Capítulo 2
A gente passa a entender melhor a vida
Quando encontra o verdadeiro amor
Cada escolha, uma renúncia, isso é a vida
Estou lutando pra me recompor
De qualquer jeito seu sorriso vai ser meu raio de sol
Então deixa eu te beijar até você sentir vontade de tirar a roupa
Deixa eu acompanhar esse instinto de aventura, de menina solta
Deixa minha estrela orbitar e brilhar no céu da sua boca
Deixa eu te mostrar que a vida pode ser melhor, mesmo sendo tão louca
_ Lutar pelo que é meu, Charlie Brown Jr
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Bicho do Mato
Ana
Conhecia o Felipe desde pequena, da escola, porém só comecei a conversar e conhecer ele, realmente, quando tinha 16 anos e ele 17. No início era apenas amizade, mas ainda bem que saímos desse pequeno “apenas”. Nem em mil anos, poderia acreditar que ele, algum dia, fosse me amar.
Tínhamos os mesmos gostos, curtiámos praticamente as mesmas coisas. As mesmas bandas de rock, canções, lugares, filmes…Mas não apenas isso, nossas essências se identificavam. Ele é/foi o meu Akai Ito.
Sempre fui apaixonada pelo Felipe, de longe, ele nem sequer sabia da minha mínima existência, e eu lá, completamente e platonicamente, apaixonada por ele. Ele era um daqueles garotos que, naturalmente, tem uma atenção a mais de todos, nada forçado. Sabe, aquele garoto por quem todas as meninas se apaixonam no jardim de infância? Era ele. Um daqueles garotos por qual todas as meninas, algum dia, vão ter ou tiveram uma quedinha, ou abismos, como no meu caso. Mas sempre fui muito tímida e introvertida, qualquer situação fora do comum na minha mente, por mais pequena que fosse, me deixava com vontade de me esconder do mundo. Então imaginar dizer um simples "oi" para aquele garoto, já me deixava com as pernas bambas e com vergonha, por simplesmente imaginar essa possibilidade.
Quando, finalmente, entramos no Ensino Médio - o novo inferno - ele acabou ficando na minha sala,e logo pensei "Ótimo! Agora, finalmente, a minha hora chegou". Alguém mais iludida que eu? Nunca. Porque se não consigo nem dizer um simples “oi”, como posso pensar em conquistá-lo. Na minha cabeça, apenas pedir a Deus que fizesse tudo era a solução, assim eu só tinha que esperar e não fazer nada, o universo que cuidasse de tudo, porque eu contaria com a sorte.
Nunca fui muito de conversar com meus “colegas” de turma, e no Ensino Médio não foi diferente, na verdade, foi pior, pois não conversava com noventa e nove por cento da turma, apenas com a minha, única e exclusiva, amiga. O Felipe ficava lá no fundão, conversando com todos, e às vezes atrapalhando às aulas . Ele era aquele tipo de aluno que nunca fica quieto e que aprontava todas com seus amigos, mas também ele era muito inteligente, uma das pessoas mais inteligentes que conheci, no sentido acadêmico e no pessoal também. A pessoa abençoada que sem estudar tem as melhores notas, e que sabe o que quer e como se sente. Conhecer a si próprio é uma das melhores dádivas que se pode ter!
A primeira vez que nos falamos foi quando a professora de matemática passou uma lista imensa de exercícios sobre funções, uma bosta. O pior é que a lista deveria ser feita em dupla. Trabalhos em dupla nunca foram para mim, então sempre sofri quando os professores, diziam: “O trabalho vai ser em dupla”. Meu coração ficava na mão, e ele quase “saltava pela boca” quando eram os professores que escolhiam ou quando minha única amiga não ia na aula.
— Atenção pessoal ! Eu vou passar uma lista de quarenta questões para serem feitas em duplas de dois, não de três ou quatro, muito menos de um. Conseguiram entender ? As duplas vão ser escolhidas por mim e não tem nada de trocar. Vamos lá ! — Joana, à professora, falou.
— João e Letícia, Pedro e Clara, Lucas e Davi, Marina e Yuri...
Na hora em que a professora começou a dizer os nomes, na minha mente eu já estava " Por favor, Jesus Cristinho, me ajuda nessa vai, que eu faça dupla com minha amiga. Nunca te pedi nada". Eu achava meu pensamento bastante irônico, queria que ele me notasse, mas não fazia nada.
—... Ana e Felipe
Naquele momento, em que ouvi o que ela disse, e meu coração parou por alguns instantes, para então voltar com força máxima, minha boca ficou seca e só consegui pensar em como faria aquele trabalho com o garoto, por quem tenho uma “quedinha”. Em como iria conversar com ele, porque minha timidez me atrapalha um tanto. Vou me atrapalhar toda.
No final da aula a professora estava entregando as folhas, ele pegou as nossas, virou seu rosto para trás, olhando ao redor da sala, procurando quem seria a bendita da Ana. Quando ele se virou meu coração gelou e em minha mente só tocava a música do Thiago Iorc "o coração dispara, tropeça quase para". Então ele me viu olhando para ele, e veio em minha direção sorrindo, naquele momento, pensei "ok, eu realmente tô muito fudida, meu Deus !".
— Oi! — ele me cumprimentou, e depois perguntou:
— Você que é a Ana né ?
— É-e s-sou eu sim — eu respondi sem conseguir encará-lo, gaguejando.
Minha respiração falhou por um momento, respirei fundo tentando me controlar. Definitivamente sou um desastre.
— Olha, eu estava pensando que se você quiser a gente pode dividir a lista na metade, e cada um faz a sua na hora do intervalo lá na biblioteca, amanhã. Então, se algum de nós tiver dúvida, um ajuda o outro. Pode ser?— ele sugeriu, em minha mente, respondi: “Claro que pode! Vou amar fazer questões de matemática com você”. Tenho tantos devaneios excessivos que nem percebi que ao invés de respondê-lo, fiquei encarando-o igual à uma boba.
Apenas me toquei da minha ausência de resposta, quando ele disse:
— Tá tudo bem com você ? — ele disse, me dirigindo um olhar questionador, que pode ser traduzido, como: O que essa louca está arrumando, me olhando desse jeito?
Naquela hora, pedi pra morrer, e com a cara queimando de vergonha, finalmente respondi:
— Não não, tá tudo bem sim. Desculpa é que sou meio avoada às vezes, bem, quase toda hora — completei, dando uma risadinha sem graça — Voltando ao assunto, pode ser tudo do jeito que você falou mesmo, agora eu tenho que ir. Tchauzinho ! — Me despedi dele, com um sorriso no rosto, mas assim que me virei, fiz uma careta, pensando “MERDAAAA!”.
— Então tá bom. Amanhã, na hora do intervalo, não esquece! Tchau — ele disse, me relembrando. Ele pode ser bagunceiro, mas sabe dos seus deveres.
Virei metade do meu corpo para que pudesse vê-lo. Ele me deu um aceno de mão, então seguiu seu caminho para fora da sala, enquanto fiquei parada no tempo, olhando ele ir como se, realmente, ele estivesse indo embora de minhas mãos.
— Ok. Combinado! — falei, quase inaudivelmente.
Na hora de sair da sala, bati a minha querida na mesa, e que dor! mas disfarcei, porque ele estava do lado de fora da sala, nas minhas vistas, com seus amigos. Além de má sorte no amor, a vida ainda me prega uma dessas?
Saí com uma dor imensa que com certeza me traria um roxo daqueles. Comecei a me chamar de idiota, qual é? Por que eu simplesmente não conseguia agir normalmente perto dele, fico parecendo um bicho do mato que está tendo seu primeiro contato com o mundo. Definitivamente, sou um bicho do mato.
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