prólogo
- É, acabou o jogo pra você, piranha.
Duas pistolas carregadas, miradas e engatilhadas neles.
Um, dois, quatro... Passeio a mira nos novos rostos que surgem da escuridão. Não tenho pistolas - e nem mãos - suficientes para todos esses salvadores, mas balas tenho. Eles vão chegando, ofegantes da perseguição, e se reunindo contra mim e contra as folhas secas no chão, esmagadas por suas botas.
Sei que três posso levar para o inferno comigo, mas não confio no meu potencial de lidar com todos os homens de uma vez. Quanto mais deles eu conseguir arrastar comigo, menos deles teremos que lidar mais tarde.
Tão absorta na adrenalina, não pude reparar na clareira em que cheguei. Em que me levaram, corrijo. Não percebi que estavam me cercando para uma única direção.
Meus olhos se espremem levemente, virando minha cabeça para a esquerda, mas sem desviar minha mira dos alvos.
E então, volto a ser uma garotinha com 12 anos de idade, como se as coisas nunca mais fossem ser as mesmas.
Foi quando comecei a colocar os pés no chão com relação à gravidade da situação, e percebi que a minha vida não voltaria a ser o que era antes de corrermos para um um parque estadual e montar um acampamento com desconhecidos. Minha mãe não voltaria a desfilar nas passarelas com vestidos brilhantes e sapatos altos, sendo ovacionada pelos fotógrafos. Meu irmão não voltaria a usar seu dobok branco e amarrar sua faixa vermelha quase preta para competir e adornar-se com medalhas de ouro. E pra mim, sem mais desfiles falsos no espelho, sem mais brincadeiras de lutinha com meu irmão e sem mais abraços do papai. Porque foi nesse momento em que Carl cortou a tensão no ar com um "pai" estridente e o meu grito permaneceu abafado na garganta, porque meu pai nunca mais apareceu.
O coração pulsando, a adrenalina fluindo em minhas veias e a mente ecoando. Mas não tenho tempo pra isso. Acho que nunca tive.
Em um círculo apertado, cercado por uma muralha humana de salvadores, todos armados, e com brilho das tochas iluminando os rostos suados e exaustos, minha família está ajoelhada.
Maggie é somente uma sombra suada, um fantasma debilitado pela febre e pela dor, assim como Daryl. Rosita e Sasha lutam para conter em seus rostos o pavor. Inútil, pois está estampado em seus olhos. E Eugene, claro, tremendo, o completo oposto de Abraham.
Carl também estava ali, afinal, havia ido junto com eles. Reconheceria-o a qualquer distância. Seja pelo chapéu de xerife, cabelos longos ou sua flanela xadrez azul. Mas meus sentimentos não me permitem levar meu olhar até ele.
E, no centro, pálido e com os olhos marejados e arregalados, uma versão de Rick Grimes: o homem pelo qual meu pai dera a vida para salvar.
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