Capítulo 31

Não perca quem você é no borrão das estrelas
Ver é enganar, sonhar é acreditar
Tudo bem não estar bem
Às vezes, é difícil seguir seu coração
Lágrimas não significam que você está perdendo
Todo mundo se machuca
Só seja verdadeiro com quem você é

...

Sim, nãos, egos
Teatrinhos, tipo, uau
Apenas vá embora e me deixe sozinha
Conversas verdadeiras, vida real, bom amor, boa noite
Com um sorriso
Esse é o meu lar, sim
Esse é o meu lar

_ Who are you, Jessie J

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Capítulo 31: Lágrimas 

Ainda de olhos fechados, senti meu corpo se situando aos poucos, mas mesmo assim não queria abrir meus olhos e encarar a realidade, as pessoas que estivessem presentes. Como não podia ficar o resto da minha vida de olhos fechados, abri meu olhos que tiveram dificuldade em se adapatar a toda claridade. Olhei em volta, ainda piscando meus olhos confusos, assimilei o espaço: enfermaria da escola. Pensei que nunca iria parar nesse local e aqui estou.

Vi que a enfermeira estava ao meu lado esperando que acordasse. Olhei para ela e perguntei:

_ O que aconteceu?_ pacientemente ela me explicou:

_ A sua pressão baixou e você acabou desmaindo. O nível de glicose estava muito baixo, senhorita. 

_ Ah, entendi. Tem muito tempo que eu estou aqui?

_ Não, alguns minutos apenas. Seus pais estão vindo te buscar

_  O pessoal tá onde?

_ Eles estavam todos aqui, mas como era muita gente, pedi para o seu professor levar eles para outro local,  mas tem um menino aí fora que não saiu de jeito nenhum. Ele ficou bastante preocupado. Toda hora ele vem aqui perguntar se você já acordou_ Sobre a primeira parte: bando de curiosos. Aposto que só estavam querendo ficar aqui pra descobrir o que aconteceu, apenas por curiosidade e não para saberem se realmente minha pessoa estava bem. Agora, quando ela disse que tinha um garoto muito preocupado comigo, meu coração saltou. Parece até que melhorei em um instante. Se antes eu estava fraca, agora meu corpo pulsava com toda intensidade.

_ Você sabe o nome dele?

_ Sim, o famoso Felipe. Você quer que ele entre?

_ Se puder

_ Vou chamar ele!

Passados alguns segundos, a razão de toda minha animosidade surgiu pela porta branca. Ele entrou meio acanhado, passando as mãos no cabelo, com o rostinho todo preocupado. Não sei se é certo, mas fiquei feliz sabendo que ele ficou todo preocupado. Pensei até em passar mal mais vezes.

Do nada fiquei com vergonha de estar ali, mesmo ele não sabendo o que estava sentindo. Senti vergonha de talvez ter de dizer para ele ou para meus pais o que estava se passando dentro de mim. Parece tão difícil ter de dizer que estou mal e que preciso de ajuda. Sei que meus pais iriam me ajudar na hora, que procurariam e fariam tudo que estivesse ao alcance deles, então deveria ser mais fácil conseguir dizer tudo para as pessoas que mais amo.

Ainda me olhando ele me olhou e me disse:

_ Como você está se sentindo?_ ele perguntou, mas senti que ele queria dizer algo, mas estava decidindo esperar

_ Tô bem! Foi só um susto. Minha pressão fica baixa às vezes_ respondi tentanto passar segurança em minhas palavras, pois se tivesse de falar o porquê de tudo aquilo, eu não diria nada

_ Você tá bem mesmo? Você já estava mal quando te perguntei, você que decidiu não falar nada. Fiquei com muito medo, Ana! Você caindo do nada na quadra

_ Estou. Me desculpa!_ acho que não deveria estar me desculpando, mas sei lá, quis dizer

_ Você não tem que se desculpar por ter passado mal. Coisas assim acontecem sem que a gente queira

_ Verdade,  mas me sinto  melhor me desculpando

_ Você quer comer alguma coisa? Você deve estar com fome_ queria dizer que não, que não estava com fome, mas seria meio estranho. Passei mal por não comer, de tanta fome e ainda assim não iria querer comer. As pessoas iriam perceber.

_ Acho que uma fruta seria bom. Queria uma banana

_ Não quer mais nada?  Trago um hambúrguer pra você, agora

_ Melhor não, melhor algo mais leve mesmo

Ele então foi rapidamente na cantina da escola e voltou não com uma banana, mas com três. Olhei pra ele com a expressão questionando "pra quê isso tudo? " e ele me respondeu com um arquiar de sobrancelhas "não é óbvio !". Decidi parar com aquele diálogo através de expressões faciais e começar a comer. 

Comecei a abrir a banana, calmamente, enquanto ele me olhava atento. Não sei se estava percebendo, mas minha expressão era um misto de nojo, fome e medo, melhor dizendo apreensão. Comecei a mastigar fazendo cara de nojo e ele me olhou seriamente. Mudei de expressão na mesma hora, dizendo: 

_ Tá muito boa!

_ Ana, sua pressão baixou mesmo, porque você não conseguiu comer, por conta do horário ou você que não quis comer. Sua amiga disse que você só comeu uma maça no intervalo_ ele disse e me senti insultada. Quem ele pensava que era? Comecei a ficar na defensiva na mesma hora

_ Eu só não tava com fome, tá bom! 

_ Mas é estranho! Se você estava com fome desde que saiu de casa, por que não comeu quando teve oportunidade_  meu coração acelerou e minha respiração ficou acelerada. Fiquei irritada, muito irritada. Tudo aquilo era culpa dele e ele ainda vinha querendo me julgar. Ele ainda dizia tudo completamente sério e nervoso, por causa da preocupação e de tudo que aconteceu. 

_ O que você está querendo insinuar, idiota?_ disse isso mesmo, sim, chamei-o de "idiota". Meu grande problema é que quando me sinto acuada, disparo expressões como essa e não importa quem seja. Me sinto no poder, meu corpo todo treme e acabo dizendo coisas assim, o pior é que na maioria das vezes não me arrependo. 

_ Agora, sim tenho certeza. Você ficou sem comer por que quis! Se não fosse isso, você não teria motivos pra ficar irritada desse jeito

_ Cala sua boca! Vai cuidar da sua vida!_ fiquei mais irritada ainda, ele e sua mania de conseguir descobrir as coisas nas entrelinhas.  A raiva do momento me deixou tão furiosa que senti as lágrimas quentes descendo por minhas bochechas. Meu rosto já estava quente, as lágrimas mais ainda. Meu nariz ficou entupido e senti que estava sufocando com todo aquele sentimento_ Tudo isso é sua culpa. Sua culpa!

Acusei-o, mas dentro de mim, sabia que todos meus problemas relacionados a minha self esteem, auto estima, já existiam bem antes. A forma como me via, me sentia, etc. Mas no nesse momento queria jogar tudo em cima dele, porque mesmo que meus proboemas já existissem, eles deram as caras mais intensivamente, depois de tudo que ouvi.

Cruzei meus braços e desviei o olhar dele. Olhei para qualquer canto, de menos em sua direção. As lágrimas não paravam, deslizando quentes e me fazendo afogar ainda mais.

_ Eu quero que você vá embora!

_ É sério isso?

_ Você e a sua dificuldade em entender o que eu digo

Ele ficou me olhando, quieto e inexpressivo. Não o encararia, porque não gostava e também pra ele entender que não quero nenhum tipo de contato. Ele então abriu a boca pra falar, mas hesitou, pensou mais um pouco e por fim, disse:

_ Eu vou ir embora, mas quero que você saiba que amanhã você vai me contar o que está acontecendo com você! 

_ Não vou falar nada! Não sei nem o que você ainda está fazendo aqui!

_ Tchau, Ana!_ ele disse todo sério e nervoso

Me levantei da maca e fui lavar meu rosto. A enfermeira demorou mais alguns bons minutos para voltar, mas quando voltou, ela estava com meus pais. Meu pai andou apressadamente em minha direção e me abraçou, juntamente com minha mãe. 

_ Nós ficamos tão preocupados com você, filha!_ meu pai disse com os olhos molhados. Ele sempre foi mais emocional e preocupado com todos. Fiquei com dó do meu pai quando vi o estado em que ele estava. A situação nem era tão séria e ele lá, quase chorando. 

_ Tá tudo bem, pai! Não precisa ficar assim. Só passei mal, porque não tinha comido direito. Não tinha dado fome, mas na aula de Educação Física meu corpo ficou todo estranho, minha pressão baixou_ estava me tornando muito boa em dar desculpas. Muito boa em mentir para todos.

_ Você e sua mania de não comer a quantidade certa, na hora certa. Não vou falar mais nada com você, Ana!_ minha mãe disse,  toda nervosa. Ao contrário do meu pai, ela se preocupava, mas ela ficava irritada no mesmo modo, por isso muitas vezes eu não falava nada com medo da reação dela, de quais seriam as palavras dela.

Fiquei calada, então a enfermeira falou como deveria me alimentar a partir daquele incidente. Agradecemos à ela e fomo embora. Quando chegamos em casa, meu pai me fez comer um monte de coisa.

Quando deu 21h30 fui dormir, na verdade me deitei, porque não consegui dormir por um bom tempo. Decidi começar a contar carneirinhos e até que funcionou. Acordei no horário certo dessa vez, me arrumei e fui pra escola.

Todo mundo me perguntou se estava tudo bem comigo, respondi que "sim, estava tudo bem" inúmeras vezes. Até os professores ficaram sabendo. Definitivamente meu desmaio virou notícia. Durante todas às aulas fiquei apreensiva, sabia que o Felipe iria falar comigo. Falar não, me questionar, me botar contra a parede.

O sinal bateu e sabendo que não adiantaria fugir, nem tenter correr, apenas andei em meu ritmo normal que é apressado, fugindo da forca. Já fora da entrada da escola, senti ele atrás de mim. Olhei para trás, o vi e parei.

_ Fala logo!

_ Vamos em um parque aqui perto, assim a gente pode ficar à vontade para falar o que quiser

_ Ok!

Andamos e chegamos ao parque. Entramos e fomos no sentar em um banquinho que tinha ali. Fiquei sentada olhando para frente, enquanto ele ficou com o corpo virado em minha direção. 

_ Eu acho que tudo o que aconteceu tem haver com o que você ouviu aquele dia. Fiquei pensando nisso ontem o dia inteiro

_ Legal!_ falei apenas isso, ainda em minha pose defensiva de braços crusados e expressão fechada.

_ Você sabe que você é maravilhosa, não sabe? Me diz a verdade!

Fiquei calada e decidi ir embora. Todo aquele papinho de valorização, de saber que sou algo e tudo mais, estava me deixando cansada. Minha única vontade, enquanto ele falava era de revirar os olhos. Não vi sentindo em continuar ali, se eu não estava levando suas palavras à sério. Quando ele viu o que fiz, estava já há uns bons passos de distância, mas ele ainda me alcançou e me virou para ficarmos frente à frente.

_ Para de tentar fugir! De fingir que não importa

_ Me deixa em paz. Não quero falar nada ninguém, muito menos com você!

_ Mas eu quero saber, quero te ajudar 

_ Ajudaria mais não me perguntando nada. Não quero mais nada com você!  me deixa em paz

_ Você tá querendo fugir de novo. Aprende a encarar seus problemas de frente, Ana. Vai ser sempre assim!? Qualquer coisa e você quer se esconder do mundo?_ ele definitivamente estava nervoso

_ É! Vai ser assim mesmo. A vida é minha, o problema é meu! Você é um idiota que pensa que sabe de tudo, que sempre tá certo. Mas a realidade é que você não é esse santo e bom samaritano que todo mundo pensa. Eu pensava assim, mas você só é igual a todos os outros garotos que só olham pras meninas como um objeto. Posso até fugir de tudo, mas pelo menos não machuco as pessoas, igual a você! _ desabafei, porque eu pensava assim dele, não totalmente, mas tinha de dizer isso, mesmo que ele ficasse magoado

_ Eu fiquei muito mal, depois de tudo que ouvi. Não consigo me amar completamente, não consigo me aceitar com sou. Ouvindo tudo que você disse, tudo voltou na minha mente. Mesmo te perdoando pelas coisas que aconteceram, não consigo parar de ficar pensando toda hora nas suas palavras. Tem horas que quero acreditar que você realmente se arrependeu, mas depois fico tão desconfiada de tudo que não consigo acreditar nas coisas que você fala. Eu queria muito poder acreditar em tudo, mas não consigo_ comecei a chorar, mas ainda queria dizer tanta coisa _ Eu me odeio às vezes e não consigo parar de pensar em todos os meus defeitos. E por favor,  não vem com esse papo já passado de que sou "maravilhosa", "linda" e "incrível", porque não resolve nada!

Levantei minha cabeça e olhei em seus olhos, na verdade, tentei, pois meus olhos estavm embaçados pelas lágrimas que corriam em fluxo continuo. Ele vendo meu estado me abraçou, e mesmo odiando ele um pouquinho, aceitei o abraço. Minhas lágrimas estavam molhando a blusa dele toda, mas eu não ligava, muito menos ele. Os minutos foram se passando, mas ele não me soltou. 

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Olás, bom diaa!

Como não publiquei ontem, sexta-feira (11/07/2020), resolvi publicar o cap 31 hoje. Vou tentar postar todos os dias da semana.

Não se esquecem de votar e de comentar!

Obrigadaa❤

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