I

*Boa noite!

O atendente não respondeu, mas pouco tempo depois uma xícara de café fumegante estava na frente dele, como de costume.

Ele olhou em volta, nenhum rosto conhecido para cumprimentar. Ficou um tempo bebericando o café amargo, até que uma voz feminina se fez ouvir ao seu lado.

*Boa noite! O mesmo que o dele, por favor.

O atendente, malcriado, permaneceu em silêncio, mas atendeu o pedido, pouco tempo depois.

Ele olhou para o lado. Ela era bonita, aparentando ser alta e se vestia de forma elegante, não combinando em nada com o ambiente do local.

Ela tomou um gole do café e reclamou da falta de açúcar para ninguém em especial. Pegou o açucareiro e colocou duas colheres do pó branco e mexeu sem pressa.

*Cuidado com a diabetes - ele brincou, puxando conversa.

Ela sorriu amigavelmente.

*Ah, não tenho mais problema com isso...

*Não se engane, minha cara, todos temos! Meus últimos exames indicaram um colesterol astronômico.

Ela riu novamente, um sorriso fácil, bem o que ele estava precisando para acabar com o tédio daquele início de noite. Resolveu investir no diálogo.

*Está esperando alguém?

*Olha só que atrevido você está hoje...

Ele quase engasgou com o café.

*Desculpe, só quis ser gentil...

*E eu só quis lhe aporrinhar - respondeu ela de forma rápida e o encarou séria - Mas se vai me jogar uma cantada, faça isto direito, homem.

Ele a encarou também, sério, até que ela não resistiu e ambos sorriram juntos.

Ele lhe estendeu a mão.

*Muito prazer, sou John.

Ela aceitou o cumprimento.

*O prazer é todo meu! Me chamo Alice.

*Alice? Um nome bem bonito, igual daquela que persegue o coelho...

*Prefiro ser uma espiã da Rede de Alice...

*Como?

*Do livro, de Kate Quinn, uma rede de espiãs da primeira e segunda guerras.

*Este eu não conheço e olha que eu leio muito...

*E você, é o John, do Sherlock? - disse ela, entrando na brincadeira.

Ele pensou antes de responder.

*Me pegou, não conheço outro John famoso.

*Então fiquemos com o doutor John - disse ela e riu divertida - Sendo doutor, posso me abrir mais com você...

*Fico feliz em desempenhar este papel, então.

John ergueu a xícara na direção dela e Alice brindou com sua própria xícara.

*E o que faz sozinha aqui, numa noite tão agradável?

*Na verdade, estava procurando alguém.

*Então já encontrou...

*Você tem razão, John, já encontrei.

Ele permaneceu por um tempo calado.

*E você, John, tomando um café antes de voltar para casa?

*Sim, só matando o tempo mesmo. Minha casa anda muito vazia ultimamente.

*Não tem família?

*Já tive, mas faz muitos anos que moro sozinho.

*A solidão é terrível, maltrata a gente.

*Nem me diga. E você, já foi casada?

*Me diga você...

Ela lhe estendeu a mão esquerda e John pode observar uma aliança.

*Então ainda é casada. O que aconteceu?

*A gente se separou, faz bastante tempo.

*Desculpe a liberdade, mas o que aconteceu?

*Doutor John e suas investigações.

Riram e Alice continuou.

*Ele vivia somente para o trabalho e tinha pouco tempo para mim...

*Um tolo, se me permite dizer, pois você é deslumbrante.

*Deslumbrante? Que chique! Ele me elogiava assim, quando me preparava para sairmos para algum lugar.

*Elogiava, mas, pelo jeito, não lhe deu o devido valor, pois se diferente fosse, não estaria aqui sozinha, conversando com um John Doe.

Alice riu divertida e apontou uma arma de mentira para ele, piscando.

*Para falar a verdade, ele me valorizava muito. Não foi culpa dele...

*De quem então? Sua?

*Não, John - disse ela, se levantando - Talvez do destino. Só um minuto, por favor, já volto.

Ele pediu mais um café e o bebeu inteiro, mas Alice não retornou. John deixou alguns dólares sob a xícara e foi embora para o seu lar vazio.

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