Enlaçados
Jeon Jungkook
Era loucura.
Um laço de sangue com um alfa que havia conhecido há poucas horas era insano, ele era o alfa da alcatéia inimiga, filho de Salìk e um lúpus, mas apesar de tudo, era a sua melhor aposta. Sendo ele o líder da matilha, não iriam querer vê-lo morto, foi uma jogada arriscada, mas que veio bem a calhar naquele momento.
Com a ajuda do alfa, sentou-se sobre a almofada que estava anteriormente e evitou encontrar o olhar de Taesu, sabia que ele provavelmente tentava lhe matar com o olhar. Yongok se levantou e sentou-se ao lado dos dois, ela chamou um garoto que não demorou a entrar na sala e pediu algumas coisas, tudo enquanto Taehyung estava sentado sobre os calcanhares a sua frente, ele parecia nervoso e não podia negar que estava muito ansioso também. Taesu voltou a se sentar sobre a almofada que estava anteriormente e resmungou baixo por alguns minutos, ele só parou quando o garoto que Yongok chamou voltou para a sala.
— Aqui está, Najin — o rapaz disse ao deixar uma bandeja cheia de velas, uma faixa dourada e uma adaga.
— Obrigada, querido — ela agradeceu. O rapaz saiu da sala e fechou a porta quando passou por ela. — Vocês tem certeza que querem fazer isso? Será a primeira vez em milênios que esse ritual será realizado e não há garantia de sucesso vindo de filhos de divindades diferentes.
— Sim — Jungkook respondeu sem hesitar, sua vida dependia daquilo, não importavam quais eram as consequências, se conseguisse sobreviver, era o suficiente. Olhou em direção a Taehyung e notou que ele o encarava com o cenho franzido, ainda em um conflito interior.
— Sim — ele respondeu, mas não parecia tão seguro quanto Jungkook.
— Muito bem — Najin Arik se levantou e pegou a adaga, ela fez um pequeno furo em seu dedo e uma bolha de sangue se formou. Ela disse algo em Cunä, a língua ancestral, e fez um círculo com seu sangue em volta deles. — Uma vez que o ritual começar, vocês não podem interrompê-lo, de maneira nenhuma, terão que aguentar até o final.
Aquilo pareceu uma ameaça e que, provavelmente, era mesmo. Após feito, um laço de sangue interrompido os levavaria à morte, então, era de se esperar que interrompê-lo no início faria o mesmo. Najin Arik acendeu uma vela e fez isso com todas as outras, as colocou sobre o círculo de sangue e os contornou com velas, mas se manteve fora dele. Taehyung e Jungkook estavam no meio do círculo de sangue e velas, aquilo lhe deixou aflito, sabia que suas intenções eram baseadas somente em sua sobrevivência, mas se desse errado ele morreria de qualquer maneira e ainda levaria outra pessoa com ele. Yongok só parou de murmurar algo na língua ancestral quando pegou a faixa dourada, ela os encarou quando segurou a adaga, mas a colocou de volta no lugar ao olhar para seus braços.
— Tirem as ataduras, as feridas precisam estar expostas para que o sangue corra entre vocês — ela pediu, e tanto Jungkook quanto Taehyung tiraram as ataduras de suas feridas. — Dêem os braços, precisam tocar diretamente a ferida um do outro.
— Desculpe por isso — Taehyung sussurrou ao tocar sua ferida e Jungkook fez uma careta por conta da dor. Fez o mesmo com com ele e segurou onde suas presas haviam lhe ferido.
— A partir de agora, haja ou houver, não quebrem a ligação — Najin Arik disse ao circular seus pulsos juntos com a faixa dourada. — Não importa o que sintam ou o que aconteça, não quebrem o laço.
Jungkook e Taehyung se encararam temerosos, mas não desistiram, não sabia o motivo do alfa ter aceitado, era nítido que ele possuía força o suficiente para arrancar a verdade de sua boca à força se quisesse, não entendia os motivos dele, mas ficava feliz que, ao menos, estaria seguro. Quando a faixa dourada fora amarrada em seus pulsos, Najin Arik começou a pronunciar algo em Cunä aos sussurros e Jungkook sentiu suas feridas arderem, além do arrepio intenso que subiu por sua nuca. Uma dor insana tomou seu braço e Jungkook gemeu dolorido, viu Taehyung fazer uma careta também e então entendeu o motivo, o sangue de suas feridas começou a borbulhar para fora e seguir um caminho por entre seus braços juntos. Viu seu sangue jorrar para fora e seguir em direção a ferida de Taehyung, onde adentrou o lugar onde suas presas haviam perfurado e o sangue dele fez o mesmo em suas feridas.
No momento que o sangue de Taehyung adentrou seus machucados, sentiu uma dor tão absurda que acabou por apertar os machucados dele também, sentia cada centímetro do sangue do alfa adentrar seu braço e subir até seu pescoço, notou que naquela região suas veias estavam mais saltadas e escuras. De repente, houve uma explosão em seus sentidos, sua visão aguçou e seus ouvidos pareciam ouvir até mesmo o sangue correr por suas veias, seu olfato captou as mais diversas fragrâncias e uma dor de cabeça forte o atingiu. Jungkook sentiu-se enjoado e notou que Taehyung também parecia em agonia, o sangue dele que corria em suas veias parecia água fervente, era como um ácido que o corroía de dentro para fora. Jungkook gemeu de dor quando o sangue chegou a seu coração, sentiu uma dor tão perversa em seu peito que não conteve, gritou de dor e Taehyung também gemeu dolorido, os dois colocaram a mão sobre o peito e se encararam.
Os olhos do alfa estavam vermelhos e pôde ver pela proximidade que estavam que os seus estavam azuis, pôde sentir tanto o seu lobo quanto o dele em agonia, era desesperador, mas estranhamente, não conseguia soltar o braço do alfa, mesmo se quisesse. Doía tanto que se contorceu e agarrou o casaco que vestia, como se pudesse arrancar aquela dor de seu peito, agonizou de tal maneira que chegou a pensar se a morte ou a tortura não eram de fato, melhores que àquilo. Jungkook sentiu a dor aumentar e arregalou os olhos, percebeu pela lágrima solitária que escorreu pela bochecha do alfa o quão ruim estava, a dor aumentou de tal maneira que o ômega gritou de dor e quando ficou pior do que conseguia suportar, de repente, tudo ficou escuro. Quando sua mente se acalmou, ouviu vozes como um eco em seus ouvidos, tudo parecia tão distante que parecia acordar de um sono profundo.
— Jungkook? — Ouviu alguém o chamar e abriu os olhos devagar. De início, viu apenas um clarão e fechou os olhos, quando os abriu novamente, sua visão aos poucos se adaptou a claridade. — Jungkook, consegue me ouvir? — Perguntou novamente e então pôde vê-la.
— Yongok? — Perguntou baixinho e a senhora assentiu.
— Tae?! — Ouviu a voz de Taesu e então lembrou-se do que aconteceu.
Yongok o ajudou a se sentar e Jungkook gemeu de dor quando se sentou, seu braço ainda sangrava, como se suas feridas houvessem acabado de serem feitas e ela voltou a enfaixá-lo. Quando olhou para frente notou as velas apagadas, viu também Taehyung se sentar com a ajuda de seu pai e ele o encarou também, foi somente naquele momento que Jungkook notou que suas percepções estavam alteradas, podia sentir o coração dele bater tão rápido quanto o seu, podia sentir seu medo e sua dor tanto quanto sentia as próprias. O alfa fez uma careta de dor ao tocar os próprios braços e levou a mão até o pescoço, ainda com os olhos fixos aos seus, como se sentisse o mesmo que ele e se o laço de sangue realmente tivesse funcionado, ele estava mesmo. Estava atordoado com o misto de sensações e sentimentos estranhos que estavam em seu corpo, era como se tivesse aberto uma nova porta em sua cabeça, que destrancou tudo o que estava trancafiado em seu peito.
— Funcionou? — Taesu perguntou ao notar o silêncio dos dois.
— Sim, o laço de sangue foi um sucesso — Yongok disse ao encará-los. — Em breve a marca do laço irá surgir em seus corpos, devem cobri-las para que ninguém da aldeia descubra sobre o que acabaram de fazer.
— Espero que essa loucura realmente valha a pena! — Taesu disse desgostoso. — Agora suas almas estão enlaçadas, precisamos prezar pela vida dele tanto quanto a do Tae.
— Não... — Taehyung tentou dizer algo e engoliu em seco ao encará-lo. — Não imaginei que estivesse com tanta dor...
— O que está sentindo? — Yongok perguntou ao neto com curiosidade e sem desviar o olhar do seu Taehyung levou a mão até a garganta.
— Sede, fome, medo e muita dor — ele respondeu com a expressão atordoada. — Meus sentidos estão entorpecidos...
— Vão demorar um pouco para se acostumarem às sensações — ela explicou. — Com o tempo irão aprender a identificar se são suas próprias sensações ou as do outro.
— Pronto, agora que a merda já está feita, cumpra sua parte — Taesu disse com o timbre irritadiço ao encarar Jungkook. — Deixe Najin ler suas memórias.
— Certo... — Agora que o laço estava feito, não tinha que temer ser morto ou torturado, pois senão, o alfa sentiria toda sua dor. Mas não conseguiu evitar o medo de quando descobrissem a verdade.
Pôde ver antes de Najin se sentar à sua frente novamente, Taehyung se afastar com o cenho franzido, ainda com a expressão banhada em confusão, se a cabeça dele estivesse tão bagunçada quanto a sua, entendia perfeitamente suas expressões. A mulher estendeu as mãos em sua direção e respirou fundo antes de levar as suas até às dela, seus dedos tremiam quando ela os segurou, os dedos dela estavam quentes e sua pele era macia. Yongok abriu um sorriso pequeno, para tentar acalmá-lo e acenou com a cabeça, em uma pergunta silenciosa para saber se ele estava pronto, por isso assentiu e viu os olhos dela ficarem azuis, era um sinal de que havia começado. Os olhos dela estavam fixos aos seus e Jungkook de repente viajou para dentro daquelas íris, viu passar diante de sua visão flashes de sua vida, mostrou sua casa, onde sorria com seus pais, viu também sua alcatéia comemorar uma caçada bem sucedida e sorriu.
Assistiu seus pais colocá-lo para dormir e acariciar sua cabeça, aquelas lembranças eram de sua infância, quando saía para caçar animais junto a seu pai depois que as grandes nevascas passavam, pois era quando os animais saiam para procurar alimentos. Eram suas lembranças de conforto, as mais felizes, porém quando as imagens começaram a mostrar sua vida adulta, as coisas começaram a mudar, viu o momento em que um grande tigre branco apareceu diante dele e se curvou em sua direção. Foi a partir dali que as imagens começaram a mudar, assistiu homens vestidos com pele de urso e brasões com o símbolo de uma montanha com presas cruzadas, o brasão da alcatéia de Presa. Observou pelos olhos dela os homens apontarem as espadas em sua direção, viu sangue e morte, depois as imagens mudaram para a visão que tinha de sua aldeia enquanto fugia, ele correu até estar em casa encontrou o corpo de seus pais.
Relembrar aquelas cenas eram demais para ele, que chorou e soluçou a ver o sangue de seus pais manchar o chão da tenda onde moravam, nunca conseguiria esquecer aquilo. Quando as imagens passaram até o muro de Presa, onde foram apontadas flechas em sua direção, um grande urso polar quebrou o portão de madeira repentinamente e rugiu alto em toda sua imponência, ele correu em sua direção o agarrou por seu casaco de pele, para que conseguisse jogá-lo em suas costas. As imagens seguintes mostravam sua fuga de Presa, assistiu o momento que uma lança atingiu o urso e os derrubou na neve, ver o sangue do urso manchar sua linda pelagem branca junto a neve novamente fez outro soluço irromper por sua garganta. Tudo o que pôde ver adiante eram borrões e mais borrões, tudo se passou rápido, como se estivesse acelerado, viu sua fuga dos lobos de Delta, a droga atingi-lo e momento que os lobos o feriram, então de repente, tudo se foi.
— O que houve, Tae? — Taesu perguntou e Jungkook desviou o olhar de Yongok, que parecia em choque com o que vira. Taehyung chorava enquanto lhe encarava, ele tocava o próprio peito sem desviar os olhos do seu.
— Você viu...? — Jungkook perguntou choroso, teve sua cabeça invadida por mais de uma pessoa? Ele viu suas lembranças também? As perguntas não pararam de surgir em sua cabeça, contudo, o alfa negou.
— Não vi nada — ele o tranquilizou e Jungkook suspirou em alívio. — Apenas... Senti, o que você sentiu.
— O que está acontecendo? — Taesu perguntou confuso, parecia o único alheio ao que havia acabado de acontecer. — Mãe, o que a senhora viu?
Jungkook virou-se em direção a Yongok e viu o momento em que uma lágrima escorreu por sua bochecha.
— Você... — Ela parecia sem palavras, sem saber por onde começar. — Você é Najin Uruk...
— O que? — Taehyung e o pai perguntaram juntos.
— Ele é o escolhido de Unàh — ela suspirou em choque e Jungkook sentiu o medo atingi-lo novamente. Agora que sabiam, não podiam fazer mal a ele, já que sua alma estava enlaçada ao líder da alcatéia deles. — Por isso Delta tentou levá-lo, é um Najin Uruk de Unàh.
— Esse garoto? — Taesu perguntou chocado e Yongok assentiu. — Taehyung está ligado ao escolhido de Unàh? Mesmo sendo filho de Salìk?
— Essa ligação foi muito perigosa Jungkook, poderia ter dado muito errado, se você morrer, levará anos para um novo Najin Uruk conseguir substituí-lo — Yongok pareceu lhe dar uma bronca. — Unàh poderia rejeitar uma ligação entre o escolhido dela e um filho de Salìk, se ela interrompesse a ligação, os dois morreriam.
— Eu precisava arriscar — respondeu ao abraçar o próprio corpo. — Não posso morrer, não depois de tudo o que eu passei para conseguir sobreviver.
— Por que acha que tentaríamos matá-lo? — Yongok perguntou confusa.
— Presa me quer para que eu possa dar continuidade a linhagem de Najin Uruk na família do líder, enquanto Delta me quer para ter vantagem sobre a guerra — explicou e encarou Taesu, que parecia chocado com suas palavras. — Se descobrissem que eu daria vantagem a uma alcateia que é inimiga de vocês, não me matariam?
— Se o matassem, Unàh os castigaria — Yongok respondeu por Taesu, que pareceu entender a gravidade do que poderia ter acontecido se ele seguisse com o plano de torturá-lo e matá-lo.
— Isso não impediu que matassem nossos antecessores — Jungkook argumentou ao encará-la e Yongok não pôde negar.
— Então e agora? — Taehyung perguntou e chamou a atenção de todos. — O Najin Uruk de Unàh está ligado a mim eternamente, se Presa ou Delta descobrir que o pegamos, tentarão levá-lo.
— Devemos protegê-lo — Yongok respondeu.
— Como faremos isso? — Taesu perguntou preocupado. — Se Delta se juntar à Presa quando perceberem que tem um alvo em comum, será uma guerra ainda pior, Canis não conseguiria lidar com duas alcateias.
— Vamos espalhar a notícia de sua morte — Taehyung disse após alguns segundos de silêncio. — Se acreditarem que Jungkook está morto, teremos tempo até planejarmos um plano mais eficiente.
— Ótima ideia, filho! — Taesu sorriu orgulhoso.
— Reúna o conselho ao pôr do sol, vamos discutir sobre isso após tratar Jungkook — Taehyung disse ao se levantar. — Ele precisa de atendimento com o nosso curandeiro o mais rápido possível.
— Certo — seu pai assentiu enquanto Taehyung caminhava em sua direção.
— Posso levá-lo? — Taehyung perguntou ao se abaixar a sua frente.
— Para onde? — Perguntou ansioso.
— Minha casa — respondeu e Jungkook o encarou temeroso. — Não precisa temer, apenas quero cuidar de você, sentir tudo o que você sente só me mostrou o quão ruim está sua condição.
— Tudo bem... — Assentiu e o alfa o pegou em seus braços, suas feridas doeram e Taehyung fez uma careta.
— Você é um ômega extremamente resiliente por suportar essa dor e ainda assim ter forças para tentar se defender — disse ao encará-lo.
— Minhas piores dores não são físicas — disse ao desviar o olhar e encarar suas mãos.
— Por agora, cuidaremos das físicas, sim? — Perguntou com a voz suave e Jungkook assentiu.
— Sim, alfa.
(...)
Enquanto o alfa caminhava até a casa dele, o sol voltou a castigá-lo e sua garganta voltou a arder em sede, como se não tocasse uma única gota de água em sua língua há semanas. O calor o deixava tonto, era demais para alguém que vivia com o calor de fogueiras que mal aqueciam seu corpo durante as nevascas, suas bochechas em vez de frias estavam quentes, seus dedos que antes buscavam por calor agora queriam fugir deles. Apesar de achar que não estava tão ruim quanto antes de irem para o templo, continuava péssimo, será que seu corpo aceitou um pouco melhor o calor porque Taehyung era um filho de Salìk e agora estavam ligados? Levantou o olhar para encarar o alfa e notou que ele estava com o cenho franzido, respiração entrecortada, o suor pingava de sua testa e escorria para seu pescoço, onde desaparecia em sua camisa. Ele parecia estar em sofrimento.
— Você está bem, alfa? — Perguntou preocupado, não queria que desmaiasse, até porque, se isso acontecesse, ele provavelmente iria desmaiar também.
— Estou, é você quem não está — respondeu ao suspirar. — Nunca em todos os meus anos de vida sofri com o calor como você está sofrendo.
— Oh... — Então era por isso que ele estava naquelas condições, estava apenas a sentir o que Jungkook sentia. — Me desculpe.
— Você não tem culpa, um lobo branco vive em terras frias, aqui com certeza não é como a sua casa — Taehyung respirou fundo e continuou a caminhar.
— Não era a isso que eu me referia — disse ao segurar o casaco que vestia, podia sentir ele encharcar com seu suor. Taehyung desviou a atenção do caminho para encará-lo. — Me desculpe por arrastá-lo para essa bagunça, agora está preso a mim e está sendo obrigado a suportar tudo o que sinto por minha causa.
— Eu entendo os seus motivos — ele respondeu e Jungkook o encarou. — Sei que estava assustado, posso sentir a bagunça que está aí dentro agora. Eu também não aceitaria se fosse algo que não poderia me beneficiar de qualquer forma.
— Quais os benefícios de se ligar a mim? — Perguntou confuso.
— Nós somos a prova viva que as divindades não se odeiam, ou jamais deixariam o laço acontecer, agora temos os dois escolhidos vivendo sob minha proteção em Canis — Taehyung explicou com um sorriso. — Você ser o Najin Uruk pode nos ajudar, com suas habilidades, podemos colocar um fim nessa guerra.
Aquilo fez seu estômago se revirar, ele contava com suas habilidades de Najin Uruk, como iria dizer a ele que não as tinha desenvolvido?
— Pode começar a se arrepender então — Jungkook murmurou e Taehyung voltou a encará-lo.
— Por que diz isso?
— Verá que eu sou tão inútil quanto minhas pernas neste momento — respondeu ao engolir o bolo em sua garganta.
— Veremos — ele soou confiante e o encarou novamente, encontrou as íris vermelhas do alfa e arfou com a intensidade delas. — Salìk não permite que nada aconteça por acaso, deixarei que ele me guie para o caminho certo e por enquanto, ele me guiou até você.
Jungkook apenas absorveu o que ele disse, não sabia o que dizer de qualquer maneira, esperava que ele estivesse certo e visse alguma utilidade nele, até porque estava ligado ao alfa e esperava que ao menos, pudessem se dar bem. O laço de sangue havia sido um pedido tomado pelo desespero, mas agora que estava lúcido, sem ter o medo como principal motivação, notou que era loucura, havia feito um laço eterno com uma pessoa completamente desconhecida. Sabia que o alfa não faria algum mal a ele, até porque o machucaria também, mas existiam outras formas de machucá-lo sem serem físicas, o que faria se o alfa simplesmente decidisse que o método mais eficiente seria trancá-lo no calabouço pelo resto de sua vida para evitar que morresse? Foi um plano inconsequente, mas esperava que desse certo, faria dar certo, Taehyung tinha sua vida nas mãos, porém também tinha a dele, tinha que fazer aquele laço valer a pena.
Quando Taehyung anunciou a chegada, ele informou que iriam entrar pelos fundos, pois não sabia se tinha visitas e seria difícil de explicar o porquê havia levado um ômega para dentro de sua casa. Jungkook estava completamente embasbacado, quando o alfa lhe disse que o levaria para sua casa, imaginou um casebre ou no máximo um casarão, porém estava diante da maior construção que havia visto em sua vida, maior até mesmo que a casa dos líderes de Presa. Era uma construção de madeira com diversas janelas, o mais chocante era que estava nos fundos da casa, onde algumas pessoas entendiam panos brancos em varais sustentados por vigas de madeira, sequer tinha dimensão do quão grande era ao olhar somente os fundos da casa. Taehyung cumprimentou algumas pessoas, que o olharam com bastante curiosidade ao vê-lo nos braços do alfa, pôde ouvir os cochichos mesmo quando o alfa já havia adentrado a casa. Ele suspirou e parou no meio do que parecia ser uma cozinha.
— Boa tarde, alfa... — Uma mulher o cumprimentou com um sorriso, mas seu sorriso se foi e seu cenho franziu ao encarar Jungkook em seus braços.
— Dahyun, poderia por favor preparar um banho frio para nosso convidado? Prepare também algo para ele comer, está sedento e faminto — Taehyung pediu e ela piscou surpresa antes de assentir. — E por favor, evite que a chegada dele em minha casa se espalhe entre os aldeões.
— Sim, alfa — ela assentiu e caminhou em direção a porta ao qual entraram.
— Aquela é Dahyun, minha governanta, caso eu não esteja presente e precise de algo, pode chamá-la — Taehyung disse a Jungkook, quando voltou a caminhar e o ômega assentiu.
O alfa o carregou até o primeiro andar da casa onde haviam diversos corredores e portas, seguiu até o final dele e empurrou a porta com o quadril. Jungkook olhou em volta assim que adentraram o cômodo, era um quarto extremamente aconchegante e grande, havia uma enorme cama ao centro, um guarda roupa e uma cômoda, mas o que chamou a sua atenção foi a varanda, pois mesmo no colo do alfa, pôde ver uma praia ao longe na paisagem. Taehyung caminhou até a cama e o colocou sobre ela com cuidado, assim que seu corpo afundou no colchão macio, Jungkook suspirou aliviado, para quem estava acostumado a dormir em uma cama feita de peles de animais, sentir a maciez de um colchão era uma sensação muito gostosa. Mas o que realmente chamou sua atenção foi o forte cheiro de café que estava impregnado naquele quarto, quando se mexia sobre os lençóis o cheiro parecia se intensificar, o que mostrava que estava na cama do alfa.
— Irei chamar nosso médico para avaliá-lo, até que ele chegue, tome um banho e descanse — o alfa pediu e Jungkook assentiu. Taehyung caminhou até a varanda, abriu a grande porta de madeira e vidro que dava acesso a ela, sentiu uma brisa fresca entrar e bater em sua testa suada. — Dahyun virá ajudá-lo.
— Certo, obrigado — se encolheu sobre os lençóis ao notar o quão brancos eram.
— O que foi? — Perguntou ao encará-lo. Havia esquecido que ele sentia sua inquietação.
— Estou sujo, suado e fedido... Irei sujar seus lençóis branquinhos, terá que lavá-los — mordeu o lábio e encarou Taehyung quando o ouviu rir.
— Você não fede, ômega — disse como se tivesse dito um absurdo. — Seu cheiro de pêssego é mais forte que o cheiro de seu suor.
— Ah, certo — disse ao desviar o olhar.
— O que deixou seus sentidos anestesiados? — Taehyung perguntou de repente e surpreendeu-se com a pergunta. — Sua visão, audição, olfato e até mesmo o tato parecem comprometidos... Não é normal certo? Me deixa tonto.
— Eu fui drogado — explicou e aquilo pareceu não agradar Taehyung.
— Delta? — Perguntou e Jungkook assentiu. — Vou pedir para trazerem um antídoto, se ficar muito tempo em seu corpo, os efeitos podem ser permanentes.
— Certo, obrigado alfa — sorriu de maneira contida e Taehyung abriu um sorriso maior.
— Pegue qualquer roupa que quiser em meu guarda-roupa, depois darei um jeito de conseguir novas para você — o alfa disse ao caminhar para a porta do quarto e Jungkook assentiu. — Tenho alguns afazeres agora, descanse e conversamos mais tarde, ok?
— Ok — respondeu e deitou sobre a cama, estava realmente cansado.
Taehyung saiu do quarto e o deixou sozinho com seus pensamentos, o cheiro do alfa inundou o seu olfato e deu-se conta do quão forte era a fragrância dele, se realmente seu olfato estivesse comprometido, o fato de conseguir sentir o cheiro dele com tamanha intensidade, mostrava que era extremamente forte comparado a outros alfas. Jungkook relaxou quase que instantaneamente ao inspirar fundo, por alguma razão, o cheiro de café junto aos feromônios do alfa eram a mistura mais gostosa que seu nariz já sentiu, como um cheiro poderia ser tão bom? Quando estava prestes a cochilar a porta do quarto foi aberta e Dahyun entrou com uma pilha de toalhas, frascos e uma esponja, ela sorriu em sua direção e colocou tudo sobre a cômoda. Jungkook sentou-se sobre a cama e a observou caminhar até um biombo de madeira e tecido, onde notou haver uma banheira.
— Precisa de ajuda? — Perguntou, apesar de achar que seria meio inútil.
— Ah, não se preocupe com isso querido, não quero que suas feridas piorem — ela sorriu e voltou até a cômoda. — O senhor Kim me pediu para trazer o antídoto, porém, trarei apenas depois que sair do banho porque ele causa sonolência e não quero que se afogue na banheira. Aguente apenas um pouco mais, ok?
— Ok — Jungkook assentiu e Dahyun sorriu.
— Quer que eu o ajude a se banhar? — Ela perguntou e Jungkook negou.
— Não quero lhe dar mais trabalho, darei meu jeito — respondeu e arrastou-se até a beirada na cama, experimentou colocar os pés no chão e suspirou. Ainda doía, mas não iria dar mais trabalho a ela.
— Certo, neste caso preste bem atenção nas minhas instruções — ela disse séria e Jungkook assentiu, atento. — O primeiro frasco é para despejar na água, ele é um anestésico e um calmante, irá ajudá-lo com as dores, por isso deixe agir em seu corpo por alguns minutos. O segundo frasco é sabão, use-o para se lavar e lavar as feridas também — ela explicou e colocou os frascos em ordem sobre a cômoda, para não confundi-lo e Jungkook assentiu. — O último é para aplicá-lo em suas feridas quando terminar de se banhar, é um bálsamo, por isso não coloque as ataduras, virei colocá-las quando estiver dormindo, ok?
— Ok — assentiu e Dahyun sorriu.
— Bem-vindo a mansão Kim — ela disse com um sorriso largo e caminhou até a porta.
— Obrigado — Jungkook sorriu e Dahyun saiu do quarto após fechar a porta.
Jungkook olhou para os próprios pés e respirou fundo, não iria ser um peso morto que precisava ser carregado o tempo todo, era capaz de suportar aquela dor, seriam somente alguns passos de qualquer maneira, esperava apenas que Taehyung fosse tão tolerante à dor quanto ele. Com cuidado retirou as ataduras de seus braços e as colocou no chão, após analisar suas feridas notou o quanto estavam vermelhas e inchadas, mas o que chamou sua atenção foi um desenho em seu pulso esquerdo.Era uma lua minguante rodeada por espinhos, Jungkook imaginou que ainda estivesse drogado, pois podia jurar que os espinhos se moviam como cobras em volta da lua, mas quando piscou algumas vezes para visualizar melhor, ela na verdade estava imóvel, deduziu que aquela era a marca do Laço de Sangue ao qual Yongok havia mencionado.
Com cuidado, se apoiou na cama e se levantou, suas pernas doíam intensamente, mas nada que não conseguisse suportar, deu alguns passos até a cômoda e pegou os dois primeiros frascos.
— Ok... Só mais um pouco — respirou fundo e caminhou lentamente até a banheira.
Deu um passo de cada vez e quando finalmente chegou até a banheira sentou-se em um banquinho de madeira que estava ao lado da banheira, gemeu ao relaxar os músculos e suspirou, esperava apenas que aquele tormento não durasse muito. Despejou o conteúdo do primeiro frasco e observou a água aos poucos encher a banheira de cobre, apoiou a cabeça na borda e brincou com o dedo na água, ela estava fria, seria extremamente relaxante e aliviaria seu calor. Quando julgou estar cheia o suficiente, fechou a torneira e preparou-se para se despir, desabotoou o casaco de seu corpo com cuidado, pois seus braços também estavam doloridos e quando conseguiu deslizou o tecido de seu corpo até que estivesse no chão. Ainda com uma careta de dor, subiu no banquinho e entrou na banheira com cuidado, assim que seu corpo afundou na água fria, gemeu de satisfação.
A água fria relaxou seus músculos cansados e aplacou a alta temperatura de seu corpo, acreditou nunca ter tomado um banho tão bom em sua vida, até porque se banhar nas montanhas era um evento extremamente tortuoso por conta do frio. Ficou alguns minutos parado, deixou que a água fria e o anestésico fizessem efeito e simplesmente deixou seu corpo descansar com as costas apoiadas na banheira. Após muitos minutos, afundou-se na água e molhou seus cabelos, permaneceu submerso por alguns segundos, e de repente, sua visão foi tomada por imagens de um homem de cabelos pretos, ele usava uma capa de pele de urso e vestes de couro, havia um brasão em seu peito com uma montanha com duas presas cruzadas. Ele sorria em sua direção com uma expressão vitoriosa, assim que os olhos dele ficaram dourados, um medo absurdo tomou seu corpo e quando arfou assustado, a água adentrou em seu nariz.
Jungkook sentou-se na banheira de maneira atordoada e foi tomado pela tosse, tentou respirar fundo enquanto se engasgava desesperado em busca de fôlego, e quando conseguiu, puxou o oxigênio com o coração acelerado. Passou as mãos pelo rosto para se livrar do excesso de água e afastou o cabelos dos olhos — que estavam compridos o suficiente para tampar a sua visão — sua respiração ainda estava irregular quando se apoiou nas bordas da banheira para tentar se recuperar do susto. Tinha visões desde pequeno, nunca soube controlar e nunca o ensinaram, então elas iam e vinham quando queriam, em sua grande maioria desconexas e confusas, não sabia interpretá-las, então se perguntou, o que viu era uma visão do futuro ou uma lembrança de seu passado? Estava absorto em seus próprios pensamentos quando escutou passos apressados e de repente a porta do quarto se abriu em um estrondo, o que o assustou novamente.
— Jungkook?! — Ouviu a voz alterada de Taehyung atrás do biombo. — Jun-
— Estou aqui! — Respondeu e ouviu um suspiro aliviado do alfa.
— O que aconteceu? — Ele perguntou sem se aproximar.
— Eu... — Não tinha porque esconder dele, certo? Ele já sabia que era o Najin Uruk de qualquer maneira. — Eu tive uma visão enquanto estava submerso e acabei engolindo um pouco de água.
— Você está bem? — Ele perguntou preocupado.
— Estou, foi só um susto... — Esperava que fosse apenas isso mesmo.
— Você tem visões repentinas? — Taehyung voltou a perguntar.
— Ainda não sei controlar — suspirou. — Acontece de repente, sem aviso.
— Talvez minha avó possa te ajudar, quando estiver melhor o levarei até ela novamente — ele disse ao caminhar em direção a porta novamente. — Enfim, vou deixá-lo se banhar com privacidade, apenas fiquei preocupado quando sufoquei repentinamente.
— Desculpe, tomarei mais cuidado — havia se esquecido momentaneamente que Taehyung também sentia o que acontecia a ele.
O alfa saiu do quarto e Jungkook sentiu-se envergonhado, ele quase havia se afogado na banheira e matado o alfa junto, ele teria uma morte ridícula por sua causa. Abraçou as pernas e suspirou, a visão voltou a tomar espaço em sua cabeça e Jungkook se perguntou novamente o que Unàh queria lhe dizer, será que Yongok o ajudaria a descobrir? Que utilidade tinha suas visões se ele não soubesse interpretá-las? Reconhecia aquele homem, jamais poderia esquecer de qualquer maneira, os olhos dourados dele tinham o atormentado desde sua fuga de Presa, tinha medo de baixar a guarda e quando olhasse para trás iria encontrar as íris douradas, sentia-se vigiado por elas mesmo quando estava sozinho. Implorou que fosse apenas uma lembrança dolorosa, pois não queria e não suportaria encontrá-lo novamente no futuro, ter de encarar de frente aqueles olhos que lhe despertaram tanto pânico não estava em seus planos. Encostou sua cabeça na borda e sentiu sua nuca doer.
— Maldito...
(...)
Depois de estar de banho tomado e ter passado o bálsamo em suas feridas como Dahyun orientou, buscou roupas confortáveis no guarda-roupa de Taehyung, já que ele havia dito que poderia escolher o que quisesse. Por conta do calor escolheu apenas uma camisa de botões branca e uma roupa íntima que Dahyun trouxera para ele, não aguentaria o calor se vestisse calças, então após vestir-se deitou-se sobre a cama e cobriu-se com o lençol mais fino que tinha disponível no quarto, ele tinha como único intuito cobrir seu corpo desnudo. Antes de dormir, Dahyun voltou ao quarto com uma bandeja cheia de alimentos e o antídoto para a droga, somente o cheiro fez sua barriga roncar alto, por isso encheu seu estômago de comida, tomou o antídoto e caiu sobre o colchão novamente. Sequer demorou a adormecer, já que ainda não tinha tido uma boa noite de sono desde que fugiu de Presa, passou dois dias inteiros sem se alimentar ou conseguir descansar direito.
Despertou com uma sensação estranha de nervosismo em seu peito, que o deixou inquieto sobre o colchão e então se levantou, pois estava agoniado e não conseguia descansar. Notou pela claridade alaranjada do quarto que o sol estava prestes a se pôr, o que significava que seu sono havia durado poucas horas, então suspirou e tirou os lençóis de seu corpo, precisava fazer algo, aquela inquietação não o deixava dormir, precisava se acalmar. Quando colocou seus pés no chão de madeira notou ataduras novas e limpas, provavelmente Dahyun que havia as colocado, como havia dito que faria. Mesmo que o anestésico houvesse feito efeito e a droga não o deixava mais com os sentidos torpes, suas pernas ainda doíam ao caminhar, mas não deixou que aquilo o impedisse de tomar um ar, se levantou e se preparou para caminhar até a varanda.
Deu apenas alguns passos lentos em direção a varanda quando a porta do quarto foi aberta e Taehyung o encarou.
— Aonde vai? — Perguntou preocupado e desviou o olhar quando viu suas pernas desnudas. Ele caminhou até um cabideiro e pegou o roupão, antes de caminhar em sua direção e cobri-lo.
— Me sinto ansioso, não consegui dormir — respondeu ao passar os braços pelo roupão, enquanto o alfa o amarrava em volta de sua cintura. — Estava prestes a sair para buscar um ar na varanda.
— Desculpe, temo que seja minha culpa — ele suspirou e o encarou. — Estávamos falando sobre sua chegada no andar de baixo, acho que seria uma boa ideia apresentá-lo.
— A quem? — Perguntou temeroso.
— Aos membros do meu conselho — explicou e Jungkook franziu o cenho. — Precisam entender o que está em jogo, para que possamos escolher o melhor caminho. Estamos em guerra e você está indiretamente envolvido agora.
— Ah...
— Mas eu preciso avisá-lo — Taehyung fez uma careta. — Alguns deles são difíceis... Em sua maioria os aldeões vêem um filho de Unàh como inimigo, esteja preparado para ouvir os mais diversos absurdos e blasfêmias. — Explicou e Jungkook temeu ainda mais encontrá-los, temeu ainda mais o que ouviria. — Porém, a partir de hoje você está sob minha proteção, sou o alfa da alcatéia e não deixarei que seja diminuído na minha presença.
— Obrigado, alfa — suspirou, um pouco mais aliviado. Apesar de não aplacar completamente seu medo.
Taehyung assentiu e perguntou se poderia levá-lo e Jungkook apenas assentiu, estava para se tornar um hábito ser carregado pelo alfa, por isso tomaria cuidado para não se acostumar. Ele desceu as escadas e caminhou até um corredor, havia uma porta ao final dela, onde ocorria a reunião do conselho e Jungkook respirou fundo, sabia da inimizade entre os filhos de Salìk e os filhos de Unàh, ele próprio temeu seu destino ao descobrir que estava no templo de Najin Arik, mas não seria por isso que iria abaixar a cabeça. Ele passou por muitos desafios, fora torturado, aprisionado e ferido, não iria simplesmente aceitar que o transformassem em um vilão quando ele era apenas uma vítima, mostraria que poderia ser útil, que era um aliado. Quando estavam em frente a porta, Taehyung pediu que abrissem e então Jungkook resfolegou.
Haviam dez pessoas na sala todas em volta de uma grande mesa de madeira com um mapa no centro, havia cinco cadeiras de um lado e cinco do outro, onde todos estavam sentados e o encaravam com seriedade. Taehyung caminhou até a ponta da mesa e o sentou em uma poltrona com cuidado, pela divisão do lugar, onde estava sentado era o lugar do alfa da alcatéia, sentiu-se pequeno, uma presa prestes a ser predada. Passou cautelosamente os olhos por todos os rostos daquele lugar, havia rostos jovens e outras feições mais maduras, Taehyung se colocou ao seu lado e manteve-se de pé, como um guarda-costas. Seu lobo revirou-se dentro de si ao sentir o cheiro de tantos lobos a sua volta e se impôs também, para mostrar que, mesmo ferido, não era indefeso, era um mecanismo de defesa mostrar que ele não era uma presa, era um lobo também, um predador.
— Então ele é o lobo branco? — Um homem perguntou com os olhos fixos aos dele.
— Sim, seu nome é Jungkook — Taehyung explicou.
— Por que Delta tentaria levá-lo? — Um homem com uma voz suave e beleza jovial perguntou a Jungkook com a expressão banhada em confusão. Ele tinha um cheiro doce, um ômega. — Que utilidade um filho de Unàh teria a eles? — Iria respondê-lo, porém não conseguiu.
— Os lobos de Delta gostam de excentricidades — uma mulher o interrompeu ao encará-lo com atenção. — Provavelmente tentariam vendê-lo aos nobres para se tornar um brinquedo.
Aquilo fez um arrepio subir por sua espinha, pois lembrou-se das palavras deles quanto a sua aparência quando o pegaram.
— Esse não é o motivo — Taehyung respondeu com a voz banhada em nojo.
— Então qual é? — Um homem com um cheiro familiar respondeu. — Quando tratei as feridas dele notei que eram marcas de mordidas lupinas, se realmente fossem vendê-lo como um escravo, não iriam "danificar a carga". — Fez aspas com as mãos e sua expressão estava tão enjoada quanto a de Taehyung.
— Por que não perguntam a ele? — O ômega com o cheiro doce perguntou com o cenho franzido. — Estão fazendo suposições como se ele não estivesse presente na sala!
— Sinceramente, não quero saber o que um habitante de Presa, filho de Unàh tenha a dizer — a mesma mulher de antes respondeu e encarou uma ômega que estava ao seu lado. — Não concorda Hyeri?
— Na verdade não — a ômega respondeu com seriedade, ela não aparentava ser tão nova, sua expressão dizia que ela era mais velha do que suas feições joviais mostravam. — Estou curiosa para saber o porquê meu filho poupou a vida dele. — Jungkook ergueu as sobrancelhas ao perceber que ela era a mãe de Taehyung.
— Não importa o motivo, isso é uma blasfêmia contra Salìk! — A mulher argumentou e o homem que estava a sua frente concordou. — Ele trará maldições a nosso povo!
— Tome cuidado com o que diz Doeyon — Taesu disse enquanto encarava a mesa. — Se arrependerá de tamanha falta de respeito assim que entender o motivo dessa reunião. — A atenção dele desviou da mesa e encontrou os olhos de Jungkook, podia ver o arrependimento neles e aquilo o deixou aliviado.
Menos um com desejo de ter seu sangue em mãos.
— Jimin está certo — Taehyung se pronunciou e todos o encararam. — Parem de ignorar sua existência e deixem que ele próprio se apresente. — Assim que terminou de falar olhou em direção a Jungkook, em um pedido silencioso que se apresentasse.
— Antes de ir direto ao ponto — Jungkook começou e segurou o roupão ao sentir seus dedos trêmulos. — Sim, eu sou de Presa, um nortista filho de Unàh. — Respondeu ao olhar para a mulher ao lado da mãe de Taehyung, que pareceu desgostar ainda mais de sua presença. — Eu fugi de minha alcatéia há duas luas, mas não cheguei tão longe, fui capturado por lobos de Delta antes mesmo de conseguir sair do território de Presa.
— Então foi assim que o encontramos — um alfa constatou e ao observá-lo melhor, Jungkook notou que era o mesmo homem que usava o brasão de lobo prateado no peito, o mesmo que o levou até a alcatéia de Taehyung. — Por que tentaram levá-lo?
— Porque eu sou o Najin Uruk de Unàh — respondeu e todos que estavam sentados à mesa, fora Taesu, arregalaram os olhos. — Eles tentaram me levar para que pudessem me usar como uma arma de guerra. — O silêncio tomou a sala por alguns segundos, ninguém ousou quebrar o silêncio até que ele próprio o fizesse. — Eu sou abençoado por Unàh com a vidência, em Presa queriam usar meus dons para ganhar vantagem sobre uma guerra ao qual eles queriam travar contra outras alcateias.
— Você pode ver o futuro? — Um homem que estava em silêncio até então perguntou chocado e Jungkook assentiu. — Nem mesmo nossa Najin Arik consegue fazê-lo...
— O dom da sabedoria — Hyeri sussurrou em estado de pavidez.
— Então isso não o torna uma ameaça ainda maior? — O homem que anteriormente concordou com a mulher ao lado de Hyeri se levantou de repente. — Se o pegarem, seremos derrotados! É uma oportunidade de nos livrarmos de uma das armas de Delta e Presa, se não tiverem o Najin Uruk para ajudá-los, venceríamos!
— Além de que iríamos enfraquecer a alcatéia dos filhos de Unàh! — A mulher concordou com um sorriso e Jungkook sentiu seu lobo se agitar, foi baseado naquele pensamento que tomou atitudes tão drásticas para sobreviver. — Se o matarmos podemos-
— Calem-se! — Taehyung gritou ao seu lado com sua voz lupina e todos estremeceram. — Estão diante do porta-voz de uma divindade e querem matá-lo? Quem são vocês para decidirem o futuro dele?!
— Alfa, não podemos arriscar entregá-lo aos nossos inimigos, com a vidência dele em mãos erradas, seremos dizimados — o homem argumentou e pode sentir o lobo de Taehyung se expandir, como se estivesse dentro dele também. — Salìk jamais irá aceitar a presença de um filho de Unàh em nossa alcatéia.
— Pois saibam que o próprio Salìk interviu a favor dele — ele revelou e todos ficaram chocados, como o próprio Jungkook. — A orientação de Salìk era que o mantivéssemos ao nosso lado, custe o que custar.
— Por isso fez o Laço de Sangue? — Taesu perguntou e se possível, os olhos de todos a mesa quase saltaram das órbitas.
— Um Laço de Sangue?! — Hyeri se levantou exaltada e Taehyung assentiu.
— Fiz um laço de Sangue com o Najin Uruk de Presa — respondeu e ergueu o pulso, onde havia o desenho de um sol envolto por vários espinhos. — Nem Salìk e nem Unàh se opuseram ao laço, pois senão, estaríamos mortos.
— Ele o manipulou a fazer isso, não foi? — A mulher ao lado de Hyeri perguntou e Jungkook se irritou.
— Eu não o manipulei a nada! Sugeri o Laço para poder sobreviver e ele aceitou! — Jungkook respondeu irritadiço e mesmo ferido se levantou, se recusava a ser olhado de cima por ela mesmo que tivesse que suportar a dor pungente em suas pernas. — Foi uma decisão tomada por conta de opiniões como a sua! Para evitar que pessoas iguais a você tirem a minha vida como se não valesse nada!
Seu lobo uivou dentro de si e tinha certeza que seus olhos manifestavam a cor de seu ômega.
— Pois agora está feito, se me matarem, o alfa dessa alcatéia irá junto comigo! — Olhou no fundo dos olhos da mulher, que arregalou os olhos. — E então, a vida dele é tão insignificante quanto a minha? Se quiser minha morte, terá que matá-lo também!
~🐺~
ISSO AÍ JUNGKOOK, BOTA MORAL!
O JK é um lobinho que não leva desaforo pra casa, mamou?
Enquanto isso o Tae assim: 👁️👄👁️💅🏻
Nos vemos no próximo capítulo meus amores💜
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