Vá
A noite estava mais clara que o normal, mas iluminada apenas pelas estrelas na janela. E era fria, apesar de aquecida pelo choro do bebê no quarto ao lado.
Um homem e uma mulher dividiam a cama de casal no centro do espaçoso quarto.
Ao lado direito da cama, onde a mulher dormia, havia uma varanda com janelas abertas, onde uma cortina branca farfavalhava com o vento.
Ao lado da mulher estava o homem, olhando para o teto branco com as mãos atrás da cabeça e sentindo frio. Ela estava de lado, olhando para ele. Ou melhor, para sua barba e seu peitoral desnudo.
O choro aumentou. A criança berrava desesperada, sentindo o gosto salgado das lágrimas nos lábios.
— Vá vê-la, amor — a mulher disse, com preguiça, meio acordada, meio dormindo.
— Mas não deve ser nada — o homem respondeu, também com preguiça, olhando para cima. — Não deve ser nada — repetiu. E dormiu.
A mulher virou para o outro lado e fechou os olhos, tentando abafar o som da criança apertando os olhos, como se o barulho fosse diminuir.
No dia seguinte, a criança não chorou. Nem no outro. Nem em mais nenhum outro. A criança nunca mais chorou novamente.
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