Capítulo 13 - Fogo

Thomas acordou em seu quarto. Uma breve olhada para o lado o mostrou sua mãe dormindo na cadeira ao lado de sua cama e segurando sua mão em um aperto quase doloroso.

Ele olhou pela janela, para o sol poente, e apertou os olhos. O mundo ficou preto e cinza e borrado. Ele odiava aquilo, mas se forçou a manter os olhos assim.

"Lembre-se de mim", ele sussurrou.

Sua mãe se mexeu ao lado dele, seus olhos tremulando abertos.

"Oi, bebê", ela murmurou.

"Oi", disse ele, ainda olhando pela janela.

"Como você está se sentindo?" sua mãe perguntou.

"Cansado", respondeu. "Você poderia... anh... pegar um pouco de água?"

"Claro", ela disse. "Eu já volto. Não se mova, ok?"

"Tudo bem", disse ele, ainda olhando para o sol.

"Ei. Olhe para mim."

Thomas relutantemente desviou a atenção da janela e olhou para sua mãe, abrindo os olhos finalmente.

"Não vá a lugar nenhum", ela ordenou.

"Tudo bem", ele repetiu, e ela lhe deu um abraço antes de sair.

Não sair... ele acabara de prometer algo a ela que não sabia se poderia cumprir. Estava tudo tão... diferente. Ele não se sentia em seu corpo. Ele se sentia horrível, na verdade. Ele não se lembrava do doutor Caíque o estuprando, mas... sim. A sensação de ferro derretido e grama seca... a dor que conseguia ser maior do que catorze elefantes empilhados... a sujeira... Deus, a sujeira!

Tudo aquilo era muito nítido para ele.

Sem saber direito o que estava fazendo, Thomas se levantou e abriu a janela, saindo como Alex costumava fazer o tempo todo. Ele correu para a floresta, a pele de repente muito apertada para seu corpo.

Sujo. Sujo, sujo, sujo. O tipo de sujeira que Thomas podia sentir em sua alma, o único lugar onde ele não podia esfregar violentamente com sabão.

Seus pés estavam molhados com água preto-azulada e ele olhou para cima para ver que tudo estava ficando preto-azulado agora. Ele queria gritar por Alex, dizer a ele que ele entendeu agora, que ele entende, mas Alex se foi e ele nunca mais vai voltar e Thomas sentia que seus pulmões iam explodir.

"EU SINTO MUITO!" ele gritou. "EU ENTENDI AGORA! JURO!"

Mas tudo estava ficando mais e mais azul e tudo estava ficando mais escuro e Thomas podia sentir o frio nos ossos. Estava penetrando em seus olhos, e ele os fechou com toda a força que podia, mas ainda assim o frio arrumava um jeito de penetrar em cada poro seu. Ele estava tremendo, ele está tremendo, e ele está tão, tão sujo.

Thomas lentamente se deu conta de que estava implorando para que Alex voltasse — que voltasse para ele, mas Alex nunca ia voltar porque ele não era real, e Thomas era um idiota maluco, que fora deixado apenas com a porra de sua mente maluca e ele era tão, tão sujo, ele estava imundo e nunca seria amado. Ele atraía gente como Jonas. Ele atraía gente como Pedro. Ele atraía gente como doutor Caíque.

Ele era sujo. Imundo. E nada podia mudar aquilo.

"POR FAVOR!" ele gritou, áspero e gutural, como se a palavra estivesse sendo arrancada de sua garganta. "Oh, por favor!"

A palavra ecoou pela floresta, saltando de árvore em árvore, e Thomas podia sentir a palavra afundar dentro dele, revestindo seus ossos, fazendo-os vibrar "por favor, por favor, por favor".

"Onde você está?!" ele gritou. "Eu preciso de você! Eu preciso de você, porra! Por favor!"

Suas mãos estavam em sua cabeça, puxando seu cabelo, arranhando sua pele. Suas unhas estavam rasgando a pele macia de suas bochechas, e ele percebeu que a dor era a coisa mais real que já sentiu. Ele agarrou desesperadamente o rosto, o pescoço, os braços. Doía, doía pra caralho, e ele estava chorando, mas também estava rindo porque aquilo não era a melhor coisa de todas? A coisa mais real e verdadeira que já sentira?

"Sou real!" Thomas gritou. Ele apontou para o céu acusadoramente. "Eu sou real, porra! Por que você não é ?!" Ele desabou no chão frio, frio. "Por que você não é real ?!" ele gritou. "Por que.... você não é real ?!" ele exigiu, batendo a cabeça no chão com cada palavra.

Thomas ficou quieto de repente quando percebeu que estava esparramado na frente da casa da árvore. Sua casa na árvore. Ele fechou os olhos e deixou as memórias passarem diante deles. Beijar, tocar e sussurrar canções de ninar que nunca foram reais.

Nunca foi real.

Com um grito estrangulado de agonia, Thomas se levantou do chão. Ele subiu na casa da árvore.

Estava escuro, silencioso. O ar estava pesado e Thomas ficou mudo de repente. Ele se sentou e viu as lágrimas pingarem no A-P-A-V-O-R-A-D-O que estava esculpido pobremente no chão de madeira.

O isqueiro de Alex estava perto do sapato de Thomas, e ele lentamente o pegou e o acendeu. A chama brilhou na escuridão, e Thomas de repente não estava em seu próprio corpo.

Ele observou a si mesmo pressionando a chama contra a parede.

Ele o viu a segurando ali, observando a madeira ficar mais escura à medida que queimava.

Por um tempo, nada mais aconteceu, mas Thomas de repente viu a lenha pegar fogo. Ele apagou o isqueiro e observou, paralisado, a chama ficar cada vez maior, subindo até o teto.

Thomas deitou de costas e observou enquanto o fogo lentamente engoliu o telhado. A casa da árvore estava começando a se encher de fumaça.

Algo dentro dele o estava puxando, insistindo que ele tinha que sair — sair antes que sufoque ou queime. Ele ignorou aquilo. Ele não se importava mais.

Thomas adormeceu enquanto tudo ao seu redor queimava.

E ele não ligava.

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