— Beomgyu - Yeonjun chama pela quinta vez, batendo na porta do quarto com um resto de esperança que vai acorda-lo.

Achou que ser guardião ia ser uma tarefa fácil. Yu não parecia estar agitado ou com planos de fugir de novo no dia anterior,
quando se conheceram, mas sua paz se esvaiu muito mais rapidamente do que esperava ao perceber que o dormitório estava vazio.

Ele ia passar uma noite sozinho. A primeira noite dele ali. E já conseguiu procurar problema.

O sangue de Yeonjun começou a ferver aos poucos, provavelmente ia receber uma bronca por não ter evitado aquilo, mas ficava difícil quando estava no quarto 403, mais de 500 quartos de distância do que o que Beomgyu passaria a noite. Também gostaria de dormir na sua cama confortável.

Sem se ver com nenhuma outra escolha, corre com passos pesados até a sala do diretor, vendo as luzes do correndo do prédio piscarem sobre sua cabeça. As vezes não consegue ter controle sobre o próprio poder e perde para as suas emoções, mas felizmente são momentos raros onde isso pode acabar acontecendo.

Seu nervosismo é tanto que nem se lembra de bater antes de entrar. É recebido com um olhar irritado pela falta de aviso ao abrir a porta com força, fazendo um barulho estrondoso ao bater na parede atrás de si.

O homem estava conversando com um garoto que nunca tinha visto na vida antes. Provavelmente um novato tendo problemas com sua matrícula ou para achar seu quarto. Ele tem cabelo curto, pele escura e o olhos grandes, mas uma aura extremamente familiar.

— Senhor, desculpa te interromper, mas o Beomgyu sumiu.

A mesa fica posicionada na sala de maneira na qual o dono do local encara a entrada do
cômodo. O menino, sentado de frente para ele, consequentemente fica de costas para a porta, mas se vira de repente quando escuta Yeonjun falar aquilo.

Ele faz uma careta como se tivesse escutado a coisa mais engraçada do mundo.

— Yeonjun.. - o adulto esfrega as têmporas, se sentindo esgotado daquilo — Beomgyu não sumiu. Ele está aqui. Bem na sua frente.

— Quê? Mas.. Ah. Poder de mutação. Certo. Verdade, eu esqueci - abaixa a cabeça se sentindo envergonhado. Além disso, sua respiração se mantém ofegante da corrida do quarto ate aquela sala.

Resolve não fazer mais nenhuma pergunta, apenas fecha a porta e se direciona para sentar na cadeira livre ao lado da que Beomgyu ocupa. O diretor se prontifica para explicar que ele mesmo foi buscar o garoto no quarto 934 alguns minutos antes para estabelecer algumas regras e instalar sua nova tornozeleira eletrônica, mas que mesmo assim Yeonjun deveria se manter mais calmo e mais atento em situações assim.

Beomgyu também não é poupado de levar uma bronca. Não está mais na sua vida "normal" de fugitivo, e por mais que tivesse esse costume de trocar de aparência toda manhã aquilo já não ia mais funcionar. Precisava de escolher uma aparência física e passar a usar apenas um rosto fixo. Passa mais tempo do que o necessário explicando como o rosto de uma pessoa é a melhor maneira de identificar ela e que ninguém iria saber quem ele é se estivesse diferente toda vez que acordasse.

— Mas vou te dar um tempo para pensar nisso. É uma decisão importante escolher sua aparência física para o que seria.. O resto de sua vida - dá uma risadinha — Mas tudo bem. Agora que você já está avisado, espero que pense sobre.

Beomgyu geme em desaprovação, mas não verbaliza nenhum dos seus pensamentos já que esses em maioria envolvem colocar suas mãos ao redor do pescoço branco e esnobe dele e apertar até que implore por perdão e o deixe voltar para a sua vida normal.

— Agora vocês podem ir. Yeonjun, leva ele para tomar café da manhã, por favor.

— Sim, senhor. Vou te mostrar onde fica a cafeteria, Beomgyu..

Os dois saem da sala lado a lado com o olhar do diretor queimando buracos em suas nucas até fecharem a porta. Novamente, é uma caminhada longa levando em conta do tamanho do prédio, mas a cafeteria gigante e a variedade do cardápio disponível durante todas as horas do dia fazem o esforço físico valer a pena.

Nos primeiros dias, é normal enlouquecer com todas as opções. Ficar sem saber se é melhor escolher os waffles com mel fresco e frutas vermelhas ou o bacon caseiro com ovo frito de duas gemas. Mas depois de alguns anos, você se cansa de escolher uma coisa nova e começa a sempre comer do mesmo.

Esse é o caso de Yeonjun, que pede seu cereal de aveia e um copo de iogurte de coco enquanto observa Beomgyu enlouquecer tentando decidir entre as diversas opções que o lugar oferece. É como um evento canônico de todo aluno novo por lá.

Para o ruivo, chega a ser engraçado ver ele se empolgando ao pedir suco de morango com panquecas de chocolate, ovos cozidos e mousse de chocolate. Vai ficar lotado de tanto comer, mas não fala nada sabendo que a vida dele provavelmente viraria um inferno em pouco tempo e que suas refeições seriam a única coisa boa do dia.

Se sentam juntos na mesa mais perto do balcão de pedidos caso Beomgyu queira comer mais. Tudo está vazio por ser fim de ano e a maioria dos residentes estarem de volta em casa para comemorar esse período com a família.

— Você acha que vai conseguir fazer algum amigo? - Yeonjun questiona, querendo amenizar o silêncio desconfortável.

— Eu quem deveria te perguntar isso.

— Como?

— As pessoas daqui são boas? Ou são todos mal caráter, egoístas e traidores?

O ruivo demora um pouco para responder, tentando entender o porquê de Beomgyu estar preocupado com algo tão específico quanto aquilo.

— Eu não conheço todos, mas a maioria não é..

— Hm - dá uma mordida na sua panqueca e não fala mais nada, apenas se levanta e vai até o balcão pedir por mais um copo de suco de morango.

— Ele é muito esquisito.. - fala com si mesmo, observando a postura dele enquanto espera a bebida: peso do corpo apoiado em apenas uma perna, cabeça inclinada para o lado e braços cruzados. Isso diz muito sobre sua atitude, e já tem certeza que ele tem uma baita e que provavelmente não aceita desaforo e tenta se bancar de confiante.

Não consegue segurar o sorrisinho, pensando em como será interessante viver com ele pelos próximos anos.