04 - Brincando com fogo

"Insano, estar dentro do perigo me deixa chapado
Não posso me ajudar a ter segredos que eu não posso dizer
Eu adoro o cheiro da gasolina

Eu acendi o fósforo para provar o calor
Sempre gostei de brincar com fogo"

-Play With Fire
Sam Tinnesz

Tomo um banho rápido e visto uma roupa limpa para voltar ao trabalho. Durante todo o tempo em que estive debaixo do chuveiro, não pude parar de pensar na loucura que está sendo esse dia.

Desde o pedido do meu amigo, até a aparição da Bárbara. Também tem o fato de que Olívia está na minha sala depois de todos esses anos, e não da forma que eu gostaria.

Vê-la novamente assim tão de perto, fez com que uma velha ferida fosse aberta dentro de mim e me sinto como se tivesse voltado no tempo para uma época em que eu sentia uma atração pela garota marrenta e mal humorada. Faziam meses que não nos víamos e embora eu e seu irmão sejamos melhores amigos, quase nunca nos encontramos, a não ser quando eu ia na sua casa e mesmo nesses momentos, ela preferia ficar trancada dentro do seu quarto.

Para ser sincero, não sei o motivo de toda essa raiva comigo e se tratando de Olívia Cross, jamais vou descobrir.

Porque se tem uma pessoa teimosa e com um orgulho gigantesco nessa terra, é ela.

Isso me estressa de uma forma que não consigo nem chegar a descrever. Não estava preparado para esse reencontro e ter que lidar com as investidas de Bárbara e com Liv ao mesmo tempo vai ser um desafio para mim. Sem esquecer, é claro, do meu pai.

Em que momento minha vida ficou tão complicada?

Chacoalho a cabeça enquanto escovo os dentes e sorrio para o meu reflexo no espelho ao lembrar de como Olívia praticamente expulsou minha ex-namorada sem nem vacilar, algo que eu deveria ter feito há tempos.

Quando termino de me arrumar, pego meu celular esquecido na mesinha de cabeceira, chaves e carteira antes de voltar para a sala pensando em como farei para não enlouquecer até o final do dia.

De todas as coisas que poderia encontrar, não estava preparado para a cena que vejo bem diante dos meus olhos.

Olívia está dormindo no sofá juntamente com Bailey que chega a roncar alto ao lado da garota que a abraça apertado como se minha cachorra fosse um ursinho de pelúcia.

Fico alguns minutos observando tudo sem acreditar que isso realmente está acontecendo e decido tirar uma foto para provar que de fato não estou tendo algum tipo de alucinação. Guardo o aparelho no meu bolso antes de parecer um tarado e me aproximo com cuidado do sofá.

Bailey sente minha presença imediatamente e suas orelhas ficam em pé, a enorme boca se abre no que parece muito a um sorriso e nego com a cabeça.

— Não acredito que está me traindo desse jeito... — Sussurro e ela se esconde atrás das patas como se tivesse entendido cada palavra. — Agora, vá para a sua cama que preciso acordar a outra fera. — Continuo acariciando seu focinho e atrás das suas orelhas.

Bailey me obedece rapidamente e uma vez que ela está longe o suficiente, dou um chute de leve nos pés de Olívia que resmunga algo e se vira ficando de costas para mim, me dando a bela visão da sua bunda empinada coberta por uma calça justa.

Droga.

— Acorda, Olívia! Precisamos voltar ao trabalho. — Digo em um tom mais elevado, mas mesmo assim, não funciona.

Me abaixo ficando na sua altura e arrasto a ponta dos dedos pela sua bochecha, retirando alguns fios de cabelo da pele suada por conta do calor.

Deveria ter ligado o ar condicionado...

Não paro de tocá-la, como se estivesse hipnotizado pela suavidade da sua pele. As pupilas dos seus olhos se movem por baixo das pálpebras, como se ela estivesse sonhando e de repente me sinto curioso para saber o que domina seu subconsciente.

Devo passar pelo menos uns dois minutos observando-a dormir, quando seus olhos se abrem de supetão e uma expressão confundida pinta seu rosto.

— O que diabos está fazendo? -Pergunta com a voz ainda áspera de sono se sentando rápido e me afasto em um pulo.

— Mas que droga, garota, me assustou!

— Eu te assustei? Você é quem estava literalmente em cima de mim! -Seus dedos penteiam os cabelos embaraçados pelo cochilo e sorrio sem querer ao imaginar que assim é como ela deve se parecer depois de uma boa rodada de sexo.

Bom, acho que esse é o meu sinal para começar a sair e procurar alguém para acalmar esse meu tesão.

— Só queria te acordar, já que aparentemente, você dorme como uma pedra. -Suspiro.

Caminho até a cozinha e sirvo um copo de água fria para tentar apagar esse fogo dentro de mim. Bailey me acompanha segundos depois para comer uma boa quantidade de ração.

Isso é tudo culpa sua! -Censuro baixinho, apontando para a cadela. Ela continua comendo, claramente sem se importar com a acusação.

Respiro fundo antes de caminhar de volta para a sala e franzo o cenho ao não encontrar Olívia em lugar nenhum.

Será que ela foi embora?

Uma pequena parte de mim fica desapontado com a ideia e tento entender o que isso significa, até que solto a respiração ao vê-la sair do banheiro com uma carranca no rosto.

— Ok, vamos fingir que isso — ela faz um sinal com os braços sinalizando o sofá — não aconteceu.

Balanço a cabeça para cima e para baixo e Olívia faz o mesmo.

Antes de sair, reviso que tudo esteja desligado ou fechado para trancar a porta e voltar para o estúdio.

Descemos as escadas em silêncio e entramos no Bad Blood como dois desconhecidos.

Curiosamente, Olívia não diz nada pelo resto do dia. Ela me observa calada enquanto tatuo os clientes que aparecem e seus olhos estão atentos a cada movimento das minhas mãos embora não se atreva a me olhar no rosto, possivelmente envergonhada por mais cedo.

Depois de quase duas horas de trabalho seguidas, aproveito os dez minutos de descanso para ligar para um chaveiro. Não quero arriscar mais e ter Barbara invadindo meu apartamento enquanto estiver dormindo. Sinceramente, não faço ideia do que essa garota é capaz, e depois de hoje, fiquei ainda mais desconfiado.

Cometi um erro terrível em lhe entregar uma cópia da minha chave e mesmo ela tendo devolvido quando Olívia pediu, isso não garante que ela não tenha feito mais cópias.

Essa garota está ficando cada vez mais obcecada com a nossa relação, ou melhor, com a que tivemos e agora não existe mais.

Tenho quase certeza de que na sua cabeça, ela está pensando que vamos voltar, ou que ainda guardo algum sentimento por ela, sendo que todo o carinho que alguma vez existiu entre nós dois se desintegrou no instante em que a vi com a língua de outro cara na sua garganta.

E o mais engraçado, é que mesmo tendo sido pega, Bárbara tentou me convencer de que tudo o que vi não passava de frutos da minha imaginação.

Como se eu fosse um maldito idiota.

— Nick, se não se importar eu... preciso ir embora. -A voz de Olívia chama a minha atenção e giro a cabeça encontrando seus olhos cansados me analisando.

Esfrego a bochecha com ambas mãos antes de responder.

— Tudo bem. Te espero amanhã no mesmo horário e não se atrase.

Seus olhos giram dentro das órbitas e ela aperta seus lábios em uma linha fina.

— Pode deixar, chefe. -Diz em tom provocativo e sorrio com incredulidade.

— Na verdade, acho que seria melhor se você vier mais cedo, assim aprende como preparar tudo para a jornada. -Cruzo os braços encostando na cadeira.

Olívia resmunga algo para si mesma, mas ao contrário do que pensei, ela concorda com um sinal positivo e sai da sala me deixando sozinho.

Sei que estou sendo um carrasco com ela, é só que simplesmente não consigo me controlar. Durante pelo menos uns quatro anos eu fui tratado muito pior por morena coberta por tatuagens e não podem me julgar por usar essa chance para me vingar nem que seja um pouquinho.

Para todos os efeitos, foi ela mesma quem concordou com tudo isso, então terá que me aguentar.

O chaveiro chega minutos antes de fechar o estúdio, então depois de ajudar Debby a arrumar tudo, libero-a e acompanho o senhor de meia idade para explicar quais são as portas que ele precisa trabalhar.

Assim como o solicitado, ele trouxe duas fechaduras com chaves novinhas em folha e de formas bem singulares, o que dificulta bastante em tirar cópias.

Cada fechadura vem com três exemplares, então separo uma chave para Jhonny, outra para minha mãe e coloco a sobrante no meu chaveiro pessoal.

Como moro sozinho, me sinto mais tranquilo em saber que se chego a passar mal ou preciso de ajuda, existem duas pessoas que podem me socorrer.

— Obrigado, cara. -Pago o homem pelos seus serviços e ele vai embora feliz com a grana do dia.

Testo algumas vezes a chave para ver se funciona tudo corretamente e depois de me sentir satisfeito, entro no apartamento sendo recebido com um bocejo preguiçoso por Bailey. Me aproximo para fazer um carinho na sua orelha.

— Pobrezinha, ficou o dia inteiro trancada... o que acha de darmos uma volta? -Ao escutar sua palavra predileta, seus olhos brilham com a ideia de passear e coloco sua correia antes de sairmos.

Tranco tudo e desço as escadas sendo praticamente arrastado pela pitbull ansiosa.

Cruzo a avenida e vou até o parque onde costumo levá-la para se distrair.

Embora Bailey seja super preguiçosa e na maioria das vezes prefere ficar dormindo do que caminhar, não acho certo deixá-la sozinha o tempo inteiro. Em algumas ocasiões me sinto culpado por me dedicar tanto ao trabalho ao ponto de não ter tempo para minha cadela, no entanto, se não abro o estúdio, não pago minhas contas. Simples assim.

Me sento em um banco e faço um sinal para que ela se deite ao meu lado.

Não a solto e muito menos a perco de vista para evitar qualquer situação desagradável. Bailey é muito carinhosa e ama receber carícias, o problema é que ela não permite que qualquer um faça isso e tenho medo de que ela avance em alguma pessoa por achar que se trata de uma ameaça.

Os pitbulls são tranquilos, mas ao mesmo tempo, são bastante protetores e territoriais e tudo isso somado ao preconceito que as pessoas têm com essa raça, é motivo suficiente para não deixá-la que corra livre por aí.

A cada dez minutos me levanto e dou uma volta para que ela possa fazer suas necessidades e se exercitar um pouco.

Repito esse processo por pelo menos meia hora, até que decido retornar para casa.

Hoje foi um dia estranhamente cansativo e tudo o que quero é tomar um longo banho, deitar na minha cama e dormir até o outro dia.

No caminho de volta, ligo para um conhecido que vende peles artificiais para treinamento e lhe peço para me entregar alguns pacotes no estúdio.

Sei que Olívia está morrendo de vontade de treinar em uma pessoa real, porém como disse a ela, não vou arriscar o meu nome e a minha licença até que sinta que ela está preparada para isso.

Espero que Pedro confirme o pedido e coloco o celular no bolso da calça para poder abrir a porta que dá acesso à minha escada.

Uma das poucas coisas que aceitei do idiota do Stefan, foi esse pequeno edifício que iria ser demolido para dar lugar a uma loja de cosméticos ou algo assim.

Ele me ofereceu como parte do pagamento pela pensão e como já tinha planejado abrir o estúdio, achei que seria um bom negócio.

Levei quase três anos para deixá-lo do jeito que eu queria enquanto treinava, descobria o meu estilo e me especializava nele, e por estar localizado em uma zona bem cêntrica, rodeado de bares, pubs e boates, tenho um fluxo de clientes constante, além daqueles fiéis que vêm até de outras cidades para fazer comigo porque gostaram do meu trabalho.

Eu gostaria de ter tirado uma foto da cara do meu pai quando ele descobriu o uso que eu daria para o seu presente. Faria questão de emoldurá-la e pendurar na entrada do estúdio.

O resto da pensão que recebi durante toda a minha adolescência, estão guardados em uma conta que não olho o saldo há pelo menos uns dois anos.

Não quero usar esse dinheiro comigo. Sinto que é algo sujo, produto de um trabalho que não foi meu e não me sinto confortável em gastá-lo. Cogitei vários destinos para toda essa grana, no entanto, também não tenho coragem de torrar tudo, porque penso principalmente na minha mãe e na possibilidade de alguma emergência surgir e ela precisar mais disso do que eu.

De todas formas, vivo confortavelmente com o que ganho no estúdio e não vejo necessidade de recorrer à poupança.

Depois de entrar em casa, libero Bailey da correia e vou direto para o banheiro. Retiro toda a minha roupa enquanto a água esquenta e uma vez que estou pelado, me posiciono debaixo do jato morno que relaxa pouco a pouco meus músculos tensionados.

Imagens de Olívia dormindo pacificamente no meu sofá invadem minha mente e suspiro resignado apoiando ambas mãos no azulejo frio para evitar fazer qualquer besteira como me tocar pensando na irmã do meu melhor amigo.

Essa garota ainda vai me deixar maluco. 

NOTA DO AUTOR

Sextou? Sextouuuuuuuu!!!
Vocês pediram e eu postei mais cedo
pq não resisto esses
olhinhos de cachorro pidão 
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
O que acharam do Nick todo nenenzinho? Não 
se acostumem, pq já já esses 2 vão estar trocando 

farpas! 

Não se esqueçam de votar e comentar!
Nos vemos segunda feira.

Amo vcs, 😍
Bjinhosssss BF 🖤🖤🖤

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top