03 - Uma nova experiência

"É um sinal humano
Quando as coisas dão errado
Quando o cheiro dela perdura
E a tentação é forte

Coração gelado, gelado
Endurecido por você
Algumas coisas parecem
melhores, amor"

-Cold Heart 
Elton John ft Dua Lipa

Não consigo nem chegar a descrever o sentimento que me invade ao saber que vou ver Nick em ação.

Nunca, em hipótese alguma, eu vou admitir isso em voz alta, mas eu o admiro pra caramba.

Sempre vejo fotos das suas artes e até mesmo os inúmeros desenhos que ele fez no meu pai e no meu irmão. Ele tem um talento indescritível, só que por todo esse atrito que temos, eu evito comentar ou curtir suas fotos nas redes sociais para não parecer uma stalker.

Um sorriso verdadeiro se forma no meu rosto enquanto vou até a caixa com luvas e retiro dois pares.

Entrego um para Nick e coloco o outro nas minhas mãos.

Ele observa tudo desconfiado e solto uma risadinha.

— Não precisa se preocupar, cara. Só estou colocando luvas para no caso de você me pedir para pegar algo, eu estar preparada. -Explico e ele balança a cabeça em compreensão.

— Muito bem, obrigado. -Sussurra se sentando na sua cadeira.

— De nada. -Dou de ombros.

Vou até a outra sala e pego a cadeira emprestada para não ter que ficar de pé.

Quando volto, dou de cara com um homem barbudo com uma enorme barriga coberta por uma blusa apertada e um colete de couro por cima. Ele parece pertencer a um MotoClube e me analisa de cima para baixo antes de se deitar na cadeira para os clientes.

— Pensei que sua secretária fosse mais... loira, Nick. - O barbudo diz de repente e levanto uma sobrancelha.

— Ela não é minha secretária, apenas está em treinamento e vai nos acompanhar hoje, se não tiver nenhum problema, é claro.

— Oh, nesse caso está tudo bem. Me chamo Billy, por certo. -Estende a mão em um cumprimento e devolvo o gesto.

— Olívia, e obrigada por me deixar assistir.

— É todo um prazer, querida. -Sorri.

— Ok, chega de conversa fiada, vamos começar. -Nick resmunga depois de colocar uma agulha de pintura esterilizada na biqueira. Ele também veste uma máscara cirúrgica e evito pensar em como o cara fica sexy com esse indumento.

Desvio o olhar para a tatuagem sem terminar e examino cada linha.

Como os traços e alguns detalhes menores já foram feitos, agora só falta preencher o desenho para terminá-lo.

Nick se senta do lado direito já que esse será o braço tatuado, e eu ocupo o lado esquerdo, atenta a cada movimento que ele faz.

Assim que a máquina é ligada, o barulhinho do motor preenche a pequena sala, se sincronizando com os meus batimentos cardíacos acelerados.

A partir do momento em que Nick começa a trabalhar, ele muda completamente de postura assumindo a de um profissional, como era de se esperar. Seus traços são perfeitos e seu controle do punho é... surpreendente.

Os dois conversam normalmente e eu só consigo fixar minha mirada na tatuagem ganhando vida e forma bem ali diante dos meus olhos. É como se estivesse hipnotizada pela agulha que desliza com suavidade na pele de Billy pintando-a ao mesmo tempo em que algumas gotículas de sangue aparecem por conta das perfurações.

Entrego um pedaço de papel toalha para Nick e ele limpa o sangue antes de continuar.

— Então quer dizer que agora você tem uma estudante a cargo? -A pergunta chama a minha atenção e desvio o olhar do seu braço para encontrar seu rosto rechonchudo sorrindo de volta para mim.

Billy parece um Papai Noel roqueiro e motociclista.

— Ao que tudo indica, sim. -A resposta deixa os lábios de Nick antes mesmo que ele possa se controlar e nego com a cabeça.

— Estou bem aqui, sabiam? -Murmuro e os dois me lançam um olhar engraçado ao mesmo tempo.

— É claro que sabemos! Uma garota tão bonita como você jamais passa despercebido, não é mesmo, Nick? -Billy afirma apontando com o queixo para o seu tatuador que só responde com um grunhido estranho.

— Gostei de você, Billy. -Sorrio abertamente e ele faz um sinal positivo com os dedos.

Nick nega com a cabeça, no entanto, não diz nada.

Ele continua a fazer o seu trabalho pela próxima hora e meia e engato em uma conversa animada com meu mais novo amigo.

Billy me conta que essa tatuagem que está fazendo é uma homenagem à sua falecida esposa.

Ele está desenhando uma flor muito especial em quase todo o braço.

Um ramo de lavandas que começa no cotovelo e termina quase chegando no ombro.

Segundo Billy, sua esposa amava o cheiro da lavanda e dias antes de perdê-la para o câncer, ele a levou em um campo para que ela conhecesse a flor e ela ficou apaixonada, já que não sabia como era a forma nem de que cor eram.

Seus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar do seu amor e seguro sua mão livre em uma forma de apoio.

— Minha Maggie foi alguém muito especial...

— Tenho certeza disso, Billy. -Sorrio carinhosamente e lhe passo um pedaço de papel toalha para que ele seque os olhos.

Confesso que quase choro junto, mas como Nick disse, preciso manter o profissionalismo.

Mudo de assunto para não ficarmos mais nesse clima triste e sem perceber, começo a contar todos os meus sonhos para um cara que literalmente acabei de conhecer.

De soslaio percebo que Nick embora esteja concentrado, também está atento à minha conversa.

— Estou torcendo por você, querida. -O barbudo diz com um enorme sorriso no rosto.

— Oh, obrigada Billy, você é um fofo, sabia?

Quase solto uma gargalhada ao ver como suas bochechas ficam vermelhas com o elogio.

Nick não resiste e solta uma risadinha ao notar o mesmo.

Outros vinte minutos se passam, e finalmente o trabalho está terminado.

Nick passa a espuma de limpeza na tatuagem recém finalizada e caminho até o seu lado para ver de perto sua obra.

— Uau! Ficou... perfeita. -Sussurro bem perto do rosto do tatuador.

— Obrigado. -A resposta deixa bem claro que disse em voz alta em vez de pensar.

— Ficou ótima, Nick. Como sempre, um trabalho impecável. -Billy diz ao perceber o silêncio estranho na sala.

— Fico feliz que tenha gostado, Billy. Não se esqueça dos cuidados, ok? -Nick entrega um folheto com todo o procedimento para manter limpa a tatuagem, que produtos usar para não infeccionar etc.

Ajudo a passar o papel filme por todo o braço tatuado e uma vez que terminamos, mais um cliente satisfeito é despachado.

Aprendo como retirar a agulha da biqueira com cuidado para não me machucar, depois Nick me ensina a desinfetar corretamente a cadeira com álcool, entre outras coisas.

Ele coloca tudo o que foi utilizado na máquina de ultrassom enquanto eu jogo os papéis sujos de sangue, luvas e tudo o que pode ser descartado em um pequeno depósito que logo será levado para o descarte específico.

Já está quase na hora do almoço e meu estômago ronca em um reclamo.

Droga.

Estou morrendo de fome, mas acabamos atendendo mais uma cliente antes de fechar.

Por sorte, a tatuagem da vez é bem pequena, pelo que não levará mais do que meia hora.

A mulher escolhe uma flor de lótus que será tatuada no punho.

Hoje é o dia das flores, pelo visto.

Nick imprime o desenho em um papel para decalque e depois de molhá-lo, pressiona contra a pele alva da cliente.

Ela está visivelmente nervosa, já que será sua primeira tattoo, então tento distraí-la conversando sobre qualquer coisa.

Por incrível que pareça, minha estratégia funciona e acabo descobrindo que ela estuda na mesma faculdade que eu. Na verdade, ela se mudou há poucos dias para a cidade por conta de problemas pessoais.

Por isso a flor de lótus. Segundo a mitologia, ela é associada com as pessoas que querem eliminar toda a negatividade do seu passado, deixar as coisas ruins para trás e começar uma vida nova, conhecer pessoas novas e construir novas experiências.

— Espero que esteja tudo bem... -Depois de escutar toda a sua história, é inevitável não ficar com um pouco de pena da garota de cabelos castanhos.

— Não precisa se preocupar, como disse, tudo de mal ficou para trás. Mas obrigada mesmo assim. -Ela se certifica com a voz suave.

Balanço a cabeça bem a tempo de Nick avisar que está terminado.

— Caramba! Nem percebi. Valeu por me distrair, Olívia. -Seus olhos recaem no seu pulso e ficam arregalados ao vê-lo quase todo preenchido pelo desenho impecável.

Mais uma vez, Nick explica os cuidados e depois de despachá-la, repetimos todo o procedimento de limpeza até que o relógio marca meio dia em ponto e Debby avisa que está indo almoçar.

Caminhamos lado a lado até a porta e lembro de um detalhe muito importante: não posso voltar para casa agora.

Para todos os efeitos, só saio da faculdade às três da tarde.

— Hã, Nick, será que posso ficar no seu estúdio até dar a hora de abrir? -Peço baixinho. — Prometo que não vou mexer em nada. -Pela sua cara, sei o que ele vai responder antes mesmo dele abrir a boca.

Não. -Diz seco e solto uma respiração pesada.

— Que seja, de todas formas nem queria ficar mesmo... -Resmungo contrariada.

Pego minha chave na bolsa e começo a ir na direção do meu carro, contudo, sou impedida pelos seus dedos que seguram meu braço com delicadeza.

— Onde está indo?

— Vou ficar no meu carro... meus pais acham que estou na faculdade, não posso ir embora até mais tarde. -Quando explico meu plano em voz alta, ele parece ainda mais ridículo do que na minha cabeça.

Porém infelizmente não tenho outra saída.

Nick não diz nada por alguns segundos, tampouco solta o meu braço, o que me deixa bastante curiosa e confundida.

— Sei que vou me arrepender disso, mas venha comigo. -Solta de supetão me puxando levemente e agora sim não entendo absolutamente nada.

— Ok, para começar, para onde está me levando? -Embora esteja em dúvida, não paro de caminhar.

— Pode ficar tranquila, não vou te sequestrar. Estamos indo ao meu apartamento. Fica aqui mesmo, em cima do estúdio. Lembra? -Explica simplista.

— Oh... -Para ser sincera, eu não lembrava desse detalhe.

Não dizemos mais nada e me dedico apenas a acompanhá-lo pela escada até o segundo andar.

Solto uma risadinha ao ver um enorme vaso com uma planta na sua porta.

Então ele ainda gosta de plantinhas.

Ele coloca a chave na fechadura e abre a porta, sinalizando com a mão para que entre.

— Obrigada. -Murmuro algo tímida.

Sua resposta vem em forma de um balançar de cabeça e percorro sua sala indo direto até o enorme sofá.

Preciso me deitar, nem que seja por alguns minutos. Embora não tenha feito quase nada, me sinto extremamente cansada.

Me aproximo ao sofá distraída, quando um bicho gigante vem ao meu encontro lentamente, como se estivesse desconfiado.

— Caramba, não sabia que você tinha um cachorro! -Digo animada estendendo a mão para que o animal sinta meu cheiro.

— Merda! Esqueci de Bailey! Não se aproxime, ela é temperamental com quem não... -Nick adverte nervoso vindo quase correndo ao meu encontro — conhece... -Seus olhos se arregalam ao ver que Bailey não está nem um pouco incomodada com minha presença. Muito pelo contrário, ela até se deita em um sinal claro para que faça carinho na sua barriga.

— Então você é uma garotinha! -Digo com a típica voz que uso para conversar com bichinhos. — Tão linda, meu Deus! Olha essas orelhinhas, e essa pança gorda! -Brinco com a cachorra por um tempo.

— Hum... fique à vontade, irei preparar algo para almoçar. -Nick diz atrás de mim e sorrio distraída com a pitbull extremamente carinhosa.

Quando me canso, vou até o sofá e me jogo de qualquer jeito.

Bailey vai até o dono que faz um carinho na sua cabeça e depois desaparece pelo corredor. Nick cozinha em silêncio e meu estômago ronca ainda mais ao sentir o cheiro de comida.

Preciso pensar em como vou fazer para almoçar a partir de agora. Antes eu comia na faculdade mesmo, só que como não estou mais indo, preciso de uma solução urgente para esse inconveniente.

Meus olhos começam a pesar de sono e estou quase dormindo quando um ursinho aparece no meu campo de visão.

— Oh meu Deus, o que é isso? -Bailey está parada bem na minha frente segurando um brinquedo entre os dentes. — De quem é esse ursinho? É seu? -Pergunto e ela o deixa cair nas minhas mãos antes de desaparecer novamente. Minutos depois, a cadela volta com outro brinquedo e de repente sou invadida por uma enxurrada de ursinhos de pelúcia de várias cores e formas.

— Caramba, você tem muitos brinquedos! -Coço sua orelha e juro que posso vê-la sorrindo para mim.

— Pelo visto, Bailey gostou bastante de você. -Nick aparece do nada com um enorme prato de lasanha nas mãos. — Aqui, espero que goste.

Não poderia estar mais surpreendida.

— Não acredito que preparou uma lasanha em, o quê, vinte minutos?! -Exclamo e pela primeira vez desde que o vi hoje, ele sorri genuinamente.

— É óbvio que não, Olívia. Eu preparo tudo de noite e deixo congelado apenas para esquentar no outro dia. Não tenho tempo para cozinhar e não sou muito fã de comida de fora. -Explica dando de ombros.

— Ah... nesse caso, obrigada. -Corto um pedaço da massa que parece estar muito gostosa e antes de levá-la até a boca, algo me vem à mente. — Espera, vai comer o quê? -Indago com o garfo no meio do caminho.

— O mesmo que você. -Nick dá de ombros.

Ele vai até a cozinha e volta com outro prato com um pedaço de lasanha tão bem servido quanto o meu.

Comemos em silêncio e estou quase pedindo que ele me sirva mais.

Está delicioso.

— Não sabia que podia cozinhar tão bem... sempre pensei que você fosse mimado pela Emile. -Brinco depois de finalizar meu prato.

Coloco-o na mesa de centro sob o olhar atento do cara na minha frente.

— É engraçado como você nunca perde tempo em assumir coisas sobre mim, Olívia. -Resmunga misterioso e franzo o cenho confundida.

— O que quer dizer com isso?

Um sorriso amargo se forma nos seus lábios.

— Quer saber, deixa pra lá. -Diz se levantando.

Observo-o pegar os pratos e levar até a cozinha em silêncio.

Bailey imediatamente se deita ao meu lado no sofá e acaricio sua cabeça sorrindo ao escutar um grunhido de aprovação.

Os barulhos de pratos batendo e da pia funcionando indicam que Nick está lavando a louça suja.

— Seu dono deve ser tão chato, não é mesmo? -Sussurro contra o corpo da cachorra que não se move um centímetro sequer. — Aposto que ele nem te deixa subir na sua cama para não sujar de pelos... -Continuo e Bailey balança a cabeça como se estivesse concordando.

— Ela sobe na minha cama quando quer, para a sua informação. -Sinto minhas bochechas arderem de vergonha e levanto a vista dando de cara com Nick segurando dois copos de água nas mãos.

— Arram... obrigada. -Agradeço bebendo quase todo o líquido transparente de uma vez.

Eu e minha boca grande.

Coloco o copo vazio na mesa de centro ao mesmo tempo em que Nick se abaixa para pegá-lo.

Nesse momento, não sei o que acontece, Bailey rosna de uma forma que me faz arrepiar e golpeia a mão do dono com sua enorme pata.

O que acontece a seguir é uma confusão.

Nick derruba toda a água do seu copo em cima de si mesmo e em questão de segundos, sua blusa branca fica encharcada, me dando uma visão privilegiada das tatuagens que enfeitam seu abdômen sarado.

—BAILEY, PARA A SUA CAMA, JÁ! -Ele diz em um tom de comando e a cachorra obedece com um semblante envergonhado.

— Ei, não precisa gritar com ela, coitadinha! -Caminho até a caminha onde Bailey se deita e esconde a cabeça entre as patas.

— Não se aproxime, Olívia, é sério. Ela está castigada.

— Mas ela não fez nada!

— Por acaso não está vendo minha blusa toda molhada? -Grunhe.

Oh, estou vendo... e como estou.

— Vai ver ela só queria brincar com você, ora. -Defendo a Pitbull e Nick solta uma gargalhada.

— Eu conheço muito bem a minha cachorra. Ela estava te protegendo... de mim! -Diz chateado e arregalo os olhos.

— Como assim?

— Ao que tudo indica, a minha cadela está do seu lado agora.

Não sei o que responder.

Será possível que um animal se comporte dessa maneira?

E principalmente me conhecendo tão pouco?

— Que seja, irei trocar de blusa. E por favor, não se atreva a mimar Bailey ou vou te colocar de castigo junto com ela. -Ameaça e só consigo imaginá-lo fazendo exatamente isso.

O que está acontecendo comigo? Parece que desde que cheguei aqui, exalo promiscuidade por cada poro.

É Nick, caramba! O cara que acabou com minha autoestima quando era adolescente.

Droga, preciso me distrair.

Procuro um pano de chão para secar a água no piso e encontro um balde e um mop detrás de uma porta que dá acesso a um pequeno almoxarifado.

Limpo tudo rapidamente e guardo os produtos na dispensa, quando uma voz aguda invade o apartamento e caminho até a sala bem a tempo de ver Bárbara parada no meio do lugar.

Nick está com uma blusa limpa nas mãos, deixando à mostra todo o seu peitoral e encara a namorada com um olhar mortal.

O que diabos está acontecendo?

— Caia fora, Bárbara. Já conversamos sobre isso. -Ele rosna em um tom estranhamente parecido ao de Bailey minutos atrás.

Agora sei porque os dois se dão tão bem.

— Bebê, eu só irei embora quando você me escutar e... -De repente ela gira a cabeça igual a menina de O Exorcista e me olha de cima para baixo. — Quem é essa vadia, Nick? -Arfo sentindo meu corpo esquentar e estou a ponto de lhe dizer algo, mas sou impedida, para a minha infelicidade.

— Qual é o seu problema? Não pode invadir meu apartamento quando bem entender e chamar minha convidada de vadia! Agora dê o fora antes que eu chame a polícia!

Bárbara arregala tanto os olhos, que seria cômico se não fosse trágico.

— É sério, amor? Está me trocando por isso? -Aponta os dedos com a manicure perfeita na minha direção.

— Escuta aqui, sua maluca, para começo de conversa, eu não sou nenhuma vadia! E é hilário o fato de você sequer se lembrar de mim, quando deu em cima do meu irmão tantas vezes que não consigo nem contar nos dedos. -Me aproximo lentamente e ela se ergue com coragem. — Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas não vou deixar que me falte o respeito, ainda mais quando não fiz nada. Agora faça um favor a si mesma e dê o fora!

— Quem você pensa que é para me expulsar?

— Você não vai querer saber. -Meu rosto está tão perto do seu, que posso sentir o cheiro enjoativo do seu perfume adocicado. — Pela postura de Nick, ele não te quer aqui, então junte o que te resta de dignidade e vá embora. -Assevero.

Bárbara hesita alguns segundos, talvez tentando ganhar tempo e ver se Nick milagrosamente muda de opinião.

Porém o seu silêncio é suficiente para ela entender que não é mais bem vinda.

— Você me paga, sua putinha. -Diz furiosa. Seu corpo golpeia o meu quando ela passa pela porta.

A frase me pega tão de surpresa que não consigo reagir a tempo e acabo permitindo que ela desça as escadas sem lhe dizer nada.

Nick, pelo contrário, vai correndo atrás da garota e puxa-a de volta pelo braço até que ela esteja dentro do apartamento outra vez.

— Peça desculpas agora. -Diz sério e me aproximo dos dois para escutar o que ela tem a dizer.

— Jamais. -A loira de olhos verdes e corpo escultural afirma sem abaixar a vista.

— É o último aviso, Bárbara. Ou você pede desculpas, ou te denunciarei por invasão a domicílio e posso te garantir que não quer um antecedente desses na sua ficha. -Caramba, Nick está realmente bravo.

— Ok, ok! Você venceu... não precisamos chegar a isso. -A garota puxa o braço para se livrar do aperto e gira os olhos antes de falar. — Me desculpe. -Diz apertando a mandíbula e levanto uma sobrancelha nada convencida com o pedido. No entanto, não quero alongar esse problema então dou por terminado.

— Muito bem. Agora devolva as chaves do Nick. -Exijo e ela sorri incrédula.

— E-eu não vou...

— Devolve logo a porra da chave! -Rosno e estendo a mão na sua direção.

— Você vai se arrepender por isso. -Declara ao mesmo tempo em que me entrega duas chaves que suponho ser uma da porta do apartamento e outra da entrada de baixo.

— Como diga. Agora sim, tchau, querida. -Empurro seu corpo para fora e fecho a porta na sua cara.

Nick caminha até a sala e se joga no sofá com o rosto cansado.

Nesse meio tempo, Bailey ficou quietinha na sua cama, como se a simples presença de Bárbara tivesse lhe sugado todas as energias.

— Vou deixar as chaves no balcão... -Sussurro. — Mas mesmo assim, você deveria trocar suas fechaduras.

Escuto uma risadinha abafada e me viro para ver qual é a graça.

— Por incrível que pareça, seu irmão me disse a mesma coisa hoje de manhã. -Revela.

— Não duvido mesmo, temos essa conexão de gêmeos e tudo mais. -Brinco, me aproximando. — O que aconteceu entre vocês dois? -Me sento ao seu lado me certificando de que nossos corpos não se toquem.

— Bárbara me traiu com um babaca e quando descobri e terminei com ela, a garota simplesmente não quis aceitar.

— Caramba, ela é maluca mesmo.

— Acha que eu não sei? -Suspira pesadamente. — Escuta Liv, eu... hã, sinto muito pelo de hoje. Você não mereceu ser xingada dessa maneira. Na verdade ninguém merece. -Esfrega o rosto com as mãos e balanço a cabeça.

— Não importa. De todas formas, sua namorada teve sorte de que não lhe dei uma surra. -Zombo e ele sorri balançando a cabeça em negativa.

Ex namorada.

— Oh certo, ex. - Faço uma careta.

— Por certo, quando disse que ela deu em cima de Jhonny, quero que saiba que ele não correspondeu. Meu irmão chegou em casa super bravo e me contou tudo para saber o que fazer. Não diga a ele sobre isso, por favor. -Confesso nervosa.

A amizade que esses dois têm é inigualável e ficaria muito triste de ser a responsável pelo seu fim.

— Eu já sabia de tudo, Olívia, pode ficar tranquila. -Afirma me pegando de surpresa. — Jhonatan me contou tudo e no final das contas, isso foi o estopim para terminar tudo com Bárbara. Eu já suspeitava que ela estava me traindo, só... não queria acreditar.

— Bom, não vou dizer que ela é quem perde, porque você é um pé no saco, -brinco — mas pelo menos você se livrou de uma surtada, e isso é o que importa. -Dou um tapa na minha própria perna e me levanto em seguida. — Agora, será que posso usar o seu banheiro?

Nick aponta para o corredor com a cabeça, mais especificamente para uma porta bem no meio e agradeço com um gesto sutil.

Ao entrar e estar protegida pela porta de madeira, deixo escapar uma respiração pesada e observo meus olhos se encherem de lágrimas do outro lado do espelho.

Por mais que possa parecer durona, ser chamada por palavras tão horríveis como as que a ex de Nick usou me abalam de um jeito que não consigo controlar.

Eu sei, sou uma boba por levar a sério aquela louca, no entanto, cada vez que escuto alguém dizendo isso por conta das minhas tatuagens ou pelo jeito que eu digamos... levo minha vida, um pequeno pedacinho do meu coração é quebrado.

Um dos motivos por nem sentir saudades da universidade é justamente o fato de que lá eu era tida como alguém que não era digno de uma amizade e o engraçado é que isso não acontecia com Jhonny por exemplo.

Praticamente todas as garotas e garotos se arrastam atrás dele.

Bem vindos ao mundo machista.

Lavo o rosto várias vezes e faço um bochecho com um enxágue bucal que encontrei debaixo da pia para não passar o resto do dia com a boca com gosto de lasanha.

— Preciso lembrar de trazer meu estojo com escova de dentes e fio dental... -Digo para mim mesma.

Aproveito para fazer xixi e depois de dar descarga e lavar as mãos, saio do banheiro, com a pose de durona de volta como se nada tivesse acontecido.

— Daqui a pouco abrirei o estúdio novamente, se quiser pode descansar no sofá. Eu não tenho quarto de hóspedes, então... -Nick oferece conforme me aproximo.

— Hum... obrigada. -Me deito e seus olhos acompanham cada movimento meu.

— De nada. Eu só vou tomar um banho e já volto para descermos. -Explica e desaparece pelo corredor sem nem esperar por resposta.

Imediatamente após ele sumir, dou batidinhas no sofá para que Bailey me acompanhe e ela obedece sem nem hesitar.

— Isso mesmo, boa garota. -Abraço seu corpo rechonchudo e sem perceber, acabo pegando no sono ali mesmo, no sofá da sala de Nick Hunter.

NOTA DO AUTOR

Eu disse que quarta feira chegava rapidinho, não disse? 
E eu nunca minto hahahah 
O que estão achando do avance da história? Estão gostando? Achando uma 
bela de uma porcaria? kkkk quero saber tudo! 
Não se esqueçam de votar e comentar, 
Nos vemos na sexta.

Amo vcs 😍
Bjinhosssss BF 🖤🖤🖤

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