Capítulo 16
Houve um tempo, onde a paz reinava sobre essa terra. Um tempo de prosperidade, e união entre os povos. Quando os deuses ainda cuidavam de nós, quando eles nos amavam e nos presenteavam com riquezas. Um dos seus maiores presentes, foi esse poder que fluí por nossos corpos. Dizem as lendas, que os primeiros habitantes dessa terra receberam um dom diferente.
Há quatro continentes. Quatro pedaços de terras separados pela imensidão dos vastos oceanos. O nosso lar, é chamado de Entares, além do nosso, há: Danebys, Betelegeuse e Sargas, com um extenso mar os separando. Cada uma tem suas leis, seus deuses e seus governantes. Não há ligação uma com a outra, e ninguém sabe o que existe nelas, e como é o povo que ali habita.
Os Rein e os Balts foram um dos primeiros a pisarem em Entares, e se destacaram por sua força, inteligência e liderança. Então, os deuses lhe concederam um presente, que os tornaram capazes de fazer seu próprio reinado.
Os fortes estão destinados a governar os mais fracos.
Os Reins acharam graça aos olhos do deus Agnih — deus do fogo. Assim sua linhagem se estabeleceu no leste de Entares e formou sua grande nação. A deusa Atali — portadora do gelo —, viu grande valor nos Balts, e esses gozaram de uma grande magia, e puderam possuir feras que cuspiam gelo.
Porém, haviam aqueles que não encontraram um lar entre essas duas grandes famílias, e fundaram suas próprias vilas.
Porém, o deus Astaroth se irou com tamanho insulto. Ele não concordava que criaturas tão insignificantes possuíssem algo dado pelos seres mais poderosos. Dizem, que ele criou um demônio para andar pela terra, espalhando caos entre as pessoas. Um demônio de face bonita, que fosse capaz de seduzir até o homem de coração mais duro. Assim surgiram um clã de mulheres cruéis, belas e imortais: as Yeborath.
Embora, não passe de lendas as histórias da criação dessas bruxas, elas são a única explicação da existência delas. Assim como as Colchis surgiram pela criação de um deus maligno, as Yeborath surgiram por mãos mais cruéis ainda.
Depois de séculos de caos e guerras, os deuses desceram na terra. Para promover a paz e união, eles nos deram um portal para o mundo dos mortos. A cada grande povo foi dado um dos Pylares que formavam um portal. Mesmo sem nunca ter sido ativado, as bruxas se aquietaram em seus respectivos lares, e ouve paz em Entares.
Contudo, isso mudou no exato momento que Taras conheceu Meliha e se apaixonou.
Agora o destino do mundo está nas mãos de dois jovens inexperientes e amedrontados.
Fazia horas que eu olhava aquele pequeno e aparentemente, um inocente fragmento de cristal. Uma objeto triangular, com a ponta superior alongada e fina. O qual se encontrava sobre uma mesa redonda de pedra, havendo símbolos antigos entalhados por toda a sua extensão, e no centro exato, estava a nossa metade da Estrela dos deuses, uma das partes da chave para o mundo dos mortos.
O templo sagrado dos Drak era uma caverna rochosa no alto das montanhas do Desert — a Fortaleza Branca. O local recebeu esse nome devido ao território ser quase indetectável, pois era coberto por neve, e pelo mesmo motivo, era traiçoeiro.
A única sala do templo se encontrava vazia, exceto por Eylem e eu. Minha amiga permanecia sentada ao pé da escada esculpida na pedra, que levava para fora da caverna, já eu continuava parada, observando o objeto que nos levaria a uma guerra. O local não contava com nenhuma decoração, exceto por pinturas de símbolos nas paredes e chão.
— O que você tanto pensa? — Eylem disse ao se aproximar sorrateiramente, parando ao meu lado.
— Que tudo mudou tão rápido — deixei escapar um suspiro ao responder sua pergunta.
E tudo havia mudado muito rápido, há oito meses atrás, nossa única preocupação era manter Acrab fora das nossas terras.
— E como você está?... Quer dizer, como você está com tudo isso? — ela prosseguiu.
— Mentiria se disse bem — suspirei. — Mas decidi deixar tudo para trás. Meu objetivo agora é proteger meu povo.
Decidi deixar a morte de meu pai para trás, não esquece-lo, apenas parar de esperar um milagre.
— Você acha que vamos ganhar essa batalha? — Eylem perguntou depois de um tempo em silêncio.
— Espero que ganhemos essa batalha — disse me virando para olha-la. — Mas e a guerra?
— Acha que isso irá virar uma guerra?
— Estamos em guerra há séculos — conclui.
— E o rei? — ela arqueou uma sobrancelha. — Irá se aliar a ele?
— Não irei arriscar a vida de milhares por causa de um orgulho tolo de nossos povos. Quem errou foram nossos antepassados não nós.
— Isso é um, sim?
— Isso quer dizer que se eu não encontrar outra saída, estou disposta a unir forças com Morningh.
— Mas se pararmos Meliha aqui, no Desert, não precisaremos chegar a isso — Eylem disse exasperada.
Apesar de jovem, Eylem herdou o orgulho da maioria dos mais velhos de nosso clã.
— Não sei se poderemos para-la — confessei.
— Como assim? Claro que podemos — ela se agitou. — As Yeborath temem nosso clã...
— Temiam nosso clã — a cortei. — Temiam quando possuíamos dragões. Agora não temos nada, e não sei o que ela conseguiu em todos esses séculos.
— Temos a Ruray...
— Não vou arriscar a vida dela. Não sabemos do que Meliha é capaz — parei antes de deixar escapar um sorriso irônico. — Quer dizer, sabemos. Ela dizimou milhares de dragões com um piscar de olhos, ela os extinguiu da face da terra.
— Nunca parou para pensar como ela pôde ter feito isso? — Eylem se tornou pensativa.
— Não sei se quero saber que tipo de magia ela usou. Mas sei que não quero que ela use algo do tipo novamente.
Todos sabem que algo como ela fez, reduzir nosso poder a quase nada, não se pode ser feito tão simplesmente. Meliha é tão velha quanto o mundo, ela possui um conhecimento maior do que qualquer ser humano vivo sonha ter. Apenas sei, que o que ela usou para nos suprimir, não foi desse mundo.
— Atali — Eylem chamou meu nome com um tom ameno.
Quando a olhei novamente, todo o brilho da guerreira jovem e destemida que ela carregava em seus olhos havia se apagado.
— Quero que seja sincera — ela prosseguiu. — Podemos vencer?
Eylem não possuía uma gota de magia em seu sangue, mas possuía o triplo de coragem no lugar de qualquer poder sobrenatural. Nunca a vi fugir de uma batalha, a fraquejar, muito menos desistir de algo. Mas a olhando agora, pude ver que ela, pela primeira vez, estava com medo.
Só um tolo para não temer Meliha.
— Sinceramente — engoli em seco —, não acho que iremos vencer... Mas iremos lutar até a morte para proteger nosso lar.
Eylem concordou com um aceno de cabeça.
— Podemos pedir ajuda as guerreiras de Aludra...
— Não — a cortei.
— Mas elas podem ajudar...
— Elas não ajudaram — sibilei tentando conter qualquer resquício de raiva. — Não creio que Akaid se envolvera em uma briga que não seja dela.
— Mas se Meliha vencer, a guerra será de todos — Eylem contrapôs.
— Eu sei — disse me afastando do Pylar que me hipnotizava cada vez mais.
Minha vontade era pega-lo e desaparecer, mas seria mais perigoso tentar tira-lo do templo do que protege-lo aqui.
— Não recorreremos a Aludra, não irei me humilhar para Akaid — continuei.
— Você disse a poucos minutos que estava disposta a engolir seu orgulho e se aliar a Morninigh — Eylem disse com ar de superioridade.
— Isso é diferente — o ar ao nosso redor se condensava a cada fala.
— Diferente porque ela não tem um par de olhos azuis e um sorriso sedutor? — Eylem riu com escárnio.
— Não ouse me desrespeitar — vociferei. — Eu ainda sou sua superior, não se esqueça disso.
— Me desculpe — ela abaixou a cabeça. — Só estou tentando dizer que temos uma opção, que podemos pedir ajuda.
— Aludra não é uma opção — disse. — Não para mim.
— Está bem — ela disse por fim. — Você é nossa líder, você decide — ela disse indo em direção as escadas que levavam para fora do templo.
— Eylem — a chamei, fazendo-a parar e olhar para mim. — Não precisa lutar.
— Eu jamais a abandonaria, jamais abandonaria o Desert — ela abriu um meio sorriso. — Um Drak não abandona a família.
— Não precisa fazer isso, e sua mãe não irá gostar.
— Eu faço minhas escolhas, Atali. Eu escolhi servi-la, e é o que farei.
— Obrigada — só consegui agradecer.
Eylem apenas sorriu ao sair do templo.
Respirei fundo me voltando para olhar o Pylar a alguns metros de distância. Faltavam exatamente cinco dias para a lua cheia. Cinco dias para o Desert sangrar.
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