Capítulo 11 - Não é real
"O que há de errado, Tom?" A mãe de Thomas perguntou.
Thomas olhou para cima, encarando o rosto preocupado da mãe sem entender direito.
"Você ficou sentado aí o dia todo", disse ela, sentando-se ao lado dele no sofá. "Há algo de errado?"
"É...", Começou Thomas. Ele tentou se conter, mas as palavras de repente saíram jorrando. " É... Alex e eu nos beijamos, ok? E depois ele começou com um papo de fugir pra casa na árvore e eu recusei. E então nós brigamos porque eu concordei com ele quando ele disse que tudo é preto e azul e ele ficou furioso porque não sei como é. E ele tá certo: eu não sei como é um mundo preto e azul. Mas ele continuou a gritar e a berrar e a me chamar de Tom, e... Mãe, ele tá muito machucado e eu quero ajudá-lo, mas eu não posso... e isso dói."
A mãe piscou algumas vezes, processando as palavras do filho. Por fim, ela conseguiu dizer:
"Você... você beijou o Alex?"
Thomas ergueu os olhos para ver o rosto de sua mãe completamente branco.
"Sim", ele disse lentamente. "Foi isso o que eu disse, não é?"
"Tom," sua mãe chamou com urgência, apertando sua mão com tanta força que chegou a doer, "doeu?"
Thomas sentiu seu rosto se contorcer em uma expressão vagamente chocada e enojada. "O quê?"
"Quando você beijou o Alex. Ele fez alguma coisa que doeu?" sua mãe perguntou. "Ele te machucou? Passou a mão em algum lugar...?"
Thomas franziu a testa. "Ele passou a mão por tudo..." admitiu ele, constrangido. "e teve um momento que ele apertou lá em baixo muito forte, mas.... "
Sua mãe parecia absolutamente horrorizada. "Oh, Tom...", ela sussurrou, envolvendo-o em um abraço apertado. "Eu sinto muito."
"O quê?" Thomas perguntou novamente, confuso. "Eu gostei, mãe. Beijar não é algo bom? Eu não devia ter gostado?"
"Está tudo bem", garantiu a mãe de Thomas, balançando-o suavemente como um bebê. "Está tudo bem. Você está seguro aqui."
Thomas ficou sentado ali, totalmente perplexo. Ele não deveria ter gostado?
Sua mãe passou a mão pelo cabelo dele. "Você está bem. Ninguém vai te machucar. Não mais."
🌠🌠🌠
A mãe de Thomas não o perdeu de vista desde que ele disse que tinha beijado Alex, e Thomas esperava que Alex entendesse o porquê dele ainda não ter saído para fazer as pazes.
Sua mãe só saía do seu lado para ligar para algumas pessoas e conversar com seu pai.
"Eu só vou dizer oi para seus irmãos, ok?" sua mãe disse quando ouviram a porta da garagem abrir. "Eu já volto."
Thomas balançou a cabeça lentamente.
Ele pôde ouvir sua mãe cumprimentando seu irmão e irmã no momento em que escutou uma batida na janela da sala. Ele olhou para fora, curioso, e viu Alex parado ali na varanda, acenando com cautela.
Thomas correu para abrir a janela.
"Oi", disse ele, hesitante.
"Vamos," Alex falou, apontando para a floresta atrás deles.
Thomas mordeu o lábio. "Minha mãe vai pirar se ela voltar e eu não estiver aqui", disse ele.
Alex suspirou. "Por favor?" ele disse. "Sinto muito, T. Eu não queria gritar. Por favor, eu... eu sinto muito."
Thomas suspirou, olhando para dentro de casa. "Tudo bem", ele murmurou, e saiu pela janela. Ele correu na direção do garoto, que abriu um sorriso.
"Oi," Alex disse suavemente, pegando sua mão com cautela. "Podemos conversar?"
"Claro", respondeu Thomas, e eles começaram a caminhar, de mãos dadas, para a floresta.
"Desculpa ter explodido com você daquele jeito...", Alex falou assim que eles se ocultaram no meio das árvores.
"Desculpa ter dito que entendia", replicou Thomas, sincero. "Eu realmente não entendo. Não sei o que estava pensando."
Alex sorriu, os lábios em dó maior um pouco tristes. "Desculpa, desculpa... todo mundo só sabe falar essa merda.", ele sussurrou, e Thomas se inclinou e o beijou.
Os olhos de Alex permaneceram fechados quando ele se afastou, e ele parecia em paz.
"Cante", pediu ele, os olhos ainda fechados.
"O quê?" Thomas indagou, surpreso.
"Cante", Alex repetiu.
"O que você quer que eu cante?" Perguntou, perplexo.
Alex deu de ombros. "Algo que todo mundo conheça."
"Hum..." Thomas fez uma pausa. Por alguma razão, tudo que ele conseguiu pensar foi em "Brilha, Brilha, Estrelinha".
Respirando fundo, ele começou a cantar. Thomas nunca se considerou afinado, ou pelo menos nunca se dera ao trabalho de cantar muito. Ele achava as músicas muito... rosas. E laranjas. Mas, por algum motivo, sempre vinham com um pouco de azul e preto. E era disso que Thomas não gostava: de produzir aquelas cores.
Porém, quando ele terminou de cantar, Alex abriu os olhos, e haviam pigmentos amarelos, verdes e vermelhos neles.
"Obrigado", agradeceu ele.
Eles caminharam mais pela floresta, as mãos ainda entrelaçadas.
"Você já notou," Alex começou, apertando os olhos para o céu que estava começando a escurecer, "que quando você aperta os olhos, tudo muda?"
"Sim", concordou Thomas. "Não de uma forma tão dramática, claro. Apenas o suficiente para me deixar irritado."
"Sim." Alex estalou os dedos. "Como aquele artista.... Com os rostos cobertos. Que tem o nome vermelho-agosto-L."
"Hum... René Magritte?"
"Sim. Nem tudo é exatamente da forma como deveria ser."
Thomas balançou a cabeça lentamente, semicerrando os olhos ao redor da floresta também. Tudo estava com um tom ligeiramente estranho, diferente, além de borrado. Ele estremeceu, olhando de volta para Alex, quem não era exatamente quem ele deveria se parecer: seus cabelos azuis estavam mais curtos, e um dos olhos estava com um grande hematoma roxo.
Ele abriu os olhos, assustado, e os cabelos voltaram ao tamanho original e o hematoma desapareceu.
"Você não é da forma que realmente deveria ser." Falou ele sem pensar.
Alex enrijeceu e Thomas pensou que ele iria começar a gritar de novo, mas Alex apenas apertou a mão de Thomas.
"Tudo bem", ele sussurrou, "contanto que você se lembre de mim."
Thomas apertou de volta. Ele tinha razão. Contanto que Alex ficasse com ele, não importava como ele se parecia ou deixava de parecer. Era a essência dele que importava - a parte que ele amava.
Eles caminharam em um silêncio denso, desconfortável como verde-laranja. Thomas podia até sentir o gosto de metal derretido e terra em sua boca.
Ele parou de andar.
"E se isso não for real?" Thomas falou de repente.
Alex franziu a testa. "Em que sentido?"
"Do jeito que meus olhos estão vendo", esclareceu Thomas. Alex inclinou a cabeça. "Como a minha mente imagina a gente aqui e agora."
"Bem, é claro que está tudo na sua cabeça", disse ele. "Mas isso não significa que não seja real."
Thomas suspirou. "Sim, mas e se tudo isso-" ele gesticulou ao redor, "está apenas na minha mente?"
Alex encolheu os ombros. "Então ainda seria real, não é? Se você pode ver, se pode sentir, por que não seria real?"
"Eu... eu não sei", disse Thomas, franzindo a testa. "Talvez porque não seja real para mais ninguém."
"E daí?"
"E daí... que talvez você não seja real."
Alex congelou, olhando para Thomas. "O quê?"
"Talvez você não seja real", o garoto repetiu.
Alex balançou a cabeça com veemência. "Não, não diga isso."
"Todo mundo me diz que você não é", disse Thomas. "Meu terapeuta, meu psicólogo, meus pais..."
"Não dê ouvidos a eles", Falou Alex com firmeza, olhando nos olhos de Thomas. "Não ouça. Você pode me ver, certo? Me ouvir?" Ele apertou a mão de Thomas. "Me sentir?"
"Pode ser uma alucinação forte."
"Uma alucinação que beija você?" Alex retrucou.
Thomas sacudiu a mão para se desvencilhar de Alex e a colocou em sua cabeça.
"Thomas, eu sou real", Alex se aproximou. "Tá me ouvindo?"
"ME DEIXA PENSAR!"
"Eu disse para você se lembrar de mim!" Alex rosnou. "Você pensou mesmo nisso?! Que eu sou realmente apenas sua imaginação?"
"CALA A BOCA!" Thomas gritou, tapando os ouvidos com as mãos. "Cala a boca, cala a boca, cala a boca!"
"Me escuta!"
"Você não é real!"
"Sim, eu sou!"
"Você não é real!"
"Eu sou! Thomas, me escuta..."
"Não é real, não é real, não é real..."
SLAP.
Thomas ouviu o tapa antes de sentir. Ele parou de falar abruptamente, como se tivessem o colocado no mudo. Alex congelou, a mão ainda erguida.
"Você... você acabou de..."
"Thomas," Alex engasgou, abaixando a mão lentamente. "Thomas, eu sinto muito, eu não..."
"Sai de perto de mim!"
"Oh, Thomas, eu estou tão..."
"Me deixe em paz!" Thomas gritou. "Sai de perto de mim!"
"Thomas, por favor, me desculpa!"
"Fica longe!" ele gritou, correndo na direção da sua casa.
"THOMAS!"
Thomas corria enquanto gritava, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele correu para a luz de sua casa, bateu na porta e seu irmão a abriu.
"Tom! Mamãe está tão..."
Thomas passou correndo por ele, soluçando enquanto entrou correndo em seu quarto. Ele desmaiou na cama, sem sequer se preocupar em trancar a porta.
Ele se enterrou sob os cobertores, se enrolou neles e adormeceu.
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