19 - Vai ficar tudo bem
"Se eu estivesse morrendo de joelhos
Você seria o único para me salvar
E se você estivesse afogado no mar
Eu lhe daria meus pulmões
para que você pudesse respirar
Eu tenho você irmão"
- Brother
Kodaline
Amor.
Devo passar pelo menos vinte minutos olhando para a tela do celular com o cenho levemente franzido e um sorriso idiota no rosto.
Nick me chamou de amor.
E não sei como reagir.
Começo a escrever uma resposta, depois outra e depois outra, mas paro no meio do caminho e apago tudo antes de enviar.
Droga.
Decido ir pela via mais fácil: fazer a egípcia e não responder nada.
Tranco o carro depois de descer e pego o elevador para o nosso andar sem soltar o celular por um segundo. O aparelho se sente ainda mais pesado do que o normal nas minhas mãos e sei que é por conta da última mensagem. Nunca pensei que Nicholas Hunter fosse tão... Nick.
Me olho no espelho e sorrio para o meu reflexo.
Olhe só para mim, toda uma boba apaixonada.
Ajeito meu cabelo atrás da orelha e a imagem de Nick fazendo exatamente o mesmo me vem à mente. Parece que ele adora fazer isso e repito cada movimento como se ele estivesse aqui dentro comigo.
Arfo deixando meu braço cair ao lado do meu corpo.
É muito mais divertido quando são os seus dedos no lugar dos meus.
— Você é uma tonta, Liv. -Murmuro para mim mesma assim que as portas se abrem e dou um passo para fora do elevador.
Retiro a chave da porta de dentro da minha bolsa e coloco-a na fechadura em seguida. Entro no apartamento e dou de cara com o lugar completamente vazio.
Meus pais ainda devem estar no trabalho e Jhonny provavelmente está com algum rabo de saia. Se bem que nos últimos dias ele anda bastante triste e quase não me azucrinou, o que não é nada normal.
Tentei tirar alguma informação dele sobre o que está acontecendo, mas a resposta é a mesma: estou bem, não precisa se preocupar.
Porém eu sei que ele está mentindo, porque cada vez que nos encontramos, o brilho dos seus olhos já não está mais lá. Aquele lampejo de picardia que ele sempre tinha, se foi.
E isso me deixa extremamente preocupada. Ainda mais quando sei que Jhonny é muito orgulhoso para admitir que está sofrendo e tenho medo de que isso só piore tudo. Meu irmão é tudo para mim e odeio vê-lo zanzando desanimado pelos cantos como se fosse um zumbi.
Vou direto para o meu quarto e tomo um banho rápido. Coloco uma roupa confortável para ficar em casa e cruzo o corredor até ficar de frente para a porta com um enorme J pintado na madeira marrom.
Passo o dedo pela tinta desgastada lembrando do dia que fizemos isso para que minhas amigas não errassem de quarto, embora eu tenha a certeza de que elas sabiam muito bem onde era o meu. De todas formas, amo o fato de que esse dia todos nos reunimos e passamos a tarde inteira pintando duas simples letras. Um J para Jhonny e um L para mim.
Meus pais também ajudaram e no final do dia, estávamos com tinta dos pés à cabeça.
Às vezes sinto saudades de quando passávamos esse tempo juntos. Conforme fomos crescendo, cada um começou a fazer sua vida e por mais que eu tenha plena consciência de que tanto meu pai, quanto minha mãe dão duro para que possamos ter tudo do bom e do melhor, ainda assim gostaria de poder compartilhar mais tempo com eles.
Apesar de que no momento eu também não esteja colaborando muito para isso, já que passo praticamente o dia inteiro no estúdio de Nick.
Deslizo o dedo mais uma vez pela porta de Jhonny e sorrio com carinho. Preciso dar um jeito de saber o que está pegando, nem que para isso, tenha que seduzir Nick e obrigá-lo a me contar tudo.
Isso seria errado? Com certeza. Eu ligo? Definitivamente não.
A porta se abre de repente e Jhonny aparece na minha frente com um semblante assustado. Ambos pulamos um para o outro e ele leva as mãos até o peito ao mesmo tempo que eu.
Bizarro. Ser gêmeo é tão estranho às vezes.
— Está maluca, Liv? Quer me matar de susto? -Resmunga com a voz aguda e solto a respiração me recuperando.
— Eu estava prestes a bater na porta, pensei que não estivesse em casa.
— Se pensou isso, por que iria tocar minha porta então?
— Para ver se você estava mesmo ou não, dã. -Bato na sua testa com o dedo e ele empurra meu corpo para o lado.
— Pois aqui estou, irmãzinha.
Ele caminha pelo corredor me deixando para trás.
— Está tudo bem?
Seguro seu braço para que ele não escape de mim e pela primeira vez em muito tempo, Jhonatan parece realmente cansado. Sua cabeça pende para baixo, o queixo quase tocando no peitoral musculoso e coberto de tatuagens como cada membro da nossa família.
Seus ombros estão tensos, como se um enorme peso pendesse nas suas costas e a pele que costuma estar morna, agora se encontra fria, quase como se ele fosse uma criatura que apenas existe.
— Sim, Olívia. Já te disse que estou bem, quer parar de encher meu saco? -Ele se solta com um puxão e caminha até a cozinha comigo no seu encalço.
— Já chega, Jhonatan. -Grito irritada. — Não pense que estou comprando essa mentira, não sou idiota. Está mais do que na cara que você não está bem porra nenhuma.
Aperto seus ombros e giro seu corpo para que ele fique de frente para mim. Levo outro susto ao ver como os olhos castanhos se enchem de lágrimas e ele se controla ao máximo para não chorar.
— Por favor, maninho, me diz o que está te deixando desse jeito... -Abraço-o apertado. — Não aguento mais te ver assim. -Sussurro contra o seu peito e ele me aperta como se eu fosse uma tábua de salvação.
Inesperadamente começamos a balançar e meu coração se desmancha por completo ao perceber que ele está chorando descontroladamente.
— Jhonny? -Me afasto do seu corpo e seguro o rosto angulado com carinho, o medo agora me dominando dos pés até a cabeça.
— E-eu... -ele engole lentamente, as lágrimas escorrendo como uma enxurrada pelas bochechas. — Ela acabou comigo, Liv. Eu não sei o que vou fazer. Dói tanto...
Imediatamente começo a chorar junto com ele compartilhando a sua dor e fazendo de tudo para que ele deixe de sofrer.
— Shh... eu estou aqui. Vai ficar tudo bem. -Afirmo acariciando seus cabelos e ele puxa uma longa respiração. — Essa garota não sabe com quem está se metendo.
Ameaço com a voz firme e meu irmão solta uma risadinha triste.
Seus olhos pousam em qualquer lugar dentro da sala e parecem nublados, provavelmente se lembrando dela.
— Não faça nada, Olívia. Deixe isso para lá. De qualquer jeito, uma hora ou outra eu irei esquecê-la. -Declara massageando as têmporas.
É engraçado como tenho a leve impressão de que isso está longe de ser certo.
Pela primeira vez na vida, Jhonatan parece realmente gostar de alguém e apesar de sempre ter sido um galinha declarado na universidade e de eu não aprovar o seu jeito de tratar as garotas que ele fica, ele ainda é meu irmão e odeio vê-lo chorar.
— Eu só vou fazer isso porque você está pedindo, mas se eu chegar a encontrar com essa garota na rua, não garanto nada.
Seus olhos se apertam e ele sacode a cabeça resignado. Não posso negar a teimosia dos Cross e ele como um de nós, sabe muito bem disso.
— O que acha de ver um filme? -Ofereço em uma tentativa de mudar de assunto e meu irmão dá de ombros como se realmente desse na mesma.
Nos sentamos no sofá e escolho algo no enorme catálogo da Netflix. Acabamos nos interessando por uma série sobre uma mulher que foge de um relacionamento abusivo juntamente com a filha e precisam enfrentar o ex e as suas memórias sobre o ocorrido.
Dou o play no primeiro episódio e meu irmão se deita no meu colo em cima de uma almofada preta.
Descanso o braço no seu ombro e ele assiste tudo sem dizer uma só palavra, o que aparentemente é o normal quando se vê uma série ou filme, mas se tratando de Jhonatan, é algo muito, muito estranho.
Porque ele ama fazer comentários sobre as cenas, criticar os atores, até mesmo fazer piadinhas ridículas sobre alguma situação dos personagens. Isso me irrita profundamente, no entanto, hoje sinto falta do velho Jhonny.
Quero meu irmão de volta e preciso descobrir quem é a maldita que acha que pode brincar assim com ele.
Prepare-se, garota , porque você está prestes a saber como funcionam as coisas na família Strong-Cross.
Quase três episódios depois, meu estômago ronca escandalosamente e me levanto para procurar algo para comer.
Meu irmão se senta do outro lado do balcão e aguarda com uma paciência digna de reconhecimento enquanto eu preparo dois sanduíches de peito de peru.
Sirvo suco de abacaxi em dois copos e deslizo um deles até parar na sua frente.
Meu celular descansa a apenas alguns centímetros das suas mãos e seus olhos vão parar no aparelho no momento em que ele começa a vibrar como louco em cima do mármore e a foto de Nick aparece ao lado das palavras Demônio Tatuado.
Não penso mudar seu nome de contato. Além de ser divertido, Nick ainda me tira do sério na maioria das vezes, então ele merece o nome que tem.
— Acho que seu namoradinho está te ligando. -Jhonatan assinala bebendo um longo gole do suco e sorri debochado contra o copo de vidro transparente.
Arregalo os olhos e abro a boca sem saber o que responder diante da sua afirmação.
— Como diabos você sabe que eu e Nick estamos namorando? Não faz nem um dia que ele me pediu...
— Achei que fosse mais inteligente, irmãzinha. -Seus dedos limpam um pequeno farelo da blusa branca e fico em silêncio esperando sua explicação. — Nick me contou, Olívia. Na verdade, ele me ligou para avisar que vocês estavam oficialmente saindo e queria saber e eu não me importava com isso. -Um sorriso divertido se forma nos seus lábios e fico ainda mais confundida.
Então Nick basicamente pediu permissão para Jhonny para namorar comigo?
— E o que você respondeu? -Sussurro inquieta e bastante curiosa.
— Que eu não sou seu dono, portanto você pode sair com quem te der na telha, porém se ele se atrever a te machucar, eu vou ser o primeiro em dar uma boa surra naquela cara horrorosa. -Ele dá de ombros e fico paralisada com o pedaço de pão nas mãos e uma boa quantidade de mostarda escorrendo entre os meus dedos.
— O que Nick respondeu? -Pergunto baixinho e obtenho uma gargalhada sonora como resposta.
— Essa parte, irmã, fica entre eu e ele.
— Qual é, Jhonny, de que lado você está? -Limpo os dedos com um pedaço de papel toalha e cruzo os braços como uma garotinha mimada que não conseguiu o doce que queria e recorreu à pirraça.
— Estou do meu lado, Liv. Você é minha irmã, mas Nick é meu amigo e não vou romper a confiança de nenhum dos dois.
— Vocês dois são uns idiotas mesmo. -Resmungo emburrada e meu irmão ri ainda mais alto.
Meu celular começa a tocar outra vez e me debruço por cima do balcão para pegar o aparelho.
Meu irmão sorri diante da cena e faço uma cara feia para ele. Deslizo o dedo no botão verde e atendo a ligação com o coração batendo tão rápido que preciso me concentrar em não ter um ataque de nervos.
— Alô. -Sussurro envergonhada. É a primeira vez que atendo uma ligação de Nick.
— Oi linda, liguei para saber como está. -Sua voz rouca me faz arrepiar e suspiro lembrando de como fico quando ele fala coisas indecentes no meu ouvido quando estamos transando. Merda, Jhonny está literalmente do meu lado.
— Hã, estou bem, e você? -Mordo o canto da unha nervosa por não saber o que conversar com o meu bendito namorado.
A risadinha do outro lado me faz ficar ainda mais corada e respiro profundo.
— Estou ótimo, Olívia. Acabei pegando no sono e acordei agora. -Explica simplista. — O que acha de vir até o meu apartamento para vermos um filme ou algo assim? -Oferece e Jhonny observa toda a minha conversa em silêncio.
Por mais que esteja morrendo de vontade de vê-lo, sei que meu irmão não quer ficar sozinho, então só há uma resposta aceitável para a sua pergunta.
— Hoje não vai dar, Nick. Estou vendo uma série com meu irmão e se eu não lhe explicar tudo o que está acontecendo, essa cabeça de vento não vai entender nada. -Brinco e Jhonatan belisca meu braço me arrancando um gemido de dor.
— Oh, não tem problema. Nos vemos amanhã então. -Ele parece triste com a resposta, mas não insiste.
— Nos vemos amanhã. -Sussurro.
— E diga a esse bunda mole que preciso falar com ele mais tarde, por favor.
Ok, o que diabos esses dois tanto conversam? Por um breve instante, tinha esquecido que eles são melhores amigos.
— Não quer deixar recado? -Tento arrancar alguma informação, mas é óbvio que Nick me conhece bem o bastante para saber qual é minha verdadeira intenção.
— Acha mesmo que vou cair nessa sua lábia, amor? -Oh Deus. Lá vamos nós de novo.
Ler essa palavra em uma mensagem é uma coisa, agora escutar Nick dizendo-a com todas as letras é algo totalmente diferente.
Me sento no sofá sentindo as malditas borboletas no estômago e aperto os lábios em uma linha fina me controlando para não gritar.
— Liv, ainda está aí? -Sua voz soa distante e me recomponho rapidamente.
— S-sim, estou aqui. Hã... nada de recados então. Anotado.
— Nada de recados. Durma bem.
— Obrigada, você também.
— E Liv?
— Sim?
— Espero que pense em mim quando estiver debaixo dos lençóis, porque eu definitivamente vou estar pensando em você.
NOTA DO AUTOR
Sim eu sei que não é quarta, mas como já disse várias vezes:
Fodace.
Sou doida mesmo e posto quando der kkkkkk
Espero que tenham gostado do capítulo, não se esqueçam de votar e
comentar!
Nos vemos na sexta,
Amo vcs, 🥰
Bjinhossss BF🖤🖤🖤
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top