Capítulo Dez
Era a primeira noite, desde que começara a fazer companhia a Ariana, que Caleb estava em casa. Tinha feito o turno da noite nos últimos dias e saía de casa ao final da tarde, depois de passar quase um dia inteiro a dormir. Chegava cansado a casa, mas sempre com energia suficiente para acordar Ariana e falar um pouco com ela sobre os seus dias. Tinha-me sido explicado, durante o nosso jantar a três, que a sua folga serviria para que ele recuperasse algum do seu sono para começar a trabalhar no turno diurno a partir do dia seguinte. O que significava que, até ao final da segunda e última semana do meu emprego – porque Ariana iria a uma nova consulta e eu sabia que ela voltaria à escola – Caleb jantaria connosco e seria ele a deitar a sua própria filha.
Nenhum de nós referiu o facto de aquilo significar que eu já não precisava de dormir lá. Ariana foi mais rápida do que qualquer um de nós os dois e afirmou estar entusiasmada para ver filmes connosco, à noite. Sim, ela disse que queria ver filmes explicitamente à noite. Também disse que gostava de dormir comigo - e se isso não foi código para pedir ao seu pai para me deixar ficar durante a noite, não sabia o que era. Ariana era uma miúda inteligente, o seu pai era um homem inteligente, e comunicaram sem que eu sequer desse por isso. Quando dei por mim, eram dez e meia da noite e eu estava enrolada numa manta que a minha mãe tinha tricotado – para mostrar à Ari quão boa ela era – enquanto pensava na realidade que tinha em mãos.
Caleb estava a deitar Ariana, a fazer mais uma das suas tradições, e eu esperava nervosamente o seu regresso enquanto tentava pensar em como falar com ele. Na semana anterior, tinha sido fácil falar com ele – era o polícia que prendera o meu irmão, sim, mas também tinha sido aquele que basicamente não me largara até eu estar segura em casa. Uma semana depois, eu era a ama da sua filha e a única que não lhe chamava pelo apelido que tinha desde bebé. Sabia que uma conversa teria de nascer daí, nem que fosse apenas pela minha própria curiosidade. Queria ter a certeza de que não estava a chatear ninguém. Certamente não queria chatear um sargento da polícia.
- Porque é que estás a ver o filme dos Angry Birds? – comecei a rir, para a sua voz confusa. Vi-o a caminhar na minha direção e a sentar-se no mesmo sofá em que eu estava, mas na outra ponta.
Aquele dia era um dia de primeiros. Era a primeira vez que via Caleb com uma roupa mais casual e sem qualquer ligação às forças policiais. Em vez das suas fardas azul-escuras ou os seus fatos de treino de um tom um pouco mais claro, ele envergava uma t-shirt amarela e umas calças de fato-de-treino cinzentas. O tom de amarelo ter-me-ia feito um favor se lhe assentasse de maneira ridícula – eu era da crença de que amarelo não ficava bem em pessoas loiras – mas não o fez. Caleb era possivelmente o primeiro homem loiro que eu conhecia que conseguia dominar o tom de amarelo e fazê-lo parecer bonito. Não era justo.
- Porque é um clássico. – ele levantou uma sobrancelha, para o termo que eu sei. – Ei! Eu cresci a jogar Angry Birds. O meu pai ainda hoje diz que é a razão pela qual eu e os meus irmãos temos problemas de raiva.
- Acho que nunca vi o filme completo. – ao meu olhar chocado, ele apenas encolheu os ombros.
- É a tua oportunidade, então. Bem-vindo à melhor franchise.
- A melhor franchise é a do Frozen. – foi a minha vez de ficar chocada para as suas palavras. Quando dei por mim, estava a gargalhar com tanta força que deixei a minha manta cair das minhas mãos. Caleb eventualmente acompanhou-me, mas cruzou os braços para se fazer maior. – A mensagem é boa!
- Não discordo. – afirmei, ainda com um riso presente na minha voz. – Fui vê-lo ao cinema, quando saiu. Passei uma semana triste, porque não tinha mãos mágicas.
- A Candy foi...concebida enquanto víamos a sequela. – Caleb soltou, de repente. À minha expressão chocada, ele começou a rir.
- Eu não precisava de saber isso, Caleb. – mas estava a rir, porque não me importava realmente com a nova informação. Para efeito dramático, tapei os meus olhos. – Nunca mais vou ver esse filme da mesma forma. Espero que não tenhas contado isso à Ari.
- Ainda não. – piscou-me o seu olho direito e soltou um sorriso divertido. As suas covinhas furaram as suas bochechas de uma forma que não devia ter sido tão adorável quanto foi. Abanei a cabeça, ainda a rir para aquela versão mais brincalhona de Caleb, e voltei a atentar no filme à nossa frente.
Vimos o filme sobretudo em silêncio, com exceção das gargalhadas que eu soltava nas minhas partes preferidas. Quando estava mais entusiasmada, batia no espaço vazio de sofá que existia entre nós e pedia-lhe para ele estar atento. Caleb ria e abanava a cabeça, mas nunca, em algum momento, mostrou desagrado para a confiança que eu ganhara com ele. Calculava que aquela situação, vermos um filme de animação, comigo enrolada numa manta como uma criança, tirava um pouco a intimidade e a pressão da coisa.
Não havia muito mais a fazer: se ele não me olhava como uma criança até ali, a minha exclamação de que o pássaro preto era o meu preferido certamente resultaria nisso.
O filme ia mais ou menos a meio quando eu decidi olhar para Caleb. Ele estava focado no filme, mas sentiu o meu olhar, porque virou-se para me encarar de volta. Senti a minha respiração prender-se algures no meu corpo, mas mantive-me firme. Mesmo que, no fundo da minha mente, o som de um dos meus filmes preferidos estivesse a contrastar imenso com a minha linha de raciocínio e o ambiente que eu iria criar ao fazer a pergunta que zumbia na minha cabeça há dias.
- Posso perguntar o que aconteceu à mãe da Ari? – perguntei, baixinho. Incerta. Caleb encarou-me por uns segundos, sem qualquer expressão. Depois, pestanejou e decidiu que queria analisar toda a minha postura. Senti-me um pouco desconfortável, mas mantive-me quieta porque, afinal, estava na sua casa, a receber o seu dinheiro e a comer da sua comida e a fazer perguntas pessoais sobre a sua vida.
- Ela não...não quis ser mãe. – respondeu, e pareceu-me que estava um pouco inseguro sobre as palavras certas a usar. – Odiou estar grávida, odiou dar à luz e, depois de a Candy nascer, sofreu de depressão pós-parto.
- Oh. Pobrezinha. – sussurrei, perturbada por alguém ter sofrido tanto. Podia ser algo comum, mas nunca era fácil ouvir quanto uma pessoa como nós sofria.
- Aguentou cerca de três meses, depois de a Candy nascer. – continuou ele, ao desviar o olhar do meu e voltar a olhar para a televisão. Não estava a ver o filme, era óbvio pela sua expressão séria e distraída, mas não quis olhar para mim. – Acho que teria sido diferente, se ela tivesse querido ser mãe, mas não queria realmente.
- Porque é que não... - não terminei a pergunta, mas soube que Caleb percebeu. Porque é que não tinham abortado?
- Eu sempre quis ser pai. – foi a sua resposta, dita num tom baixinho. – Conversámos durante horas sobre a decisão a tomar e ela acabou por aceitar a ideia, também. Mas, depois de uma gravidez traumática, um parto complicado e a depressão...eu não a julguei, por ter ido embora. E por muito tempo, culpei-me a mim próprio, porque senti que a tinha obrigado a sofrer aquilo tudo, mas...
- Ei. – interrompi, num sussurro. – Não me parece que tu a tenhas obrigado a ser mãe. Ela fez a sua escolha e acabou a ser a errada para ela, mas não significa que algum de vocês tenha agido mal. Depressão pós-parto é algo muito complicado. – ele assentiu, mas os seus olhos disseram-me que, mesmo tantos anos depois, ele ainda carregava um pouco da culpa. – Nunca mais falaram?
Para minha surpresa, ele assentiu. Inclinei a minha cabeça, em busca de mais informações, mas não queria abusar. Eu era uma estranha e não sabia se tinha o direito de saber o que me parecia ser algo que ainda o magoava e que ainda pesava nos seus ombros. Por muito que adorasse Ariana, isso não me dava legitimidade para fazer mais perguntas apenas porque a minha curiosidade estava insatisfeita. O meu coração sofria pela mãe desaparecida de Ariana, porque não conseguia imaginar o que era decidir algo, gostar da ideia de ser mãe, e depois ter o seu corpo e o seu cérebro a traí-la em todos os momentos. O meu único conforto, naquele momento, foi saber que Caleb era um ótimo pai e que não faltavam bons modelos à sua filha.
- Trocamos emails, ocasionalmente. A Candy não sabe, nunca a conheceu, mas a mãe dela preocupa-se por ela. Quer saber se ela está bem e está sempre a oferecer dinheiro. – sorri, assentindo. – Mas não quer estar presente na sua vida e, com a idade que tem, a Candy iria agarrar-se a qualquer figura maternal que se aproximasse dela. A sua mãe não está pronta para isso.
O olhar intenso que Caleb me lançou não me escapou, mas as suas palavras não pareceram assombradas pela ideia que aquele olhar transmitiu. Ariana tinha-se agarrado a mim. Por muito que eu não me considerasse uma figura maternal, era inevitável que me tivesse tornado isso na cabeça da menina. Só tinha passado uma semana, mas passáramos todo o tempo juntas – se isso não era o que uma mãe almejava fazer, não sabia o que era. Não me preocupei, no entanto. Caleb podia estar a subentender que a sua filha me via como uma figura maternal, mas não parecia julgar-me por isso. Era natural, apenas.
- Fico feliz por vocês comunicarem, Caleb. – elogiei, completamente sincera. Os seus olhos voltaram a encontrar os meus e lancei-lhe um sorriso suave. – Nunca estive na posição da mãe da Ari, obviamente, mas imagino que não tenha sido fácil. Acho que...bem, acho que ter sido ela a carregar um bebé nove meses não elimina tudo o que ela possa sentir perante a ideia de ser mãe. Pelo menos fê-lo de forma a não traumatizar muito a filha. E deixou-a com um ótimo pai.
- Eu concordo, Emma. – Caleb murmurou, com uma expressão um pouco mais relaxada. – Nem toda a gente diria o mesmo que tu, mas eu concordo contigo. Para ela, a gravidez não foi um tempo de ligação entre ela e a Candy...para ela, o bebé foi um intruso. E, depois do parto, as coisas não facilitam. Não diria que somos amigos, e doeu quando ela me abandonou, mas eu percebi a sua lógica. Não podia continuar comigo sem ser mãe.
- Espero que tenhas ido a um psicólogo depois disso tudo. – afirmei, apenas, depois das suas palavras pesadas. Ele exalou um curto riso, mas assentiu. – Obrigada por me contares.
- Obrigado por me ouvires. – encolhi os ombros, com um sorriso. Uma pausa deu-se, entre nós. – Foi a primeira palavra para o qual ela sorriu, já agora.
- O quê?
- Candy. – repetiu ele, num tom paciente. – Foi a mãe dela que escolheu o nome Ariana e, por uns tempos, doía demasiado chamar-lhe pelo seu nome. Eventualmente, comecei a testar alcunhas. Ela sorriu pela primeira vez para Candy.
- E tinha quantos meses? – cruzei os braços e levantei uma sobrancelha. Para minha grande surpresa, um tom vermelho subiu às suas bochechas e, com um limpar de garganta, desviou o olhar do meu. – Posso parar de lhe chamar Ari, se te incomodar.
- Gosto de achar que tenho mais maturidade que isso, Emma. – encolhi os ombros, rindo um pouco.
- Estou sempre a esquecer-me da tua idade. – confessei, ainda a rir.
- Incomoda-te? – a pergunta surpreendeu-me e, por não saber o que responder porque não entendia bem o sentido com que ele perguntou, soltei um suspiro quebrado.
- Não tenho preconceito para com pessoas mais velhas que eu. – preferi dizer, com um revirar de olhos. Caleb deixou os seus lábios esticarem-se num sorriso discreto, quase inexistente, e assentiu.
O momento íntimo terminou quando eu soltei o meu primeiro bocejo. Não tinha noção de quanto a noite mal passada tinha afetado o meu corpo até olhar para o relógio, ver que era perto da meia hora, e eu já estava exausta. Decidi levantar-me, despedir-me de Caleb e ir finalmente dormir. Foi um momento estranho, porque me senti, de alguma maneira, próxima dele. Afinal, tínhamos acabado de falar de uma experiência que fora com certeza traumática, que afetava a menina que nos unia naquela casa e de quem ambos gostávamos. Não presumia que o meu carinho por Ariana se assemelhasse ao de um pai, mas gostava de achar que ele me contara tudo aquilo porque confiava em mim para tratar da sua filha.
O sono demorou a atingir-me, mas, quando o fez, dormi melhor do que tinha esperado. Acordei horas depois, com a sensação de algo a tocar na minha cara. Ao abrir os olhos, deparei-me com Ariana com a sua cara praticamente encostada à minha, a sorrir o seu sorriso desdentado do costume. Fechei os olhos outra vez, mas deixei-me sorrir para a menina para ela saber que eu estava acordada e ia continuar acordada. Tinha-me desleixado, parecia, porque eu fazia sempre o esforço de acordar antes dela, para lhe poder cozinhar o pequeno-almoço sem correrias.
- É muito tarde? – perguntei, numa voz rouca e cansada. Ariana soltou uma risada divertida.
- Não. – abanou a cabeça ao falar. Sorri para a sua felicidade e inclinei a cabeça. – O pai está a fazer o pequeno-almoço e disse para eu te acordar.
- A sério? – ela assentiu freneticamente, com o mesmo sorriso ainda na sua cara. – Está bem. Deixa-me só trocar de roupa, então.
Ariana saltou para fora da minha cama e correu para voltar para perto do seu pai. Abanei a cabeça, com um sorriso nos lábios, mas não me demorei muito. Se Caleb quis fazer o pequeno-almoço e quis que eu partilhasse da sua comida, não os faria esperar muito tempo. Estava curiosa para conhecer mais tradições de pai e filha, principalmente depois do que me fora contado na noite anterior. Se já tinha a certeza de que Caleb era um ótimo pai, o facto de ele compreender a sua antiga namorada e mãe da sua filha e continuar a comunicar com ela, apenas em prol de Ariana, confirmara-o eternamente. Nem todos fariam o mesmo que ele, nem todos fariam o esforço mental de compreender as lutas das pessoas à sua volta.
O som do riso histérico de Ariana misturado com o mais grave do seu pai envolveu-me enquanto eu descia as escadas. Estava no processo de responder à mensagem de Emmett, a dar-me uma atualização do estado do nosso irmão, quando entrei na cozinha. Deparei-me com Ariana presa às costas do seu pai, que estava em frente ao fogão a cozinhar qualquer coisa. Cheirava bem e olhei à volta, até encontrar um jarro de vidro com um sumo vermelho. Inspirei e sorri, para o aroma suave, enquanto observava a forma como Caleb conseguia cozinhar, calmo, mesmo com uma menina de oito anos às suas cavalitas, com os braços enrolados no seu pescoço, a cabeça deitada no seu ombro, e as suas pernas em volta do seu tronco.
Limpei a garganta, para não os assustar. Caleb baixou a intensidade do bico do fogão e virou-se para trás, lançando-me um sorriso cheio de brilho e de covinhas maravilhosas. Sorri de volta, principalmente quando vi quão parecido o sorriso da sua filha era. Com dois sorrisos daqueles, como é que alguma vez poderia ficar arrependida de serem oito da manhã e eu já estar acordada?
- Estamos a festejar alguma coisa? – perguntei, mais a brincar do que outra coisa.
- Sim! – Ariana exclamou, sem nunca dar a entender que queria sair das costas do seu pai. Ri para mim própria, porque eu, em criança, tinha sido exatamente igual. O meu pai sofrera bastante de dores nas costas, durante a minha infância. – O pai ligou ao médico.
- Oh?
- Estamos a festejar o facto de a Candy já poder ir à rua de vez em quando. – exclamei a minha felicidade pela sua evolução e dei os passos em frente que me levaram até a eles os dois. Estiquei a minha mão para Ari lhe dar um mais-cinco. – Não te importas, certo?
- Quem é que no seu perfeito juízo se importa de passar umas horas ao Sol? Eu adoro Sol. – Caleb abanou a cabeça, para a minha resposta. – Ari, não sei se gosto de estares mais alta que eu, hoje.
A resposta da menina foi colocar a língua de fora, o que me fez rir. O seu pai, no entanto, acabou por pousá-la no chão para terminar de cozinhar o que quer que estivesse naquela frigideira. Era um pequeno-almoço para o qual eu não teria de trabalhar, portanto não me importava sequer com o que era a comida. Ajudei Ariana a sentar-se à mesa, com o seu guardanapo de pano do costume nas suas pernas – era um guardanapo adorável com uns desenhos de uns abacates a dançarem – e coloquei os três pratos que Caleb já tinha deixado de parte na mesa.
- O que é que vão fazer hoje? – perguntou-me Caleb, ao colocar a comida no centro da mesa. Era um prato enorme de panquecas e, apesar da minha preocupação por Ariana ter comido o mesmo no dia anterior, não achei que estivesse na posição de comentar.
- A Ari tem uma videochamada com a professora dela, para mostrar os trabalhos que tem feito, de manhã. – ele assentiu, com um olhar de relance para a sua filha para ver a sua reação. Ariana bufou enquanto tentava puxar uma das panquecas para o seu prato.
- À tarde vamos à rua? – perguntou ela, a pestanejar os seus olhos da maneira adorável que só crianças nos filmes faziam. Revirei os olhos bem-humoradamente, com um sorriso, mas encolhi os ombros.
- Se a tua professora não gostar dos teus trabalhos, vamos ter de os repetir. A escola vem primeiro, minha menina. – apontei um garfo à sua cara, mas aquilo apenas a fez rir. Foi a minha vez de bufar, mas eu estava apenas a brincar e Ari sabia-o. Nem eu era uma ama rígida, nem ela era uma aluna irresponsável. Caleb olhou para nós as duas com atenção, até que começou a rir baixinho.
O pequeno-almoço entre os três foi mais caseiro do que eu tinha esperado, mas não foi algo desconfortável. Caleb e Ariana tinham uma dinâmica um pouco diferente da que eu estava habituada com a minha própria família – barulhenta, bombástica, explosiva – mas eu sentia-me confortável entre eles os dois. Quando chegou a hora de Caleb se levantar para se preparar para o trabalho, eu obriguei-o a deixar a louça suja para mim, com o mesmo olhar sério, mas divertido, que lançara a Ariana, e ele lá cedeu. Subiu até ao seu próprio quarto, voltou para baixo já com a farda azul-escura que assentava no seu corpo na perfeição, e reentrou na cozinha para se despedir da sua filha.
- Acho que a Lexie vai passar por aqui, hoje. – anunciou ele, com uma mão ainda no ombro da sua filha. Ariana arregalou os olhos para a menção da esposa do seu tio emprestado preferido.
- A sério?! – exclamou, com um pulo entusiasmado. Caleb assentiu para a sua filha, mas voltou a olhar para mim.
- Acho que é mais seguro se estiverem no quintal, com algum espaço entre ela e a Candy. – assenti, porque concordava. Para brincar um pouco com ele, fiz uma continência a brincar.
- Sim, Sargento. – Caleb soltou um breve riso, para a minha voz exageradamente grave, mas pareceu satisfeito com a minha resposta. – Assumo que queiras que impeça a Alexandra de engordar a tua filha, também?
- Podes tentar, mas conseguires é toda uma outra luta. Eu já desisti. – gargalhei, mas assenti. Continuei a comer a minha panqueca do momento, enquanto Caleb voltava a beijar os cabelos dourados da sua filha e lhe sussurrava qualquer coisa ao ouvido. – Volto por volta das sete, está bem?
Assenti, com uma expressão suave para ele, e sorri quando Ariana exclamou o seu entusiasmo por voltar a ter o pai ainda antes de ir dormir. Observei a sua expressão, a forma como Caleb engoliu em seco a implicação de que Ariana já começava a notar na sua ausência, e como humedeceu os lábios antes de responder à sua própria filha. Senti o meu coração pesado, ao vê-lo a sofrer tanto por deixar Ari para trás, de certa forma, mas não me pronunciei para não estragar o pequeno momento. Eu sabia que a menina não julgava o seu pai por trabalhar tantas horas, sabia que ela não fazia aqueles pequenos comentários para o magoar, e sabia que o Caleb também o sabia.
- Tem um bom dia, Caleb. – desejei, num murmúrio suave. Ele encontrou o meu olhar e assentiu, um brilho diferente nos seus olhos que não eram bem castanhos, nem bem verdes. – Peço já desculpa pela confusão que vais encontrar, quando chegares, com antecedência. Vamos aprender a tricotar.
- Podia ser pior, certo? – levantei as sobrancelhas, pensativa, até que assenti, rindo. Podia ser muito pior. – Tenham um bom dia, também. E boa sorte.
Pisquei-lhe o meu olho e simulei uma arma com os meus dedos, apontando-a na sua direção.
este é um dos meus capítulos preferidos, não vou mentir
not o caleb a fazer panquecas sempre que tem ~um momento~ com a emma. é ASSIM que obesidade infantil é criada
(eu estou a brincar) (obviamente)
ok, vamos à nota de autora que eu queria mesmo escrever:
uma das primeiras coisas que decidi, quando imaginei a história do melhor-amigo do steve, pai solteiro de uma filha de quatro anos, foi que não queria que a mãe fosse uma vilã. ela não aparece fisicamente nesta história, mas ainda assim, não queria MESMO que ela fosse uma figura que o caleb, a ariana OU a emma odiassem.
aliás, mesmo não tendo uma pessoa concreta na minha cabeça, imagino a emma a gostar bastante da mãe da ari. e não só não queria esse "cliché" da mãe-que-"desapareceu", como queria que, imaginando que esta história fosse maior e a mãe dela aparecesse eventualmente, que existisse um espaço para dialogar. foi importante para mim ter o caleb a saber compreender o lado da sua namorada e HONESTAMENTE não a julgar. ele quis ser pai, sim, mas um bebé pede muito mais da mulher do que do pai - ele conheceu a ariana quando ela já estava cá fora, a mãe dela teve de lidar com um monte de problemas até ao parto
claro, imagino que casos tão extremos como a mãe da ariana sejam ocasionais, mas aposto que não são raros. tanta depressão pós-parto que não é diagnosticada, tanta mulher que se arrepende de ser mãe, tanta mulher que foi obrigada a sê-lo... acho que a minha opinião sobre o assunto se resumo muito no que a emma disse ao caleb: a mãe da aria escolheu ser mãe, mas não contava com o corpo e o cérebro dela a trairem-na em todos os momentos.
como é que é possível estar-se confortável com a ideia de dedicar, em parte, a nossa vida futura a uma criança quando TUDO nos diz que aquilo é errado e que só nos está a fazer mal? imagino a mãe da ariana a sofrer MUITO e, mesmo que a história não seja sobre isso (é sobre o caleb, a ariana e a emma, obviamente), também achei relevante dizer que a mãe da ariana não queria ser MÃE mas quer estar presente como se sente confortável. e está no seu direito
tanta gente que abandona os filhos, que os maltrata, etc, e acho que a mãe da ariana fê-lo num momento em que a ariana ainda não tinha criado memórias com a mãe. sabe que tem uma, mas no seu mundo não existe - por muito trauma que não ter uma figura maternal seja!!
okay, acho que acabei o meu pensamento da semana.
este é um dos meus capítulos preferidos porque é um momento íntimo entre o caleb e a emma e porque RIO MUITO sempre que imagino o caleb a perguntar à emma se a sua idade o incomoda
a emma é uma tapada. sabe que ele está a perguntar nalgum intuito específico mas reduz a interação a uma piada - pobre coitada, ainda não sabe o que a espera
até à próxima semana <3 e espero que tenham gostado!!
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