30 - Sinto muito
"E eu sei que você disse que não estamos falando
Mas eu sinto sua falta, sinto muito"
-I miss you, I'm sorry
Gracie Abrams
Batidinhas na porta do quarto chamam a minha atenção e me levanto com cuidado para não acordar Jhonny que pegou no sono depois de várias horas acordado.
Caminho passo por passo e giro a maçaneta com o coração pulando dentro do peito. Meus pais estão do outro lado com um semblante entristecido e me sinto péssima por isso. Sei que eles ficaram tristes com tudo o que aconteceu e sinto vontade de bater em mim mesma por isso.
— Podemos conversar, filha? -Minha mãe segura minhas mãos e tento ao máximo não desabar ali mesmo.
— Claro, -engulo em seco — vamos até a sala para não acordar Jhonatan. -Sussurro nervosa.
Fecho a porta outra vez e sigo os dois até o sofá onde nos sentamos com certa inquietude.
— Querida, nós... queremos nos desculpar com você pela maneira que agimos. -Dessa vez é meu pai quem fala e uma lágrima solitária desliza pela minha bochecha.
— Vocês não tem que se desculpar. A errada esse tempo todo fui eu. Deveria ter contado a verdade desde o início, é só que eu não... - respiro fundo — eu não queria desapontá-los.
Seus olhos se arregalam e os dois trocam um olhar surpreso.
— Nós jamais ficaríamos bravos com você, meu amor! Sabe que sempre vamos te apoiar no que decida fazer. -Seus braços me envolvem em um abraço carinhoso e me deixo levar pela sensação de alívio que dura pouco ao lembrar de Nick.
— Sinto muito mesmo por tudo isso. Eu só queria fazer o que gosto e tive medo de que não chegasse a ser boa o suficiente, por isso não lhes disse nada sobre a faculdade, porque caso não desse certo as coisas no estúdio, eu poderia voltar a estudar sem que ficassem sabendo e que pensassem que sou um fracasso. -Parando para pensar, foi realmente uma ideia tão estúpida que me envergonha ter continuado com esse plano ridículo.
— Sua mãe e eu sempre vamos estar orgulhosos de você, filha. Não precisa mentir para nós. -Papai assevera sério e balanço a cabeça para cima e para baixo.
Eles sempre foram assim. Nunca ficaram realmente bravos comigo ou com Jhonny e justamente por isso que eu fiquei aterrorizada com a possibilidade de deixá-los chateados comigo, porque eu nunca experimentei esse sentimento vindo deles antes.
O único que conheço é o amor, a compreensão e o carinho, e isso só torna tudo ainda pior.
— Eu sei, pai. Agora eu sei. -Suspiro desanimada. Os dois trocam outro olhar enigmático e sequer tenho tempo de me preparar para o que vem a seguir.
— Nick ficou muito triste com a forma que o tratou. Acho que deveria conversar com ele.
É incrível como Nick conquistou esses dois antes mesmo de me conquistar.
— E-eu... -recebo um olhar repreensivo daqueles que não te deixam outra alternativa a não ser admitir que errou e que precisa consertar esse erro. — Vou ligar para ele mais tarde. Por enquanto preciso estar ao lado do meu irmão. Ele está péssimo e não sei até quando vai durar toda essa situação.
— Tudo bem, mas não se esqueça que ele te ama muito e não mereceu ser tratado daquele jeito, filha. Você não foi criada assim. -Essa última frase me atinge como um tapa na cara e respiro fundo para não chorar outra vez. Meu pai me observa atento e solto a respiração pouco a pouco.
— M-me desculpem... eu... sou uma idiota.
— Querida, você não é nada disso. Eu também fiz coisas por impulso das quais não me orgulho no passado, mas no final das contas, eu fui atrás do seu pai e conversamos abertamente. -Seus dedos acariciam meu rosto e sorrio envergonhada e surpresa ao mesmo tempo. Sabia que Stefan tinha interferido no namoro dela com o meu pai, mas não fazia ideia de que mamãe chegou a fazer alguma loucura.
É como dizem, a fruta não cai muito longe do pé.
— Só espero que ele queira me escutar. -Meu corpo inteiro treme de medo com a possibilidade de Nick não querer mais olhar para a minha cara.
— Ele vai, meu amor. Tenho certeza disso.
Balanço a cabeça para cima e para baixo me apegando a essa frase com todas as minhas forças.
Depois de deixar todo esse drama para trás, meus pais foram conversar com Jhonny. Não consigo nem chegar a imaginar como ele está se sentindo.
Meu irmão realmente ama essa garota e pude ver o desespero no seu olhar quando ele me contou que ela está indo embora. E a infeliz sequer lhe disse o motivo. Simplesmente veio pedir desculpas e isso foi tudo.
Como gostaria de encontrá-la na rua e fazê-la entender o quanto machucou uma pessoa que a amava como nunca tinha amado nenhuma outra.
No entanto, não posso fazer isso. Jhonatan me fez prometer que não vou interferir e por uma vez na vida, preciso manter minha palavra e não agir por impulso.
Isso já me trouxe muitos problemas até agora.
Tomo um banho demorado antes de me deitar na cama para tentar pegar no sono e esquecer que o dia de hoje foi uma montanha russa maluca.
É sexta-feira e estou ficando louca trancada dentro de casa. Já se passaram dois dias e tentei me comunicar com Nick várias vezes, só que ele não atendeu a nenhuma das minhas ligações e não o julgo porque provavelmente faria o mesmo no seu lugar.
Também não voltei ao estúdio. Não podia chegar lá como se nada tivesse acontecido e acho que isso só contribuiu para que ele ficasse ainda mais chateado comigo.
Debby me mandou mensagem e me ligou algumas vezes para saber como estava e apesar de repetir incansavelmente que estava bem, ela obviamente não comprou essa mentira deslavada.
Porque eu não estou nada bem. Estou péssima.
Sinto falta de Nick. Dos seus abraços apertados, dos beijos carregados de carinho e aquele algo mais que sempre me deixou maluca. Até mesmo do seu cheiro amadeirado e da sensação de estar flutuando cada vez que fazíamos amor.
Preciso tê-lo de volta. Não consigo assimilar meus dias sem ele e só de pensar em que ele talvez esteja seguindo em frente, meu peito se aperta e sinto falta de ar.
Por mais que não tenha passado muito tempo depois da nossa briga.
Droga, odeio ser tão paranoica.
E odeio ainda mais o fato de que quem provocou toda essa merda fui eu mesma.
O vapor do banho quente cobre o banheiro e me enrolo na toalha com pressa para sair antes que desmaie com toda essa fumaça.
Uma vez que estou dentro do quarto, procuro uma roupa confortável para dormir enquanto me seco e acabo encontrando uma blusa de Nick perdida entre as minhas.
Visto a peça sem nem perceber e respiro fundo sentindo o seu perfume que milagrosamente permaneceu no tecido mesmo depois de ter sido lavado.
— Deus, como sinto a sua falta... -Murmuro para mim mesma e deixo escapar uma lágrima que desliza pela minha bochecha até se perder pelo pescoço.
Aperto as pálpebras para tentar afastar o fantasma da nossa relação que me consome a cada minuto e me jogo na cama lembrando de quantas vezes eu tive a chance para me abrir com meus pais e desperdicei cada uma delas.
Se tivesse dito a verdade desde um início, eu e Nick ainda estaríamos juntos.
Depois de passar um bom tempo me remoendo na autocompaixão, meu estômago ronca de fome e me obrigo a ir até a cozinha para ver se tem algo para comer.
Reviso minhas redes sociais enquanto a xícara com água para um chá de camomila esquenta dentro do microondas e dou um pulinho quando o celular começa a vibrar nas minhas mãos e o nome de Debby aparece piscando sem parar.
Pondero comigo mesma se devo atender e deslizo o botão verde claramente perdendo a batalha contra a curiosidade.
— Vista uma roupa super sensual que daqui vinte minutos estou passando na sua casa. -Sua voz aguda explode pelos alto falantes do aparelho e afasto-o do ouvido por alguns segundos.
— Do que diabos está falando, Debby? Não pretendo sair hoje... nem nunca mais.
— É o seguinte, acabo de sair da Devil's e Nick está lá com Pedro. Se quer consertar as coisas com ele, esse é o momento.
Meus batimentos cardíacos se aceleram ao escutar isso e imediatamente começo a tremer.
— Ele não quer falar comigo, já deixou isso bem claro. -Resmungo irritada.
— Isso é o que você pensa, Liv. Sei que por dentro, Nick deve estar morrendo de vontade de te ver do mesmo jeito que você. Agora espero que esteja vestida quando eu chegar ou vou te arrastar até o meu carro com o que estiver no corpo. Já cansei dessa palhaçada de vocês dois. -Debby ameaça e sei bem que ela seria mesmo capaz de cumprir a promessa.
— Ok, você venceu. Até daqui a pouco. -Encerro a ligação e corro para o meu quarto para me trocar.
Com dedos trêmulos, procuro algo decente para vestir e acabo colocando o de sempre: uma calça preta de couro que se ajusta perfeitamente a cada curva que possuo, uma blusa azul de renda e por baixo um sutiã da mesma cor. Calço um coturno preto com salto quadrado e faço uma maquiagem rápida, já que não tenho tempo para nada muito elaborado.
Que se foda.
O único que me interessa é conversar com Nick, não importa o que esteja vestindo.
Passo desodorante, um perfume e coloco a carteira, celular e chaves dentro de uma bolsa tiracolo.
Envio uma mensagem para os meus pais avisando que estou saindo e desço para o saguão bem a tempo de ver o carro de Debby estacionando do outro lado da rua.
Cruzo o asfalto com o coração galopando dentro do peito e quase não consigo abrir a porta de tão nervosa que estou.
— Preparada para ter seu homem de volta? -Seu sorriso animado acaba me contagiando e respondo que sim com os polegares levantados. — Muito bem. Aqui vamos.
Imediatamente ela coloca o carro em marcha e mergulhamos no trânsito noturno de final de semana. Durante todo o trajeto eu ensaio mentalmente o que vou dizer a Nick e me desespero pensando se não estou fazendo papel de ridícula.
Será que ele vai querer mesmo conversar comigo? Ou ainda está tão bravo que vai me mandar à merda assim que me vir?
Um medo se alastra pelo meu corpo, mas de todas formas, eu preciso fazer isso. E o mais engraçado, é que Debby teve que literalmente me coagir, caso contrário eu continuaria enfiada dentro do quarto imaginando o que Nick estaria fazendo longe de mim.
— Obrigada por me tirar de casa, amiga. -Giro meu rosto para ela e aperto seus dedos aproveitando que estamos paradas em um semáforo.
— De nada, Liv. Você e Nick são feitos um para o outro e já não aguento mais ver os dois separados. -Afirma com um suspiro.
Não digo mais nada. Não é preciso.
Eu também não quero mais ficar longe dele.
O sinal fica verde outra vez e voltamos a nos mover.
Chegamos na boate em minutos e reviso minha imagem no espelho uma última vez antes de descer do carro e ir até a entrada do lugar.
Aliso a blusa e a calça enquanto caminhamos pelo pavimento irregular.
Debby cumprimenta o segurança e ao ver quem ela é, ele nos deixa passar sem nenhum impedimento, o que irrita algumas pessoas que fazem fila do lado da porta.
— Sair com o dono da boate realmente tem suas vantagens. -Brinco e ganho um olhar estranho da garota.
— Pedro e eu não... quer saber, não é momento para isso.
Minha expressão deve ser tão estranha que ela só levanta um dedo em um sinal para que não insista.
Dou de ombros e continuo andando até a pista onde várias pessoas dançam ao ritmo da música eletrizante como se o mundo lá fora não existisse.
Vasculho o interior atenta a qualquer sinal de Nick.
Estou ansiosa por vê-lo, por tocar seu rosto e beijar sua boca até ele entender que eu fui uma estúpida e que preciso dele comigo outra vez.
Um sorriso impaciente se forma na minha cara até que finalmente o encontro. Mas ao contrário do que imaginei que veria, meu semblante vai se desfazendo pouco a pouco dando lugar a uma expressão completamente diferente ao ver como Bárbara e Nick estão se beijando na frente do bar, parecendo bastante confortáveis um com o outro.
As lágrimas queimam nos meus olhos como se fossem ácido puro e me seguro para não deixá-las cair.
Como se tivesse alguma espécie de instinto ou superpoder, Nick se afasta da sua ex-namorada e gira a cabeça me encontrando em questão de segundos.
Seus olhos se arregalam ao me ver e ele se endireita rapidamente vindo na minha direção.
Oh não.
Obrigo o meu corpo a me mover para fora da boate. Essa cena foi demais para mim. Ver Nick e Bárbara se beijando foi como se alguém enfiasse a mão dentro do meu peito e arrancasse meu coração pedaço por pedaço.
Meus pulmões se apertam e começo a respirar com dificuldade por conta da enorme quantidade de pessoas dentro desse maldito lugar.
Tenho que sair daqui.
Preciso respirar e tentar tirar essa imagem da minha mente.
Meu estômago se contorce e me forço a aguentar a vontade insuportável de vomitar.
Estou quase chegando do outro lado da rua quando de repente um barulho ecoa ao meu redor, gritos são ouvidos como se estivessem a quilômetros de distância e então percebo que estou no chão, meu corpo inteiro dói e de repente... tudo vira escuridão.
NOTA DO AUTOR
Não me batammmmmm kkkk
Eu sei que está sendo tenso, mas aguentem um pouquinho
que ja ja tudo melhora,
ou não kkkkkk
Não se esqueçam de votar e comentar,
Amo vcs🥰
bjinhossss BF🖤🖤🖤
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