Capítulo 3

Today is gonna be the day
That they're gonna throw it back to you
By now you should've somehow
Realized what you gotta do
I don't believe that anybody
Feels the way I do about you now.

 _Oasis, Wonderwall

▪▪▪

Lista de matemática

   No dia seguinte, durante às aulas, passei o tempo inteiro nervosa e apreensiva. Na hora do intervalo, antes de sairmos da sala, ele me chamou para irmos à biblioteca. No mesmo instante, comecei a sentir o famoso frio na barriga, a sensação aumentou a níveis estratosféricos quando ele veio em minha direção e me chamou para irmos ao local de estudos. 

— Pronta pra começar ? — perguntou, ele. 

— Prontíssima, matemática é comigo mesma. Só que não ! — respondi, irônica. 

— Qualquer coisa eu te ajudo — ele disse, sendo solicito.  

Entramos na biblioteca, fomos em direção a uma  pequena mesa perto das janelas de vidro. Me sentei de frente para a janela e ele de costas, um de frente para o outro. Tirei meu caderno da mochila, assim como ele.

Ele começou a fazer sua parte da lista, enquanto minha apreensão aumentava. Já não sei matemática, se estou nervosa, sei menos ainda. Com ele por perto vai ser quase impossível conseguir fazer!

De onde estava, percebi que ele já fazia os seus com a maior facilidade do mundo, e eu lá: tentando entender raciocinar, na verdade,  penando pra raciocinar. Nunca fui de exatas, mas queria muito, tipo meta de vida, mas…Não é pra mim.

Com muito custo, consegui fazer a primeira, mas a mais fácil também. Bom, já é alguma coisa!

O tempo foi passando, e quando percebi que ele já estava em sua última questão, pensei: “Oh, merda!”. Não estou conseguindo fazer e ainda tenho vergonha de pedir ajuda.

— Está conseguindo fazer ? — questionou-me.

—— Estou sim, moleza isso aqui — respondi, sorrindo atrapalhada, tentando tampar a folha — Mentira, sou um desastre! Consegui fazer apenas a primeira, e nem sei se está correta — confessei, porque se não fizer vou passar uma vergonha maior ainda.

Tenho timidez excessiva, e por isso passo por muitos apuros, definitivamente, tenho que melhorar minhas habilidades comunicativas. Mas neste momento, por ter conseguido dizer que não consegui, já estou feliz com essa pequena vitória. Aos poucos, de pezinho em pezinho, vou conseguir lidar melhor com essas situações.

—— Deixa eu olhar então — ele disse, me olhando e em seguida, tentando pegar minha folha.

—— Precisa não, menino! Vou tentar mais em casa e vou conseguir — falei, enquanto afastava meu corpo com a folha do seu.

Ele tentou pegar a folha da minha mão, mas felizmente consegui puxar antes. Então começamos uma espécie de brincadeira em que ele tentava pegar minhas folhas e eu tentava impedi-lo, até que finalmente ele conseguiu e levantou as mãos com as folhas ao alto e como sou desprovida de altura e ele é alto, já dá até para imaginar a situação. 

—— Me devolve as minhas folhas, por favor, Felipe ! — pedi, querendo que ele não olhasse minha folha quase toda branca.

—— Agora a questão é você conseguir pegar, pequena!— Felipe, zoou com minha cara.

—— Eu não sou pequena, seu idiota — falei, na defensiva, mas sei que contra fatos não há argumentos.

—— Quanto você mede? Um metro e quanto?— Ele perguntou rindo.

—— Se você continuar rindo eu juro que bato em você! Isso é bullying, tá! — ameacei. 

—— Estou com muito medo, Ana! Me desculpa, então — ele me pediu, mas não levando muito a sério.

 Quando senti o deboche vindo dele, parti para cima dando tapas, mesmo sendo contra violência. De início, ele ficou surpreso por eu ter tido audácia de fazer o que falei. Sim, garoto dos olhos azuis, fui capaz de fazer isso!

 Depois da surpresa, ele pareceu acordar para vida, e segurou meus braços, enquanto me encostava na parede da biblioteca, que por sorte estava vazia, além disso estávamos mais afastados, se não a bibliotecária mal amada já estaria dando sinal de vida. Se fosse outra pessoa, o fato de estarmos afastados do resto do mundo me assustaria, mas mesmo sem conhecer ele, realmente, já tenho uma confiança inconsciente. Não sei se isso é bom ou ruim.

—— Me solta, Felipe ! — ordeno.

—— Não — ele diz e continua — Pensando bem, apenas te solto se você repetir algumas coisas que eu disser — ele disse bem próximo a mim, fazendo com que nossas respirações se encontrassem, e assim pude sentir seu hálito quente com cheiro de chiclete de melancia. 

Agora, chiclete sabor melancia é, definitivamente, o meu sabor preferido.

—— Diz logo! — exijo, querendo saber logo quais seriam as “palavras mágicas” pra ele me deixar em paz.

—— Vamos lá, repita comigo. O Felipe é… — ele começa a dizer.

—— O merda é … — “repito”, debochando dele.

—— Ei, não é isso que eu disse ! — ele me olha, falsamente, indignado.

—— Jura ?!— respondi ironicamente.

—— Então a senhorita é debochada — observa ele.

—— Eu ?! — questiono, enquanto arregalo meus olhos. 

—— Para de enrolar, repete aí:  "O Felipe é o cara mais gostoso do mundo" — diz, por fim. 

Posso até concordar com a fala dele, mas dizer em voz alta? Nope. 

—— Eu não vou repetir isso — respondi nervosa pela aproximação cada vez mais constante. 

Ele deve saber que me afeta, porque não é possível! Como esse garoto pode me desestabilizar dessa maneira?! Sempre me pergunto, mas nunca encontro respostas.

—— Então você não sai ! — ele dá seu veredito.

—— Tá bom, é isso que você quer, Kids ?, então tá, eu repito! — com um tom de riso e deboche na voz, repito o que ele disse.

—— " O Felipe é o cara mais gostoso do mundo" — digo, enquanto faço minha cara de “peixe morto”.

—— Obrigado, obrigado. Viu, nem foi tão difícil assim — ele diz.

—— Então dá pra me soltar agora ou está difícil? — pergunto a ele. 

—— Tá muito difícil, Ana! — ele brinca.

—— Você prometeu ! — ele, finalmente, me solta. 

Mesmo tendo me soltado, ainda posso sentir o calor que sua mão deixou em meus pulsos. Isso é algo bom, porque me lembra que foi ele quem deixou essa parte do meu corpo desse jeito. É como se uma pequena parte dele estivesse comigo, mesmo que tão boba assim. Viu, não falei que sou iludida?

—— É, prometi, mas você foi uma menina má, por isso você vai sofrer um pouco— ele diz, e quando menos espero, cócegas me atingem. 

Tento resistir, mas cócegas nunca foram meu forte, sempre me rendo.

—— Para, para! — imploro.

—— Tá bom, mas você tem que admitir que foi engraçado — ele diz me soltando, enquanto me dava um sorriso.

—— Eu não digo mais nada — falei.

Nesse momento, paramos  de falar e ficamos nos encarando por uns oito segundos. 

Pesquisas dizem que esse é o tempo necessário para que alguém se apaixone, e confesso que desejei  do fundo do meu coração  que um dia ele se apaixonasse por mim.

Como tudo que é bom dura pouco, ele quebrou o encanto desviando o olhar e começando a falar

—— Acho melhor a gente terminar as questões — ele disse, passando uma mão em seus cabelos em um sinal de acanhamento.

—— É melhor mesmo — respondi, também desviando o olhar e voltando a caminhar para nossa mesa.

O resto da tarde foi apenas gasto com ele me explicando o resto dos exercícios da minha parte, e com ele me dizendo que se eu precisasse da sua ajuda eu podia contar com ela.  

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