Epílogo

Oh, meu amor, minha querida
Eu anseio pelo seu toque
Há um longo e solitário tempo
O tempo passa tão devagar
E o tempo pode fazer tanto
Você ainda é minha?
Eu preciso do teu amor
Eu preciso do teu amor
Deus me dê o seu amor

Rios solitários correm
Para o mar, para o mar
Para os braços abertos do mar
Yeah
Rios solitários suspiram: Espere por mim
Espere por mim
Eu voltarei para casa
Espere por mim

Oh, meu amor, minha querida
Eu estou faminto
Eu anseio pelo seu toque
Há um longo e solitário tempo
E o tempo passa tão devagar
E o tempo pode fazer muito
Você ainda é minha?
Eu preciso do teu amor
Eu preciso do teu amor
Que Deus traga rápido seu amor pra mim

_Unchained Melody(1965), Righteous Brothers
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Epílogo 

6 anos depois

_ Mamãe, olha a borboleta !_ ouvi aquela vozinha me chamando alegremente, enquanto apontava para uma flor. 

Olhei para ele com os olhos mais amorosos do mundo. Meu maior tesouro. Ele me faz lembrar do Felipe todos os dias, ele se parece com a versão do Felipe quando criança. 

Quando tudo aconteceu há seis anos atrás meu mundo desmoronou. Todas as cetezas sobre o futuro se foram com o vento. Fiquei tão quebrada. 

Alguns meses depois, descobri que estava grávida e meu mundo desmoronou denovo. Eu só tinha 17 anos e a vida ainda doía tanto. Quando aceitei e parei pra pensar, fiquei feliz, porque uma parte do Felipe ainda estava aqui. 

Meus pais ficaram bem bravos, mas depois se acalmaram e aceitaram. Os pais do Felipe ficaram em êxtase e foi bom, porque isso fez com que eles superassem um pouco a dor. Ainda dói pensar em tudo, mas o tempo vai curando as feridas e com o tempo a gente se acostuma a deixar ela no cantinho e relembrar apenas às vezes. 

Meu pequeno homenzinho de 5 anos se chama Francisco. O nome não tão comum e como muitos podem dizer "de velho", mas gosto como soa. Ele é tão lindo e fofo ao mesmo tempo, com seus cabelos loiros, bochechas vermelhas e olhos azuis. E ele é tão parecido com ele, inteligente, brincalhão e sagaz.

Às vezes, paro e fico admirando-o, vendo o fruto do meu amor mais profundo e sincero. Ele já perguntou sobre o pai e isso me faz chorar, era e é meio complicado explicar parar uma criancinha que o pai dela morreu, que ele nunca vai conhecê-lo fisicamente. Fui sincera com ele na medida do possível e de forma adequada a idade dele. Explique que o papai não está mais na Terra, que ele vive em outro lugar, junto das estrelas no meio das nebulosas, cometas e planetas, mas que o ama como ninguém. Ele sabe no fundo a verdade. 

Ele entende e  toda noite me chama pra ir ver a lua. Ele diz que o pai é a estrela mais brilhante. Eu fico bastante triste quando penso que o Felipe nunca soube e nunca vai saber em corpo que a gente teve um filho juntos. Mas acredito que ele está presente em alma próximo à nós. 

Talvez acreditar em outras vidas seja uma forma de me consolar, mas com toda força do mundo, creio e peço para que nos encontremos nas próximas que consiga dizer para ele tudo. Espero amá-lo quantas vidas forem possíveis. Eu não consigo amar outro alguém, é algo impossível. 

Minha mãe e meu pai me dizem para seguir em frente, parar de sofrer, mas não sofro mais e já segui em frente, mas não quero mais  ninguém. A gente não pode nem terminar, não que eu quisesse, mas isso me atormenta. Eu não sinto a necessidade de ficar com mais ninguém. Quero viver à vida, mas isso não significa que tenho que ter alguém, no sentido amoroso, ao meu lado. Me sinto feliz vivendo minha vida do jeito que ela é, eu viajo, tenho o trabalho que gosto como professora de história, tenho um filho lindo e saudável e uma família incrível.

Os pais do Felipe, avós do Francisco, o amam e o mimam como ninguém. A irmã do Felipe também o adora, é a tia mais babona do mundo. Sempre traz presentes e brinca com ele. Antes eu tinha pensado em me mudar de cidade, mas mesmo sem pedir para ficar, percebi que os pais do Felipe iriam ficar extremamente tristes longe da única pessoa capaz de fazê-los se lembrar do filho amado. 

Fiquei com raiva do mundo na época em que tudo aconteceu. Como pode alguém tão jovem morrer assim? Ele vai ter pra sempre 18 anos. Meus olhos enchem-se de lagrimas quando penso nisso. Choro quando penso que ele iria fazer a faculdade que tanto queria, porque ele passou, mas aí me lembro que a turma toda já se formou e ele não, ele nunca vai conseguir subir lá encima e pegar o diploma. Ele vai ser pra sempre o garoto do Ensino Médio que nem ir na própria formatura pode. 

A vida dele ia ser tão incrível e ele era uma pessoa boa, que merecia tudo que tinha conquistado e ainda conquistaria.  Ele era amado, era saudável e morreu. Meu inúmeros planos nunca vão se concretizar. 

E o tempo é tão cruel. Tenho medo de me esquecer dele, das lembranças. Tenho medo que os próprios amigos o esqueçam. E pior tenho medo que o amor passe que eu não consiga me lembrar desse sentimento em relação a ele. 

Não gosto de pensar, mas é inevitável. Não quero pensar que chegarem aos 40 e ele ainda vai ter 18 em minha memória. Serei uma mulher de 40 anos que ainda ama um jovem garoto. Vai ser tão estranho. Queria que o tempo curasse essa dor. 

Ouço o Francismo me chamando novamente e então presto atenção em uma de suas grande paixões, os insetos. Como assim uma pessoa pode gostar tanto desses bichinhos?! Além de insetos, ele gosta de minhocas e eu tenho fobia, então quando ele vem com aquele serzinho me tremo toda. 

_ Oi, oie, bebê da mamãe.  Ela é linda, né? 

_ SIMMMM. As cores dela, olha, mamãe! 

_ Azul e mais azul! Sua cor preferida

_ Quero desenhar borboletas quando chegar em casa. Tira uma foto dessa! Tira uma foto minha com ela, mãe? !_ ele e suas milhões de ordens, as quais obedeço prontamente. 

_ Ok! Abre um sorriso grandão pra mamãe! 

Abrindo seu sorriso com duas janelinhas e com a gengiva aparecendo tiro fotos do meu garotinho todo sujo de um dia divertido ao Sol. 

_ Agora minha e sua, mamãe! 

Seguindo suas ordens tiro várias fotos de nós dois, sorrindo imensamente. Ele tem covinhas no rosto iguais as minhas, mas nele, naquela bochechas carnudas elas ficam tão lidinhas. Quando ele sorri, também sorri com os olhos igual ao pai e quando isso acontece só consigo ficar olhando pra ele. 

_ Você quer comer alguma coisa? _ perguntei, enquanto passava minha mão pelo cabeço macio dele. 

_ Quero. Quero sorvete de chiclete_ ele respondeu já animado. 

_ Então vamos na barraquinha_ falei, enquanto me levantava. Passei minhas mãos na parte de trás da calça para limpar a grama. Peguei a mão do meu pequenino e fomos em direção a barraca de sorvete. 

Compramos os dois sorvetes e ele começou a fazer uma lambança, sujando o rosto todo. Depois que acabamos, levei ele até uma torneira que tinha ali perto e limpei suas mãos e seu pequeno rosto. Em seguida fomos em direção ao meu carro para irmos à casa dos avós dele. 

Sempre quando chegamos lá, ele fica todo ansioso para entrar logo. Ele ama vir ver os avós. Ele é muito grudado com o Lion, quando estamos aqui eles não se desgrudam e na hora de ir embora é um sofrimento. Direto tenho que deixá-lo aqui nos fins de semana, porque ele abre um choro sentido e gruda na perna do Lion que dá uma dó. Então, a Carolina fala:

_ Pode deixar ele dormir aqui se quiser. Amanhã eu levo ele na aula. 

E acabo deixando, fico com ele a tarde toda e depois vou embora. A Carolina sempre me pergunta se não quero ficar, às vezes fico e outras não. Às vezes o Francismo faz um birra danada pra que eu fique, ele fica dizendo que  podíamos morar aqui, que assim ele fica com todo mundo, então ele solta o famoso "mamãe"  e é difícil dizer não pra ele, mas é preciso. 

Os bisavós também o mimam o demais, mesmo de longe. Todos os dias eles perguntam sobre ele e me pedem fotos. Quando vamos para lá, eles sempre choram e abraçam e beijam meu filho incansavelmente. 

O meu bebê ama a Alemanha, na verdade ele ama viajar pra qualquer lugar. Ele ama brincar, cantar, gritar e se divertir. Ele é tão agitado que me deixa cansadinha no final de cada dia, mas se ele pedir mais alguma coisa com a vozinha fofa, eu me rendo. Ele fica tão lindo quando de noite ele quer ficar acordado, mas está morrendo de sono, então ele vem em minha direção com seu mini pijama de coala(seu animal preferido, inclusive ele vive assistindo vídeos de coalas bebês com as mães e diz "sou um filhote de coala também, mami!"), enquanto coça seus olhinhos azuis. Ele se agarra no meu colo e não gosta que o tirem de lá. 

Moramos sozinhos em um apartamento. Por mais medo que tivesse do mundo, sempre quis ter minha própria casa, então moramos nos dois, juntinhos e unidos. Mas é como se não morássemos sozinhos, porque sempre estamos na casa de um dos avós ou são eles que estão aqui. Quando tenho que ir trabalhar deixo ele com a babá, uma senhora muito legal do prédio em que moramos, que é mais uma avó pro Francismo. Eles se amam e ela trata ele como neto mesmo e ele chama ela de avó. Quando ele não fica com ela, fica com minha mãe ou com a Carolina. 

_ VOVÓ, SOU EUUUU_ ele grita já na porta. Ele não aguenta esperar e sempre grita, enquanto fica pulando igual uma pimentinha. 

A Carolina abre a porta e ele corre em direção ao colo dela. Entramos e ele começa à falar tudo de uma vez, às vezes ele se embola, mas a gente finge entender.  Ele gosta de contar, exatamente, tudo que ele fez durante a semana, fala da escola, do que comeu etc. Ela o ouve atentamente e faz perguntas. 

Passado 1h, o Lion e a Clara chegam e, novamente, ele conta tudo denovo. O bom é que a gente tem paciência.  Quando ele está aqui tudo gira em torno dele. Como ele se parece bastante com o Felipe,  rola alguns momentos de emoção e ele fica meio perdido, então a gente disfarça e ele logo contínua animado. 

Teve um dia que ele viu uma foto do pai quando criança e disse que era ele. Foi um chororô danado.  Mas não na frente dele. 

Antes doía muito mais, mas agora a gente tenta e estamos conseguindo, nos lembrar do Lipe nos momentos felizes, sem pensar em morte e nem nada do tipo. Às vezes damos uma recaída, mas faz parte, só o tempo mesmo. É muito doido pensar que já se passaram 6 anos, estou com 22 anos, quase completando 23 e parece que foi ontem que eu tinha 16 e vivi tudo aquilo. 

Depois de um tempo admirando as artes do meu filhos, ele pede pra gente ir comer hambúrguer. Chamamos meus pais e vamos todos pro loca combinado. E o as tagarelices do Francisco se repetiram, novamente. E é muito engraçado ouvi-lo falar e contar suas histórias. 

Depois dele ter falado muito e comido "muito" ele acabou se cansando e, consequentemente adormecendo, mas tem que ser no meu colo, me abraçando com toda força do mundo que ele tem e com seu pequeno rosto grudado em meu peito. Pasdei minhas mãos por seu cabelo, tirando-os da testa, acariciando-o. Ele gosto disso como ninguém.  E envolto em seu sono profundo de criança ele diz com sua voz de bebê, não mais tão bebê assim, como sempre faz, enquanto me aperta em seu minúsculo abraço. 

_ Te amo, mamãe!

Beijo sua testa e digo, susurrando em seu ouvido, enquanto olho pras estrelas da noite lá fora:

_ Eu também, meu filho! Amo você, meu coalinha, mais que tudo! E seu pai também, mesmo que ele não esteja aqui. Vamos sempre  amar você! 

Fim

(06/08/2020)

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Olá, pessoas! Chegamos ao fim 💔

Espero que tenham gostado da história e que ela tenha ajudado vocês de alguma forma, seja com entretenimento ou qualquer outra coisa.

Muito obrigado à todxs que chegaram até o final ❤

Obrigada por tudo❤

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