes de seus pais... a viking perfeita, a filha perfeita, a futura líder perfeita... Isso até Soluço reentrar em sua vida e lhe mostrar que existia novos caminhos, novas maneira de enxergar as coisas, um novo futuro, onde o amor por uma criatura considerada cruel, poderia ser mais forte do que seus valores vikings. Ela experimentou a confiança de um dragão para com seu cavaleiro.
Muitas coisas mudaram depois que Soluço criou um forte elo com um Fúria da Noite. Os dragões não eram vistos mais como uma ameaça, agora eles eram bem vindos à ilha de Berk se suas intenções não fossem hostis. Agora eles ficavam empoeirados em suas casas, abrigados em seus abraços, bem vindos em suas praias e recebidos com sorrisos em sua ilha.
Assim como a maioria das famílias berkianas, o clã Bjornsen também aderiu à amizade com os dragões. Randi conseguiu uma casa na extensão do território da família de Nora. Sigrid se livrou de uma vez por todas da cabeça do Pesadelo Monstruoso que enfeitava a sala de sua casa (coisa que ela ficou muito empolgada em fazer, já que era difícil limpar a sujeira acumulada na cabeça empalhada).
Perto da lareira, Ragnar instalou uma pedra para que os três Terrores Terríveis de Sten, Erick e Leif descansassem, de vez em quando o Pesadelo Monstruoso de Ragnar colocava a cabeça para dentro da janela curiosamente (uma grande ironia, já que o chefe de clã Bjornsen havia perdido sua perna para aquela espécie de dragão), Sigrid fez amizade com um Nadder Mortal, que era tão vaidoso quanto ela, já Leo, ainda não tinha um dragão, julgando que nenhum deles combinava com sua personalidade e que um dia ele encontraria o dragão perfeito. Eles eram uma grande família, uma família que ganhou novos integrantes monstruosos. Antes eles costumavam matar dragões, agora eles faziam amizade com eles.
Lenora passou grande parte do tempo sentada ao lado da cama de Soluço, contando como estava sendo seu dia e citando as mudanças que a aldeia estava sofrendo. Outra hora ela levava Banguela para um passeio, já que ele dependia de um cavaleiro, e no seu tempo livre, ela e Randi voavam livremente rente as falésias da ilha, passavam entre as rochas que emergiam do mar e levava o Espectro de Areia para a praia, onde, bem, ele se enterrava na areia... isso era um grande ponto em comum que os dois possuíam, seu amor pela praia e pela areia.
Mas no dia que Soluço Horrendo Haddock III acordou, foi o dia em que Berk realmente mudou. Soluço passou pela soleira da porta e arregalou os olhos com a nova Berk que viu. Lenora ouviu os gritos de comemoração de onde estava, perto das docas, onde Tempestade e Randi disputavam um peixe. Logo o coração de Lenora se animou com a possibilidade de vê-lo acordado novamente.
Astrid, Nora e Leo se entreolharam com sorrisos eufóricos e não demorou muito para começarem a correr, seguidos pelos seus dragões. Eles derraparam e pararam diante de seu amigo, que agora só tinha uma perna, a outra era sustentada por uma prótese de metal, o que na opinião dela, deixou Soluço um tanto charmoso... (sim, ela é do tipo que adora cicatrizes de batalha, um dia ela irá conseguir uns arranhões de garras em seu rosto).
Soluço foi conduzido por Stoico em direção à multidão, seus olhos brilhavam com o começo de sua utopia desejada.
━ No fim só precisávamos de tudo... isso. ━ Stoico falou com orgulho.
Soluço apontou inseguro para si mesmo ━ Você está apontando para eu todo!
Stoico assenti, seus olhos brilhando com amor. O momento foi arruinado quando Bocão passou pela multidão ━ Bom, quase todo ━ ele apontou para a perna metálica ━ Aquele pedacinho foi eu que fiz com um toque no estilo Soluço. Dá para o gasto?
Soluço esticou o pé e analisou ━ Precisa de uma calibradinha.
Lenora se juntou à risada, mas engasgou quando Astrid lhe empurrou em direção à Soluço. Nora encontrou o olhar dele timidamente, feliz por ele estar vivo. Ele sorriu, coçando a nuca e sem saber o que dizer.
No final das contas, mesmo sendo uma espinha de peixe ambulante, Soluço havia sido o grande herói de Berk... e heróis mereciam recompensas, certo?
Então ela se aproximou com um sorriso e deu um soco certeiro no braço dele.
━ Ai! ━ ele se queixou ━ Por que fez isso?
━ Isso é por me assustar.
━ O quê? Mas... mas isso vai ser sempre assim? ━ Soluço gaguejou gesticulando.
Lenora sorriu mais ainda e o puxou pela camisa, conectando seus lábios em um beijo suave e macio.
━ E isso é por todo o resto!
Ele ficou paralisado por alguns instantes e adquiriu um tom de rosa brilhante, logo um sorriso se curvou em seus lábios ━ Acho que posso me acostumar com isso, Milady.
━ Que bom que está vivo, nanico Haddock.
Bocão chegou carregando uma nova cauda protética para Banguela. O dragão saiu da casa e todos os vikings se abaixaram de brincadeira.
Lenora montou em Randi e ajudou Leo a subir, até que ele encontrasse seu dragão, eles estariam dividindo aquele... eles eram gêmeos, dividiram a maioria das coisas a vida toda.
Soluço montou em Banguela, Astrid saltou sobre Tempestade e ansiosamente os dragões levantaram vôo, rapidamente se juntando à Melequento, Durão, Quente e Perna de Peixe.
Lenora soltou um grito de alegria quando sentiu o vento varrendo seus cabelos, enquanto Leo cuspia, tentando tirar o bolo de cachos de sua boca e olhos. Astrid ria estrondosamente do azar de compartilhar o dragão com uma garota com uma juba cacheada e Soluço cintilava seu olhar pela maneira tão liberta que a ruiva agia.
Essa é Berk. Neva nove meses por ano e nos outros três, cai granizo. Tudo que era cultivado lá era duro, sem sabor, e o povo que vivia lá, era mais ainda. Enquanto a comida e as pessoas de Berk eram uma porcaria, a única coisa boa eram os animais de estimação. Em outros lugares as pessoas têm pôneis, papagaios, cachorros... mas eles...
Eles tinham dragões!
E você pode estar achando que esse é o fim, não, esse apenas é o começo das aventuras de Lenora, a Valente, porque com muita coragem, ganha-se pouco amor à vida.
Foi isso pessoal, espero que tenham amado essa história tanto quanto eu.
Obrigada a todos os votos e comentários.
Só para esclarecer, ainda continuarei a história, mas não seguirei a série, somente os filmes
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top