XXXI. More time together

Tempo era uma questão complicada para Sirius.

Quando estava em casa com os pais, apenas queria que o tempo corresse e tudo passasse depressa. Em Hogwarts, queria viver cada segundo intensamente e que passasse o mais lentamente possível. O tempo sempre pareceu algo que ele precisava, mas também que gostaria de descartar para sempre.

Queria gastar todo o seu tempo para que não precisasse mais estar junto de sua família no verão em sua adolescência; porém, o que mais precisava era talvez algumas horas a mais para poder salvar pessoas que ele amava.

Em Azkaban, ele perdia facilmente a noção de tempo. Mais de uma década trancafiado numa cela fazia isso com sua mente. Acontecia muito quando estava em casa, pois a Casa Black parecia muito mais uma prisão que um lar.

E mais uma vez ele se perdia no tempo. Não sabia o quanto ele ficou ali chorando junto de Remus, mas suspeitava que talvez muito houvesse se passado até aquele exato momento em que, ainda em seu quarto, sua cabeça estava sobre o colo de Lupin e ele acariciava seus cabelos para tranquilizá-lo.

A conversa que tiveram o ajudou bastante, embora ainda se sentisse terrivelmente mal por não poder proteger seu afilhado.

Remus e Sirius estavam realmente decididos a dar a Harry toda a atenção e o cuidado que ele não recebeu dos tios, além do carinho que ele precisava.

Aquele era um assunto realmente delicado para Sirius, considerando tudo o que passou na Mansão Black. Seus pais estavam longe de serem carinhosos e cuidadosos, essa parte ele recebeu muito mais de seu tio, Alphard. Walburga Black era uma mãe extremamente rígida e obcecada por manter a imagem perfeita da família, não tinha medo ou pena de castigar aos filhos com maldições quando não seguiam o que era esperado por ela. Já Orion… Ele nunca pareceu se importar muito com os filhos além de como poderiam dar seguimento ao legado dos Black.

Um legado que, por ele, poderia ser esquecido e jogado no lixo. Isso foi a razão para todo o terror que passou e a destruição do único laço que ainda possuía com aquele lugar, seu irmão. Seus pais destruíram a relação deles.

Ele sofreu muito naquela casa e não conseguia suportar imaginar Harry passando pelo mesmo com os Dursley. Pensar nisso foi um grande gatilho para que desabasse de uma vez.

Ainda se lembrava perfeitamente da dor de cada maldição que recebeu. Ele jurou a si mesmo que seria um pai diferente do que os seus foram, que nunca iria ferir seus filhos daquela maneira e aceitaria eles de qualquer forma, não importa como fossem.

Agora, mais calmo, junto de Lupin, iria fazer o melhor que não pôde nos últimos anos. Um bom começo era fazer Harry sentir-se em casa, pois agora aquele seria o lar dele; nunca o deixariam ir embora. E como morador daquela casa e parte da família, ele merecia o seu próprio espaço.

— Vai deixar ele ficar com esse quarto? — Remus perguntou com a voz serena, mas ainda surpresa. Sirius confirmou com a cabeça.

— Acho que vai fazer bem a ele… Saber que tem seu lugar aqui, como todos nós, e… — Ele fez uma breve pausa enquanto falava. — Tem sido estranho passar as noites aqui depois de tanto tempo. Não é mais tão confortável como antes.

— Eu te entendo. E onde pretende ficar?

— Não sei… Na sala, talvez?

— Tá brincando, né Sirius?

Black riu baixo, pela primeira vez depois de um longo tempo.

— Acha que posso levar minhas coisas para o seu quarto?

— Meu quarto?

Remus ponderou por longos instantes, com as bochechas ganhando uma leve coloração avermelhada.

— Claro — respondeu. — Você pode ficar lá. Não quero que fique dormindo no sofá — disse logo em seguida, mesmo que pensar em voltar dividir o quarto com Sirius mexesse completamente com sua cabeça e seu coração.

Sirius exibiu um leve sorriso para Lupin, que sentiu-se impossibilitado de não retribuir o gesto e sorriu de volta.

— Ótimo. Vamos dormir juntos bem onde nossos filhos nasceram — Black tentou brincar um pouco, e Remus riu.

— Aquele dia foi… Bastante complicado e certamente inesquecível.

— Queria ter ficado mais perto — admitiu com um pequeno bico nos lábios.

— Você estava surtando. Se ficasse no quarto, Karina te mataria.

— Isso é verdade.

— Acho que Harry vai gostar daqui — disse Remus, olhando ao redor do quarto. — Podemos arrumar do jeito que ele gostar com os meninos. Vamos poder passar um tempo com eles, e você pode se aproximar um pouco.

— Queria poder ficar mais de cinco minutos perto deles sem ouvir algum comentário seco.

— Hey, sei que fica triste com isso, mas eu vou te ajudar — Lupin apressou-se a falar ao ver o semblante entristecido de volta ao rosto de Sirius, que encarava seus olhos enquanto permanecia acariciando os fios escuros. — Vai conseguir se aproximar deles com o tempo. E pense positivo: Harry está muito feliz em te ver e poder ficar perto de você.

Sirius soltou um longo suspiro por entre os lábios, com o olhar preso no rosto de Lupin logo acima. A luz entrava pela grande janela do cômodo e iluminava a face marcada por cicatrizes e os olhos esverdeados.

Se considerava muito sortudo em tê-lo ali e poder apreciar aquele lindo rosto novamente.

E mais uma vez, ele perdeu-se no tempo enquanto admirava Remus e segurava uma de suas mãos firmemente.

No outro lado do corredor, os gêmeos e Harry estavam arrumando-se após o café da manhã. Therion e Canopus assumiram a função de animar Potter durante todo aquele tempo em que Remus e Sirius conversavam, distraindo o garoto e fazendo-o esquecer completamente de sua antiga casa.

Harry estava sentado sobre a cama do gêmeo mais novo enquanto via ele procurando roupas para vestirem. As vestes novas que havia trazido considerava mais apropriadas para outras ocasiões que não apenas ficar em casa, então pegaria algumas emprestadas dos amigos até poder comprar mais.

Canopus estava tomando banho, enquanto o irmão revirava o guarda-roupa.

— O que quer vestir, Harry? Qualquer coisa aqui com certeza vai servir em você — Therion perguntou enquanto pega uma camiseta azul para si e joga na cama.

— Não me importa muito, só algo leve. Está calor.

— Pode escolher algo meu ou do Canis.

Harry levantou-se da cama e foi até ele, procurando alguma roupa para vestir. Não foi difícil deduzir quais eram de Canis ou de Therion, pois apesar de possuírem estilos semelhantes, ainda havia suas diferenças, que ele percebeu principalmente quando foram fazer compras, e, inclusive, reconheceu algumas peças compradas. O lado do mais novo possuía mais roupas leves que o outro, com mais cores também.

Ele acabou pegando uma blusa verde de mangas curtas e uma calça leve de algodão preta, ambas pertencentes a Therion. Observou o garoto escolhendo o que mais ele mesmo vestiria e exibir um pequeno sorriso.

— Adoro essa blusa. Vai ficar bem em você — disse. — Quer ir primeiro depois que Canis voltar?

— Pode ir, eu espero.

— Vamos esperar Canis parar de enrolar no chuveiro. Ele demora séculos.

— Falou o que ficou uma eternidade se arrumando para sair ontem — Canopus disse entrando no quarto.

— Fica quieto, Canis! — resmungou Therion, batendo no ombro do irmão e seguindo para o banheiro.

O mais velho riu, fechando a porta e voltando a secar os cabelos com uma toalha, enquanto caminhava até o guarda-roupa com outra enrolada na cintura. Potter o seguiu com o olhar e pôde visualizar bem as costas do outro.

Todo o tronco e braços de Canopus estavam marcados por dezenas de cicatrizes recentes. Marcas grossas e bem grandes cortavam suas costas, ainda maiores que a ferida que viu aberta no peito do garoto no dia que chegou ferido à enfermaria. Imaginava que o processo de recuperação do amigo foi — e talvez ainda esteja sendo — bastante doloroso.

— Eu sei que sou lindo e uma cópia do garoto por quem você fica suspirando por aí, mas se continuar me olhando assim não vou resistir, Prongs — Black disse após pegar sua roupa, virando-se de frente para Potter com um sorriso de canto.

O rosto de Harry rapidamente ficou vermelho como um tomate, e ele desviou o olhar, envergonhado.

— Estou brincando — riu Canis. — E você não faz tanto meu tipo assim.

— Cala a boca — Harry resmungou e pegou um travesseiro, jogando na direção do outro. — E eu não fico suspirando por ninguém.

— Não precisa ter medo de admitir pra mim, Hazz. Você gosta do meu irmão, não é?

— E-eu não gosto do Therry, n-não desse jeito! — Potter gaguejou. — Ele é meu amigo. Apenas isso.

— Às vezes nos interessamos por nossos amigos. Eu sei que o charme Black é irresistível — ele disse e sorriu provocativo. — Espero que isso me ajude, pois pretendo beijar muitos garotos ainda esse ano. Mas não se preocupe, você não está entre eles. Vira de costas, por favor, porque ainda não chegamos nesse nível de intimidade.

Harry virou-se com o rosto ainda completamente vermelho e fechou os olhos. Muitas coisas passaram por sua mente naquele momento com o rumo daquela conversa e perguntas começaram a surgir. Questionamentos que já havia se feito levando em conta alguns comentários do Black, porém nunca realmente parou para colocar em palavras.

— Você… Realmente gosta e beijaria garotos? — perguntou, curioso.

Canopus riu enquanto vestia sua calça, balançando a cabeça. Não esperava aquela pergunta, mas também não era difícil responder.

— Por mais que eu queira muito esquecer, deve se lembrar que meu primeiro beijo foi com um garoto e que meu maior problema nisso foi o garoto em questão, não o gênero dele — disse ao que amarrava o cordão da calça.

— Disso eu lembro, você surtou por ser o Malfoy — Harry riu, ainda de costas. Canis revirou os olhos e suspirou ao ouvir o comentário.

— E vou te contar um segredinho, meu caro amigo Prongs… — Black aproximou-se de Potter e tocou seu ombro, ficando de frente para ele e encarando os olhos verdes. — Eu me interesso por garotos.

— Então você é…

— Sim, eu sou gay. Surpreso?

Canopus afastou-se para vestir sua camisa, enquanto Potter paralisou para processar a informação. Não diria que era algo totalmente inesperado, mas vê-lo falar tão calmo e abertamente sobre isso surpreendeu Harry. Ele não teria tanta liberdade para dizer com tanta tranquilidade que se interessava por um garoto onde morava até o dia anterior.

Black percebeu como deixou o amigo pensativo e olhou-o ligeiramente intrigado.

— E, sabe… Tudo bem você estar interessado no meu irmão.

— N-não, e-eu… Eu não estou, não desse jeito. E-eu… Somos amigos e… E eu não sou…

As mãos de Potter começaram a suar e tremer pelo nervosismo. Sempre ficava nervoso com a menção de sua relação com Therion ir além da amizade, no fundo sabendo que não era exatamente por recriminar a ideia, mesmo que guardasse isso nas profundezas de sua alma.

Canis inclinou levemente a cabeça, ainda encarando Harry e notando todo o seu nervosismo com o comentário. Ele não demorou a perceber o que estaria havendo e que o que mais fazia Harry ficar nervoso não era estar gostando de um amigo.

— Caso esteja pensando e ainda se questionando sobre isso: — ele disse. — Não há nada de errado em você também se interessar por outros garotos, seja um amigo seu ou qualquer outro.

— E-eu…

Harry não conseguiu concluir a frase, mas seus olhos já falavam por si só. Black apenas sorriu-lhe de forma leve e compreensiva, sem mostrar os dentes, para confortá-lo.

— Eu suspeito que seus tios tenham dito o contrário, mas esqueça qualquer merdas que aqueles imbecis tenham dito para você.

Potter continuou calado e abaixou o olhar, o que respondeu todas as dúvidas e suspeitas de Canis.

— Já gostou de um garoto antes, não foi?

— Bem… Mais ou menos... — Harry coçou a nuca, envergonhado.

— Não há problema nenhum nisso, e eu te entendo.

— Mas eu gosto de garotas, não sou gay.

— Há quem goste de tudo — Canopus disse e deu de ombros. — Também não tem nada de errado, vai de cada pessoa. Sua sexualidade não é definida somente em ser hétero ou gay. E estou aberto a conversas e desabafos sempre que precisar. Não precisa ter medo de ser quem você é aqui com a gente.

Harry sorriu fraco para Canis e logo desviou o olhar, bastante pensativo. Era realmente novo ser acolhido daquela forma.

Em King's Cross, quando despediu-se de Therion e ele deu-lhe um beijo na bochecha, isso realmente mexeu consigo, e também deixou seu tio Valter bastante intrigado e irritado, repleto de perguntas. Perguntas sobre a relação deles e falas sobre o quão estranho e errado seria ele ser tão próximo de um amigo a esse ponto.

Mas, para Potter, isso era tão natural que não se importava. Gostava da sensação boa e calorosa que Therion lhe trazia, de ficar perto dele, segurar sua mão. Não costumava pensar muito, apenas seguia com seu instinto e com naturalidade, sabendo que poderia agir sem recriminações perto dele e demonstrar o grande afeto que nutria com o tempo.

Ele não recebeu muitas demonstrações de afeto em sua vida e era demasiado carente quanto a isso. Gostava de mostrar como se sentia, exatamente como gosta quando o fazem consigo. Talvez toda a sinceridade de cada gesto do mais novo dos gêmeos Black que o fizesse gostar tanto e se sentir bem perto dele. Nunca realmente parou para pensar na dimensão de seus sentimentos ou em sua sexualidade.

Não havia espaço para discutir e refletir sua orientação dentro da casa onde vivia. Somente agora começava a pensar mais sobre isso, o que certamente o deixava bastante confuso. Nunca julgaria Canopus por gostar apenas de garotos, afinal, era a preferência dele, referente única e exclusivamente a ele… Mas também nunca se deixou ter essa liberdade de pensamento sobre si próprio.

Harry sabia bem que já se interessou por garotos, mas por garotas também, porém refletir sobre o significado disso era algo de que realmente tentava fugir. Apenas seguia guardando todas aquelas confusões e sensações dentro de si, porque, até então, não lhe seria permitido se questionar algo desse tipo.

Apenas nesses últimos anos, principalmente agora com o terceiro ano em Hogwarts, que Harry tem sentido-se livre para ser quem era, mas ainda havia algumas coisas sobre si mesmo que ele precisava entender. Seus reais sentimentos pelo gêmeo do Black a sua frente era uma delas.

— Então… Você acha que gosta dele? — Canopus perguntou cautelosamente.

— E-eu… Não sei…

— Está tudo bem. E não se preocupe, vou manter essa conversa só entre a gente — disse, e Harry sentou-se agradecido por isso.

— Obrigado…

— Você é quase como um irmão agora. Somos amigos, certo? Pode contar comigo quando precisar.

— Sim, somos — Potter disse com sinceridade, e Canis bagunçou mais seus cabelos.

Ele, repentinamente, deu um breve abraço em Canopus, o que deixou-o um tanto surpreso, mas não rejeitou o ato. Foi sua forma mais explícita de expressar o agradecimento por ter o amigo ali ao seu lado, mesmo que tenha acabado de levantar inúmeros questionamentos em sua cabeça.

Também estava ali por Canis. Era um de seus melhores amigos, que realmente estava disposto a entendê-lo e ajudá-lo. Agora que estariam convivendo na mesma casa, teria a chance de se aproximar ainda mais dele e evoluir aquela amizade que já possuíam.

Harry adorava sua amizade com Rony e Hermione, eram seus melhores amigos na Grifinória, mas havia certas coisas que certamente os gêmeos o entendiam melhor e isso é o que apreciava na construção da relação com eles.

— Ainda dói? — perguntou de repente ao se afastar daquele abraço.

— O quê? — Canis indagou confuso.

As cicatrizes… Sei que você fala que está bem, mas ainda parece bem feio.

— Ah, não, não… Bom, incomoda de vez em quando, faz só… Pouco mais de um mês, eu acho, e isso realmente demora para se recuperar totalmente e faz alguns dias que tirei os curativos, mas… Estou bem. Às vezes pego algumas das poções para dor que papai tem guardado no quarto quando ele está ocupado se incomodar demais.

— Escondido?

— Claro! Se eu pedisse abertamente ele surtaria de preocupação. Já está mal o suficiente por ter me arranhado naquele dia. Se eu não estiver bem ele vai… — ele se interrompeu no meio da frase e comprimiu os lábios. — Esquece… — suspirou, balançando a cabeça enquanto se afastava. — Está tudo bem, de verdade. Eu sou forte.

Aquela era a frase que Canopus repetia para si mesmo há um bom tempo. Eu sou forte, eu aguento tudo isso, pensava.

— Bom… Saiba que também estou aqui sempre que você precisar — Harry disse.

— Obrigado — Black agradeceu, sorrindo fraco.

— E… Sabe… Você não precisa estar bem o tempo inteiro — concluiu, deixando o outro pensativo sobre aquela frase.  — Nem eu estou sempre tão bem quanto pareço.

Não preciso? — aquela era mais uma pergunta retórica para si mesmo do que um questionamento para Potter.

Sempre pensou um pouco diferente, principalmente vendo o quanto o pai sempre se esforçava para ficarem bem e se preocupava quando havia algo de errado, mesmo que ele próprio estivesse fraco e ferido pela lua cheia. Percebeu isso quando ainda tinha apenas 8 anos e logo quando Remus foi vê-los ao fim da transformação, viu que ele estava tossindo por um resfriado e cuidou dele mesmo completamente machucado e precisando ficar descansando pelo resto da semana para se recuperar totalmente.

Era criança, mas não era bobo. Crianças são muito mais espertas do que parecem e absorvem os acontecimentos ao seu redor de diversas formas. Ele via como Lupin sempre tentava passar a imagem de que estava bem, mesmo não estando, apenas para cuidar deles e não deixá-los preocupados.

Foi assim que Canis aprendeu a esconder suas dores para não preocupar ninguém. Therion também fazia muito isso, mas ele… Ele era mestre em fingir estar bem quando tudo dentro dele estava desmoronando, até ser doloroso demais e muito para suportar.

Mas não culpava Remus por ser assim. Ele ainda era o melhor pai que poderia ter, que ainda lhe deu uma infância boa e feliz, apesar de todos os problemas. Fazia tudo pelo bem dele, somente isso.

Canopus viu o terror do pai por estar machucado. Não queria deixá-lo pior queixando-se de dores e incômodos, principalmente à noite, quando estava tão exausto. Lupin desmoronaria, e ele cairia junto.

Ao mesmo tempo que tentava esconder toda e qualquer dor, Remus também era o único além de Therion para quem ele se deixava mostrar minimamente vulnerável e sensível. Ah, ele era um garoto bastante sensível, apenas detestava admitir isso. Somente eles conheciam esse outro lado do garoto que ele tanto tentava esconder dos outros.

Emoções e sentimentos eram questões bastante complicadas para ele, mas isso não o importava. Ele era forte. Ele aguentava.

— Pode ir, Harry! — Therion chegou ao quarto já vestido e secando os cabelos úmidos, com um leve sorriso no rosto. — Tem outra toalha no banheiro para você.

Ele olhou para Potter e o irmão, sentindo um clima um tanto estranho no ar. Viu o olhar de Harry cair em si e o rosto ficar completamente vermelho — de novo —, antes de apenas balançar a cabeça positivamente algumas vezes e correr para o banheiro.

— O que você fez?

— Merlin! Sua confiança em mim é invejável, irmãozinho — Canopus retrucou irônico.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não, só estávamos conversando — respondeu e deu de ombros, virando-se para a escada do beliche e subindo para sua cama.

— Você é um ótimo ator, mas sabe que me enganar não consegue, não é? — Therion jogou a toalha nos ombros e cruzou os braços, observando o irmão senta-se na cama alta com os pés balançando a pouco mais de um metro do chão.

— Só conversamos sobre algumas coisas, é a verdade — insistiu. — E sua habilidade de percepção às vezes é assustadora.

— Eu sei — disse e sorriu de canto. — E se eu percebi algo, é porque aconteceu.

Canopus bufou e jogou sua toalha com força na direção do irmão. O mais novo riu divertido e pegou a toalha quando ela bateu em si. Encarou o seu gêmeo ali no alto, sabendo que ele estava bastante pensativo sobre algo.

— Apenas tivemos uma boa conversa entre amigos bastante esclarecedora para ambos os lados.

— Quer conversar comigo também ou…?

— Agora não, Therry. Eu estou bem.

— Vou levar isso como uma conversa adiada para mais tarde — disse e viu o outro revirar os olhos. — Só não quero te ver continuando a guardar tudo e explodindo de novo.

— Você também não estava às mil maravilhas, irmãozinho.

— Mas eu não tentei lançar uma maldição que significa uma passagem direta para Azkaban por quem a usa — rebateu Therion.

— Você sabe que nem sempre ela dá certo, não é? Precisa de muita vontade e concentração.

— E você acha que não estava com raiva e mágoa o suficiente para realmente acertar aquele feitiço?

Canis com certeza estava.

— Ótimo, eu sou o vilão aqui que quase torturou alguém. Sou o gêmeo malvado e você o bonzinho, certo?

Errado.

— É mesmo. Você lançou um estuporante num professor.

— Era o Snape. Quem não faria isso?

O garoto ponderou e balançou a cabeça, concordando e rindo baixo. Therion aproximou-se do beliche e subiu de pé na própria cama, apoiando os braços no colchão do irmão.

— Está mesmo bem?

— Estou. Harry só… Me deixou pensativo — respondeu Canis voltando o olhar para o irmão.

— Sobre…? — perguntou e aguardou ele continuar.

— Algumas coisas. Nada para você se preocupar — concluiu e forçou um sorriso. Ele assobiou para chamar sua coruja, que logo voou até ele e piou.

— Não vai fugir conversando com o Hermes, né?

— Você tem mais alguma pergunta? — Therion balançou a cabeça negativamente. — Então não estou fugindo de nada — Canopus respondeu e voltou sua atenção para a coruja em seu ombro. — Bom dia, bebê. Está com fome?

Ele começou a acariciar as penas escuras da coruja, enquanto o irmão pulava da cama. Pouco depois, a coruja branca de Harry pousou na janela, que Therion apressou-se em abrir para deixar ela entrar e pousar em sua escrivaninha trazendo uma carta.

— Deve ser uma carta de Rony ou Hermione.

— Harry vê quando sair do banho. Hermes, vai  cumprimentar Edwiges. Ela vai ser sua nova companhia.

A coruja de penas pretas rapidamente voou até a outra. Edwiges piou alto e voou até o ninho de Hermes, o que fez Canis rir.

— Acho que ela não quer muito papo hoje. Não fica triste, Hermes. Vem cá — disse e estendeu o braço de volta para a sua coruja.

Therion riu baixo. Ele sempre achava engraçado como o irmão conversava com a coruja de vez em quando, pareciam se entender bem, principalmente durante as férias.

— Edwiges é um pouquinho temperamental, não é nada contra você — disse Canopus e a sua coruja piou em resposta antes de bicar carinhosamente sua cabeça.

— Hermes parece gostar bem mais de você do que de mim — Therion comentou.

— Porque eu sou o gêmeo legal, que mais cuida dele e que se presta a conversar de vez em quando. Não é, Hermes? — Hermes piou outra vez. — Viu? Ele concorda.

— Traidor. Eu que limpo suas penas!

— Pode ir caçar, Hermes. Tenha um bom café da manhã.

A coruja bicou de leve o dedo de Canopus antes de sair voando pela janela aberta.

***

— Vai me deixar ficar com o seu quarto? — Harry indagou surpreso, com os olhos arregalados por trás dos óculos.

— Sim. Temos bastante espaço na casa, e eu já não me sinto tão bem sozinho lá — Sirius disse, sorrindo fraco para o afilhado.

Os três garotos estavam no quarto dos gêmeos, pouco depois de todos almoçarem juntos. Harry estava sentado na cadeira da escrivaninha de Therion, com os pés recolhidos sobre o assento e vestido com as roupas do garoto, enquanto os outros dois estavam sentados em suas camas.

Remus estava parado logo ao lado de Sirius próximos a porta, ambos olhando para os garotos, em especial para Harry.

Após saírem do quarto do Black há um tempo, os dois prepararam um grande almoço para todos. A refeição foi bastante leve, e Harry conversou muito com o padrinho. Depois que Sirius e Remus lavaram toda a louça, resolveram informar ao garoto sobre seu novo quarto e iniciar sua estadia permanente morando com eles.

E também, usar disso para aproveitarem uma tarde juntos com os três garotos.

— Eu falei, Harry! — Canis disse, pendurando-se de cabeça para baixo em sua cama na parte de cima do beliche.

— Canis, cuidado para não se machucar — alertou Remus com preocupação, temendo que ele caísse e acabasse ferido.

— Eu tô bem, papai — respondeu despreocupado, observando tudo de ponta cabeça. — Já podemos nos livrar das coisas do Sirius?

— Não! — Potter contestou. — Não preciso disso.

— Eu insisto, Harry. Já não me sinto o mesmo no quarto… O melhor que posso fazer é dá-lo a você, agora que vai morar aqui. Tem outros lugares na casa onde posso ficar.

— Tipo o porão.

— Canopus!

— O que foi, pai?

— Podemos arrumar tudo agora. É uma ótima tarefa para fazermos durante o dia, hm? — Remus sugeriu após revirar os olhos e suspirar.

— É uma boa ideia — disse Therion. — Vamos, Hazz! Você vai viver com a gente agora e ter o próprio quarto!

Harry acabou concordando, mesmo que um tanto sem jeito. Ainda era estranho receber tanta atenção de alguém que ele considerava… Família. Mas não era algo ruim, estar ali realmente o deixava muito mais confortável e a vontade.

Todos partiram para o quarto de Sirius em seguida, e Remus pegou algumas caixas para guardar as coisas do Black que seriam retiradas do cômodo e levadas para seu quarto ou o escritório que estava mais servindo de depósito.

Potter observou o quarto admirado, era maior que o seu na casa dos tios. As paredes possuíam tons de cinza e vermelho, e havia uma grande cama sob um extenso mural de fotos, tanto ao modo bruxo quanto trouxa. Alguns livros decoravam prateleiras, mas certamente o quarto dos gêmeos tinha muito mais — talvez o triplo de exemplares, para cada um. Uma grande janela disposta em uma das paredes permitiria uma boa iluminação, se não estivesse fechada junto às cortinas escuras.

A curiosidade foi despertada ao encontrar em um canto uma guitarra e um violão. Ele não esperava encontrar instrumentos trouxas numa casa somente de bruxos.

— Esse é o seu quarto — disse Remus. — O que acha?

— Eu gostei! — Harry disse e sorriu levemente.

— Decore-o como quiser, Harry. Vamos tirar o que for meu para guardar suas coisas — Sirius falou. — Pode até ficar com algumas das fotos, se quiser. Tem dos seus pais ali.

— Mesmo? — Os olhos de Potter brilharam instantaneamente.

Sirius assentiu com a cabeça.

Canopus apressou-se em ir até o guarda-roupa e começar a tirar todas as vestes que haviam ali guardadas, e seu irmão logo foi ajudar.

— Quanta coisa velha — comentou Therion.

— Tudo aí tem mais de 14 anos, então… — Sirius deu de ombros e coçou a nuca. — Não mexi muito desde que voltei…

— Percebe-se — resmungou Canopus ao tirar uma caixa e assoprar uma nuvem de poeira da tampa.

— Não me surpreenderia se saísse um Bicho-Papão daqui.

— Eu nem posso contrariar muito isso, considerando que já tenho o meu bem aqui — o garoto murmurou baixo.

— Nem tudo é meu, na verdade…

Sirius apressou-se em pegar a caixa das mãos do filho e colocar sobre a cama. O garoto franziu o cenho e voltou a vasculhar dentro do guarda-roupa com o irmão, enquanto Harry olhava ao redor, sem saber muito por onde começar.

Potter acabou juntando-se aos gêmeos, e o Black mais velho os observou junto de Lupin.

Therion pegou um óculos de sol de lentes mais claras e bordas douradas e colocou no rosto, rindo baixo. Havia achado bonito.

— Era da sua mãe. Tem algumas coisas dela também por aí — Sirius comentou.

— Podemos ficar com as coisas dela, não é?

— Claro.

— Ficaríamos mesmo sem sua permissão — disse Canis. — Tenho uma foto dela com aquela guitarra. Vou levar.

— A guitarra é minha, ela sequestrava para tocar. O piano que era dela.

— Que piano?

— O que está no porão — Remus quem respondeu.

— Temos um piano e o senhor não disse nada? — Therion indagou indignado.

— Não me lembro de vocês terem perguntado sobre antes — Lupin retrucou com certo deboche em sua voz.

— Deveríamos pegar para você tocar, Remmy — Sirius sugeriu.

— Sirius, eu não toco há muitos anos.

— Nunca se esquece como se toca piano. Sinto saudades de te ouvir tocando…

— Já fazem quase 12 anos.

— Podemos pegá-lo algum dia, sim? Você sempre foi ótimo com música.

Remus desviou o olhar timidamente com o rosto corado. Ele sempre gostou muito de música, era uma distração, além dos muitos livros, quando estava em casa durante sua infância e adolescência, já que não podia sair. Sua mãe que o ensinou a tocar piano, era um dos poucos luxos que havia na residência Lupin da qual seus pais nunca se desfizeram por apego de Hope e por ser uma de suas poucas diversões desde que foi mordido.

Sentia falta de tocar, realmente, mas não sabia se ainda conseguiria executar as notas com tanta perfeição quanto antes. Ele tocou muito para os gêmeos quando eram bebês; Sirius dizia que os acalmava, e era verdade.

Ele acenou com a cabeça e sorriu fraco para Sirius.

— Veremos isso depois — disse e olhou para os garotos. — Vamos arrumar suas coisas, Harry. Pegue o seu malão.

Potter buscou rapidamente o seu malão, enquanto Sirius e Remus retiravam os livros das prateleiras e os gêmeos retiravam tudo do guarda-roupa e das cômodas, jogando na cama. Os garotos estavam fazendo uma verdadeira bagunça, revirando tudo e buscando ficar com qualquer lembrança a mais que houvesse de sua mãe naquele quarto.

Lupin suspirou ao ver o que faziam, mas não reclamou. Estavam arrumando tudo, de qualquer forma.

— O que é isso? — Therion perguntou segurando uma pequena pedra retangular.

— Um dominó! — Harry disse animado quando viu o objeto. — Vocês sabem jogar?

— É um jogo?

— Acho que não deve ter no mundo bruxo, não é? É bem legal.

— Nem me lembrava que todos os jogos estavam aqui — Remus comentou. — Podem jogar mais tarde, hm?

— Isso me lembra as nossas noites de jogos — Sirius disse nostálgico.

— Acho que podemos voltar com elas enquanto os meninos não voltam para Hogwarts.

— Noite de jogos? — Canis perguntou confuso.

— Quando sua mãe estava grávida, toda sexta-feira a noite era dia de se reunir para jogar alguma coisa, comer e conversar para esquecer todo… Todo o caos da semana — Lupin respondeu. — Foi ideia dela e de Lily.

— Parece divertido — Harry disse.

— Realmente era. Perdemos a noite de jogar carta da verdade porque vocês dois resolveram chegar sem aviso prévio — disse apontando para os gêmeos.

— Nós? — Therion e Canopus indagaram apontando para eles mesmos.

— Vocês nasceram nesse dia, bem no quarto do Remus — Sirius comentou.

— Papai disse que nascemos nessa casa — disse Therion lembrando-se das palavras de Lupin quando chegaram.

— É sério? — Harry arregalou os olhos, surpreso, enquanto tirava seus livros escolares do malão. — Em casa? Não deu tempo de chegar ao hospital?

Remus riu da surpresa do garoto e negou com a cabeça, ajudando-o com os livros.

— É mais comum os bruxos terem seus filhos em suas casas — explicou. — Você também nasceu assim.

— Foram dias loucos e inesquecíveis — disse Sirius com um pequeno e sincero sorriso nostálgico. — E no dia que Theo e Canis nasceram, estava tendo uma nevasca bem forte. Foi o mesmo dia que seus pais contaram que Lily estava grávida.

Potter tornou a expressar surpresa, dessa vez junto com os gêmeos. Os Black não sabiam daquele detalhe do dia de seu nascimento. Na verdade, não sabiam muito sobre esse dia, além de que Remus esteve perto boa parte do tempo. E a cada dia que passava, Harry ficava ainda mais fascinado pelas diferenças entre o mundo bruxo e o trouxa e encantado por histórias dos seus pais.

— Sério? — Therion perguntou, curioso.

— Sim! — Sirius riu, recordando-se daquele dia. O dia mais feliz da sua vida e também um dos mais desesperadores. — Logo depois que eles nos deram a notícia, a bolsa estourou e sua mãe entrou em trabalho de parto. Foram longas 14 horas e 37 minutos de muito desespero. Acho que ela nunca gritou tanto comigo como naquele momento.

— Você estava desesperado, Sirius. Deixava ela nervosa.

— Eu quem estava nervoso! Meus filhos estavam nascendo!

— 14 horas?! — Harry e Therion exclamaram.

— É, vocês brigaram bastante para ver quem chegaria primeiro — Sirius riu.

— E eu ganhei! — Canopus disse apontando para si mesmo com um sorriso orgulhoso.

— Karina quase quebrou minha mão de tanto apertar por causa da dor — Remus comentou, fazendo uma careta dolorida. Lembrava-se perfeitamente de como a mulher apertou sua mão com tanta força devido às contrações que ficou dolorida um dia inteiro.

— O senhor estava na hora? — Harry perguntou.

— Ela expulsou Sirius do quarto porque não parava de falar com tanta ansiedade e pediu… Bom, mandou eu ficar, na verdade. Eu supostamente era o mais controlado e menos propenso a fazer ela levantar da cama e cometer um assassinato.

— A cada dia gosto mais de ouvir sobre a mamãe — Canis falou e exibiu um sorriso satisfeito com a informação.

— Pelo menos, James ficou comigo o tempo todo. E eu também fiquei com ele no dia que Harry nasceu.

— E lá fui eu exercer meu trabalho de acompanhante enquanto o pai surtava do lado de fora do quarto — Remus disse num tom divertido e os garotos riram. — Apesar de eu quase ter perdido a minha mão duas vezes… Sempre lembro com muito carinho desses dias. Por eles, agora tenho vocês três aqui.

Harry sorriu com a declaração final ao ser incluído na fala de Lupin.

— Podem contar mais coisas? — ele pediu com os olhos verdes brilhando de animação. — Sobre… Sobre os meus pais.

— Com todo prazer, Harry — Sirius quem respondeu, ganhando a atenção do afilhado. — James sempre foi como um irmão pra mim. Me lembro de muitas aventuras que vivemos juntos.

— E encrencas — completou Remus. —, detenções, quase serem presos pela polícia trouxa...

— Presos?!

Lupin observou com o coração leve enquanto Sirius contava aquela história para Harry, que ouvia tudo atentamente. Potter parecia bastante feliz em ouvir, e Black em poder compartilhar suas aventuras com o afilhado. Viu o rosto do homem iluminar-se cada vez que o garoto esboçava alguma reação e fazia uma pergunta ou comentário, bastante interessado, e ria com os acontecimentos.

Ter Harry ali realmente o fazia bem. Poder estar ao lado dele como tanto queria e sentir que estava fazendo ele estar bem, que estava ajudando-o a sentir-se acolhido e feliz.

Sirius faria o possível para continuar a ver aquele brilho alegre nos olhos do afilhado.

Eles continuaram a tirar todas as coisas de Sirius dali e levar para o quarto de Remus, para depois organizar as de Potter. O Black continuou a contar histórias, principalmente para Harry, e os gêmeos também ouviam, mesmo que já conhecessem algumas sob o ponto de vista de Lupin.

— Ainda temos tinta. Vai querer pintar alguma parede? — Remus disse para Harry.

— Eu posso?

— Dissemos que pode deixar como quiser, não dissemos? — lembrou a ele num tom carinhoso que sempre costumava usar com os filhos.

— Tem que cores?

— Ainda tem um pouco de verde, branco, cinza-prateado… Acho que salmão também. Mas posso mudar a cor delas para a que quiser.

Harry olhou para a parede onde estava a cama e o mural de Sirius. Ele inclinou a cabeça pensativo, enquanto várias ideias vagavam por sua mente.

— Branco e prateado. Também… Acho que vou precisar de um lápis.

— Therry, pode pegar? — O garoto assentiu e apressou-se para fora do quarto. — Enquanto isso, eu vou preparar um lanche para nós.

— Posso ajudar? — Canis perguntou rapidamente, caminhando até o pai.

— Não quer ajudar Sirius e Harry?

— Prefiro ajudar o senhor.

— Tudo bem — Remus concordou e olhou para Sirius e Harry.

Black apenas suspirou e aproximou-se de Harry, tocando seu ombro com cuidado.

— E então… O que está planejando? — perguntou num tom curioso e interessado.

— Quero fazer um desenho nessa parede.

— Vai ficar legal! O que quer desenhar? Não sou um bom artista, mas posso tentar te ajudar.

Harry começou a falar, e Remus sorriu de leve para a cena antes de deixar o quarto junto do filho e seguir para a cozinha.

Canopus soltou um longo e pesado suspiro ao deixar o cômodo, o que não passou despercebido por Lupin — que preferiu não comentar, por enquanto. Ele seguiu o pai com calma e jogou os cabelos para trás, usando sua varinha para deixar preso e não cair mais pelo rosto.

Ao chegar na cozinha, o garoto apoiou-se na bancada e Remus ergueu sua varinha, abrindo todos os armários e fazendo ingredientes voarem até o balcão.

— Vamos fazer biscoitos de chocolate? — perguntou ao reconhecer os ingredientes.

— Vamos! Pegue a tigela e coloque a mão na massa.

Canopus sorriu largo para o pai e fez o que foi pedido rapidamente. Pegou a tigela e também a assadeira no armário de baixo, fechando a porta dele com o pé em seguida. Uma pena de coruja de repente caiu sobre o garoto, denunciando que Hermes havia voltado e foi ficar empoleirado no topo do armário, como costumava ficar de vez em quando.

A pena caiu bem sobre o nariz dele, o que o fez espirrar e dar alguns passos perdidos para trás e tropeçar, batendo suas costas com certa força contra a ilha e derrubar os objetos em suas mãos, que somente não bater contra o chão graças a agilidade de Remus ao apontar a varinha para eles. O garoto sufocou um grande palavrão e fechou os olhos ao sentir a dor pela batida.

Remus rapidamente aproximou-se dele preocupado, tocando suas costas com cuidado.

— Canis! Você está bem? — perguntou com uma preocupação exagerada em sua voz, levando em conta a simplicidade do ocorrido. — Se machucou?

— Não, eu estou bem — respondeu. — Só tropecei.

— Não está doendo?

— Está tudo bem, pai. Não foi nada.

— Mesmo?

Canis assentiu com a cabeça e forçou um leve sorriso.

— Eu não vou quebrar por causa de uma batidinha no balcão. Não sou de vidro, sabia?

— Desculpa — Remus disse, encolhendo os ombros. — Sei que estou exagerando um pouco. Só… Não quero que você e seu irmão se machuquem mais.

Remus estava muito mais cuidadoso com os gêmeos desde os eventos da Casa dos Gritos. Ficava sempre atento a qualquer sinal de dor, incômodo ou fraqueza, ou ao surgimento de novas lesões, mesmo que simples… Principalmente com Canopus. O garoto não podia tropeçar que Lupin já estava ao seu lado, pronto para verificar se estava tudo bem.

Quando retornou para casa no dia anterior, fez uma revisão completa se não haviam se ferido durante aquele dia em Londres.

A imagem do garoto ferido ao seu lado após uma lua cheia não iria parar de assombrar sua mente tão cedo.

— Vamos fazer os biscoitos? Eu estou bem, mesmo! — Canis disse, mudando logo de assunto, e afastou-se do pai para já começar a organizar tudo sobre o balcão. — E tente fazer suas penas caírem um pouco mais longe do meu nariz na próxima vez, Hermes — ele olhou para a ave no topo do armário, que rapidamente piou em resposta. — Ou eu vou arranjar outro bicho de estimação.

— Nada de mais animais nessa casa, Canis. Já temos o bastante.

— Ah, mas eu adoraria ter um pelúcio!

— Um pelúcio? — Remus ergueu a sobrancelha e riu baixo, sentindo-se um pouco mais aliviado ao ver o filho falando sobre animais e perceber, assim, que estava mesmo bem.

— Ou um crupe! Podemos adotar um filhote? Eles nem crescem tanto e eu posso adestrar.

— Já temos dois cachorros nessa casa, não vamos ter mais um.

— Eu e o Sirius não conta! E aliás, qualquer dia os aurores podem checar o vilarejo e ele vai ter que ir embora.

Lupin respirou fundo e tornou a se aproximar do garoto, quebrando alguns ovos na tigela enquanto ele colocava a manteiga.

— Sabe, poderia tentar ser mais solidário com ele, sim? Ele está tentando.

— Tentando fingir que não foi embora e me deixou sozinho por 12 anos?

— Seria muito difícil tentar só… Conversar civilizadamente com Sirius e entender?

— Para mim, seria sim.

— Você parecia bem ouvindo ele contar histórias.

— Ouvir não necessariamente significa conversar. Uma conversa consiste numa troca de diálogo entre duas ou mais pessoas, coisa que, com ele, se falei duas palavras, já pode considerar lucro.

— Você gosta de complicar, não é, mocinho? — Remus disse bagunçando os cabelos do filho. — Pelo menos hoje, uma trégua, pelo Harry. Eu te entendo, mas acha que consegue?

— O senhor vai me deixar ter mais um animal de estimação? — Canis tentou barganhar.

— Podemos pensar nisso — ponderou. — Sei que estão sendo dias difíceis desde que nos mudamos para cá, mas podemos conversar sobre o que te incomoda para resolvermos isso.

Ele me incomoda, pai. Ele estar aqui... todo santo dia, o tempo todo. E isso não vai se resolver num passe de mágica, mesmo que sejamos bruxos — o garoto rebateu num tom mais rude. Ele respirou fundo, encolhendo os ombros. — Desculpa falar assim, mas...

— Tudo bem, tudo bem. Eu entendo.

Lupin abandonou o que fazia para abraçar o filho de lado e beijar delicadamente sua testa. Entendia que resolver todos os problemas da relação entre Sirius e os gêmeos não seria nada fácil, mas estava tentando.

Precisavam ser cautelosos. Sabia como o filho era muito mais sensível do que gostava de admitir e que precisariam de muitas conversas ao longo do caminho.

— Agora, vamos terminar esses biscoitos.

— Ainda posso adotar um crupe?

— Eu não disse nada sobre você adotar animal algum, Canopus — Remus retrucou e o garoto riu baixo.

Eles voltaram a preparar os biscoitos juntos, enquanto Canopus tentava usar de toda sua persuasão e manipulação sonserina para convencer o pai de realmente deixá-lo ter um novo animal de estimação e esquecia completamente sobre estarem falando sobre Sirius anteriormente.

No andar superior, Harry já começava o esboço do desenho na parede, tendo a cama reduzida a um tamanho minúsculo para não atrapalhar, enquanto Sirius pintava a outra parede logo a frente e Therion estava sentado no chão analisando todas as fotos do antigo mural do Black mais velho que já haviam sido removidas.

— Quem são esses junto com você e o Tio James? — Therion perguntou, mostrando a Sirius uma foto em que ele e o falecido melhor amigo estavam junto de casal de idosos em frente a uma árvore de Natal.

— Fleamont e Euphemia Potter. Eram seus avós, Harry.

Potter rapidamente voltou sua atenção para Therion, que estendeu a fotografia em sua direção para que visse. Nunca soube nada sobre seus avós paternos até aquele dia.

— Quando eles morreram?

— Em 1978. Varíola de dragão.

— Varíola de dragão?

— É uma doença bruxa — Therion explicou. — Bastante contagiosa. Existe cura, mas acho que seus avós já estavam bem velhos para resistirem.

— Eles já estavam com idade bastante avançada até mesmo para nós bruxos quando James nasceu — Sirius disse. — Eles eram ótimas pessoas. Sempre me trataram como um filho.

— Queria ter conhecido meus avós — Harry lamentou, voltando ao desenho na parede.

— Eu queria não ter conhecido os meus — comentou Sirius sem perceber muito o que falava.

— Por quê?

— Digamos que minha família nunca foi do tipo carinhosa uns com os outros e eu ser o primogênito não facilitava nem um pouco — respondeu. — Meu avô Arcturus era até… Aceitável. Já Pollux… Bom, minha mãe teve a quem puxar.

— Papai disse que a Walburga era horrível.

— Horrível é eufemismo para ela… Por isso, nunca deixei ela chegar perto de você ou do seu irmão.

— Você também tinha um irmão, não tinha?

— É… Eu tinha… Ele morreu pouco depois da sua mãe, eu acho... — o homem murmurou baixo e suspirou, não estendendo aquele assunto. Ainda era doloroso demais falar sobre o irmão.

Therion olhou na direção de Sirius, que estava de costas para ele pintando a parede manualmente, sem usar magia. Inclinou a cabeça intrigado, não conseguindo entender exatamente o que estava passando em sua própria mente no momento enquanto um grande e estranho sentimento de culpa e angústia emanava do Black.

As palavras continuaram a sair de sua boca sem que tivesse controle.

— Como ele morreu?

— Adoro poder estar conversando com você, Reggie, mas não teria um assunto menos…?

Angustiante? — completou o garoto.

— É… Essa é uma boa palavra — Sirius disse olhando-o sobre o ombro.

Angústia definia muito bem o sentimento de Sirius ao lembrar-se de seu irmão mais novo. Também pensou muito nele enquanto estava em Azkaban, sentindo-se culpado por não ter tido a chance de se despedir e por não ter se esforçado o bastante para salvá-lo de seu destino cruel e trágico. Mais uma pessoa em sua lista de perdas que ele faria de tudo para ter evitado.

Ele fixou seu olhar no filho, que estava sentado com as pernas cruzadas, o cabelo preso e a varinha em sua orelha. Por mais parecido que fosse consigo, o garoto ainda também lembrava-o muito de seu irmão.

— Como você ficou amigo da mamãe? — Therion perguntou curioso enquanto pegava uma foto em que estavam Sirius, James, Lily e Karina no casamento dos Potter, mudando para outro assunto que deixava-o tão curioso quanto sobre seu tio.

— Não foi uma missão fácil, na verdade, demorou um bom tempo — Sirius respondeu, exibindo um fraco sorriso.

— Por quê?

— Ela me odiava desde o dia que nos conhecemos no Beco Diagonal porque eu sem querer a derrubei no chão junto com seus livros. Karina sabia guardar rancor quando queria.

— Você e Canis puxaram a ela em alguma coisa, afinal — Harry comentou num tom brincalhão.

— Fica quieto, Mini Prongs! Canis é o rancoroso, não eu.

— Discordo um pouco. Você também sabe guardar raiva quando quer.

— Harry…

— O que foi? — Potter questionou, continuando a provocar, rindo baixo e com um sorriso de canto por entre os lábios.

Therion puxou sua varinha e fez o pincel no balde de tinta aos pés de Harry levitar e bater em sua cabeça.

— Ai! — ele resmungou e acariciou o local. Ele pegou o objeto e o lançou na direção do outro.

— Au! Doeu! — Therion reclamou, tocando sua testa. — E você me sujou de tinta.

— Desculpa… Mas foi merecido.

Therion então pegou o pincel e lançou de volta na direção de Potter, que desviou agilmente.

— Ei! A minha parede!

— Dá para consertar — Black disse com indiferença para a mancha de tinta na parede.

Potter pegou o pincel de volta e mergulhou na tinta, partindo até o amigo e pintando um lado do seu rosto. Therion encarou-o surpreso e pegou outro pincel que havia por perto, fazendo o mesmo, enquanto Harry ria e tentava fugir.

Acabou virando uma verdadeira guerra entre eles e alguns respingos de tinta voavam na parede. Os dois riam, e Sirius não conteve o próprio sorriso observando os garotos brincando e rindo daquela maneira.

Era por momentos como aquele que Sirius aguardava ansiosamente no dia que conseguisse provar sua inocência e viver com Harry e os filhos. Poder ver os garotos tão bem juntos, felizes e se divertindo… Como ele e James sempre sonharam que fosse acontecer após o fim daquela Guerra.

Sirius queria muito que o melhor amigo estivesse ali consigo observando a cena.

Ele olhava com nostalgia, lembrando de todos os momentos que passou junto de James desde que fugiu de casa e buscou refúgio com os Potter. Sirius tinha apenas 16 anos, e o amigo o recebeu de braços abertos em sua casa e o acolheu como família. Agora, Harry era ainda mais novo e estava na mesma situação, fugindo de uma família que somente lhe fazia mal e refugiando-se com os amigos, ganhando uma nova família.

Precisou fazer muito esforço para não voltar a chorar mais uma vez naquele dia.

Focou sua atenção nos sorrisos nos rostos deles e no quanto queria vê-los sempre daquela forma, felizes e sorrindo.

— Hazz! — Therion exclamou enquanto ria, fugindo de Potter pelo quarto.

Harry chacoalhou o pincel na direção dele, que passou por Sirius para se esconder, o que fez boa parte da tinta espirrar nele. Os dois garotos riram e levaram a mão a boca, com os olhos levemente arregalados.

— Desculpa, Sirius, era para… — Harry começou a falar, mas foi interrompido pela risada de Sirius.

Sirius estava realmente rindo, passando a mão pelo rosto para limpar a tinta, mas, em invés disso, acabou por espalhá-la ainda mais.

— Está tudo bem, Harry. É só tinta.

Um imenso sorriso brilhou no rosto do garoto, que estendeu o pincel timidamente e pintou a ponta do nariz do padrinho.

Sirius não reclamou, apenas riu, de verdade. Ele estava feliz naquele momento. Feliz de estar perto do afilhado, de ver ele a vontade consigo e animado por estar ali. Certamente, desde Azkaban, nunca sentiu-se tão bem. Ainda havia a angústia e tristeza no fundo, isso não iria embora tão cedo, mas, por enquanto, ele queria poder curtir a sensação calorosa do momento.

Queria permitir-se se iludir um pouco mais com a ideia de estar junto dos garotos. Apegar-se aos pequenos momentos.

Ele olhou na direção de Therion, que cessava aos poucos a risada, mas mantinha um grande sorriso no rosto. Aquele sorriso, a única coisa que não era tão semelhante a ele no garoto, e que não via pessoalmente há tanto tempo. Era a primeira vez que via o filho sorrir daquela maneira em sua presença desde seu retorno.

Sirius faria qualquer coisa para ver aquele sorriso mais vezes.

Um tempo mais tarde, Remus e Canis retornaram ao quarto trazendo cinco xícaras de chocolate quente flutuando ao seu redor junto de pratos repletos dos biscoitos que haviam preparado. Quando chegaram ao cômodo, todos se entreolharam para reparar a bagunça que estavam.

Remus e Sirius encararam-se comprimindo os lábios, ambos contendo o próprio riso.

Lupin possuía os olhos levemente arregalados ao ver boa parte do chão e alguns móveis sujos de tinta, assim como os Black e Harry, que agora pintavam os desenhos na parede.

Sirius analisou Remus, percebendo um pouco de farinha salpicada por entre os fios loiro-escuros e na lateral do rosto e também em sua roupa. Canis não estava muito diferente ao seu lado; na verdade, o garoto parecia ter mergulhado na farinha de tão sujo que estava.

— Parece que vocês se divertiram por aqui — comentou Remus.

— E parece que vocês também, lá na cozinha — Sirius rebateu e exibiu um leve sorriso para ele.

Lupin sorriu de volta, sentindo o coração palpitar mais forte ao ver aquele sorriso espontâneo presente no rosto do Black.

— O que me surpreende é que você esteja mais limpo e Harry e Therion parecem ter mergulhado numa piscina de tinta.

Os dois garotos citados riram e entreolharam-se por alguns instantes.

— Isso daria uma ótima pegadinha — Canopus disse, com um sorriso brilhante e trevesso de quando tinha uma ideia maravilhosa em sua mente marota. — Therry, Harry, e se nós…

— Nada de planejar pegadinhas agora, Canis.

— Mas papai…

— Sabe quantas cartas por suas pegadinhas eu recebi só nos dois primeiros anos? Tenha calma com suas ideias.

— O senhor fala como se não tivesse se divertido na nossa pegadinha de Halloween — retrucou Canopus, já pegando uma das xícaras para si e outra para o irmão. — Eu sei que ama nossas pegadinhas. Com quem acha que aprendemos a elaborar as melhores?

— Pegadinha de Halloween? — Sirius indagou confuso.

— É. A pegadinha que todos pensaram que fizemos só para distrair todo mundo enquanto você invadia a escola — disse o garoto, no mesmo tom indiferente e seco que usava com o outro Black. — Aliás, obrigado por estragar a glória de uma das minhas ideias mais geniais.

— Desculpa por isso… — Sirius encolheu os ombros, desviando o olhar.

Remus viu um pouco do brilho que havia no rosto do Black se perder e lançou um olhar severo na direção de Canopus, antes de respirar fundo. Não queria ver Sirius desanimando depois de ver ele tão bem com os garotos.

— Você não acreditar no que eles aprontaram, Padfoot — Lupin começou a falar e aproximou-se do Black com um sorriso no rosto, tentando voltar a animá-lo, e entregou-lhe uma xícara de chocolate quente. — Eles simplesmente conseguiram pregar uma peça em todos os alunos e professores de uma só vez!

Os olhos de Sirius arregalaram-se e um pequenino sorriso orgulhoso despontou por entre seus lábios, enquanto Remus sentava-se à sua frente no chão e continuava a contar sobre a pegadinha que os gêmeos e Harry aprontaram no último Dia das Bruxas.

Todos acabaram ficando no chão para comer enquanto Lupin falava, e Sirius ouvia atento com um grande brilho em seus olhos.

— Água de riso? — questionou e o outro assentiu. — Realmente foi uma ideia ótima! Nós já aprontamos muitas coisas grandes, mas nunca algo que atingisse a escola inteira ao mesmo tempo.

— E a segunda geração dos Marotos supera a primeira em grande estilo — Therion disse num tom egocêntrico enquanto pegava um biscoito e dava uma grande mordida.

— Vocês são ótimos, querido, mas isso ainda vai demorar um pouquinho — Remus falou, bagunçando os cabelos do garoto.

— Mas realmente conseguimos ser melhores — Canopus falou presunçosamente. — E o senhor tem a honra de ser nossa maior inspiração. Suas ideias sempre foram melhores.

— Eu não tinha tantas ideias boas… Só ajudava a tornar as de James e Sirius menos propensas a nos levar a expulsão.

— E deixava ainda melhores. Não seja tão modesto, Moony — Sirius disse. — A ideia da pegadinha com o time da Corvinal no quinto ano foi toda sua.

— É… Tive meus momentos. — Remus deu de ombros.

— Qual foi a melhor pegadinha que meu pai já fez? — Harry perguntou curioso.

— São tantas que é difícil dizer — Sirius respondeu. — Teve uma vez que ele deu a ideia de trocarmos o vinagre da entrada da Lufa-Lufa por enxofre.

— Também teve quando ele enfeitiçou as vassouras do time da sonserina com feitiço adesivo de alta potência durante o treinamento deles. Não conseguiam soltar a mão e fazer manobras — Remus lembrou.

— Lembra da festa na comunal depois que vencemos um jogo contra a Lufa-Lufa no quarto ano? — perguntou animado para Lupin. — Ele escondeu delícias gasosas na comida, e todo mundo começou a flutuar.

Remus riu com a lembrança, junto de Harry. Recordava-se muito bem de cada uma das travessuras de seus amigos ao longo de toda a época de escola. Foram sete anos muito divertidos e inesquecíveis para Lupin, seus amigos sempre conseguiam arrancar um sorriso seu com as variadas brincadeiras.

Relembrar esses momentos ali com Sirius e os garotos trazia um grande calor para seu coração, deixava-o com o mesmo brilho do Black em seu rosto.

Therion sorriu por ver o pai feliz e bem depois de vê-lo tão exausto e cansado nos últimos dias.

— Como eram as festas? Tinham muitas? — Harry continuou a fazer perguntas, bebendo de seu chocolate quente e sentado ao lado do padrinho, sem perder aquele brilho alegre no olhar.

— Tinham. Não há mais tantas assim na Grifinória? — Sirius respondeu.

— Não fui a muitas além de algumas de vitórias do quadribol… — Potter respondeu. — E sempre mandavam os mais novos pra cama cedo no primeiro e segundo ano. Também não houve tantas esse ano. Talvez possa aproveitar mais agora que já vamos para o quarto ano e não há mais nenhum problema.

— Então quer aproveitar mais as festas esse ano, Hazz? — Therion perguntou num tom provocativo, empurrando-o de leve com o ombro.

— Acho que sim… — As bochechas de Harry viraram ao que ele dava de ombros e olhava para o Black, sorrindo tímido.

— Contanto que fique longe de álcool até os 17 anos, aproveite as festas o quanto quiser, Harry — Remus alertou.

— Moony, você já encheu a cara de Whisky de Fogo umas três vezes antes de ficar de maior — Sirius denunciou.

— Por isso mesmo.

— Papai, o senhor sempre nos diz para nunca fazer algo que já fez — Canopus reclamou ao lado do pai.

— Porque eu sei bem todas as consequências, Canis. Você e seu irmão não vão beber nada além de Cerveja Amanteigada antes da maioridade… — Harry abriu a boca para falar, mas Lupin foi mais rápido: — Você também, Harry. Não venha bancar o esperto e driblar minhas palavras como esses dois.

Potter riu.

— Remus sempre preferia ficar a margem das festas conversando do que realmente aproveitando — Sirius falou. — Mas algumas vezes, nós conseguíamos atraí-lo para a diversão.

— Eu me divertia de qualquer jeito!

— As festas na Comunal da Grifinória eram sempre as melhores. Às vezes também reuníamos outras casas — Black continuou, respondendo a pergunta de Harry. — James uma vez fez toda uma apresentação musical junto com o Killian em cima de uma mesa. Acho que ele já tinha bebido um pouco naquele dia.

— Quem era Killian?

— Tio Killian? — os gêmeos indagaram ao mesmo tempo. — O nosso tio?

— É… Remus já falou dele, não é?

— Falei… — Remus murmurou.

— É o irmão da minha mãe que eu te falei, Hazz — Therion explicou para Harry.

— O irmão gêmeo?

— Ele era mais próximo de nós naquela época. Acho que o único amigo realmente próximo que tínhamos fora da Grifinória — Sirius falou. — Ele e James se divertiam bastante juntos nas festas conjuntas com outras Casas.

Os gêmeos sabiam pouco sobre o irmão gêmeo de sua mãe, mas tinham bastante ciência de algumas coisas. Ele às vezes era citado em histórias que Remus contava, e Lupin sempre fez questão de que soubessem sobre sua família materna, assim como também falou de Sirius, pois era parte deles e de seu direito conhecer. Não contou tudo, claro, haviam coisas que era melhor não saberem ou não era tão necessário assim.

Apesar dos muitos problemas durante a Guerra antes de seu desaparecimento, Remus e Sirius se lembravam com apreço os momentos divertido que tiveram na presença de Killian Radcliffe e sua personalidade tão alegre e espontânea que se destacava entre os outros membros de sua Casa, a Corvinal. Assim como a irmã, ele não media suas palavras e sempre possuía uma ótima resposta para seus piores momentos.

— Vocês eram muito amigos? — Harry perguntou.

— Na verdade, Killian era muito mais próximo de James e Remus do que de mim. Quando não estava bebendo e brincando com James em alguma festa, estava conversando com Remus sobre algum livro que leram — comentou Sirius, rindo baixo. — Não é, Remmy?

— É...

— O senhor não mencionou que foi tão próximo do Tio Killian, papai — Canopus acusou, cruzando os braços.

— Não era tanto assim...

— Era sim. Lembro de uma festa no sexto ano que aconteceu depois do aniversário do James. Depois que bebemos uma garrafa de Whisky de Fogo, os dois nos abandonaram pelo resto da noite inteira só para conversar em algum canto.

Remus voltou a atenção para sua xícara de chocolate quente e bebeu um longo gole, desviando o olhar com o rosto vermelho, enquanto Therion e Harry riam.

— Bom, esse ano vamos curtir ao máximo todas as festas, certo, Prongs? — Canis disse olhando para Harry.

— Vamos — Harry concordou, e eles bateram as mãos.

— Vai querer terminar ainda hoje de pintar, Harry? — Remus perguntou, mudando de assunto e apontando para a parede.

— Acho que dá para terminar até o jantar. Existe magia para secar rápido?

— Existe magia para quase tudo, Hazz — Therion respondeu.

— Nós bruxos somos muito práticos — completou Canis.

— Então vamos terminar de comer e ajudar a finalizar a pintura. Está ficando muito bom.

— Harry é um grande artista, hm? — Sirius falou, sorrindo orgulhoso.

O garoto abaixou um pouco a cabeça, envergonhado pelo elogio.

Eles terminaram de comer e todos voltaram a ajudar Harry com a pintura. Potter continuava a fazer várias perguntas sobre os pais para Sirius, que continuava a responder junto de Remus e contar suas travessuras e histórias com James e Lily Potter.

Sempre que por ventura Sirius acabasse citando a mãe dos filhos, ele percebeu que isso atraía a atenção deles, principalmente de Therion, que acabava perguntando algo. Foi como ele sentiu-se mais próximo do mais novo dos gêmeos e descobriu que conseguiria se aproximar, com cautela. Era um assunto que realmente atraía a atenção dele.

Ao fim do dia, eles enfim acabaram. Harry disse que ele próprio ainda faria alguns retoques e detalhes finais, mas, por enquanto, estava bom, e mostraria quando adicionasse tudo mais o que queria.

Todos tomaram um bom banho para livrar-se de toda a tinta. Enquanto Remus preparava o jantar, Sirius terminava de organizar suas coisas no quarto de Lupin e os garotos se reuniram na sala de estar para jogar com o dominó que encontraram.

— Só juntar os lados iguais mesmo? — Canis perguntou olhando para as peças juntas até então sobre a mesa de centro, enquanto ele, o irmão e o amigo estavam sentados no chão.

— É. Quem acabar as peças primeiro vence. E você tá me deixando ver várias suas, Therry.

— Opa! — Therion riu e escondeu suas peças.

Harry riu junto.

— Sua vez.

Eles continuaram a jogar. Quando Sirius desceu até a sala, passou rapidamente pelos garotos antes de seguir para a cozinha para ajudar Remus com o jantar.

— Eles ainda estão se divertindo — comentou.

— Isso é bom. Espero que Harry fique realmente bem e a vontade aqui — Remus disse. — Você está bem?

— Estou — respondeu. Lupin encarou-o atento, e ele exibiu um fraco sorriso. — De verdade, Remmy. Me sinto bem melhor depois de passar a tarde com o Harry. Ver ele feliz ajudou bastante.

— Eu vejo. E espero que possamos continuar ajudando ele.

— Consegui me aproximar bastante dele. Ele é esperto como a Lily.

— E enérgico como o James, quando está feliz — completou Remus.

— É — Sirius riu. — Consegui falar mais com o Therion também… Não tanto, mas mais que o normal. Ele me lembra um pouco…

— A Karina?

Meu irmão — corrigiu. — A ela também, ele herdou toda a curiosidade dela e… E o sorriso. Eu vi ele sorrir de verdade hoje!

Remus sorriu leve com como Sirius parecia feliz com aquilo.

— Mas… Therion também me lembra ele.

— Os dois sempre me lembraram muito você, na verdade.

— Além de serem cópias físicas minhas?

— É. Sinceramente, Sirius, a semelhança ainda me surpreende.

Sirius riu baixo, mas logo abaixou o olhar e ficou em silêncio, cortando alguns legumes. Remus percebeu o silêncio repentino e franziu o cenho, aproximando-se de Sirius enquanto secava as mãos num pano.

— O que foi? Por que o silêncio, de repente?

— Só pensei aqui… Como foi difícil para eles serem tão parecidos comigo.

— Ah, Sirius…

— Eu sei que foi, Moony. Não precisa tentar amenizar a situação.

Remus suspirou. Realmente, não havia como amenizar aquilo, pois era a realidade. Todos que olhavam para os garotos viam Sirius neles, duas perfeitas lembranças de um suposto assassino cruel.

Até mesmo para ele próprio, olhar para os garotos era uma constante lembrança de Sirius. Não podia negar.

— Sim, foi difícil. Mas está tudo no passado agora, okay? Nós vamos provar sua inocência e tudo vai ficar bem.

— Assim espero.

— E hoje já demos um passo. Ficamos todos juntos e você conseguiu se aproximar um pouco do Therry.

— É… Espero conseguir me aproximar do Canis também.

— Ele vai ser mais complicado, mas damos um jeito — falou e afastou uma mecha de cabelo do rosto de Sirius, colocando atrás de sua orelha. — Já aprendi a lidar com o jeito dele. Só precisa ter paciência.

— Eu o entendo e posso esperar o tempo dele para assimilar tudo.

— Ele tentou negociar comigo um novo bichinho de estimação em troca de uma trégua hoje — confessou Remus. Sirius quis rir e encarou Lupin, atento às suas ações quando voltou a cozinhar.

Na sala de estar, Therion comemorava sua vitória no jogo, enquanto Canopus bufava e cruzava os braços, irritado e indignado pela derrota.

— Muito bem, Therry! — Harry parabenizou.

— Obrigado, Hazz! Esse jogo até que é bem divertido!

O garoto sorria feliz e alegre, ainda comemorando. Potter sorriu também, contagiado por sua energia e preso em seu belíssimo e encantador sorriso.

Eles iniciaram outra partida, e dessa vez Canopus estava determinado a ganhar. Começaram a jogar um por um, bastante concentrados.

Canis estava analisando suas peças e prestes a jogar sua vez, quando o som da lareira os distraiu. As chamas verdes do Pó de Flu iluminaram a lareira por alguns instantes, antes de a garota sair de lá tropeçando em seus saltos e tossindo enquanto abanava as mãos na frente do rosto.

Os três garotos observaram de olhos arregalados a amiga tirar um pouco de pó da saia roxa como as pontas de seu cabelo, que estava adornado com sua fiel faixa, dessa vez de cor branca.

— Primeiramente, como vocês conseguem viajar assim o tempo todo? — Merliah perguntou. — E segundo… — Ela espirrou. — Vocês não limpam essa lareira, não?

— Liah! — os três exclamaram.

— Não, a Princesa Diana — ela retrucou e abriu a sua bolsa, tirando de lá alguns papéis.

— O que está fazendo aqui? — Therion perguntou.

— Que ótima maneira de receber sua melhor amiga, Therion. Nem um boa noite?

— Oh, então, boa noite, Vossa Alteza, Princesa de Gales — caçou ele.

— Por que não avisou que vinha? — Canis perguntou.

— Não tive tempo. Na verdade, nem tenho muito tempo aqui porque meus pais estão me esperando para jantar. Tio Remus está em casa?

— Na cozinha, preparando o jantar — Harry respondeu. — Como você chegou aqui pelo Pó de Flu? Sua casa é de trouxas.

— Vejo que ocorreu tudo bem com seu sequestro já que está aqui, Harry — disse, e Potter sorriu culpado e deu de ombros. — Tem umas lareiras dessa coisa lá no Caldeirão Furado e podemos usar de graça, acabei de sair da joalheria.

— O que está fazend…? — Therion ia repetir sua pergunta, mas foi interrompido.

— TIO REMUS! — Merliah gritou e então olhou para o jogo na mesa. — Dominó! Faz tempo que não jogo. É a vez de quem?

— Minha. O que você quer com o meu pai? — Canopus respondeu.

— Só dar uma palavrinha com ele… TIO REMUS!

Remus ouviu ser chamado da cozinha e franziu o cenho, confuso. Só uma pessoa o chamava daquela maneira e ele não estava aguardando visitas.

— Quem é que está te chamando de tio? — Sirius perguntou confuso.

Lupin acenou sua varinha para deixar a panela mexendo no fogo e saiu da cozinha com Sirius logo atrás de si. Esboçou sua surpresa ao encontrar sua ex-aluna e melhor amiga dos filhos ali em sua sala, sem nenhum aviso prévio de sua chegada.

— Merliah?

— Oi, Tio Remus! — ela cumprimentou-o sorrindo e aproximando-se. — E aí, Tio Sirius? Soube que estava aqui. Espero que esteja bem.

— Eu estou… Obrigado… — Sirius respondeu desconcertado e sem jeito, surpreso com a receptividade da garota e a forma como o chamou.

— Os meninos não avisaram que você vinha.

— Eu realmente não avisei — ela explicou. — Então… O senhor ainda está precisando de um emprego?

—————————————

Olá, meus amores!
Tudo bem?

Voltamos com mais um capítulo com toda essa família linda reunida 🤧🤧
Gostaram de ver todos juntinhos arrumando o quartinho do Harry?

Sirius juntinho do Harry e contando histórias dos Marotos 🤏🤏
Aguardem mais momentos dessa família maravilhosa!

E o que será que a Liah está aprontando, hm? Rsrsrs

Nós já temos mais de 40k de visualizações! Muito obrigada mesmo a todos vocês 🥺🥺🥰🥰

Eu criei um grupo no whatsapp para os leitores. Quem quiser entrar para interagirmos mais, é só entrar no link que vou deixar no meu mural.

Em breve retorno com mais um capítulo!

Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋

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