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Como num susto acordo em minha cama, é sábado à noite, meus pais passariam o único fim de semana que possuem de folga fora então não tenho a quem perguntar como cheguei ontem, a que horário, fico imaginando que tudo aquilo foi um pesadelo, mas me sinto estranha, uma fome diferente, almocei e continuei com fome, pra piorar o estomago embrulhou e botei toda a comida pra fora, quando não aguentei mais fui ao mercado e comprei carne, a comi crua assim que cheguei em casa, a fome diminuiu mas ainda não era o que eu queria, nem eu mesma sabia o que queria, sentia uma vontade enorme de algo que nunca nem conheci, por alguns livros que já tinha lido sabia que estava excitada, o que definitivamente não fazia sentido algum, eu nunca tinha nem me sentido assim antes, sei que parece estranho, como uma pessoa passa pela adolescência sem sentir qualquer desejo? Acreditei que eu fosse assexuada ou algo do tipo, pensei em ir a um médico perguntar, mas acabei deixando pra traz a ideia, seria vergonhoso, minha mãe até hoje faz questão de ir aos médicos comigo no postinho, mal sabe ela que ainda sou virgem, inventei algumas mentiras quando ela me perguntou pois falou com tanto interesse e apoio de que me ajudaria, compraria as pílulas pra mim, senti vergonha em ter uma mãe tão maravilhosa e eu ser tão frígida; ou pelo menos até ontem pensava assim.
Me arrastei pelo fim de semana até ir para aula na segunda feira de manhã, o único alimento que parava no meu estomago era carne, apenas crua, ainda me sinto da mesma maneira que acordei no sábado, não dormi nada, estou cada vez mais confusa e entrando em desespero, assisto as primeiras aulas, algo me chama a sair, vou até o meio do pátio, encontro o Bin lá, ele parece feliz e ansioso, se assusta ao me ver.
- Como você está viva? Era pra ele ter matado você
- Do que você tá falando?
- Lembra daquele verso que meu tio avô falava pra gente quando crianças?
- Sim
- Repete ele
- "Se acaso o mal em você imperar
Em uma sexta feira de lua cheia você o irá encontrar
No fundo do lago o 13 será seu número da sorte
Encontre no coaxar o seu passaporte"
- Espera, aquilo que você me fez comer era?
- Rã sua imbecil
- Sexta feira, lua cheia, rã, lago, o que você fez????
- Você sempre achou que era um conto de terror do dele né, antes de morrer ele me disse que não, me ensinou a como conseguir
- E pq você me puxou junto seu louco?
- Eu queria que ele te matasse, tinha mais uma frase no verso "A menina deverá ser levada para a morte"
- Eu era.... eu era o sacrifício pra que você conseguisse?
- Sim
- E então o pq eu ainda estou aqui?
- Não sei, mas sinto que ele nos chamou aqui, devemos espera-lo
- Pq você quis me matar?
- Além de pra conseguir o meu objetivo? Você sempre foi a perfeita, tão perfeita que me dá náuseas, a empregadinha que quis estudar com o patrão
- Eu me esforcei muito pra estar aqui, não tenho culpa de que seus pais tem como bancar sua mensalidade, como você fez isso comigo?
- Agora não importa, eu consegui o que queria
- E afinal o que você queria?
- Você nunca ficou até o final da história pra ouvir?
- Não, o seu tio avô sempre me assustava na parte que contava do homem que matou a mulher vestida de noiva nas margens do lago e foi amaldiçoado
- Terminava em... se você se tornar seu discípulo, serás imortal, terá poder sobre qualquer criatura que ande sobre a Terra e mais riqueza do que mil reis jamais tiveram
- Você só pode estar maluco né?
- Não, olha aqui... ele passa a lâmina de um canivete no pulso, sai uma gosma preta no lugar do sangue, parece lama, mas se fecha e não fica nenhuma marca, só limpa com um lenço a sujeira.
Sinto um calafrio na espinha, o Bin também, ele se contorce em uma reverencia estranha pra seja lá quem esteja atrás de mim, com muito esforço – de tanto medo – me viro, é um homem mais velho, uns 50 anos, possui uma aura de dominância absurda, seus olhos negros envoltos de uma grossa olheira escura, a pele branca um pouco queimada de sol como se fosse um pescador, suas unhas eram longas e pontiagudas, pareciam pintadas com o esmalte mais preto vendido no mercado, ele não era lindo aos padrões estéticos convencionais, mas eu queria ser dele, sentia necessidade de me juntar a ele, o Bin solta um silvo de dor e volta a posição normal, o homem apenas sorri e nos manda segui-lo
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