Capítulo Sete

A minha primeira manhã no meu novo trabalho pediu mais de mim do que eu tinha contado. Infelizmente, a tradição de só acordar quase ao meio-dia estava viva e forte dentro do meu sistema, então precisei de uns cinco alarmes para ter a certeza de que acordava a uma hora digna de crianças filhas de polícias. Eram nove e meia quando acordei, mudei para uma roupa confortável e abri a porta do quarto de Ariana para ver se ela ainda dormia. Parei, junto à ombreira da porta, a observar a sua expressão completamente relaxada, mas suspirei quando reparei que os seus braços tinham mais borbulhas que o dia anterior. Sabia que era normal, mas também sabia que era frustrante. Ela teria muita mais comichão a partir dali.

Fechei a porta sem fazer qualquer som – uma adolescência a acreditar que estava a sair à socapa do meu prédio deixou-me experiente nessa arte – e caminhei até à pequena cozinha para nos cozinhar um pequeno-almoço. Sabia que Caleb estaria prestes a chegar, se não estivesse já em casa, e coloquei a sua máquina a preparar um jarro de café. Olhei para uma das folhas coladas no frigorífico, porque Ariana tinha algumas alergias e eu queria preparar algo saboroso, mas que não a deixasse com nenhuma reação alérgica. Decidi misturar uns cereais que encontrei num dos armários com alguma fruta, porque era uma das coisas que eu própria adorava comer quando estava doente.

O som da porta da frente a ser destrancada chegou quando eu estava a terminar de colocar a toalha na mesa e a planear acordar Ariana. Preferi esperar na cozinha até conseguir ver a figura imponente de Caleb a entrar na sua própria casa. Ele estava claramente a tentar fazer pouco barulho ao fechar a porta, trancá-la outra vez, e a retirar as suas botas pesadas, e tudo aquilo fez-me rir um pouco. Podia ser um polícia bem treinado, mas podia apostar que ele nunca seria discreto – todo ele chamava a atenção. Era impossível alguém não parar e notar nele automaticamente.

- Estás acordada. – comentou, sem qualquer necessidade. Levantei as sobrancelhas, com um sorriso. – Como correu, durante a noite?

- Ela acordou algumas vezes. – admiti, num tom suave. – Mas depois de eu tirar um cobertor e dar-lhe um copo de água, conseguiu dormir melhor. Tem um pouco de febre, mas isso é normal.

- O médico também o disse... - murmurou ele, enquanto caminhava na minha direção. Ao virar-se na direção do jarro de café, os seus olhos brilharam. – Fizeste café?

Encolhi os ombros, como resposta. Ele lançou-me um sorriso agradecido, acompanhado por um suspiro, e praticamente correu até à sua máquina de café. Sentei-me numa das cadeiras, enquanto ele não dizia nada, em vez de fazer o que queria, que era acordar Ariana.

- A Alexandra passou aqui. – anunciei, num tom suave. – Ela e o irmão trouxeram bolo de laranja. Foi a nossa sobremesa.

- A Lexie está constantemente a tentar engordar-nos. – Caleb admitiu, com um riso suave. Depois de beber dois ou três goles de café, voltou a olhar para mim. – Sobrou algum? A Candy adora os bolos da Lexie e se não for parada...

- Felizmente, eu consegui conter o estrago. – brinquei, e apontei para a gaveta onde tinha guardado o tupperware com o resto do bolo. – Ali. Como foi o trabalho?

Caleb voltou a levantar a cabeça, parecendo chocado com a minha pergunta. Franzi as sobrancelhas para a sua confusão, mas mantive-me silenciosa enquanto ele falava consigo próprio na sua cabeça. Não sabia se era do seu cansaço ou se ele era naturalmente daquela forma, mas os seus olhos quase-verdes eram um perfeito espelho dos seus pensamentos. Talvez eu só estivesse mesmerizada nas suas feições e na sua maneira de ser, porque tudo o que conhecia dele me fascinava, ou talvez ele fosse realmente assim. Talvez ele quisesse colocar-me à vontade perto de si e já estava treinado na arte de fingir ser mais aberto do que era. As minhas teorias eram infinitas. Enquanto não tivesse resposta, no entanto, manter-me-ia calada e a observá-lo. Olhar para um homem atraente nunca foi tarefa.

- O mesmo de sempre. – disse, por mim. Quando eu abri a boca para lhe dizer que aquilo, para mim, era completamente inútil, ele lançou-me uma expressão séria que me fez engolir a piada. – Passei a noite a tentar analisar uma cena de crime, com um colega. Não resultou em muito, para ser sincero.

- Foi um homicídio? – perguntei, de olhos arregalados. Ele esticou os seus lábios num breve sorriso, mas assentiu.

- A Candy? – sorri para a mudança de assunto, mas informei-o de que ainda estava a dormir. Depois de olhar para um relógio, ele assentiu. – Vou acordá-la, então. Faço questão de a acordar todos os dias, mesmo quando vou dormir a seguir.

Registei a nova informação no meu cérebro, com um assentir físico na sua direção, e fiz uma nota mental para nunca acordar Ariana se existisse a possibilidade de o seu pai a fazer. Quando me apanhei sozinha na divisão, decidi começar a comer o pequeno-almoço que tinha preparado e, nem cinco minutos depois, voltei a estar acompanhada. Ariana correu até mim, assim que me viu, como se fosse uma surpresa eu ainda estar ali, e abraçou-me. Apanhou-me despercebida, mas eu era ótima na arte dos abraços e consegui recuperar-me a tempo. Passei uma mão pelos seus cabelos dourados, um pouco suados da noite complicada, e sorri-lhe assim que ela olhou para mim.

- Estás a fazer isto tudo por uma fatia de bolo, não estás? – Ariana gargalhou, como se já estivesse completamente sintonizada com o meu humor. Puxei os seus cabelos para um só ombro. – Não vai resultar, minha menina. Come o teu pequeno-almoço.

- Já agradeceste à Emma por ter cuidado de ti? – questionou Caleb, na sua voz de pai sério, enquanto lhe pegava para a sentar na terceira cadeira da mesa. Ela assentiu freneticamente, com um sorriso orgulhoso de si própria. O seu pai olhou para mim, para confirmar.

- É verdade. – assenti ao falar, enquanto enchia a minha colher de cereais. Caleb pareceu satisfeito com a educação da sua filha e continuou a beber o seu café. – Porque é que estás a beber café se vais dormir a seguir?

- Não vou dormir agora. Ainda preciso de cortar a relva do quintal lá atrás, e... O quê? – franziu as sobrancelhas quando me viu a abanar a cabeça.

- Acabaste de trabalhar... - olhei para o relógio – quase vinte-e-quatro horas seguidas. Não vais cortar a relva a estas horas. Eu posso fazer isso.

- Eu contratei-te para cuidares da Candy, não para fazeres as lidas da casa, Emma. Não te vou pedir isso. – revirei os olhos.

- Não estás a pedir. Eu estou a afirmar que o vou fazer por ti. Não tens de voltar para a esquadra às oito da noite outra vez? – ele assentiu, com uma expiração frustrada. Sorri, vitoriosa. – Concordamos, então.

Sabia que estava a abusar um pouco dos meus limites, mas não me importei. Caleb estava obviamente cansado e, depois de pensar um pouco no que estava a sugerir fazer, ele pareceu concordar comigo. Não fazia sentido nenhum cortar a relva, mesmo que estivesse gigante, depois de trabalhar quase um dia inteiro seguido. Por muito que ele me tivesse contratado apenas para tratar da sua filha, a minha consciência nunca me deixaria ver um pai solteiro a trabalhar tanto como ele. Estava lá para ajudá-los, quer ele quisesse quer não. Mesmo se eu odiasse cortar relva.

Caleb aceitou a minha ajuda, o que me surpreendeu. Terminou o seu café, beijou os cabelos da sua filha, e anunciou que iria dormir por umas horas. O meu plano envolvia fazer com que ele dormisse mais que algumas horas, mas mantive-me calada enquanto ele se levantava e saía da divisão. Ariana olhou para mim curiosa, enquanto comia os seus cereais – já mais moles que outra coisa, mas ela não pareceu importar-se – e esperou que eu falasse primeiro. Só a conhecia há menos de um dia, mas já adorava as suas pequenas idiossincrasias. Tanto conseguia fazer perguntas sem pensar, como podia olhar para mim com olhos analíticos, iguais aos do seu pai, e fazer-me suar até eu falar primeiro.

Sorri-lhe.

- Diz o que tens a dizer, mini Pattinson. – lancei, com um sorriso divertido. Ela gargalhou.

Não sabia o que dizia de mim, o facto de eu conseguir comunicar tão bem com uma menina de oito anos, mas não queria saber. O que importava era que ela claramente gostava de mim, mesmo depois de uma noite em que eu tivera de agarrar os seus pulsos mil vezes para ela não se coçar e ela ficara frustrada. Se, mesmo chateada, ela gostava de mim, estava segura naquela casa.

- O pai não gosta que mandem nele. – respondeu ela, com bochechas cheias de cereais.

- Não? Então, acho que escolheu a carreira errada. – Ariana não pareceu perceber a minha pequena piada, o que era completamente natural, mas algo na minha expressão fez com que ela risse outra vez.

Quando ambas tínhamos terminado o nosso pequeno-almoço, ocupei-me a lavar a louça com o mínimo de barulho possível. Ariana quis ajudar, mas não foi preciso. Deixei-a ir ver um pouco de televisão enquanto eu arrumava tudo o que tinha tirado do sítio. Caleb tinha pedido à professora da sua filha para lhe enviar uns quantos exercícios, para ela fazer durante o tempo em que não conseguia ir à escola, e uma das minhas funções era ajudá-la com eles. Ariana ainda estava a aprender coisas simples, do que eu tinha folheado no dia anterior, mas seria engraçado ajudá-la e ver as formas criativas que os professores utilizavam para ensinar os seus alunos. Eu, pelo contrário, ainda estava um pouco traumatizada pela forma com que aprendera a multiplicar.

Passar a manhã, sentada ao lado de Ariana, enquanto lhe lia um pequeno texto e tentava que ela escrevesse as palavras que eu lhe ditava, foi mais divertido do que seria de esperar. Ariana tinha claramente herdado um pouco do humor do seu tio emprestado Steve porque, em algumas palavras, ela começava a gargalhar e recontava algo que tinha ouvido do homem mais velho. Foi-me óbvio, pelas coisas que ela recitava de anos anteriores, que Steve era uma grande parte da sua vida.

Crianças eram ótimas fontes de informação e, depois de apenas três horas na sua companhia, descobri que Steve conhecera a sua esposa quando se mudara para aquela cidade e os seus filhos nasceram pouco depois.

- Emma, estou cansada. – queixou-se ela, perto do meio-dia. Fiz uma expressão penosa e tirei-lhe os cabelos da sua cara, ao assentir. Aproveitei para sentir a temperatura da sua testa e percebi que ela estava um pouco quente.

- Já trabalhámos muito, certo? Vamos descansar por um bocadinho. – sugeri, num tom suave e que esperava que a despreocupasse. Recolhi todos os pequenos cadernos e livros num só monte e coloquei-os no móvel ao lado do sofá. – Temos de medir a tua temperatura e colocar um creme nestas borbulhas, mas o que dizes de depois irmos um bocadinho à varanda?

Felizmente, a varanda que existia no quarto de hóspedes estava virada para o quintal das traseiras de casa, então significava que Ariana poderia apanhar um pouco de ar fresco sem arriscar contaminar pessoas. Não podíamos correr o risco de a sua febre piorar ou de ela contagiar pessoas aleatórias – nunca saberíamos quais eram os adultos que já tinham tido varicela, em crianças, a não ser que nos fossem familiares. Queria evitar que a criança se sentisse presa, porque a casa onde ela vivia era pequena e ela estava demasiado habituada a conviver com pessoas da sua idade e mais velhas. Do que eu tinha percebido, apesar de Caleb não ser efetivamente parte da família Farrell, Ariana era quase como uma prima emprestada para os filhos de Steve e das suas irmãs. Ela passaria as seguintes semanas apenas com a sua própria companhia, comigo e com o seu pai.

- Sim, por favor. – assenti, para o seu pedido cansado.

Levantámo-nos para ela tomar a medicação que o médico lhe tinha receitado e, logo a seguir, caminhámos até à casa de banho mais próxima do seu quarto, onde Caleb tinha guardado o creme que ela precisava de colocar na pele, todos os dias. Não cheirava muito mal, o que sempre era algo positivo, mas era um pouco gorduroso e Ariana não adorava ter de retirar as suas roupas para o colocar em todo o corpo. Ainda assim, era ela uma boa menina e sabia que, por o seu pai ainda estar a dormir, não podia queixar-se tanto como em qualquer outra divisão. Eu admirava a facilidade que ela tinha em respeitar aquele tipo de limites, porque na minha família aquilo nunca existira. Nenhum de nós tinha os horários trocados de Caleb, era verdade, mas não havia um único momento de silêncio no prédio inteiro.

Temperatura medida, peguei numa manta para a proteger da brisa que bateria na sua cara da varanda e guiei-a até ao meu quarto. Continuava amarelo e praticamente vazio, com exceção da mala ao lado da cama e das pequenas coisas que eu tinha deixado na cómoda, como o meu desodorizante, a escova e pasta de dentes e o meu perfume diário. Vi a Ariana olhar em redor do quarto, de braços cruzados e sobrancelhas franzidas, e levantei-lhe uma sobrancelha.

- Está igual a ontem.

- Só estou aqui há um dia, Ariana. – respondi, já a rir. Ela encolheu os ombros, como se o tempo não importasse. – Prometo que vou arranjar alguma decoração para pôr aqui.

- Obrigada. – sorriu um sorriso vitorioso e feliz e avançou na direção da varanda.

Enquanto ela abria as portas de deslizar, abri as duas cadeiras desdobráveis que estavam encostadas à parede do quarto de hóspedes e segui-a, com uma em cada abraço. Sentámo-nos, lado a lado, a observar o horizonte citadino. Caleb vivia numa rua em que as casas eram todas semelhantes entre si, não era exatamente um bairro privado porque não existia um portão nem nada que fechasse a rua, mas notava-se que era um pouco fora da confusão citadina. Os meus pais, por muito caseiros que fossem, nunca quiseram abdicar da confusão de viverem no nosso prédio – o pequeno quintal de todo o prédio servia bem para os churrascos que todos gostávamos de fazer.

- O que é que queres fazer? – perguntei, depois de uns minutos de silêncio apenas quebrado por Ariana a informar-me o que cada edifício à nossa volta era. – Daqui a pouco, temos de fazer o almoço.

- Temos? Eu posso ajudar? – levei uma mão ao queixo, fingindo-me pensativa. Acabei por assentir, enquanto pensava realmente em como uma criança podia ajudar. – O meu pai nunca me deixa ajudar, diz que eu deixo as coisas cair.

- E é verdade? – Ariana bufou, admitindo a sua culpa. Gargalhei e deitei a cabeça para trás, mas tapei a minha boca para o som não viajar tanto.

Ficámos na varanda por um bom tempo, a aproveitar a leve brisa que batia nas nossas caras e fazia os nossos cabelos dançar. Ariana ocasionalmente gemia as suas queixas da comichão que sentia, mas eu agarrava as suas mãos e tentava distraí-la da sensação. A certo ponto, um novo Jogo do Sério originou entre nós, sempre que víamos um pássaro preto a passar perto de nós. Era fácil encontrar entretenimento para uma criança tão satisfeita e contente com a sua vida como Ariana e, quando eu própria manifestava um pouco de cansaço ou aborrecimento, ela inventava um novo jogo qualquer para nos ocupar.

- Se não estivesses aqui comigo, ias estar onde? – perguntou ela, a certo ponto.

- Em casa. – admiti, com um riso depreciativo. – A semana passada, tive de sair do trabalho que tinha. – fui honesta, porque senti que precisava de o ser. A ideia de mentir a uma criança tão simpática como ela dava-me comichão.

- Porquê? – e, quase como saída diretamente de um filme de animação, Ariana abriu e fechou os seus olhos da maneira mais inocente do mundo.

Ponderei em quão sincera tinha de ser. Quando Caleb me fizera a sua entrevista improvisada, eu admitira que estava sem emprego porque a minha gerente era a minha namorada e, quando a nossa relação terminara, ela me despedira. No entanto, contara-lhe apenas porque ele seria o meu próximo empregador – uma criança não precisava de tanta sinceridade como a pessoa que pagava o meu salário, calculava eu. Ainda assim, ao mesmo tempo, calculava que ser honesta com Ariana podia ser...útil. Talvez.

- A minha patroa era a minha namorada. – comecei por dizer, com calma e paciência, para esperar pela sua reação.

- Mulheres podem ter namoradas? – perguntou, de olhos arregalados. Comecei a rir, mas assenti. Calculei que, no seu pequeno mundo, ela só tinha visto casais heterossexuais.

- E homens também podem ter namorados. – continuei, só para tirar aquilo do caminho. Ariana revirou os olhos.

- Isso eu sei, Emma. – inclinei a cabeça, divertida e confusa com a sua resposta, tudo ao mesmo tempo. Perguntei-lhe como é que ela sabia. – O Tio Max e o Tio Declan namoraram... - depois, ela arregalou os olhos e inclinou-se para a frente, como que a partilhar um segredo – ...mas não digas ao meu pai. Ele não sabe.

- Quem são o tio Max e o tio Declan? – perguntei eu, a sussurrar como ela. Os olhos de Ariana resplandeceram com a sua felicidade em partilhar conhecimento. Soltei um breve riso. – E como é que sabes isso?

Ariana inclinou-se o máximo que pôde e, ao meu ouvido, sussurrou que os tinha visto a beijarem-se uma vez. Depois, contou que o Max – amigo de Dax, e co-dono do Dove, aparentemente – e o Declan – irmão do namorado de Mia, irmã de Steve – lhe explicaram que gostavam muito um do outro. A noção de tempo de Ariana ainda era um pouco deturpada pela sua idade, mas deu para perceber que o casal já não estava junto e que Declan já nem sequer vivia naquela cidade. Aparentemente, o Tio Declan era Declan Miller, um jogador de futebol conhecido por se ter assumido homossexual e criado uma fundação para acolher pessoas como ele – jogadores de futebol oprimidos pela sua sexualidade. Sabia tudo aquilo porque Declan Miller era o jogador preferido de ambos os meus irmãos.

Até tínhamos camisolas com o seu nome e o seu número, lá por casa.

- Tu tens uma família muito estranha, não tens, Ariana? – perguntei, já a rir. Ela encolheu os ombros.

A conversa sobre o meu emprego desapareceu da sua mente, algo que eu agradeci. Foi substituída por uma conversa de todas as pessoas que Ariana conhecia, à conta do seu tio emprestado. Sorrindo, ouvi-a contar de como, quando mudara de casa, começara a ir para casa das irmãs de Steve para jantar com eles e de como todos a tratavam quase como se fosse sua. Ri principalmente quando ela contou outro segredo – o de que o seu Tio Max lhe dava sempre mais chocolates do que Caleb gostava que ela recebesse, e de como ele passara a oferecer-lhe escovas de dentes sempre que ela visitava o Dove, durante o dia, para que o seu pai não ralhasse. Adorei as suas histórias, contadas como qualquer outra criança faria, mas com mais carinho e entusiasmo do que eu estava habituada a ver.

Ariana tinha um ótimo núcleo familiar à sua volta. Não me admirava que, em todas as horas em que eu a conhecia, nem uma vez a sua mãe tivesse sido falada. Se não tivesse outras pessoas na sua vida, o assunto seria inevitável – uma criança sentiria sempre falta da figura materna – mas Ariana não parecia sequer pensar nisso. Se o fazia, não o mostrava. Naquela manhã, enrolada numa manta e sentada numa cadeira desdobrável, senti um orgulho imenso por aquela menina de oito anos.

Eventualmente, tivemos de ir fazer o almoço. Passámos de bicos dos pés junto da porta do quarto de Caleb, para termos a certeza de que ele acordava, e descemos as escadas até ao rés-de-chão da mesma forma. Ariana acabou por se sentir demasiado cansada para querer ajudar-me com o almoço, o que foi uma bênção porque eu honestamente não sabia como a deixar ajudar. A sua febre ainda estava um pouco forte, portanto deixei-a deitar-se no sofá a ver desenhos animados enquanto ela não se sentia mais animada. Cozinhei a cantar as músicas espanholas que cresci a ouvir, na minha própria cozinha, e entretive-me comigo própria até que o telefone fixo, colado à parede, tocou. Corri para que o barulho não chegasse até ao primeiro andar e atendi, num sussurro.

- Emma? Sou eu, a Lexie. – anunciou do outro lado da linha, também a sussurrar.

- Porque é que estás a sussurrar?

- Porque é que tu estás a sussurrar? – comecei a rir, mas tapei a boca para não gargalhar demasiado alto. – Desculpa estar a interromper-te, mas queria saber como é que a Candy passou a noite. Temos estado preocupados com ela.

- Oh. Isso é adorável. – comentei, sendo honesta, ainda a sussurrar. – Estou a sussurrar porque o Caleb ainda está a dormir, já agora. Oh, acabei de me lembrar que tenho de ir cortar a relva... Quem é que corta a relva a uma terça-feira?

- O Caleb é um homem de hábitos. Desde que o conheço que corta a relva à terça-feira.

Soltei um hm.

- A Ariana está bem. – respondi, depois de me lembrar que ainda não o tinha feito. A Alexandra manifestou a sua felicidade. – Tem um pouco de febre, mas nada descontrolado. Como é que estão os teus filhos? Lembro-me de ter ouvido o Steve dizer que era possível que ela os tivesse contagiado.

- Felizmente, não! Continuam aqui por casa, por precaução, mas nenhum deles tem tido sintomas. Receberam a vacina, de qualquer forma. Ficou já resolvido. – ouvi o sorriso aliviado na voz de Alexandra e sorri também.

- Muito obrigada por teres ligado, Alexandra. – agradeci, honestamente. – Para a próxima, faço eu a vossa sobremesa. Fica prometido.

- Nenhum de nós se vai importar! – e riu um pouco. Sorri para o nada, com a sua voz suave.

Pouco depois, desligámos a chamada. Continuei a cozinhar, com um sorriso maior ainda no meu rosto, porque a chamada de Alexandra apenas certificou aquilo que eu supusera. Ariana tinha figuras maternais na sua vida, mesmo que não tivesse a sua mãe por perto. Era o suficiente.


eu adoro a emma. adoro a ariana. adoro a lexie. acho que adoro toda a gente neste universo

ok, duas notas:

na DVSVL eu tinha sentido uma ~vibe~ entre o max e o declan e imaginava-os muito facilmente a ficarem juntos. no entanto, ao escrever a história do connor (que foi escrita antes desta, apesar de se passar 6 anos depois) isso tornou-se impossível (porque razões). mas não quis desperdiçar a oportunidade de a ariana conseguir descobrir os segredos das pessoas sem querer, e de já os esconder do pai. teve demasiada piada, não me contive. 

em segundo lugar: como eu nunca defini concretamente ONDE a história se passa, com exceção dos nomes ingleses, não há muito por onde me guiar em termos de leis, pontos de referência e etc. é tudo da minha cabeça. o mesmo acontece com a ascendência da emma. imagino a sua família oriunda da américa latina, imaginando que esta história se passa nos eua, ou mesmo vinda de espanha, se preferirem achar que a história se passa no reino unido. nunca defini nada, mas todas as descrições que vou buscar, vão muito para esse lado latino ou mediterrânico. imaginar a família Flores como portuguesa não estaria errado ou deixaria de fazer sentido, por exemplo

(só quero deixar aqui a notinha, por causa da parte em que a emma fala das músicas espanholas que ouviu ao crescer)

muito obrigada a quem tem lido e comentado nesta história. os vossos comentários fazem os meus dias <3 e, tendo em conta que esta já é a 4ª história no mundo farrell, é muito bom para mim saber que vocês gostam e conhecem as mesmas personagens que eu


um p.s: imaginem o caleb a chegar a casa e ter uma mulher estranha a impedi-lo de cortar a relva no dia em que sempre cortou a relva, depois de tipo 20 anos a viver sozinho. estou a rir muito, não vou mentir.


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