Capítulo 12 - A comida está envenenada
Thomas acordou com sua mãe deitada em sua cama ao lado dele, coçando suas costas carinhosamente.
"Bom dia, filho," ela disse suavemente enquanto ele se sentava, esfregando os olhos.
"Oi", respondeu ele, sentindo-se vazio e incompleto.
"Quer falar sobre ontem?" sua mãe perguntou suavemente.
Thomas começou a balançar a cabeça, mas falou: "Alex me bateu."
Os olhos de sua mãe se arregalaram. "Ele o quê?"
"Foi minha culpa", falou Thomas, passando os dedos pelos cabelos. "Eu fiquei gritando que ele não é real, ele não é real, e ele estava chorando, mas eu não parei e aí... ele me deu um tapa."
Sua mãe o encarou horrorizada.
"Ele bateu em você", ecoou ela lentamente.
Thomas esfregou os olhos, balançando a cabeça. Ele se viu de repente envolto em um abraço forte.
"Mãe?" ele chamou, incerto, enquanto sentia o corpo de sua mãe tremer como se estivesse chorando.
"Oh, Tom...", ela disse suavemente, entre soluços. "Oh, Tom! Sinto muito..."
"Por que ... por que você está ...?" Thomas começou, mas não terminou, hesitantemente dando tapinhas nas costas da mãe.
"Meu bebê", ela sussurrou, abraçando-o a tal ponto que era difícil para ele respirar.
"Mãe?"
Thomas levantou os olhos para ver seu irmão mais novo espiando pela porta.
"Hum, não queria incomodar, mas o papai tá no telefone", disse o irmão, estendendo o telefone para a mãe.
Relutantemente, ela soltou o filho e pegou o telefone. Parecendo muito aliviado, seu irmão saiu imediatamente.
"Nicolas?" Sua mãe disse, segurando o telefone no ouvido. Ela escutou por um momento. "Não, ele acabou de acordar." Ela fez uma nova pausa. "Sim, eu fiz... não, eu contarei a você mais tarde." Outra pausa. "Sim, ele é. Vejo você em breve." Ela desligou, colocando o telefone na cômoda de Thomas.
A mãe de Thomas se sentou ao lado dele na cama.
"Está com fome?" ela perguntou.
Thomas balançou a cabeça. "Que horas são?"
Sua mãe verificou seu relógio. "3:50", disse ela.
"Da tarde, ou..."
"Da manhã", ela disse, a testa franzida.
Thomas olhou para a porta. "O que papai está fazendo fora? E o que meu irmão está fazendo acordado?"
"Seu pai saiu para pegar algumas coisas", respondeu sua mãe. "E nenhum dos seus irmãos conseguiram dormir."
"A culpa é minha, tenho certeza", disse o garoto, parecendo perfeitamente apático.
Sua mãe apertou sua mão. "Se for para colocar culpa em alguém, eu coloco em mim", ela admitiu. "Tenho estado um pouco confusa e distraída ultimamente."
"Ah... " Thomas falou, sem saber o que mais dizer.
"Nós vamos ver o doutor Paulo mais tarde, ok?" ela disse, e Thomas sabia que não era realmente uma pergunta. Já estava decidido.
"Por quê?"
"Nós precisamos conversar", falou. "Todos nós."
"Sobre o quê?'
Ela encolheu os ombros. "Sobre tudo o que está acontecendo."
Thomas suspirou. "O beijo e o tapa", falou ele, e sua mãe recuou.
"Sim, Tom", concordou. "Mas isso é apenas uma parte do que precisamos conversar."
Thomas balançou a cabeça lentamente, voltando a se deitar. Ele enterrou a cabeça no travesseiro e fingiu que Alex nunca bateu nele.
🌠🌠🌠
"Não entendo por que estamos dando tanta importância a isso", disse Thomas naquela manhã. Ele não conseguira dormir de fato naquela madrugada, mas fingiu que tinha apagado para não preocupar ainda mais a sua mãe. Ele ouviu o pai chegando e tendo uma conversa aos sussurros com sua mãe. Ele estava com a cabeça cheia demais para conseguir entender algo do que eles falaram. Só conseguiu ouvir "Doutor Paulo", "verdade", "destruir" e "bem".
Não eram exatamente palavras que combinavam muito.
Eles foram para o consultório do psicólogo assim que o relógio bateu seis da manhã, e o médico não poderia estar mais acabado: olheiras profundas e o cabelo ralo desalinhado, apesar de ser nítida a tentativa de arrumá-los.
"Por que você acha que não deveríamos estar?" Doutor Paulo perguntou, mexendo em sua aliança nervosamente. Thomas notou que, pela primeira vez, o médico não estava totalmente ali com eles.
O garoto deu de ombros. "Foi apenas um beijo", disse ele. "A maioria das pessoas fazem isso."
"A maioria das pessoas fazem isso porque gostam", disse a mãe de Thomas gentilmente.
"Mas eu gostei, mãe", disse ele, franzindo a testa. "Eu gosto disso."
Sua mãe o encarou. "Você... você gostou?"
"Sim", disse ele. "Por quê? Eu não deveria?"
"Bem, não, eu... quero dizer..."
"O quê?" exigiu.
"Não pensamos que você jamais seria capaz de gostar de um beijo. Ou sexo.", interrompeu o doutor Paulo. "Pelo menos não depois do que aconteceu com o doutor Caíque."
Thomas congelou.
"Mas.... o doutor Caíque...", ele fez uma pausa, engolindo em seco, "ele só... ele só meu bateu... né...?"
"Oh, Deus", exclamou sua mãe, enterrando a cabeça nas mãos. "Oh, Tom..."
"Mamãe?" Thomas chamou baixinho, de repente muito assustado.
Sua mãe apenas balançou a cabeça, enterrando o rosto no ombro do pai de Thomas.
"Pai?" Seu pai engoliu em seco, entrelaçando os dedos com os de sua esposa.
"Tom, o doutor Caíque..." ele fez uma pausa, respirando fundo, "O doutor Caíque..." Ele balançou a cabeça, olhando para o doutor Paulo em busca de suporte.
"Thomas," doutor Paulo chamou, sua expressão normalmente calma parecendo preocupada, "O doutor Caíque bateu em você, sim, mas..." Ele passou a mão pelo cabelo ralo. "Ele também te machucou... anh... Sexualmente."
Thomas se recostou na poltrona.
"Ele... ele me estuprou", disse ele estupidamente.
"Molestou você. Sim. ", O doutor Paulo disse suavemente, os olhos cheios de tristeza como um galo cantando.
"E eu... eu não lembro disso?" Thomas perguntou.
"Foi um trauma severo para uma criança tão jovem, Thomas", disse o doutor. "Não é surpreendente que você tenha reprimido essas memórias."
"Mas ninguém nunca me contou?"
"Não vimos necessidade de incomodá-lo", explicou o psicólogo. "Isso só o machucaria ainda mais."
"Sentimos muito, Tom," sua mãe interrompeu em lágrimas. "Pedimos desculpas..."
Thomas se sentiu um palhaço. Eles esconderam aquela informação dele por meses! E para quê? Que merda de desculpa era aquela? Ele não conseguia engolir a informação completamente.
"Desculpa, desculpa", murmurou Thomas para si mesmo. "Todo mundo só sabe falar essa merda."
"E é aí que entra Alex", disse o doutor Paulo. "Você começou a falar sobre ele não muito tempo depois que o doutor Caíque se tornou seu terapeuta."
"E daí?" Thomas perguntou.
"Tom", falou o psicólogo. Thomas não pôde deixar de notar que ele voltou a o chamar de Tom. "Alex é um mecanismo de superação. Ele não é real."
"Não", Thomas tentou dizer, mas as coisas estão começaram a se encaixar. "Ele... ele... ah não..."
"Sinto muito", falou o doutor Paulo, parecendo genuinamente arrependido.
"Mas... mas nós..." Se beijaram. Se tocaram. Se sentiram. Foi real.
Foi?
Thomas enterrou a cabeça nas mãos. Ninguém mais viu Alex. Ninguém mais poderia provar que ele existia.
E, merda, ele nem sabia o sobrenome de Alex.
Oh, Deus...
"Tom", chamou a mãe, "você quer alguma coisa? Precisa de alguma coisa?"
Mas Thomas já estava balançando a cabeça lentamente, cravando as unhas nos joelhos ásperos.
"Não, não", disse ele, fechando os olhos com força. "Não!"
Girando, girando, girando... sua cabeça estava girando. O mundo estava girando. Parecia que estava caindo. Mas os passarinhos cantavam e os adultos continuavam sentados. Então como...? Como tudo podia estar ficando preto e azul tão rápido? Como que o gosto amargo de ferro e grama seca estava invadindo sua boca com tanta intensidade, e... Deus! Aquilo era sangue?
"Tom!", alguém falou. Ele não sabia quem era porque tudo estava começando a ficar confuso em seus ouvidos.
"A comida está envenenada", ele sussurrou antes de tudo escurecer.
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