Capítulo 7

Lady, running down to the riptide

Taken away to the dark side

_Riptide, Vance Joy

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Gostos musicais e conversas profundas

O fim de semana chegou rápido e terminou na mesma velocidade. 

 Na  segunda acordei cedo para me arrumar pra escola. Cheguei lá e encontrei meus colegas de classe, juntos fomos todos encontrar a professora de artes para irmos a uma exposição que estava acontecendo em um museu da cidade. 

Iriamos de ônibus. Assim que ele chegou começamos a subir. Me sentei em um banco vazio do ônibus que ficava mais perto da frente, e enquanto esperava às pessoas entrarem, fiquei torcendo para que se alguém sentasse comigo, fosse alguém que eu conhecesse, ou seja, só minha amiga que nem veio na aula. Estava torcendo, na verdade, para que ninguém sentasse comigo.

Coloquei meus fones de ouvido e comecei a ouvir minhas músicas, fiquei tão entretida que nem percebi quando uma pessoa sentou ao meu lado. Quando fui olhar quem era a pessoa meu coração disparou, era o Felipe.

— Oie, Felipe! Nem tinha te visto, me desculpa! — pedi.

— Olá! Sem problemas, vi que você estava entretida com suas músicas. Qual você tá ouvindo? — ele perguntou.

—Riptide, Vance Joy. Já ouviu? — falei empolgada.

— Já sim, gosto de mais essa música — ele disse enquanto olhava a entrada do ônibus.

— Ótimo gosto, quais músicas, bandas e estilos você mais gosta? — perguntei muito interessada.

— Ah, eu sou bem eclético, gosto Travis Scott, Skank, Sam Smith. Rock, pop, MPB, e muitos outros — ele me respondeu.

— Fala sério! Gosto também — respondi muito empolgada. 

— A gente nunca teve a oportunidade de conversar sobre isso, mas eu tenho uma banda com meus amigos e às vezes a gente toca em alguns bares ou só pra descontrair mesmo. Vamos cantar na sexta num festival pequeno que vai ter lá no centro, vai começar às 19h, se você quiser ir tá convidada. Tenho um convite lá em casa, se você quiser hoje depois do passeio eu te entrego. Quer  ir? — ele perguntou algo que nunca pensei que ouviria fora dos sonhos. 

Fiquei meio na dúvida sobre o que responder, porque nem conheço ele. E que eu saiba ninguém que conheço vai ir, mas eu queria muito ir então eu disse:

— Eu queria muito ir, mas não tem ninguém pra ir comigo, aí eu ficaria lá "boiando". Obrigada, pelo convite, mas acho que não vai dar.

— Vai comigo, eu vou cantar mais pro final, aí a gente ficava junto esse tempo curtindo o festival. Pode ser? Quero muito que você vá.— Ele me respondeu olhando em meus olhos.

Uuuuuuu!  OMG

Me senti muito especial quando ele disse isso, e mesmo.com todas as dúvidas do mundo, resolvi aceitar. Meus pais nunca foram cheio de neuras sobre eu sair, eles apenas gostam de saber onde era, com quem eu ia e minha mãe sempre dizia "se você não quiser algo, diga não" e o famoso e muito importante "não faça algo apenas, porque os outros estão fazendo" aí ela acrescentava "tem muita gente que se fode, morre e acontece um monte de outras coisas,  porque seguem a cabeça dos outros, portanto 'Não faça algo só porque  os outros fazem ou pra agradar alguém. Seja sincera com você mesma sobre o que você gosta, sente e pensa". Conselhos que eu sigo fielmente.

— Já que você se compromete a ficar me aturando a noite toda, eu aceito — respondi.

Então ele me deu aquele sorriso, como dizem "aquele maldito sorriso" que me fazia derreter, com olhos que sorriem junto aos lábios, com  brilho de felicidade.

— Você vai amar, eles tocam um montão músicas dos mais diversos estilos. Você gosta do Nirvana? — ele perguntou.

— Simmm, muitooo. Amo "Where did you sleep last night?" e todas as outras — respondi toda empolgada.

— Claro. Você tem que ver, minha mãe odeia essa, quando começa a tocar ela fica imitando o Kurt com seus urros — ele falou, rindo.

— Como odiar, meu Deus! Indignada com sua mãe — respondi de olhos arregalados por estar incrédula.

— Mas ela é legal, você vai gostar dela. Ela acha triste a história dele, aí toda vez que ela vê, ela fala: "Um rapaz tão bonito! Felipe, você pode admirar, mas não siga as atitudes" e eu sempre respondo "tá bom mãe, fica tranquila eu só curto o som mesmo" — ele relatou, enquanto exibia um sorriso divertido.

— Minha mãe também acha triste, aí ela me pergunta o que aconteceu com ele, mas agora ela já sabe da vida dele toda, "fiz" ela assistir comigo o documentário sobre a vida dele e contei um monte de coisa que eu descobri sobre ele no livro sobre a bibliografia dele — falei.

Falei isso, mas na minha mente só tinha um chimpanzé dançando e dizendo "Você tá ouvindo ele insinuando que você vai conhecer sua futura sogra?!". Tentei dizer pro chimpanzé dançante pra parar, porque nós estávamos muito iludidas.

— Eu já vi um pouco do documentário, tenho que terminar ainda — confessou.

— Não sei por quê eu meio que me interesso muito por histórias trágicas ou que não terminam com finais felizes. Não sei se com você é assim, por exemplo,  com os livros, se eles terminam sem o já batido "felizes para sempre", me tocam muito mais. Eles parecem mais reais, porque geralmente na vida real é assim, na maioria das vezes ele não acontece — desabafei.

— Isso é verdade, também penso assim, mas mesmo com isso tudo de ser mais real, eu ainda gosto de acreditar no já velho e "batido", "felizes para sempre". Eles me fazem acreditar que por mais difícil que sejam  as coisas podem dar certo. Alguém com um câncer terminal pode se curar, que as pessoas podem superar uma depressão ou a perda de alguém, por mais doloroso que seja. Se eu morresse algum dia inesperadamente, iria querer que as pessoas seguissem em frente, e que tivessem a possibilidade de serem  "felizes para sempre". 

Não sei porquê, mas senti um nó na garganta, uma vontade chorar com suas palavras. É impressionante em como uma conversa de ônibus pode ser bastante profunda às vezes.

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