27 - Um favor especial
"Você não precisa dizer que me ama
Você não precisa dizer nada
Você não precisa dizer que é minha
Querida
Eu andaria pelas chamas por você
Apenas deixe-me te adorar"
-Adore You
Harry Styles
Olívia passa pela porta do estúdio com o seu sorriso de sempre e é como se tudo ao redor se iluminasse por completo. Ela caminha direto até parar na minha frente e abraço seu corpo curvilíneo. Respiro fundo, o seu cheiro adocicado impregnando minhas narinas e me trazendo aquela velha sensação na boca do estômago.
Como quando um aroma te faz lembrar de um momento especial e você deseja que ele nunca mais se desvaneça.
— Como dormiu?
Seus olhos se estreitam antes de responder e viro meu pescoço dando de cara com Debby assistindo a cena sorrindo como uma maluca.
Minha secretária é uma peça.
— Muito bem. E você? -Liv diz manhosa.
— Mais ou menos... Senti falta do seu corpo colado no meu. -Sussurro a última parte para que só ela escute e uma risadinha tímida escapa pelos lábios brilhantes.
— Eu também senti falta disso. -Seus braços apertam minha cintura e apoio o queixo na sua cabeça. — Temos muitos clientes para hoje?
— Não... estamos no meio da semana, geralmente as pessoas escolhem ou o começo, ou o final para fazer tatuagens. Podemos sair mais cedo, se você quiser. Ir ao cinema ou ao parque talvez.
— Oh, eu adoraria! -Fala animada e beijo sua boca com vontade.
Deslizo as mãos pelas suas costas e delineio sua coluna com as pontas dos dedos fazendo-a se encurvar com o toque.
— Oh por Deus... arrumem um quarto por favor. -A voz de Jhonny invade meus ouvidos e tanto eu quanto Liv caímos na risada.
— O que está fazendo aqui, irmão?
Abraço outra vez minha namorada e espero que ele responda à sua pergunta. É muito raro receber visitas de Jonathan a essa hora no estúdio, já que ele geralmente está na faculdade.
Debby desaparece até a cozinha e volta com uma bandeja com três xícaras de café e um potinho com açúcar e algumas colheres.
— Pensei que gostasse de café puro. -Meu amigo observa a bandeja com a sobrancelha levantada.
— Ele ainda gosta, querido, mas começou a comprar açúcar depois que sua irmã apareceu. -Debby brinca e giro os olhos me preparando para mais uma sessão de "enchendo o saco de Nick".
Para a minha surpresa, nem Jhonny nem Liv dizem nada. Os dois trocam um olhar que só eles parecem entender e deixam Debby e eu completamente confundidos.
Sem ter mais o que fazer, pego uma xícara e me sento em um dos sofás ao lado de Liv. Faço uma careta para a enorme quantidade de açúcar que ela coloca na própria xícara, mas não digo nada. Às vezes penso que ela faz isso só para me provocar, e confesso que funciona. Mas ao mesmo tempo eu amo essa sua implicância comigo.
Me faz sentir vivo.
E inconscientemente desejar que essa relação nunca chegue ao fim.
Porque sim, eu sou realista. A amo mais do que tudo nesse mundo, porém não sou idiota. Sei que muitas coisas podem acontecer e nos levar ao término, e mesmo tentando não deixar esse medo me dominar, ainda assim, existem momentos em que me pego pensando na pior das hipóteses. Por mais que por fora esteja aparentemente tranquilo.
Liv mexe comigo de uma maneira inexplicável e uma parte dessa desconfiança toda, se deve ao fato de que ela ainda não tem coragem suficiente para contar aos pais sobre nós dois, apesar de que para todos os efeitos, eles já sabem que estamos namorando.
É só que eu quero que ela diga a eles. Só assim eu vou saber que estamos na mesma página. Porque eu não estou levando nossa relação como um jogo, para mim é muito sério. Penso nela o tempo todo, desejo estar ao seu lado cada segundo e sempre que vejo algo que me lembra a ela, tenho vontade de ligar, mandar mensagem, porra, de aparecer no seu apartamento e lhe dizer o quanto sinto saudades.
Por mais que pareça um maldito louco.
Na verdade, para ser sincero, eu estou louco sim, louco por ela.
— E aí, vai dizer o motivo da sua ilustre visita ou não? -Olívia reitera ao mesmo tempo em que coloca a xícara vazia na pequena mesa na frente do sofá.
Jhonny limpa as mãos na calça antes de se levantar e coça a garganta escandalosamente.
— Só queria saber como estavam. -Mente descaradamente e tanto eu quanto a sua irmã sabemos bem que ele provavelmente não quer ir para a faculdade e correr o risco de encontrar a garota que virou seu mundo de ponta cabeça. — Agora, se me derem licença, preciso ir. Nos vemos mais tarde, irmãzinha. -Se despede de Liv com um abraço e de mim com um tapinha nas costas.
Ele acena a mão para Debby e depois desaparece porta afora me deixando ainda mais preocupado. Meu amigo está realmente abalado e me entristece vê-lo assim.
Liv solta uma longa respiração desanimada e aproximo o seu corpo até que ela está praticamente sentada em cima de mim.
— Ele vai ficar bem, prometo.
Beijo sua bochecha com carinho e ela aperta as pálpebras em resposta.
— Eu sei, é só que... quer saber, você tem razão. -Esfrega minha perna por cima da calça jeans e balanço a cabeça confiante de que assim será. — Agora vamos arrumar a sala para o primeiro cliente que já deve estar chegando.
Sou praticamente arrastado até o depósito e em questão de segundos, estou carregando uma infinidade de tralhas.
Limpamos a cadeira, retiro as agulhas da autoclave e pego algumas tintas mais comuns, ordenando tudo em cima da mesinha que uso enquanto estou tatuando.
Assim como o previsto, o primeiro cliente aparece pontualmente. Um garoto franzino que não aparenta ter mais de dezoito anos. Os olhos são tão azuis que parecem dois lagos congelados e seus lábios estão adornados com uma pequena argola preta que ele morde a cada instante em uma espécie de tic nervoso. Antes de começar, reviso sua identidade, confirmando minhas suspeitas e peço sua autorização para não acabar me metendo em problemas. Ele me entrega um papel assinado pela mãe e tiro uma cópia para mim, deixando a original com Debby para que ela coloque no seu arquivo.
Essa não é a primeira tatuagem que ele faz, um dos braços está quase coberto por vários desenhos em cores variadas e técnicas distintas, como se cada um tivesse sido feito por um profissional diferente. Alguns deles são realmente bons, e outros... nem tanto. Contudo isso realmente não é da minha conta.
Ele me mostra o que quer para hoje e franzo o cenho ao dar de cara com uma cobra que começa no pulso, dá a volta pelo seu antebraço e termina no braço, quase no ombro. É muito bonito e fico animado e ansioso para começar a trabalhar.
Imprimimos o transfer e coloco na sua pele por partes já que se trata de um desenho bastante complexo. Uma vez que termino de marcar todo o esboço, preparo a máquina com uma agulha fina para o traçado e encho o bocal com a tinta preta.
Estou a ponto de começar, quando meu celular grita tocando sem parar.
Liv me olha com a sobrancelha levantada e faço uma careta.
— Pode retirar o aparelho do meu bolso por favor? -Peço irritado comigo mesmo por ter esquecido de colocá-lo para vibrar.
Olívia enfia a mão na minha coxa e pega o celular rapidamente para que a situação não fique ainda mais desconfortável.
Ela me mostra a tela para que eu veja quem é e o nome da minha mãe pisca várias vezes até que a ligação vai para a caixa de mensagens. Imediatamente a música preenche o ambiente outra vez e lanço um pedido de desculpas com o olhar para o nosso cliente.
— Acho que deveria atender, pode ser algo importante... -Liv diz baixinho e suspiro sabendo que ela tem razão.
— Ok. Hã, se importa se minha parceira começar o traçado? -Questiono com medo de o garoto achar ruim, no entanto, ele simplesmente dá de ombros e Liv ocupa o meu lugar com um sorriso animado no rosto.
Deus, como é possível ela ficar ainda mais linda quando está tatuando?
Chacoalho a cabeça e saio da sala depressa. Quando estou do lado de fora, deslizo o botão verde e a voz da minha mãe sai pelos alto falantes me trazendo a mesma paz de sempre.
— Está tudo bem, mãe? -Pergunto preocupado e ela solta uma risadinha divertida.
Vou até o depósito para ter mais privacidade e fecho a porta ao entrar.
— Oh querido, estou sim! Te liguei porque estou precisando de ajuda com algo. -Solto o ar que estava preso e me tranquilizo ao saber que não aconteceu nada.
— Você me assustou! -Brinco e ela ri novamente. — Bom, se está tudo bem, no que posso te ajudar então? -Continuo e ela fica séria outra vez.
— Veja bem, eu preciso que você busque alguns papéis na academia de Marcus e traga para mim, por favor! É urgente meu amor, caso contrário não estaria pedindo. -Revela e balanço a cabeça para cima e para baixo sem lembrar que ela não pode ver o movimento. — Não posso deixar a academia sozinha e Kenny saiu para fazer algumas diligências...São documentos muito importantes, por isso confio apenas em você para isso.
— Eles já sabem que devem me entregá-los?
— Sim, já liguei para Becca e ela está te esperando.
— Tudo bem, em uns vinte minutos eu chego aí. Até logo.
Encerro a ligação e volto para a sala onde Liv conversa com o cliente como se fossem melhores amigos. Ele parecia super retraído quando chegou e agora é como se estivesse diante de outra pessoa.
É incrível como essa garota tem o poder de tirar o melhor das pessoas.
Me abaixo para ficar na sua altura e ela para de tatuar rapidamente ao sentir minha presença.
— Amor, minha mãe precisa de um favor urgente, então terei que sair. Conclua esse trabalho e se chegar mais algum cliente, atenda-os para mim, por favor. -Beijo sua bochecha e sorrio quando elas ficam vermelhas quase no mesmo instante.
— Tudo bem. Dirija com cuidado. -Sussurra tímida e não demoro a sair para que ela continue tatuando.
Aviso Debby que provavelmente irei demorar a voltar e que se não chegar até a hora do almoço, ela pode fechar e ir para casa.
Pego as chaves do meu carro e rumo até a academia de Marcus chegando em menos de cinco minutos. Para a minha sorte, ela fica convenientemente perto do estúdio e agradeço mentalmente por isso já que o trânsito a essa hora é catastrófico.
Becca me recebe com sua amabilidade de sempre e me passa um envelope café com instruções de não entregá-lo para ninguém que não seja a minha mãe.
Realmente deve ser algo bem importante.
Mamãe administra a Strong Woman desde que me conheço por gente. Ela e Kenny tem uma amizade de longa data e agradeço que assim seja. A mãe de Olívia é uma mulher extremamente amável, forte e com uma personalidade incomparável. Assim como a filha.
Graças a isso, pudemos ter uma vida digna sem precisar do meu pai. Os Cross nunca nos deixaram acontecer nada e é por isso que me sinto como parte da sua família.
Ao chegar, vou direto até o escritório e dou batidinhas na porta com o nome Emile Hunter pintado em letra cursiva.
— Pode entrar, meu amor. -A voz suave atravessa a madeira e giro a maçaneta cruzando o umbral e sorrindo ao ver minha mãe sentada na sua cadeira de couro detrás de uma enorme mesa de mogno carregada de papéis, um computador de última geração e um porta-retratos com uma foto nossa de alguma viagem que fizemos.
— Aqui está. -Deixo o envelope nas suas mãos e ela o guarda em uma gaveta trancada com chave. Em seguida, ela se levanta e caminha até parar na minha frente.
— Obrigada, filho.
Seus dedos acariciam meu rosto carinhosamente e de repente ela me puxa para um abraço apertado como sempre faz ao me ver.
Por incrível que pareça, por mais que vivamos na mesma cidade, quase não nos vemos. Trabalho tanto no estúdio e ela na academia, que nos sobra pouco tempo livre.
Preciso dar um jeito nisso.
Nos sentamos em um sofá encostado em uma das paredes e ela me lança um olhar sorridente e travesso.
— Sabe, um passarinho me contou que você e certa garota estão namorando... -Solta sem nenhuma gota de culpa e engulo em seco tentando controlar a surpresa.
— Por que será que eu tenho a impressão de que esse passarinho e a dona desta academia são a mesma pessoa? -Brinco e recebo um leve tapa na coxa.
— Isso não importa. O que eu quero saber, é por que você não me disse antes!
Seus olhos se apertam da mesma maneira que fazia quando era criança e ela me repreendia ao me pegar fazendo algo que não devia.
— Eu não te contei, porque Liv... bem ela não está mais indo para a faculdade e começou a treinar comigo, foi por isso que nos aproximamos e ela não queria que seus pais ficassem sabendo. -Solto tudo de uma vez e mamãe não diz nada por vários minutos.
Inclino minha cabeça lentamente e observo minha perna como se ela fosse a coisa mais interessante do mundo.
Suas mãos então seguram meu queixo e levantam meu rosto para que fique na sua altura.
— E você não está gostando nada disso.
— Não. -Confesso desanimado. Não queria admitir que me sinto péssimo por dentro e que tento não deixar transparecer isso para Liv por medo dela acabar terminando comigo.
— Você a ama, não é mesmo?
— Com todo o meu coração.
— Então converse com ela e diga o que te aflige. -Diz com a voz suave. Mamãe sempre soube como me enxergar por inteiro. É praticamente impossível esconder algo dela e nesse momento, estou grato por isso.
— E se ela pensar que estou pressionando-a? -Sussurro com a voz trêmula.
— Tenho certeza que não vai ser assim. Além do mais, pelo que Kenny me disse, Liv anda meio estranha, talvez ela também esteja com medo e não queira assumir.
Encaro seu belo rosto com algumas rugas pela idade e então as coisas começam a fazer sentido dentro da minha cabeça.
Por isso ela me disse aquelas coisas sobre brigarmos e me pediu para não terminar com ela. Olívia, assim como eu, está aterrorizada pelo que possa acontecer.
— Você está certa. Precisamos acabar com essa incertidão de uma vez.
Respiro profundamente e abraço apertado seu corpo esguio.
— Por certo, estou muito feliz por vocês dois. Sempre quis que ficassem juntos, são feitos um para o outro. -Afirma contente e meu coração pula animado dentro do peito.
— Obrigado, mãe. Eu... também estou muito feliz.
Meus lábios se curvam em um sorriso ao lembrar de vários momentos que passamos juntos e nesse exato instante, tenho plena certeza de que Liv é a pessoa perfeita para mim. Ela me completa, me faz querer ser alguém digno do seu amor e cada vez que seus olhos castanhos encontram os meus, uma explosão se forma dentro de mim e me apaixono ainda mais.
Depois de um bom tempo abraçados, nos afastamos e conversamos sobre temas variados. Conto a ela sobre as investidas do meu pai e seu rosto se desfigura em uma careta amarga. Se tem uma pessoa que odeia Stefan Brennan, essa é minha mãe.
— Fique tranquilo, vou dar um jeito nesse idiota. -Garante com convicção.
Quero dizer que ela fique longe dele, mas sei que ela é teimosa e provavelmente seria em vão meu pedido, então mudo de assunto e conto a ela sobre o avanço de Liv com a tatuagem e como estou orgulhoso dela.
Sem nem perceber, a hora do almoço se aproxima e levo-a para comer em algum restaurante próximo. Passamos mais um tempo de qualidade juntos, até que tanto ela quanto eu precisamos voltar ao trabalho.
— Deveria vir mais vezes, filho. E da próxima, traga Liv junto, não a vejo há um tempão. Ela deve estar ainda mais linda...
— Pode deixar, prometo que virei no final de semana. Nos vemos depois. -Beijo seu rosto e ela sorri alegre.
— Vou estar te esperando, te amo filho!
— Eu também te amo, mãe.
Espero que ela entre na academia e uma vez que ela desaparece por trás das portas de vidro, volto para o estúdio com o coração mais leve e uma missão em mente.
NOTA DO AUTOR
Oláaaaa seus lindos! Como disse, talvez ia ter cap hoje, e aqui estamos.
Eu definitivamente mimo demais vocês kkkkkkk
Tenham todos um ótimo final de semana,
Não se esqueçam de votar e comentar.
Amo vcs🥰
Bjinhosssss BF 🖤🖤🖤
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