13 - Como fogo e pólvora
"Somos apenas uma bagunça quente
Você continua me queimando,
eu continuo queimando por você."
-Hot Mess
Alex Kinsey
Nick fica em silêncio e seus lábios se apertam em uma linha fina. Prendo a respiração e sinto meu corpo esfriar como se estivesse dentro de uma enorme banheira com gelo.
— Quero dizer que eu não te deixaria na mão... -continua visivelmente nervoso — droga, isso soou pior do que antes. -Esfrega o rosto com as mãos e minhas bochechas se esquentam provavelmente ficando vermelhas.
— Eu entendi o que quis dizer. -Sussurro torcendo a barra da minha camisa de linho preta.
Desde quando as coisas ficaram tão estranhas entre nós dois?
— Escuta Liv, eu não compreendo porque mesmo depois de ter te explicado o que aconteceu, você ainda continua achando que eu não ligo para você.
Meu coração dá um pulo dentro do meu peito e fecho os olhos ao mesmo tempo em que um sorriso amargo se forma no meu rosto.
— Durante quase quatro anos eu idealizei você como um babaca, um cara que só se importa consigo mesmo e principalmente que não está nem aí para... mim. -Confesso em um suspiro. — Não vou mentir, ainda não consigo refazer essa imagem que tenho de você. Só... me dê algum tempo, por favor.
Ficamos novamente em silêncio, cada um absorvendo o que acabou de acontecer. É como se nenhum dos dois soubesse como prosseguir a partir de agora.
Meu estômago se contorce e não sei se é a fome da pizza ou de outra coisa.
Para a minha sorte, a campainha toca minutos depois e Nick corre para abrir a porta.
Ele volta com uma caixa quadrada nas mãos e me levanto para ajudá-lo a colocar a mesa. O cheiro está maravilhoso e estamos tão famintos, que ela desaparece tão rápido quanto chegou entre uma conversa e outra.
Terminamos de comer e lavo meu prato na pia da cozinha mesmo depois de Nick ter insistido que não precisava fazê-lo.
— Está tarde, acho melhor ir embora. -Pego minha mochila e faço um último carinho em Bailey para me despedir. — Obrigada pela pizza.
— De nada. -Nick me acompanha até a porta e segura o meu queixo antes que eu dê mais um passo.
Fecho os olhos e puxo uma longa respiração pensando que ele vai me beijar novamente, mas em vez disso, ele solta uma risadinha e nega com a cabeça.
Me afasto envergonhada e seu braço cai pesado ao lado do seu corpo.
— Nos vemos amanhã, Liv.
Giro nos meus próprios pés e escapo dali antes que ele perceba como estava ansiosa pelo beijo que não aconteceu.
Estou quase chegando no andar de baixo, quando sou puxada delicadamente para trás e empurrada contra a parede em uma fração de segundos.
— Mas o que...
Não consigo terminar de falar porque os lábios de Nick estão colados nos meus. Ele prende meus braços por cima da minha cabeça e roça a boca na minha antes de tomá-la em um beijo tão quente como os outros que experimentei. Sua mão livre aperta a minha cintura e deixo escapar um gemido faminto sem me importar com o que ele vá pensar.
À essa altura não me preocupo mais com o meu orgulho. O único que desejo com todas as minhas forças, é que ele não pare.
Mas para a minha infelicidade, Nick se afasta depois de algum tempo e abaixa meus braços esfregando meus punhos com cuidado.
— Te espero às sete e meia em ponto. -Sussurra no meu ouvido e aceno com a cabeça antes de sair correndo novamente sem dizer nada.
É oficial: Olívia Cross está ferrada.
Finalmente o sábado chegou e recebi uma mensagem de Nick pedindo para ir até o estúdio ajudá-lo pois os clientes estão aparecendo como em um passe de mágica e ele não está dando conta.
Ao chegar, descubro que a maioria são homens e sou recebida com uma carranca no rosto do cara que não parou de atormentar meus sonhos por um minuto sequer.
Ele segura meu braço e me leva até o depósito sem dizer absolutamente nada.
Começo a pensar que ele ficou bravo porque me atrasei ou algo assim, mas quando estamos sozinhos, seu olhar se suaviza e ele acaricia meu rosto com intimidade.
— Aconteceu alguma coisa? -Suspiro ao sentir seus dedos apertando meu pescoço.
Pense em algo que não seja quente como o inferno, Liv, como... droga! Não consigo pensar em nada.
— Todos esses caras estão esperando por você. -Sua boca se aperta em uma linha fina e arregalo os olhos.
— C-como assim?
— Ao que tudo indica, alguém correu a voz de que eu tenho uma assistente gata e agora todos querem te ver.
Posso escutar seus dentes rangendo enquanto ele fala e só consigo pensar em como ele deve estar se sentindo pelo seu estúdio ter se transformando em um imã de testosterona por minha culpa.
— Ok, se eles querem me ver, pois bem, aqui estou. -Engulo em seco. — De todas formas, isso é quase como uma publicidade para você. -Sorrio sem jeito. — Vamos.
Puxo seu braço e o arrasto para fora contra a sua vontade.
Debby me lança um olhar desesperado ao mesmo tempo em que tenta anotar os nomes de cada cliente. Solto uma risadinha ficando com dó dela e faço um sinal de positivo com a mão para animá-la.
Ela respira fundo e volta ao trabalho para não perder o rumo.
Ajudo Nick a colocar todos os materiais necessários para cada tatuagem e até me ofereço para fazer algumas menores na outra sala, no entanto, ele recusa veementemente cada vez que reitero a oferta.
— Não vou te deixar sozinha com esses caras, Olívia. Pode esquecer. -Termina de lavar as mãos e se preparar para o próximo cliente.
— Por acaso está com medo de que eu possa ter mais clientes do que você, é? -Provoco com os braços cruzados e ele solta uma gargalhada sonora.
— Não, Liv. Acontece, que esses caras só te enxergam como um enorme pedaço de carne e não quero correr o risco de que eles cruzem alguma linha com você. Pelo menos estando aqui comigo, consigo te vigiar. -Revela e fico séria no mesmo instante.
— É sério isso, Nick? -Murmuro chateada deixando a sala com passos firmes.
Vou até a cozinha e sirvo um copo de água bem fria, engolindo tudo quase de uma vez.
Chacoalho a cabeça e amasso o copo de plástico depois de beber todo o seu conteúdo. Enfio o copo destruído com força na lixeira ao mesmo tempo em que resmungo palavras que nem eu mesma entendo.
Então Nick acha que sou apenas um pedaço de carne? Sabia que não devia baixar minha guarda para alguém que já tinha me minimizado antes.
Nem deveria ter vindo hoje, para começo de conversa.
— Você entendeu tudo errado, de novo. -Sino um arrepio no meu pescoço e percebo que é porque seus lábios estão tocando a minha pele, como sempre.
— Que eu saiba, um pedaço de carne não é capaz de entender nada. -Retruco.
Seus braços rodeiam minha cintura e me aproximam do seu corpo musculoso.
— Ok, talvez eu não tenha me expressado bem.
— Talvez? -Ofego.
— O que quis dizer, foi que eu não conheço nenhum desses caras, Olívia. E se algum deles quiser se aproveitar de você? -Agora ele está beijando minha nuca descaradamente. O babaca sabe muito bem o efeito que isso me causa.
— Eles que tentem. Não treinei defesa pessoal minha vida toda para nada. -Engasgo ao sentir seus dedos apertando levemente minha barriga por cima do tecido da blusa folgada.
— Eu sei disso, mas não posso te colocar nessa situação. Por favor, não pense que estou te comparando com nada. -Pede preocupado. — Eu não percebi que essa frase foi uma maneira infeliz de dizer que estou preocupado com a sua segurança. -Revela depois de alguns minutos.
— Se é o que está dizendo... -Arfo apoiando a cabeça no seu ombro dando mais acesso para que ele continue beijando o meu pescoço.
Que se foda o autocontrole.
Levanto meus braços e mergulho meus dedos nos seus cabelos sedosos me maravilhando com a suavidade dos fios castanhos. Suas mãos percorrem todo o meu corpo com atrevimento e solto um gemido baixinho quando ele desliza uma delas pela minha cintura, os dedos brincando com o cós da minha calça jeans.
Estou a ponto de implorar que ele acabe logo com essa tortura, quando batidinhas na porta chamam a minha atenção e me afasto de Nick na velocidade da luz com o coração quase pulando para fora da garganta.
— Já vamos. -Ele diz se recompondo e sirvo outro copo de água fria para tentar apagar esse fogo que ameaça queimar meu corpo por completo.
Saímos lado a lado da cozinha e Debby nos observa com um olhar astuto.
— Não diga nada. -Resmungo sentindo minhas bochechas ficando vermelhas rapidamente.
— Mas eu nem abri a boca.
Ela se afasta com um sorrisinho no rosto e passo a mão na minha blusa para tirar qualquer amassado que possa ter surgido depois da minha pequena sessão de amassos com Nick.
Volto para a sala e encontro meu mentor sentado e já trabalhando como se nada tivesse acontecido.
Maldito.
Me sento na cadeira do outro lado do cliente e imediatamente ele começa a conversar comigo como se apenas eu estivéssemos ali.
O que está acontecendo com esses caras hoje?
A manhã vai se arrastando minuto por minuto e depois do almoço, parece que em vez de refrescar, o clima fica ainda mais quente. Ótimo.
Pouco a pouco, cada cara faz sua tatuagem e deixa o estúdio com um enorme sorriso no rosto.
Por mais que eles estejam aqui para ver a assistente de Nick, todos sabem que ele é foda e ficam extremamente satisfeitos com o resultado do seu trabalho de anos.
Debby parece uma criança perdida com cada um que chega pedindo por uma tatuagem. Estou quase segura de que ela nunca teve que lidar com tanta gente ao mesmo tempo e fico com pena pela garota.
— Que horas você pretende fechar hoje? -Indago depois de limpar o estúdio pela milésima vez.
— Só vou atender mais um cliente para darmos o expediente por encerrado. -Nick solta um suspiro cansado.
Estamos exaustos depois de atender uma dúzia de machos com os hormônios à flor da pele. Nem preciso dizer que Nick várias vezes só faltou fuzilar algum ou outro babaca com o olhar. Ele tinha razão sobre não me deixar sozinha com esses caras, no final das contas.
Por que alguns homens têm que ser tão desagradáveis quando se trata de uma mulher?
De todas formas, se pretendo ser uma tatuadora profissional, precisarei aprender a lidar com esse tipo de situações. Nem sempre terei Nick ou qualquer outra pessoa para me proteger.
Depois de quase o dia todo trabalhando sem parar, finalmente temos um pequeno descanso e aproveito para repor minha dose diária de cafeína.
Sirvo café em três xícaras e entrego uma para Debby e outra para o tatuador mal humorado ao meu lado e sorvo o líquido fumegante da terceira nas minhas mãos.
O telefone do estúdio toca e a secretária corre para atender.
Ela anota algumas coisas em uma caderneta e morde a tampinha da caneta enquanto escuta quem está do outro lado da linha por vários minutos.
Seus olhos estão presos em um ponto específico da sala de espera e no momento em que ela encerra a ligação, um suspiro pesado escorrega pelos lábios pintados com o típico batom vermelho sangue.
— Bom, temos um cliente que pediu por favor para que o esperemos que em dez minutos ele vai chegar. -Explica e balanço a cabeça ao mesmo tempo que Nick.
Termino meu café e me prontifico a arrumar a sala para receber o último cliente do dia.
Hoje veio tanta gente que quase ficamos sem agulhas descartáveis. Faço uma nota mental para lembrar de anotá-las na lista de compras de materiais, caso contrário, meu chefe vai ficar sem ter como trabalhar.
Passo álcool onde o cliente vai se sentar e ajeito tudo na pequena mesinha localizada ao lado de onde Nick costuma se sentar
Ele entra minutos depois e praticamente se joga na cadeira massageando as têmporas com as mãos.
— Não vejo a hora de ir embora. -Resmunga para si mesmo e sou obrigada a concordar.
Por mais que esteja amando a experiência, estou acabada.
— Tomara que quem venha não queira nada muito complexo.
Seus olhos se apertam e ele concorda com a cabeça.
Me sento na cadeira à espera do tal cliente e jogo Candy Crush no celular enquanto ele não chega.
Devem passar mais de vinte minutos até que a porta finalmente se abre e um cara loiro e com vários piercings no rosto entra na sala com uma expressão entediada que reconheço muito bem.
— Merda. -Sussurro para mim mesma.
Erick abre um enorme sorriso e seus olhos se iluminam ao me reconhecer.
Nick observa tudo desconfiado e rezo internamente para que o barman não diga nada, apesar de que para todos os efeitos, não devo nenhuma explicação para meu mentor.
— Mas vejam só quem temos aqui. -Erick exclama com seu sotaque enrolado que agora soa bem mais ridículo do que quando estava bêbada.
Ele se deita na cadeira sem deixar de me olhar um segundo sequer e por mim, poderia abrir um buraco aqui mesmo no chão para que pudesse pular dentro e fugir dessa situação no mínimo incômoda.
— Você não me passou o seu número de telefone no outro dia... -Ele sussurra como se estivéssemos sozinhos e engulo em seco sem saber que diabos responder.
Sinto minhas bochechas queimando de vergonha e arregalo os olhos tentando encontrar as palavras que para o meu azar, resolveram fugir da minha mente logo agora.
— Hum, o que vai querer para hoje, amigo? -Nick rosna de repente e Erick quebra o contato visual comigo.
Graças aos céus.
— Oh, certo. -O loiro reflete por alguns minutos como se tivesse esquecido para que veio em primeiro lugar. — Quero esse desenho aqui. -Ele mostra uma foto no celular e Nick acena com a cabeça.
Ele sugere algumas melhorias no desenho original e Erick concorda com tudo sem duvidar. Uma vez que ambos estão de acordo, imprimo o decalque e passo o transfer na sua pele ainda em silêncio.
Erick não para de me encarar e preciso de um autocontrole enorme para não mandá-lo parar de fazer isso e piorar ainda mais a situação. Não posso tratá-lo mal, afinal de contas ele é um cliente de Nick no momento.
Mas isso não me impede de fazer cara feia cada vez que ele me olha com aquele sorriso torto. Por sorte, o desenho que ele escolheu era algo bem simples, uma cruz preta com uma rosa atravessada, e Nick faz um trabalho impecável como sempre.
Ele passa o creme antisséptico e envolve o braço de Erick com o papel filme. Explico as instruções sobre o cuidado e o loiro escuta tudo atento.
Ok, isso está ficando desconfortável.
— Isso é tudo, obrigado pela preferência. -Nick diz sério ao mesmo tempo em que retira as luvas e as joga na lixeira ao seu lado.
— Ficou ótimo, cara! Com certeza vou voltar para fazer outra. -Ele diz a última frase sem desviar o olhar do meu e sinto um arrepio percorrer minha coluna.
— Que bom que gostou da tatuagem. Agora, se nos der licença, preciso fechar o estúdio. -Arregalo os olhos ao sentir a rispidez na voz de Nick.
O que deu nele?
Erick se despede com um aceno e espero que ele desapareça por completo para me jogar na cadeira com o coração batendo acelerado.
De todos os estúdios da cidade, esse cara tinha que vir aqui. E ainda por cima, em um momento em que eu estou.
Nick limpa tudo em um silêncio inusual. Seus olhos não encontram os meus em nenhum momento e não preciso dizer o quão confundida eu fico com essa atitude.
Ao terminar tudo, ele sai da sala sem dizer nada e sem perceber, sigo-o até a cozinha.
— Pode ir embora, Olívia. Eu me encarrego de fechar tudo. -Escuto sua voz antes mesmo de entrar.
— Ok, primeiro de tudo, por que está assim? -Pergunto para as suas costas.
— Assim como?
— Estranho. Quero dizer, mais do que o normal. -Brinco, mas ele não reage. Seus dedos apertam a pia e franzo o cenho.
— Só estou cansado. -Desconversa e aceno com a cabeça.
— Tudo bem. -Sussurro. — Estou indo embora, então. -Aviso, no entanto, não dou um passo sequer.
Tento juntar as peças na minha mente e chego à conclusão de que Nick ficou assim depois de que Erick chegou.
De repente é como se um quebra-cabeças se formasse bem ali diante dos meus olhos.
— Espera um momento... você por acaso está com ciúmes de mim? -Me aproximo do seu corpo e coloco a mão no seu ombro obrigando-o a se virar.
— O quê? Claro que não.
— Tem certeza? -Seguro seu queixo da mesma maneira que ele faz comigo e ele desliza a língua pelos lábios antes de falar qualquer coisa.
— Absoluta. -Afirma resoluto.
— É mesmo? Porque eu ainda não estou convencida. -Diminuo a distância entre minha boca e a sua e ele sorri cínico.
Suas mãos apertam meus punhos e me puxam até que estamos com os lábios praticamente colados um no outro.
— Bom, isso é um problema seu. -Diz baixinho no meu ouvido e enquanto tento assimilar o que acabou de acontecer, ele me tira do seu caminho e deixa a cozinha com passos decididos.
Idiota.
Demoro alguns minutos para me recompor e deixo a cozinha com uma carranca no rosto.
— Até segunda, Debby! -Me despeço da secretária e saio do estúdio sem falar com Nick.
Se ele quiser brincar comigo dessa maneira, vai descobrir que nesse jogo, eu sou uma maldita especialista.
NOTA DO AUTOR
Como prometido, aqui está o capítulo em comemoração aos
5k de vews!
Obrigada a cada um de vocês pela leitura, sem vcs eu não seria nada!
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentar,
Amo vcs🥰
Bjinhossss BF 🖤🖤🖤
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