32 - Sinto Muito III
"Gritando para o céu
Gritando com o mundo
Baby, por que você foi embora?"
-Dancing With Your Ghost
Sasha Alex Sloan
— Que merda é essa que está dizendo, Nick? Por acaso bebeu além da conta de novo?
Jhonatan agora parece completamente acordado e posso sentir a sua preocupação como se ele estivesse aqui do meu lado e não a quilômetros de distância.
— E-eu... ela viu a Bárbara me beijando e saiu correndo... eu não queria... ela entendeu tudo errado. -As palavras lutam para sair em uma enxurrada pela minha boca e sei que não estou fazendo nenhum sentido.
— Para onde ela foi levada? -Ele pergunta sério e escuto um barulho como se estivesse se vestindo.
Lhe explico onde estamos e ele encerra a ligação sem se despedir.
Sei que Jhonatan deve estar furioso comigo e não o julgo. É a sua irmã gêmea, afinal de contas e por minha culpa ela está internada.
Engulo em seco várias vezes, a garganta arranhando de tanto chorar e decido procurar um banheiro para lavar o rosto.
Dou a volta até a entrada do hospital e pergunto ao guarda onde ficam os sanitários. Ele me explica pacientemente, não sem me olhar com uma expressão de pena e talvez desconfiança.
Devo estar acabado a essa altura.
Sigo suas instruções ao pé da letra e quando chego no banheiro, sequer me impressiono com o meu reflexo no espelho.
Meus olhos estão fundos, o cenho franzido e os lábios apertados em uma linha fina. A face da angústia e medo.
Lavo meu rosto rapidamente apreciando o frescor da água gelada, aproveito para me aliviar em uma das cabines e depois volto para o balcão onde uma mulher que aparenta ter uns quarenta anos, digita algo em um teclado na frente de um computador.
— Hã, boa noite... -Coço a garganta para chamar a sua atenção, mas ela nem se preocupa em levantar a cabeça para me olhar, mesmo assim continuo falando. — A minha... -respiro fundo — a minha namorada acabou de dar entrada na emergência e gostaria de saber como ela está, por favor. Ela se chama Olívia Cross... -Murmuro sentindo as lágrimas se empurrando para fora dos meus olhos pela milésima vez.
— Somente familiares ou cônjuges têm acesso às informações sobre os pacientes. -Ela resmunga ainda olhando para a tela do computador como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
— Eu sou o seu namorado, mas que droga! Vim com ela na ambulância, pode perguntar para os paramédicos! -Insisto espalmando o balcão com certa força, o que acaba atraindo o olhar curioso de algumas pessoas ao redor, bem como do segurança que começa a caminhar na minha direção.
A mulher finalmente decide olhar para mim e levanta uma sobrancelha ao ver o meu estado.
— Sinto muito, mas não posso te dizer nada.
— Só me diga se ela está bem... por favor... -Ofego encostando a testa na superfície fria e me controlando para não me alterar e ser expulso antes de obter alguma informação nem que seja mínima.
Não posso deixar que isso aconteça.
De repente, dedos apertam o meu ombro e me levanto assustado pensando ser o segurança, no entanto, quando levanto a vista descubro que é muito pior.
Angel, Makenna e Jhonatan estão do meu lado com os semblantes preocupados. A vergonha e arrependimento me atingem em cheio e não consigo sequer olhar para eles.
Não tenho coragem.
— Boa noite, querida, me chamo Makenna Cross e sou a mãe de Olívia Cross. -Kenny se aproxima da secretária e lhe entrega sua identidade para que ela confirme os seus dados no computador. O silêncio da espera é tanta que cada vez que ela aperta uma tecla, é como se estivesse batendo em um tambor bem do lado do meu ouvido.
Escuto atentamente cada palavra que a mulher diz para Kenny e solto a respiração ao entender que ela está estável no momento.
Liv sofreu várias lacerações no corpo, bem como contusões internas e perdeu uma boa quantidade de sangue, o que fez com que ela desmaiasse antes mesmo da ambulância chegar.
Quando ela termina de explicar tudo, simplesmente se vira para o outro lado dando a conversa por encerrada.
Kenny caminha até parar do meu lado e endireito minha postura me preparando para ser repreendido pela morena idêntica à filha.
Eu mereço isso e muito mais.
Inclusive não vou nem discutir se eles decidirem que não me querem por perto.
Eu sou o responsável por estarmos aqui.
Fecho os olhos aguardando o desfecho desse cenário fúnebre, contudo, para a minha surpresa, dois pares de braços me puxam para perto e me apertam contra os corpos musculosos.
— M-me perdoem... deveria ter sido eu no seu lugar. Foi tudo culpa minha. -Repito várias vezes e Angel segura o meu rosto girando-o na sua direção.
— Não diga besteiras, filho. Não temos nada pelo que perdoá-lo, sabemos muito bem que não teve culpa de nada. -Sua voz falha por um milésimo de segundos e uma lágrima solitária escorre pela bochecha até o queixo angulado.
— Se não fosse por mim, ela não teria saído correndo daquele jeito, eu...
— Jhonny nos contou tudo, não precisa explicar nada. Sabemos que você jamais teria feito isso de propósito.
Sou abraçado novamente e suspiro minimamente aliviado por não ter sido julgado por uma das pessoas mais importantes para mim.
— Agora vamos até a sala de espera, você deve estar cansado de ficar aqui fora.
Balanço a cabeça e andamos lado a lado até uma pequena sala com várias cadeiras aparentemente mais confortáveis do que o banco de madeira que ocupava até pouco tempo, uma televisão em um dos cantos da parede exibindo um programa qualquer e uma mesinha com um bebedor de água e copos descartáveis.
Jhonatan não disse nada desde que chegou e tenho quase certeza de que ele está se controlando para não me dar uns socos.
Debby aparece minutos depois, se apresenta rapidamente e se senta em uma das cadeiras vazias. Eles conversam por um bom tempo, Kenny repete tudo sobre o estado de Liv e ela assente conforme entende as complicações do que aconteceu mais cedo.
A preocupação nos seus olhos é tão evidente quanto a do resto dos ocupantes da sala quase vazia a essa hora.
Olívia e ela construíram uma relação de amizade muito sólida nesses meses que trabalharam juntas e sei que Debby está abalada por dentro, embora queira aparentar tranquilidade para não piorar ainda mais as coisas.
Ficamos em silêncio depois de que Kenny termina de falar. Encosto a cabeça na parede e fecho os olhos pedindo mais uma vez para todas as divindades que minha menina fique bem.
O tempo passa lentamente, cada segundo se arrastando dolorosamente e não temos nenhuma notícia de Liv.
O que deixa tudo ainda mais difícil, é essa espera agonizante.
É não saber o que está acontecendo e inconscientemente temer pelo pior.
— Minha irmã é forte, ela vai sair dessa. -A voz de Jhonny se reproduz dentro da minha cabeça e abro os olhos dando de cara com seus olhos castanhos me observando com atenção.
Será que disse algo em voz alta sem perceber outra vez?
Não seria nada raro. Estou tão cansado que nem me preocupo em descobrir.
— Ela vai. -Digo confiante. — Liv é a garota mais incrível que conheço e não é um idiota qualquer que vai tirá-la de mim... de nós. -Engasgo nervoso e meu amigo concorda em silêncio.
Ele volta a se sentar no lugar de antes na espera de que alguém apareça para nos dizer algo sobre Liv, assim como eu, os seus pais e Debby.
Conforme as horas vão passando, meu desespero aumenta e o medo cresce dentro do meu peito.
Ninguém nos diz nada.
Sinto vontade de parar cada médico que passa pelo corredor e exigir que me diga que merda está ocorrendo dentro daquela sala de cirurgia.
Contudo, sei que seria muito pior se fizesse isso, então me limito a engolir esse sabor amargo na minha boca e continuar esperando.
Fecho os olhos por alguns minutos para tentar descansar um pouco, e quando abro-os de volta, já passa das três da manhã. Minhas costas doem por conta da posição e me levanto para esticar as pernas e os braços antes de provocar algum tipo de dor muscular.
Vou até a cafeteria e compro quatro copos de café para que possamos aguentar mais um pouco sem ceder ao cansaço.
Quando volto para a sala de espera, dou de cara com um homem de meia idade vestido com um jaleco branco impecável e meu corpo inteiro se arrepia no mesmo instante.
— A paciente está estável, ela desmaiou por conta da perda de sangue ao ser atropelada, mas já fizemos uma ressonância e ela não teve nenhum traumatismo craniano, por sorte. -Sua voz robótica explica tudo com impaciência. Coloco a bandeja com os cafés em cima de uma das cadeiras e me aproximo do médico atento a cada detalhe.
— Ela está descansando agora, mas infelizmente os horários de visita já acabaram. Lhes aconselho a ir para casa, tomar um banho, descansar um pouco e voltar mais tarde quando já for permitido vê-la. -Continua dando de ombros.
— Obrigada doutor. -Kenny suspira levemente aliviada por saber que a filha está fora de perigo.
O médico responde com um movimento de cabeça e se afasta em seguida, desaparecendo rapidamente pelos corredores do hospital.
— Acho melhor fazermos o que o doutor disse. Ficar aqui não vai adiantar em nada. -Angel murmura e Jhonny, Kenny, até mesmo Debby balançam a cabeça em concordância.
Eles começam a andar até a porta, no entanto, eu não consigo me mover. É como se meus pés estivessem fincados no chão.
— Nick... -Jhonatan resmunga preocupado.
— Não vou sair daqui. Podem ir para casa. Se souber de alguma novidade, avisarei vocês. -Declaro com tanta firmeza que ele não insiste sabendo que não vai obter resultado. Todos se vão sem dizer nada, então em questão de segundos fico sozinho outra vez na pequena sala, repassando cada acontecimento desde que acordei até o presente, como um pesadelo em tempo real.
Tento achar uma posição confortável na cadeira, mas é praticamente impossível, ainda mais quando o único que penso é em como Olívia está.
Será que ela já acordou? Será que está com medo ou sentindo dor?
Choro outra vez ao pensar nos seus ferimentos.
Sua roupa estava quase toda rasgada e a pele perfeita ficou arroxeada em alguns pontos e vermelha em outros por conta das feridas e escoriações.
Ela vai querer colocar algo decente quando acordar...
Envio uma mensagem para Jhonny trazer algo para que ela vista quando voltarem.
Outras três horas se passam e uma enfermeira entra na sala procurando por um doutor qualquer.
Aproveito a oportunidade para tentar mais uma vez obter alguma informação.
— Desculpe, hã... será que pode me dizer quais são os horários de visita? -Sussurro com a voz rouca de sono e cansaço.
— O que está fazendo aqui a essa hora, querido? Deveria ir para casa. -Ela sugere da mesma forma que o médico de antes.
— Não vou deixar minha namorada sozinha. -Ressopro decidido e seu olhar se suaviza um pouco. — Por favor... -Insisto juntando as mãos em súplica e isso parece acabar de derretê-la.
— Ok, o horário de visitas começa às sete e meia... -ela confirma as horas no relógio de pulso. — Quem é a sua namorada? -Volta a olhar para mim e meu estômago se contorce em expectativa.
Explico rapidamente o que aconteceu, e ela balança a cabeça para cima e para baixo conforme tenta identificar a paciente em questão.
— Oh, já sei quem é. -Afirma em uma expressão animada. — Vamos fazer o seguinte, te levarei até o quarto dela, mas tem que me prometer que não vai tocar em nada, principalmente nela, caso contrário não poderá mais voltar.
Prometeria tudo o que essa mulher me pedisse com tal de ver como Liv está.
— Se alguém entrar e te ver, eu vou fingir que não te conheço. -Continua e entendo perfeitamente onde ela quer chegar. Ela está me ajudando a entrar, mas depois disso, fico por minha conta.
— Se me pegarem, digo que entrei escondido. -Declaro tentando não deixar transparecer como estou desesperado.
— Ótimo, vamos.
De repente, começamos a caminhar lado a lado até a ala de internações.
O hospital está quase vazio exceto por algumas enfermeiras que perambulam pelos corredores revisando pacientes, aplicando remédios ou apenas fazendo sua ronda.
Fico um pouco atrás da mulher para que não desconfiem e freio de repente quando ela para diante de uma porta com o número 412 escrito em uma cor azul escuro na madeira pintada de branco.
Respiro fundo para me acalmar e no momento em que ela gira a maçaneta e faz um sinal para que eu entre depressa, meu coração quase para de bater ao ver Olívia deitada em uma cama com soro conectado em uma das mãos, a perna enfaixada e o braço engessado.
Lágrimas deslizam sem parar pelo meu rosto e me aproximo dela com cuidado.
A enfermeira fecha a porta atrás de mim e a escuridão engole o quarto, apenas as luzes dos aparelhos conectados ao seu corpo proporcionando uma iluminação tétrica digna de filme de terror.
Puxo uma cadeira para ficar ao seu lado e por mais que tenha prometido que não iria tocá-la, simplesmente não consigo.
Seguro seus dedos com cuidado e aperto as pálpebras me sentindo o ser mais desprezível do mundo.
Encosto a cabeça na beirada da cama para não acordá-la com meus soluços.
— Oh minha Liv... o que foi que eu fiz?
NOTA DO AUTOR
Como prometido, aqui está o capítulo!
Tadinho do nosso Nick né?
Espero que tenham gostado, não se esqueçam de votar e comentar
Amo vcs🥰
Bjinhosssss BF🖤🖤🖤
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