Seu abraço é meu lar.


— Shoko, são três horas da manhã.

A voz de Utahime soou pela pequena sala de descanso, melódica e cansada, fazendo meu estômago tremer de ansiedade.

Por que, Gojo?

Por que precisou ser assim? O fim do Geto já não foi o suficiente? E ainda doía tanto…

Com os dedos trêmulos, segurei a base do meu cigarro barato e puxei a fumaça para os os pulmões, como se fossem sopros de outra vida.

Mais de cinco horas haviam se passado desde que os alunos da Escola Jujutsu invadiram minha sala, afirmando que Gojo Satoru estava morto. Eu não acreditei, era inconcebível a ideia de morte para alguém como meu melhor amigo.

Ele não perdia, não poderia ser morto.

Mas ele tinha sido.

Não acreditei até ter o corpo de Gojo estirado na maca metálica, manchando minhas roupas e o chão com um tom carmesim que nunca tinha o visto usar antes.

— Shoko, você não quer algo melhor do que café?

A fumaça do cigarro se dissipava lentamente no ar, como se ela ecoasse a sensação de vazio que me consumia. Utahime se aproximou, os passos quase inaudíveis na sala silenciosa. Seu olhar carregava um misto de preocupação e tristeza, aquele peso que só alguém que compartilha de uma dor semelhante pode entender.

— Não vai resolver — respondi, a voz rouca, puxando mais uma tragada do cigarro. — Nada disso vai resolver.

Utahime suspirou, mas ao invés de me repreender, como teria feito em outros tempos, ela apenas se sentou ao meu lado. Ficou ali, sem pressa, esperando que o silêncio fosse o suficiente para me alcançar.

— Shoko... — sua voz saiu hesitante, mas firme o suficiente para me tirar do torpor. Quando me virei, vi o brilho de algo que parecia entre raiva e uma tristeza esmagadora. — Você não precisa carregar isso sozinha.

O calor do toque de Utahime no meu ombro fez algo ceder dentro de mim. Eu soltei o cigarro no cinzeiro e fechei os olhos por um segundo, sentindo o peso da exaustão física e emocional.

— Não posso desistir — murmurei, mal me reconhecendo. — Não depois de tudo.

— Ninguém está pedindo para você desistir — Utahime rebateu, firme, mas com um carinho que me desarmou. — Só... vem aqui.

Ela me puxou para um abraço, e, mesmo relutante, cedi. O cheiro familiar dela, uma mistura sutil de chá e algo floral, misturou-se com o aroma do antisséptico e da fumaça do cigarro impregnado em mim. Não me lembro da última vez que me senti tão... humana.

Abracei Utahime com força, como se ela fosse a única coisa que ainda me mantinha ancorada. Suas mãos acariciaram minhas costas em movimentos lentos, como quem sabe exatamente onde o outro carrega suas dores.

— Você está exausta, Shoko — ela disse, baixinho, perto do meu ouvido.

Eu queria protestar, mas minha garganta estava seca demais para isso. As lágrimas que não derramei ao ver o corpo de Gojo escorreram ali, no ombro dela, sem aviso.

— Eu... não consigo... — sussurrei entre soluços, segurando o tecido da blusa dela com dedos trêmulos.

Utahime não disse mais nada. Seus lábios pousaram na minha testa primeiro, depois encontraram os meus em um beijo suave, delicado, como se ela soubesse exatamente o quão frágil eu estava.

Foi ali, nos braços dela, que meu corpo finalmente cedeu à exaustão. Antes de adormecer, a última coisa que senti foi o coração de Utahime batendo firme contra o meu rosto, como uma promessa silenciosa de que, de alguma forma, eu não precisaria enfrentar aquilo sozinha.

Independente do que aconteça, Utahime será meu eterno e doce lar.

Betado pela minha doce criança, MegNovis. Obrigado por tudo.💕



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