Capítulo XXIX -

Foi como um verdadeiro passe de mágica, levou o tempo de apenas um piscar de olhos. E embora à essa altura eu já soubesse que em tão pouco tempo uma mudança assim poderia facilmente ter acontecido, era como se ainda não conseguisse me habituar.

Quando abri os olhos, as flores haviam desaparecido e tudo ficara escuro, tão escuro que eu mal podia enxergar. Tentei acender minhas chamas mas constatei, com desespero, que meus poderes não funcionavam e eu sequer fazia ideia de onde estava.

Tentei por mais algum tempo e com diferentes formas de ativação, como aprendi com Eirie, até ter certeza que não conseguiria. Felizmente lembrei do colar e que ele poderia ser a minha única ponte de volta. Tateei o chão a minha volta procurando-o, buscando a chance de fuga dessa escuridão sem muito sucesso. Bufei e me sentada desistindo depois de alguns minutos. Estava ficando abafado ali.

Onde eu estou e como vim parar aqui? Estes foram os primeiros pensamentos que tomaram minha mente, seguido por um estremecimento por conta dos outros pensamentos: E se eu não voltasse a tempo de salvar a vida de Robertta? Se eu não voltasse a tempo de impedir a nossa extinção? E se eu não conseguisse voltar para casa nunca mais?

Poderia ser um pouco de exagero da minha parte, pensei. Se eu não estivesse metida em problemas e com coisas importantes para fazer como ajudar a salvar vidas, até que o breu era um bom lugar para me esconder por um tempo, pelo menos ninguém me encontraria. Não era justamente o que eu queria fazer desde o início: desaparecer para não ter que lidar com tudo aquilo ou simplesmente passar minha responsabilidade para outro?

— Como você é estúpida e impulsiva, Lizlee. Mas que ideia mais patética foi aquela de roubar o colar se você nem sabe usar? — Resmunguei.

Me sentei no chão e dobrei as pernas para abraçá-las como se isso fosse me fazer sentir um pouco protegida. Contudo, isso não seria suficiente. Eu precisava ficar bem alerta, esperando. Não sei exatamente o que esperava, parecia estar sozinha ali mas algo me dizia que eu precisava estar preparada.

O silêncio reinou por longos minutos. Angustiantes minutos. Até que um barulho repentino fez meu coração saltar no peito. Foi quando uma pequena abertura, com formato semelhante ao de uma janela, apareceu na parte de cima à alguns metros a frente de onde eu estava e um pouco de luz entrou por ela.

 A sensação que tive foi de que meus pesadelos estavam se tornando reais, pois com a luz percebi que aquele lugar me parecia familiar e a energia pesada que carregava fez meus pelos arrepiarem. Um vento muito forte fez a abertura se trancar numa batida só e tudo voltou a ficar escuro. Franzi o cenho. Algo estava errado.

— Lizlee...

Uma voz profunda, sinistra e sussurrante arrastava a pronúncia do meu nome, como se estivesse se divertindo. Não me movi, mas meu coração disparou. Ao longe, consegui avistar um pequeno ponto de luz piscando e me esforcei para levantar e ir até lá enquanto continuava ouvindo os sussurros ficarem mais claros.

— Lizlee...

— Quem é você? — Estranhamente precisei reunir muita força para emitir essa simples frase, como se aquela fosse a primeira vez que falei em toda a minha vida. — Responda, quem é você e o que espera conseguir me prendendo aqui?

Gritei na direção do vácuo e da luz estranha. O chão estremeceu a ponto de eu me desequilibrar e cair no chão. Não houve  resposta. Mas a pequena luz aumentava com o tempo, o que indicava aproximação. Esperei que chegasse até mim, suplicante que aquilo fosse um resgaste e não uma ameaça.

De repente uma pequena gota atingiu minha testa, escorregando preguiçosamente por ela em direção ao meu nariz. A escuridão não me permitia ver exatamente de onde, já que não tinha abertura no teto, no entanto elas continuaram caindo.

— Você se deleita com a sensação de derramar o sangue de inocentes?

A voz que eu não reconhecia, encheu os espaços ao meu redor. Ela parecia vir de todos os lados ao mesmo tempo. Assustada, olhei para todas as direções e estremeci outra vez.

— Eu não... eu não sei do que está falando.

— Você sabe muito bem a que me refiro, ou melhor, a quem. E também sabe que muitas outros ainda morrerão por sua causa. Mas a questão é que você não se importa, não é mesmo?

Levantei bruscamente e olhei para cima, confrontando a voz. Não que isso servisse de alguma coisa. Não que fizesse sentido.

— O que? É claro que eu me importo. Eu nunca quis que ninguém se machucasse. Não é culpa minha.

Minha voz foi desaparecendo ao fim da frase. Não era mesmo minha culpa?

Admita. Se você realmente se importasse já teria se rendido.

— Me rendido? — Questionei em voz baixa.

 — Acho que você ainda não entendeu que é o fruto de uma união amaldiçoada. Nada de bom pode vir de você. Então pare de tentar ser o que não é e se renda antes que destrua tudo ao seu redor.

A pequena luz estava muito perto agora e crescendo cada vez mais, tanto que tive que usar o braço para proteger os olhos, enquanto a voz insistia.

— Pense bem, por que estaria se consumindo pela culpa? Você transpira culpa. Você é uma assassina. Sua mera existência nesse mundo gera o desequilíbrio e o caos.

— Não! Eu não sou uma assassina e não serei a destruição do mundo. Então, de uma vez por todas, me deixe sair daqui agora.

Continuei gritando e rebatendo as acusações daquela voz, agora em pé e dando voltas pelo espaço que tinha a minha volta. A chuva foi ficando mais grossa e forte. Sob os meus pés senti um novo tremor e as paredes começaram a se mover lentamente em minha direção, se fechando ao meu redor.

— Poderíamos oferecer uma saída... em troca da sua rendição.

Assim que terminei esta frase, a luz que vinha ao longe ficou forte o suficiente para eu precisar fechar os olhos com força. Cerca de dois minutos depois a luz se apagou. Reabri os olhos e respirei fundo, achei que tivesse acabado. Estava enganada.

Poucos centímetros de distância a luz se reacendeu e uma criatura com o corpo todo ensanguentado, estava parada na minha frente. Dei um pulo para trás e caí no chão me afastando com o impulso das pernas. A figura me seguiu, jogando-se ao chão.

Com uma mão ela segurava uma pequena lamparina, da qual nunca esperaria que viesse toda aquela luz, e com a outra ela apontava para mim. A iluminação me permitia ver seus lábios secos, entreabertos e trêmulos e o seu corpo pequeno se sacudindo aos prantos.

— Olhe para você agora, está deplorável. A culpa é realmente um sentimento que te persegue e te destrói. — Eu estava em choque, chorando e gritando algo parecido com um pedido de socorro enquanto a voz continuava. — Olhe todo esse sangue derramado sobre o seu corpo. Você acha que vale a pena insistir nisso? Você quer continuar sendo uma assassina?

Olhei para mim mesma e vi que realmente estava coberta de sangue, como no pesadelo da noite passada em que Queen aparecia. Sim, Queen... como não percebi antes. Com um pouco mais de calma, estendi a mão para encostar nela.

Ela se sentou apoiada sobre as pernas e num ímpeto de estranha fúria, jogou a lamparina no chão e pegando um caco de vidro e partiu para cima de mim. Caímos no chão com a garota me chamando de assassina. Ela estava sobre mim tentando me furar com o vidro, mas segurei seu braço tentando impedir o ataque.

— Todo esse seu sofrimento é inútil perante a insignificância dessas criaturas. Afinal de contas, a morte deles é o preço da desobediência... a dos seus pais e a sua. E quanto mais demorar para aceitar isso, mais estragos causará.

Queen forçava o caco de vidro contra mim e o no esforço de impedi-la acabei rasgando a pele de sua mão e seu sangue caiu na altura dos meus lábios e narinas.

Reuni forças para derrubá-la e me erguer sobressaltada, para enfim notar que a paisagem voltara a aparecer, embora o campo de flores tenha dado lugar a um precipício no qual eu me encontrava quase à beira.

Se eu olhasse para baixo enxergaria as ondas do mar quebrando contra as pedras pontiagudas. O céu estava nublado e formando nuvens negras.

— A sua única alternativa é se juntar a nós para que não seja a causa de mais dor e sofrimento para esses seres que tanto busca defender. Você não tem escolha.

Ouvi a voz sussurrar ao meu ouvido, como se estivesse ao meu lado. O vento vindo de encontro ao meu rosto, meus cabelos chicoteando minha própria pele.

A paisagem estava tão sombria e tempestuosa como era em Leeland, mas o precipício era em Una Royal. Como se a destruição que assolou o Grande Lizma houvesse atingido essa parte antes intocada.

Dei mais um passo, pé após pé. A voz ainda sussurrava um encorajamento ao meu ouvido. Eu estava nervosa. Muito nervosa. Meu corpo estava enrijecido e não obedecia aos meus comandos.

Foi quando outra voz interrompeu aquela, fazendo-a se dissipar e a paisagem voltar ao normal gradativamente. Docemente, senti uma mão pousar em meu ombro. Aquele toque fez meu peito se aliviar daquela tensão, mas acabei explodindo em soluços e meus olhos derramaram lágrimas pesadas que desceram pela minha face como pedras.

— Eu sei o que está pensando em fazer e não é uma boa ideia.

Permaneci encarando o horizonte mesmo quando a respondi.

— Me parece uma ideia bem melhor do que a que eu tinha.

— E qual era?

Levantei o olhar aos céus e levei as mãos ao rosto. Não queria ter que responder uma desconhecida em um lugar estranho, mesmo assim, suspirei e sequei as lágrimas com certa violência.

— Era uma ilusão. Algo estúpido como "salvar o mundo". Como se eu fosse capaz disso. Eu não percebi que o problema sou eu. É como aquela voz estranha disse, a destruição me acompanha por todos os cantos mas não me atinge. — Gesticulei desordenadamente com as mãos. — Eu não posso ter minha vida inútil e comum de volta e nem posso usar meus poderes para mudar essa nova realidade caótica. Eu não entendo. É como se eu não devesse existir. E você não tem culpa de nada.

Um breve momento de silêncio se fez.

— Não era uma má ideia, apenas um pouco ingênua. E você está errada sobre o que disse. Sua existência é necessária, não pode ser dar por vencida para qualquer adversidade que surja no seu caminho, pois várias irão aparecer.

Soltei uma risada curta e triste, em seguida balancei a cabeça em negação.

— Formidável! Mais um motivo para desistir enquanto não pioro as coisas.

— Você fala como se tivesse que fazer tudo sozinha. Existem mais pessoas dispostas a lutar por liberdade e pelo equilíbrio. A esperança dessas pessoas só está adormecida, mas ainda existe. Só precisavam de uma chance para equilibrar as condições.

Abri a boca para responder algo, mas na verdade não tinha nada a dizer que fizesse sentido e muito menos ainda havia ânimo em mim para isso.

Senti ainda mais a pressão das mãos daquela mulher, cujo rosto ainda não tivera a oportunidade de olhar, agora acariciando os meus braços. Uma de suas mãos percorreu o meu braço até chegar em minha mão, ela a segurou forte e eu olhei para baixo uma última vez.

 Levantei um pouco os olhos de soslaio e observei nossas mãos juntas. Quando voltei meus olhos para ela, me deparei com uma mulher de cabelos dourados sendo agitados pela brisa vinda do mar. Seu vestido esvoaçante era vermelho escarlate, em um tom tão forte que em contraste com sua pele clara, parecia sangue na neve.

 Esfreguei os olhos ainda marejados e olhei bem para ela, que abrindo um largo sorriso me conduziu para longe da ponta do penhasco. Seu olhar era tão magnético que segui com ela sem resistência, diria que chegava a ser até hipnótico como um feitiço.

— É como se eu te conhecesse de algum lugar...

A mulher continuou me olhando fixamente e sorrindo por tanto tempo que comecei a me sentir incomodada. Eu havia dito algo de engraçado? Desviei o olhar com vergonha, mas ela tocou meu rosto com suas mãos e delicadamente o segurou entre elas, fazendo com que eu não tivesse escolha senão retribuir seu olhar.

— De certa forma, sim. Confesso que não esperava que fosse se lembrar de mim antes de qualquer outra pessoa, mas... você me chamou, Lizlee. E aqui estou!

Seus olhos transbordavam com um brilho que se convertera em lágrimas. Retirei minha mão da dela e me afastei com um passo largo. Ela se assustou com minha reação, mas logo que recuperou o entusiasmo tentou se reaproximar de mim. Novamente, acabei fugindo do contato, levando as duas mãos a cabeça.

Ela pareceu ter entendido e permaneceu parada um pouco distante de mim por algum tempo, pelo menos até que o ritmo da minha respiração e dos meus batimentos cardíacos retornassem ao mínimo de normalidade e do aceitável. A pergunta praticamente gritava em minha mente, mas minha boca recusava verbalizá-la até que, hesitante, me permiti sussurrar a palavra que reverberava em todo o meu ser como um eco.

— Mãe? — Ela balançou a cabeça com ternura e voltou a sorrir, secando as lágrimas nas costas da mão. — Mãe, é você mesmo?

Dessa vez ela mal conseguiu acenar um novo "sim", tamanha era a sua emoção, pois já estava me tomando para si e unindo-nos em um abraço apertado. No primeiro momento, confesso que não consegui retribuir completamente o carinho dela e por não considerar justo mentir sobre o que sentia, nos afastei de novo. Essa reação pareceu-lhe partir inteiramente. Seus olhos se nublaram e perderam o brilho de um minuto atrás, sua expressão enrijeceu.

— Mãe... Mãe, você está aqui? De verdade dessa vez? Como? Eu devo estar sonhando... mas não sonho assim há muito tempo.

— Não, minha filha. Isso não é um sonho. Eu estou aqui. Por favor, me perdoe. Tudo o que te aconteceu, foi por minha culpa.

Quase engasgando em meio aos soluços, ela conseguiu completar a frase. Desabei a chorar junto com ela e a envolvi pela cintura não querendo soltá-la mais. Meu medo era que se eu a soltasse, nunca a visse novamente. A sensação era absolutamente inacreditável. Inexplicável.

Havia algo muito puro e sincero entre nós duas, como se sempre a tivesse tido por perto – mesmo que teoricamente minha mãe fosse uma estranha para mim, sua presença me parecia reconfortante. Imaginei como seria se ela tivesse feito parte da minha vida durante esses dezessete anos, tudo teria sido diferente.  

— Eu não acredito que é você! Você realmente está aqui. Você é real.

A afastei de novo só para poder olhar para ela e então, abraçá-la de novo. E repetir para mim mesma que não era apenas uma alucinação, como uma criança em êxtase. Acariciei seu rosto, delicadamente. Não conseguia parar de sorrir em meio ao choro.

Em meio a felicidade de estar vivendo aquele momento, algumas preocupações me ocorreram: Será que minha mãe se orgulharia ou se envergonharia de mim? O quão diferente eu seria do que ela havia desejado? Isso importava para ela? Eu não tinha como ter certeza de nada, mas podia notar que ela me olhava de forma diferente.

Será que ela se importava com minha aparência e meu estado? Se fosse esse o caso, infelizmente eu não poderia fazer muito. As roupas que eu usava pertenciam à Robertta, que era mais alta e tinha medidas maiores por isso em mim ficavam maiores – por outro lado, agradeci pelas roupas cobrirem os hematomas espalhados pelo meu corpo. O meu cabelo e minha pele nem se fale, estavam totalmente descuidados e meio queimados pelo frio.

Contive um pouco a euforia, fui recobrando a razão e a consciência de que ela ainda estava morta e que provavelmente eu é que estava fora do plano físico. Quando eu voltasse para a realidade, ela não estaria lá.

— Filha, eu sinto muito...

— É... — suspirei, ainda pensativa — o meu pai me contou do incêndio. Ele disse que se sacrificou para me proteger. Acho que agora posso entender, embora não completamente.

Desviei o olhar para outra direção e escondi as mãos nos bolsos da blusa de frio para que ela não percebesse o quão nervosa eu estava através do tremor delas.

— O seu pai e eu fizemos escolhas difíceis, mas todas foram tentando proteger você. Infelizmente, nós dois focamos tanto em garantir seu futuro que esquecemos de viver o presente. E agora eu percebo que um “sinto muito” não vai resolver nada e nem nos fazer voltar no tempo para consertar isso.

Com um aceno de cabeça, a mulher... quer dizer, minha mãe, me convidou a caminhar com ela.

— O meu pai disse que pessoas estavam atrás de mim. Essas pessoas foram responsáveis pelo incêndio que te matou?

— Sim. Muitas pessoas e criaturas estão atrás de você, sempre estiveram. Embora eu tenha achado que teríamos paz fora dos Limites mágicos de Una, criaturas conjuradas por magia eram atraídas até nós com frequência antes mesmo da sua existência. Mas piorou bastante depois da sua concepção e imagino que durante toda a sua vida. Então, Morgana e eu fomos forçadas a levantar uma proteção que deve ter restringido bastante a sua vida social.

— Espera! — Interrompi seu discurso ao ouvir, chocada, a menção à minha tutora. — Moggie? A Moggie também é uma feiticeira?

— Sim, Morgana é uma Guardiã de Portal. Um tipo raro entre os Feiticeiros Rhunae. Eu pedi que ela cuidasse de você caso algo me acontecesse, afinal de contas, uma de nós já bastava para a manter o feitiço de proteção e um Guardião de Portal poderia te levar para qualquer tempo e lugar se estivesse em apuros... até mesmo te atravessar para um plano intradimensional como o que mantêm todos em Una Royal.

Fiquei ainda mais chocada. Moggie nunca havia mencionado nada a respeito do que ela era ou do seu passado e com essa nova informação tudo fazia sentido. Eu nunca havia percebido “ataques” de estranhos à minha casa, mas também quase nunca saíamos dos arredores da propriedade e quando acontecia ela sumia por horas antes – mas eu achava que era por ela ter medo de ficar exposta à radiação ou ter fobia social, nunca me passaria pela cabeça que Moggie poderia estar preparando um encantamento para me proteger.

— Eu ainda vou ter que conversar com ela sobre tudo isso, mas... então os Feiticeiros estavam envolvidos?

— Eu imagino que o fato de eu ter desafiado o Conselho da Ordem não os deixou muito contentes. Por ser a herdeira do posto de Feiticeira Mater da Casa Hollunya, ter escolhido ficar com o seu pai foi uma traição muito mais humilhante, especialmente para a minha família e as Casas agregadas. A partir daquele dia, promulgaram uma nova lei que considerava o relacionamento de um Rhunae com pessoas de outras raças um crime de alta traição, passível ao banimento ou a morte a depender da natureza da relação. No entanto, isso não pareceu ter sido suficiente para a sua avó Aubrey, então ela nos lançou uma maldição.

— A sua própria mãe te amaldiçoou?

Questionei estupefata e quando voltei o olhar para ela, reparei seu semblante e postura cabisbaixas. Com certeza era doloroso para ela pensar que sua mãe preferiu bani-la apenas para manter sua posição na hierarquia. Pousei a mão em seu ombro, ela olhou para mim e sorriu mesmo com a natureza injusta da situação que me contava.

— A maldição está ligada ao sangue, então não importava para onde fôssemos ela nos acompanharia... mesmo assim, decidimos fugir de Una Royal para recomeçar nossas vidas longe de todo esse conflito, o que só foi possível com a ajuda de seu tio James, de Morgana e de Adelia, uma outra grande amiga.

Adelia não mentira sobre o que contou sobre conhecer minha mãe e me bateu a culpa por ter duvidado, porém não tive remorso por ter roubado dela, afinal, esse ato criminoso me possibilitou chegar até aqui e poder conversar com a minha mãe pela primeira vez na vida.

— É por isso que digo que a culpa não é sua. Você herdou a maldição por minha causa, na verdade, por causa do preconceito e crenças de supremacia da Ordem.

Enquanto buscava me manter meus ouvidos atentos às palavras dela, meus olhos se distraíam observando o fenômeno curioso que ocorria de um passo para o outro. Ora os meus pés afundavam em um campo de grama alta e dourada, ora pisavam em um campo de flores vermelhas. Achei aquilo fantástico.

Olhei para a minha mãe que havia parado para pegar fôlego e me estendia a mão para me ajudar, afinal estávamos subindo uma colina. Ao fim da subida, ela indicou uma árvore grande, de tronco grosso e folhas em diversos tons rosados, debaixo da qual logo nos sentamos.

Depois de pegar minha mão e colocar sob a raiz da grande árvore, ela fez o mesmo e de repente o vento começou a envolver a árvore, suas folhas balançaram radiantes como o sol e me vi dentro das lembranças de minha mãe. É claro que nós não podíamos interagir, pois eram apenas memórias, mesmo assim  não contive a expressão abismada quando nos vi dentro da cena e a ouvi continuar a me contar aquela pequena parte da história.

— No dia do seu nascimento, uma série de desordens provocaram alterações no equilíbrio e foram sentidas por todos, principalmente pelas Feiticeiras que são muito mais sensíveis a tudo o que afeta a natureza. Mas isso tudo aconteceu por causa da maldição de que o caos nos acompanharia e nada de bom poderia vir da minha linhagem.

— Então o incêndio era para se livrarem de nós duas. 

Constatei mais para mim mesma o que achei que ela obviamente já sabia, mas me surpreendi logo em seguida quando suas palavras demonstraram o contrário.

— Eu acredito que o plano de minha mãe era levar você. Apenas as primeiras filhas de cada Casa podem disputar as cinco cadeiras de Feiticeiras Mater no Conselho da Ordem, a posição mais alta de nossa hierarquia. Ela perdeu sua herdeira, a posição de nossa Casa estava ameaçada... e quando não há uma filha, cabe à primeira neta o destino de lutar para garantir nossa permanência no poder.

Conforme ela contava tudo isso, eu podia ver, através do olhar dela, como os mais jovens viviam disputando entre si – principalmente as Feiticeiras herdeiras – quem era melhor. Mesmo aquelas que sabiam que nunca poderiam sequer almejar o cargo mais alto, competiam por demais posições de importância ou por alianças internas com as cinco Casas no poder para assim garantir seu status e influência na hierarquia.  

— Filha, eu tentei alertar sobre o infiltrado no baile, acredito que tenha sido enviado para assassinar o seu pai, o que forçaria sua vinda para Una. Mas é bem mais complicado lutar contra o destino de alguém quando não se tem um corpo físico, portanto, tudo o que consegui fazer foi me projetar através do véu entre os planos e me aproximar da propriedade quando a proteção que levantamos já estava se enfraquecendo.

Ela afagou meu cabelo. Aproximei-me dela e me aninhei em seu colo, deitando a cabeça e permitindo que continuasse a fazer carinho.

— Com este colar que você está usando, eu poderia me projetar pelo ponto de intersecção e me comunicar com você sem precisar de um corpo, mas atualmente o máximo que posso fazer é utilizar os sonhos para tentar enviar avisos.

Ela franziu o cenho. Eu me lembrei dos pesadelos, o que explicava porque eram confusos... eram mensagens enviadas para me alertar mas ela não tinha controle.

 Depois disso, conversamos mais sobre como estava lidando com meus poderes e da saudade de ter dias normais na minha vida – apesar de todos os problemas e restrições que aquela vida me acarretava, como não ter amigos, a escassez de tudo ou simplesmente não saber o que havia no outro lado da cidade já que eu mal podia sair de casa e da nossa liberdade reduzida.

É verdade que eu omiti a parte de ter saído da casa do tio James ou a de me juntar a dois garotos desconhecidos para andar correndo riscos pela floresta, morar nas galerias subterrâneas de Lanóvia, ficar à beira de uma sentença de morte em Monigram, os roubos e de ter causado a morte daquelas crianças... não queria que minha mãe tivesse essa imagem de mim.

Ela parecia tão feliz apenas por me ter ao seu lado mesmo que por minutos contados. E eu sabia que precisava voltar e correr o risco de não vê-la mais.

 Minha mãe estava com o rosto voltado para o céu com os olhos fechados sentindo a brisa. Eu a observava dali de baixo, captando os momentos para ter uma boa lembrança desse encontro que poderia ser o último.

Aos poucos, comecei a me sentir sonolenta e ela deixou um beijo em minha testa com o sorriso um pouco entristecido. Lembro de pensar que ela sabia que havia chegado a hora de nos despedirmos.

— Filha! — Disse com a voz serena. — Sei que nosso tempo aqui é curto, mas já se passou muito no plano físico e você tem algo a fazer do outro lado.

— Sim, a senhora tem razão. Obrigada por me salvar, mais uma vez.

— Pode ser que não se lembre de boa parte de tudo isso quando voltar ao mundo físico, mesmo assim, eu quero que saiba que nunca deixarei de estar ao seu lado. Eu te amo.

— Mãe, eu também...

Não consegui terminar de responder, simplesmente dormi. Quando despertei, atordoada, saltei do chão olhando em todas as direções. Minha mãe não estava mais ali. Ergui um pouco mais a cabeça observando o horizonte por cima das flores altas no campo e naquela mesma hora, uma pequena, porém muito forte, esfera de luz surgiu em pleno ar irradiando sua luminosidade em todas as direções.

 Aquela estranha aparição começou a girar, chegando a atingir aproximadamente dois metros de diâmetro. De dentro dela, uma silhueta humana começou a apontar, inclinando-se para fora e separando-se da luz para se materializar em uma garota aparentemente comum, senão pelo estranho fato de ter saído por um portal – o que parando para pensar, era quase o mesmo que eu havia feito, mas com menos glamour.

Por precaução, me mantive distante e antes que ela pudesse abrir os olhos e me notar no meio das flores, pulei de volta ao chão me escondendo.

— Saia de onde está, sua criatura futurista e demoníaca! Eu posso sentir a vibração da sua luz.

Sua voz firme e séria contrastava com a sentença estranha que ela proferiu, mesmo assim meu coração acelerou com a presença. Tomei coragem para levantar pelo menos a cabeça. Sua expressão denunciou o quanto se surpreendera – isso e também o que ela disse quando me viu.

— Ah, é só uma garota. Espera! Uma garota?

Ela interrogou chocada e entusiasmada, separando sílaba por sílaba. Com a palma da mão voltada para cima, ela realizou um movimento que de alguma forma me fez ser deslocada do chão até onde ela estava. A garota se aproximou e estendeu a mão para mim, me ajudando a levantar.

— Onde e em que ano estamos? — Ela questionou.

— Infelizmente, eu também não sei.  Mas por que quer saber isso?

Ela suspirou e soltou o cabelo rosa, que assim como o meu chegava pouco acima da altura do ombro, e começou a balançá-lo de um lado para o outro. Depois disso ela simplesmente me encarou com seus olhos castanhos intimidadores.

— Porque eu estou tentando impedir a Terceira Guerra.

— Então, nesse caso, receio em dizer que abriu um portal para o ano errado. — Ela bufou em frustração. — Já passamos da Terceira, da Quarta Guerra e do conflito da Supressão, onde a Cúpula dos Líderes buscou apagar os vestígios de anomalias genéticas do pós-guerras perseguindo as pessoas.

— Com “anomalias genéticas” você quer dizer “poderes”? — Respondi acenando a cabeça positivamente. — Não, então nós falhamos. Os terráqueos conseguiram roubar nosso código genético e recombinaram com o deles... vocês humanos não fazem ideia do erro que cometerem.

Os olhos dela se arregalaram como se se sentisse assombrada. Depois apenas vi a de cabelos rosa girar sobre os calcanhares e começar a andar em círculos, assumindo uma outra postura. Fiquei confusa, afinal o que ela queria dizer com os termos "terráqueos" e “humanos”? Ela não era uma de nós?

— O meu esforço de viajar até aqui, para impedir mais uma burrada para história da humanidade, foi em vão? Por que vocês são tão gananciosos e destrutivos? — Suas bochechas estavam vermelhas o que, junto com seu tom alterado e luz emanando de suas mãos, denunciava que estava irritada.

— Tudo bem. — Retruquei, pausadamente, piscando várias vezes. — Vamos recomeçar do início. Prazer, eu me chamo Lizlee. Quem é você? Por qual motivo se refere a nós como “terráqueos”? E que história é essa?

Estendi a mão em sua direção, ao que ela recusou. Recolhi o gesto de volta e continuei ignorando sua falta de educação. A jovem, provavelmente alienígena, apoiou uma mão sobre a outra e fez surgir uma nova esfera luminosa e em seguida a atirou no chão bem ao seu lado. O lugar onde a esfera acertou, explodiu em raios e luz. A garota simplesmente solidificou a luz em uma poltrona luminosa em que logo se sentou. Acompanhei tudo isso bem assustada.

— Meu nome é Lumina. Sou a última filha da Casa Manaer do planeta Qar, localizado na dimensão de Ang-Kir e é por isso que digo "terráqueos", porque é isso que são as pessoas que habitam o Planeta Terra. — Ela se acomodou em seu trono de luz e completou. — E quanto ao que me refiro, bem... é uma história longa.

— O seu nome é... bem diferente. — Escolhi focar no ponto menos confuso entre o emaranhado de novas informações contidas em sua resposta.

— Lumina é meu nome de nascimento, mas aqui na Terra recebi um novo nome: Luma. E se quer saber, eu também achei o seu nome um tanto estranho.

— É, eu sei. — Balancei a cabeça em concordância com a última sentença. — Então você disse que os humanos roubaram o código genético do seu povo...

— Sim. Quando descobrimos que humanos pretendiam nos usar para essa finalidade, nós Qarssônianos nos sentimos traídos. Entretanto, ainda precisávamos cumprir nossa missão. Independente de qualquer falha humana, nós não poderíamos falhar. Estávamos há muito tempo na Terra protegendo os terráqueos, sem que vocês soubessem disso, é claro. Não que esperássemos reconhecimento, pois essa era a nossa missão, mas é frustrante saber que tudo pelo lutamos milênios para defender se voltou contra nós.

E terminando de dizer essas palavras, a ouvi suspirar como se estivesse cansada e realmente ferida. Era perceptível que Lumina se importava com aquilo e eu não precisava dos olhos para constatar isso – embora seria muito melhor se pudesse enxergar. Me inclinei para frente, estreitando os olhos. Ela ainda estava confortavelmente sentada em seu trono, enquanto eu permanecia em pé como se estivesse em uma audiência com uma Rainha. A qarssôniana pareceu perceber.

— Você sempre é esquisita assim ou está acontecendo alguma coisa?

— Ah, me desculpe. Como eu posso dizer? É que o seu trono majestoso e luminoso... ele está me cegando. Será que dá para desligar? Por favor?

— Não! – Respondeu após um momento em que fingiu ponderar justamente. — Vejamos, onde parei? Ah é, há séculos ocorria uma guerra. Ang-Kir, nossa dimensão de origem, estava morrendo e isso nos obrigou a fugir. Viemos para a Terra através de Portais Interdimensionais. A Missão Qarssôniana era de justamente criar uma colônia pacífica na Terra e protegê-la das ameaças externas para as quais os humanos não eram páreo. Infelizmente, não pudemos manter a paz e o equilíbrio em nossa nova casa.

Eu já não achava que era possível as coisas ficarem mais estranhas, quando outra esfera de luz – semelhante a que Lumina chegou – se abriu no ar assim e se expandiu para que outra pessoa saísse, dessa vez, um garoto. Sua beleza intrigante e luminosa me deixou admirada.

Eu não saberia dizer se foram os lábios grossos e cheios, os olhos expressivos e de um azul profundo em contraste com sua pele negra, seu físico atlético ou talvez o charme, seu jeito de andar... na verdade acho que foi um conjunto de todas essas coisas, somadas a sensação de curiosidade pelo desconhecido. Fiquei paralisada como nunca antes ao ver uma pessoa.

— Lumina Harjen! Você está sendo detida e levada sob custódia por oferecer desobedecer ordens diretas do seu comando e por oferecer risco à integridade do Conselho Maior de Ang-Kir.

Seu tom era sério e imponente, minhas pernas tremeram como a sentença fosse para mim. No entanto a garota não demonstrou qualquer inquietação com a ordem.

— Eadios, já chega! Relaxa. Até aqui você me persegue?

— Você não possui autorização para realizar viagens através de portais. — Seus olhos percorreram o espaço entre ela e eu, se mantendo sobre mim tempo o suficiente para que me sentisse um bicho pequeno e indefeso em sua presença. O que estava acontecendo comigo? — E quem é ela?

— Ah, o nome dela é Lizlee. É uma amiga do futuro.

— Do futuro? — Ele caminhou até mim e eu prendi a respiração. Como alguém conseguia ser mais lindo e intimidador de perto?

— Sim. Incrível, não é? Existem humanos vivos no futuro. O único problema é que eles roubaram nosso código genético para se superdesenvolverem.

Agora ele olhava diretamente para mim, de cima para baixo, eu resolvi que seria melhor encarar o fato de estar sendo revistada por um completo estranho alienígena que atraía minha atenção de maneira magnética e supostamente vinha do passado.

— Você tem poderes ou habilidades especiais? E sim, quais são?

— Bem, eu ainda estou descobrindo.

Ele estreitou os olhos e por um instante pensei que também quisesse me levar sob custódia, no entanto, apenas sorriu.

— Não somos seus inimigos. Precisamos que nos conte, com detalhes, tudo o que souber.

— Garota, não caia no feitiço de Eadios. — Lumina deu uma risada irônica que nos fez olhá-la ao mesmo tempo. — Esse daí vai fazer de tudo para tirar alguma informação de você, até mesmo te virar do avesso destruindo sua mente, da mesma forma que fez com a pobre Am-zora.

O rapaz se encheu de raiva e partiu com os punhos cerrados até o trono de luz ameaçando avançar na garota. Se não fosse pela barreira de terra que eu levantei, nada o teria impedido. Lumina riu em um tom de deboche que só parecia aumentar a fúria de Eadios, fazendo-o se obrigar a manter a postura.

— Eu não deixei a Am-zora daquele jeito.

Ele retrucou com o rosto voltado pra mim, mas eu tinha certeza que se dirigia a ela. Seus olhos marejados, denunciavam a possibilidade dele estar sendo verdadeiro e de que Lumina o estivesse provocando por algum motivo. Após oferecer lhes contar o que pudesse e eles prometerem me mostrar como voltar para casa, todos sinalizamos trégua.

Contei, resumidamente e com datas quase exatas, o que sabia sobre o surgimento da raça Guer e da inconsistência de informações fornecidas pelo governo da Cúpula dos Líderes; sobre as duas Grandes Guerras e as condições precárias de vida dos sobreviventes, junto das doenças ou anomalias e desastres provocados por elas; sobre a perseguição aos Guers; sobre a fundação de Una Royal.

Até mesmo sobre os Guers-Matriz, nossas habilidades especiais e nossa suposta missão; sobre a proteção fornecida pelo limite mágico que cerca todo o território de Una Royal e o esconde, mas também nos impede de sair e por último, da possível extinção da raça Guer, eu contei tudo até onde poderia saber.

— Então nesse lugar, Una Royal, elementais, Rhunaes e humanos coexistem? — Eadios questionou como se não pudesse conceber essa ideia.

— Não exatamente. Eles vivem em conflito, inclusive, nesse exato momento. Até mesmo entre as próprias raças.

— Claro, os Guers são só humanos geneticamente melhorados, a autodestruição da espécie já vem no DNA. — Zombou a alienígena de cabelos rosa.

— Na verdade, Eadios, acho que era isso o que as Divindades Maiores da Natureza queriam de nós quando nos deu todos esses poderes e depois nos prendeu em Una. Mas temos falhado diariamente e só estamos mais próximos do fim, sem uma nova chance de recomeço.

O garoto pareceu ter ficado pensativo, o que fez com que nós duas nos entreolhássemos em silêncio esperando que sua expressão fosse prelúdio para logo anunciar alguma conclusão.

— Bem, sei que não é correto e nem permitido alterar o espaço-tempo, mas podemos voltar e avisar a Missão Qarssôniana sobre tudo que nos disse e assim poder voltar para ajudar vocês.

— Isso! — Lumina pulou de seu trono de luz com entusiasmo. — Essa é a nossa missão.

— Lizlee, temos que voltar agora mesmo, se não se importa. Lumina, eu tenho obrigação de algemar você.

— Só se me pegar.

 Por alguns minutos fiquei cega pela potência e amplitude da luz que ela emitiu para se deslocar para longe de nós. Isso fez com que Eadios acrescentasse uma nova infração ao motivo da prisão.

— Continue agindo assim. Agora além de ser detida por viajar através de um portal de luz sem autorização, também tem a utilização imprópria de seus poderes.

E mesmo com o risco da pena aumentada e com toda a força de Eadios, ela não se rendeu. Mas os fiz entrar em consenso. Lumina não queria as algemas pois elas anulavam seus poderes, então convenci Eadios a levá-la sem o apetrecho. Quando finalmente os dois estavam prestes a colocar, literalmente, os pés de volta ao passado, me veio como um estalo a lembrança do estado de saúde da Robertta.

— Lumina! Eadios! Como eu volto para casa?

— É simples. Pense em onde, quando ou com quem você quer estar. O colar sabe o que fazer. — A de cabelos cor de roda gritou ao longe.

— Nos vemos, garota do futuro. — Se despediu o charmoso qarssôniano.

Esperei que a luz do portal deles se apagasse por completo e retirei o colar do pescoço apertando a pedra em minha mão. Respirei fundo sem nem pensar duas vezes e me concentrando somente em com quem queria estar – uma vez que não sabia exatamente onde encontrá-lo.

Em minha mente outros pensamentos se silenciaram e pude ecoar um pedido: “Eirie, onde estiver, me deixe encontrá-lo”.

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