Vic andava de um lado para o outro em seu quarto. Sua mãe lhe havia avisado que contaria para o pai. De certo esse era o menor de seus problemas.

- Está preocupada? - A voz sinistra perguntou.

- O que acha? Eu não sei o que você é ou o que eu sou. Apenas em dois dias minha vida virou de ponta cabeça. Descobri que sou uma assacina, que sou adotada, que quase matei meu pai... - ela exasperada se sentou na cama.

- Você é muito dramática.

- A você acha? - Vic respondeu irônica secando as lágrimas que escorriam por sua face.

- Eu vou resolver tudo isso. Não se preocupe, não vão nos pegar.

- Pois eu quero é que nos peguem. - Ela gritou se colocando de pé de forma abrupta.

- Você não sabe o que diz.

- A eu sei. Eu não quero machucar mais ninguém! Não quero ver meus pais sofrendo.

- Você não mata pessoas inocentes.

- Eu não acredito em você.

A voz riu zombeteira. - E além do mas sem mim, você morreria em menos de uma semana.

- Talvez assim fosse melhor.

- A como ela é nobre. Você nada sabe da vida garota. Não tem sequer ideia do que é capaz de fazer.

- Não me enteressa.

- Mas que ignorância. Você acha mesmo que eu vou deixar você se entregar? - Ela riu. - Pode esquecer isso. Amanhã eu mesma vou resolver tudo. Não se preocupe.

Vic olhou sua face no espelho e seu outro rosto estava ali.

- O que pretende aparecer com essa cara bonita e convencer a todos. - Ela zombou.

Seu reflexo voltou ao normal diante de seus olhos. E apesar de Vic não falar. No reflexo sua boca se movia.

- Eu sei alguns truques. - Ela sorriu com suas fileiras de dentes.

Vic deu as costas para ela. Não sabia o que fazer. Até mesmo seus pensamentos não eram só seus. Ela respirou fundo e se jogou sobre os lençóis.

A noite chegou trazendo com sigo o frio. Vic ouviu seus pais discutindo. Anthony gritava furioso enquanto Helena chorava.

- Eu avisei!! - Ele dizia furioso.

- Eu sei... mas fale baixo ou ela vai ouvir. - Helena tentava acalma-lo.

Vic não podia e não queria ficar ali. Ela se levantou e apanhou seu casaco de lã no armário. Abriu a janela. E respirando fundo lembrou-se do que havia aprendido na noite passada.

Ela pulou aterrisando silenciosamente no chão. Seus pais discutiam destraidos e não a viram.

- Ummm para onde vamos? - A criatura perguntou eufórica.

- Eu só quero esfriar a cabeça. - Vic colocou seu casaco. E caminhou pela rua deserta.

- Eu posso sugerir alguns lugares bem divertidos.

- Esquece.

Vic subiu a gola do casaco e soltou o cabelo. Ao colocar suas mãos nos bolsos seguiu sem rumo. Ela não sabia ao certo por quanto tempo havia andado. Porém, agora estava diante do lago Paranoá. A lua não iluminava o céu. As águas do lago eram calmas e silenciosas. Ao longe havia um trio de homens bebendo. E na outra ponta um pouco afastados desses homens havia outro, sentado em um dos bancos de pedra.

Ela se sentou ali mesmo em um dos bancos vazios. E passou a olhar para o lago em sua frente.

Não tinha o que fazer. Precisava descobrir mais sobre sua origem. Descobrir a verdade sobre si mesma. Talvez assim podesse parar.

Perdida em seus pensamentos ela não reparou que aquele trio de homens se aproximavam.

- Mas o quê uma garota como você está fazendo aqui.

Vic se sobressaltou. - Finalmente um pouco de diversão. - Seu outro lado falou animado.

Vic se pós de pé e olhou para os três homens que já a cercavam.

- Eu não quero problemas.

- A ninguém quer, meu anjo. - O moreno corpulento falou cuspindo no chão logo em seguida.

- Que tal você nos acompanhar para um lugar mais animado. - O outro de barba por fazer, falou ao pegar uma mecha do cabelo dela e levá-la ao nariz.

Vic se afastou, porém esbarrou no banco atrás de si. Dessa vez ela não se sentia indefesa. Sabia muito bem do que era capaz de fazer. Porém se espantou ao ouvir outra voz masculina que gritava.

- Ei está tudo bem aí!

Vic olhou na direção do outro homem que se aproximava.

- Está sim amigo. Não se preocupe. - O magrelo de olhos verdes e sardas no rosto o respondeu.

- Eu não perguntei para você. - O belo homem falou ao se juntar a eles.

Vic estremeceu pela primeira vez. O rosto dele lhe era familiar. Porém não se lembrava de tê-lo conhecido. Seus cabelos eram castanhos quase loiros. Seus olhos azuis intenso. Sua beleza branca e seu corpo, bem. Essa ela não podia dizer muita coisa visto que ele estava usando uma jaqueta de couro preta e calças jeans azul.

- Olha cara é melhor você não se meter.

- Você está bem moça? - Ele se dirigiu a Vic. Que embasbacada apenas a acentiu com a cabeça.

- Viu só ela está bem. Agora de o fora daqui.

Ele estava prestes a obedecer. Vic então se deu conta do que tinha feito, ao dizer que estava bem. Sem querer dispensou a ajuda que poderia ter. Não que precisasse.

- Espera! - Ela gritou.

Ele parou e se virou para ela novamente.

- Na verdade eu estou perdida.

- A anjo nós te ajudamos a encontrar sua casa. - O magrelo outra vez falou.

Vic balançou a cabeça em negativa e agora tentando parecer o mais assustada possível.

- Você quer que eu te leve? - O homem gentil perguntou.

- Por favor. - Ela respondeu quase suplicando.

- O que está fazendo? - Seu outro lado perguntou enfurecido.

O homem estendeu a mão para ela que logo aceitou. Deixando o grupo desagradável para trás.

- Obrigada. - Ela sussurrou para o homem ao seu lado ao se segurar no braço que agora ela reconheceu ser musculoso.

- Disponha. - Ele respondeu com sua voz um tanto rouca e com aroma de bebida. - Qual é seu nome?

- Victoria. - Ela respondeu. - E o seu?

Victória? Seria possível? Ele pensou. Não Talvez fosse apenas coincidência.
Mas por vez das dúvidas era melhor não dizer seu nome verdadeiro.

- Yuri. Meu nome é Yuri.

- É um nome muito bonito. - Ela mordeu o lábio inferior ao olhar descaradamente para a boca dele.

Lion reparou no olhar dela que parecia queimar. E sorriu envaidecido. Teve que mentir sobre seu nome pois, agora estava disfarçado. E desconfiava que ela poderia ser uma de suas suspeitas.

- Qual seu sobrenome? - Ele perguntou fingindo certo desinteresse.

- Hills. - Ela respondeu de prontidão.

Não restavam dúvidas, era a testemunha e possível suspeita.