Capítulo 8 - Amigo
"Você parece meio triste hoje", comentou a mãe de Thomas enquanto ele despejava leite em uma tigela de cereal.
Thomas deu de ombros. "Estou bem."
Ela franziu a testa. "Você não saiu de casa hoje..."
Thomas apenas encolheu os ombros novamente. "Não tive vontade hoje."
"Você se importa se eu me juntar a você?" sua mãe perguntou, apontando para o assento em frente a Thomas. Ele balançou a cabeça. "Obrigada."
Eles ficaram sentados em silêncio por um momento.
"Eu não sabia que você gostava desse tipo de cereal", comentou a mãe de Thomas por fim.
"Hum?" Thomas indagou, olhando para cima. "Ah, não muito, mas é o favorito do..." ele se interrompeu quando olhou para as folhas de milho castanhas flutuantes, terminando a frase tão baixinho que ele duvidava que a mãe ouviria. "...Alex."
Antes que ele percebesse, Thomas abaixou a cabeça. Seus olhos ficaram marejados e ele começou a chorar baixinho.
"Tom?," sua mãe chamou, parecendo alarmada. "Ei, o que houve?"
"Desculpa, desculpa," Thomas falou depois de um pequeno soluço. "Eu... eu não sei, eu..." Outro soluço o interrompeu.
"Shh," sua mãe sussurrou, de repente ajoelhada ao lado de sua cadeira, a mão em seu ombro. "Ei, está tudo bem."
Thomas envolveu seus braços em volta dela, enterrando a cabeça em seu ombro. De repente, ele foi bombardeado por memórias de quando costumava se agarrar a ela depois de seus pesadelos intermináveis quando era pequeno. Ele parou de procurar a mãe quando Alex entrou em sua vida. Ele começou a se agarrar em Alex ao invés dela.
Thomas riu em meio a um soluço, se perguntando se ele teria que voltar a abraçar sua mãe quando tivesse pesadelos agora.
"Está tudo bem," a mãe de Thomas disse suavemente, dando tapinhas em suas costas. "Querido, está tudo bem."
"Mãe?" ele sussurrou em seu pescoço.
"Sim, Tom?" ela respondeu.
"Eu... eu estou apaixonado pelo Alex", admitiu ele, a voz embargada quando pronunciou a palavra "apaixonado".
"Oh." A mãe de Thomas o segurou ainda mais forte. "Oh, Tom..."
"E eu sei..." Thomas fez uma pausa para respirar fundo, "Eu sei que você acha que ele não é real e que todo mundo fala isso com tanta certeza que às vezes eu mesmo acredito nisso. Então pra onde isso tá me levando?" Ele começou a tremer. " Apaixonado por um fantasma! É isso que eu tô!"
"Oh, meu bem", sua mãe disse suavemente. "Eu sinto muito."
A posição em que eles estavam não era muito confortável e por isso a mãe de Thomas o ajudou a se levantar da cadeira e o guiou até o sofá. Thomas imediatamente se encolheu e enterrou a cabeça no ombro de sua mãe, assim como fazia quando era pequeno.
"E o pior é que eu estraguei tudo!", falou Thomas, trêmulo. "Eu o beijei e ele não retribuiu o beijo e eu quero morrer, mamãe, ele significa muito pra mim e eu ferrei com tudo!"
"Oh, querido," a mãe de Thomas repetiu suavemente, passando a mão pelo cabelo dele.
"Eu errei", ele ecoou. "Eu errei! Eu sou um idiota, mãe. E eu me odeio!"
"Tom", chamou ela com cautela. "você já pensou que talvez isso tenha sido uma coisa boa?"
"Como assim?" perguntou ele, confuso.
"Não é saudável depender tanto das pessoas como você depende", disse sua mãe gentilmente. "Talvez se você der um tempo no Alex..."
"Dar um tempo?" Thomas repetiu, tão chocado que parou de chorar.
"Sim, Tom. Um tempo", ela ecoou. "Arrumar outro hobby ou algo do tipo."
Como ela...? Thomas não tinha palavras para descrever o quão indignado estava. Ele se sentia azul, preto e roxo, mas não tinha ideia de como isso se chamava em palavras "normais". Alex poderia o ajudar. E sabia que ele o ajudaria a qualquer momento porque o garoto de cabelos azuis era seu amigo. Seu amigo que o protegia e conversava com ele; que sabia as palavras "normais" e que sempre o lembrava de usá-las.
Amigo, a palavra ecoou na mente de Thomas como o sino azul de uma igreja preta. Será que era isso que sempre seriam? Amigos? Thomas percebeu que não se importava contanto que Alex continuasse com ele para sempre.
"Alex não é um hobby, mãe", disse Thomas por fim, indignado com as implicações dela. "Ele é uma pessoa. Uma pessoa com quem eu preciso fazer as pazes", falou, desgrudando-se do abraço da mãe e se levantando.
"Tom, espera..."
Mas Thomas já estava correndo pela porta dos fundos, sem nem olhar para trás. Ele sabia onde Alex estaria.
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