But I hear sounds in my mind
Brand new sounds in my mind
But honey, I'll be seein' you 'ever I go
But honey, I'll be seein' you down every road
(I'm waiting for it, that green light, I want it)

Green Light - Lorde

•••

Minji seguiu Jungkook para fora do prédio. Assim que pararam em um lugar menos movimentado, ela cruzou os braços sentindo-se um pouco desconfortável, enquanto Jungkook encarava o chão parecendo pensar um pouco antes que começasse a falar.

— Então, eu... — Ele finalmente falou depois de algum tempo. Minji o encarou curiosamente. — Ah... Não sei como fazer isso!

— Fazer o quê? — Ela queria manter o orgulho, mas não podia negar que Jungkook envergonhado era algo fofo de se ver. Observou-o suspirar.

— Me desculpar... — Jungkook respondeu, tão baixo que quase não conseguiu ouvir, mas deixou-o continuar. — Eu gostaria de me desculpar.

— Isso está mesmo acontecendo? — Brincando, Minji arregalou levemente os olhos. — Woah...

— Não torne isso mais difícil do que já está sendo. — Jungkook choramingou, olhando para qualquer ponto que não fosse ela, porém algo suavizou no rosto dele quando Minji soltou uma risadinha. — Eu fui um idiota com você.

— Um completo idiota. — Ela completou e foi a vez de Jungkook rir.

— Entendo que tenha ficado chateada, na hora eu também fiquei e acabei descontando tudo em você, mas... Estou realmente arrependido. Fiquei me sentindo mal depois, senti que deveria me desculpar por ter te tratado daquela forma. — Jungkook olhava nos olhos dela ao dizer isso.

— Eu acredito em você, e aceito suas desculpas, Jungkook. — Sorriu ao ver o sorriso tímido do outro. — Mas não fiquei exatamente chateada pela forma que me tratou, e sim porque você não foi sincero comigo. Quer dizer, eu sei que não deu para rebater o Jimin naquele momento, só que, sei lá, você poderia ter me mandado uma mensagem explicando, ou nem ter mandado nada, porque assim eu entenderia que você não iria querer. Seria melhor do que você ter se forçado a fazer algo contra a sua vontade, óbvio que daria tudo errado.

Minji observava a expressão no rosto de Jungkook desmoronar a cada palavra que falava, era notável o brilho de culpa no olhar dele.

— Minji, eu sei que em algum momento pareceu que eu não queria estar ali, eu até mesmo falei que não devia ter ido, mas a verdade é que eu não iria se não quisesse. — Jungkook coçou o meio das sobrancelhas quebrando levemente o contato visual. — A princípio eu estava com medo, porque não sou bom explicando as coisas e não seria legal você se dar mal por minha causa, depois tudo desandou e agi feito um estúpido. Não sou muito bom com palavras e muito menos me expressando, mas eu realmente queria te ajudar, e ainda posso... Se você quiser.

— O que você está querendo dizer com isso? — Perguntou um tanto quanto incrédula.

— Estou te pedindo uma segunda chance para tentar te ajudar, dessa vez sem pressão do Jimin e sem idiotice da minha parte. Estou lhe oferecendo minha ajuda sincera. O que me diz?

— Isso é sério? Tipo... Sério mesmo? — Minji o olhava desconfiada, em busca de algum vestígio de brincadeira, mas Jungkook apenas balançou a cabeça de forma positiva. — Então, se realmente não for um problema pra você, eu aceito.

— Sábia escolha. — Ele abriu um sorriso tão enorme que, mais uma vez, Minji sorriu junto. — Você vai ver que, depois das minhas aulas, será a melhor pintora de todo o campus, depois de mim, é claro. — Dessa vez Minji gargalhou.

— Você diz como se tivesse paciência quando não entendo nada. — Arriscou brincar, ainda que um pouco receosa ao lembrar do dia anterior.

— Ah... Isso é porque eu nunca tive uma aluna tão lerda quanto você. — Felizmente Jungkook se juntou a brincadeira.

— Você já teve outros alunos antes?

— Não. — Ele respondeu, rindo ao ver Minji revirar os olhos. — A não ser meus amigos... Pensando bem, você e Jimin poderiam entrar em uma competição sobre quem é mais lerdo.

— Acho que já tá bom de ofensas por hoje, você não acha, Jeon Jungkook? — Cruzou os braços.

— Desculpe. — Ele foi rápido ao falar, mas o sorriso ainda estava ali.

A conversa teve uma pausa quando Jungkook tirou o celular do bolso com uma feição curiosa, provavelmente por ter recebido uma mensagem, já que no minuto seguinte ele começou a digitar freneticamente com um vinco na testa. Minji aproveitou a distração para observá-lo, os enormes olhos brilhantes e focados no que escrevia, as bochechas levemente inchadas, os piercings nos lábios que formavam um bico adorável que ele nem parecia perceber que estava fazendo. Jungkook é lindo.

Minji ficou olhando mais tempo do que gostaria de admitir, mas rapidamente desviou a atenção quando percebeu que ele parou de digitar e inclinou levemente a cabeça, fazendo uma careta mais profunda que a anterior. Minji passou a chutar uma pedrinha no chão, suspirando e cantarolando distraidamente a musiquinha de um comercial aleatório que não saía de sua cabeça.

— Minji-ssi. — Ela levantou a cabeça ao ouvir o chamado, deparando-se com aqueles olhos brilhantes a encarando com uma certa expectativa. — Vai almoçar agora?

— Pretendo. Por quê?

— Você gostaria de... Hum... Almoçar comigo? Quer dizer... — Jungkook coçou a garganta. — Comigo e com Jimin?

— Pode ser... — Ela riu da timidez repentina de Jungkook. — Vai ser legal.

Ele assentiu e moveu a mão na frente dela, como se indicasse o caminho, e em poucos segundos estavam andando lado a lado, inicialmente em silêncio, até Jungkook cortar o dedo em uma mureta coberta de chapiscos e reclamar pelo susto. A partir dali as palavras foram surgindo de forma acanhada antes de evoluírem, até que o tópico tornou-se seus próprios cursos e aulas.

— A propósito... — Ela começou. — Me desculpe por ter te sujado de tinta.

— Tudo bem, não se preocupe. — Jungkook respondeu suavemente, parecendo realmente mais calmo em relação a isso.

— Sua roupa deve ter ficado toda manchada...

— Sim, mas eu vou mandá-las pra minha mãe, ela sempre soube como tirar essas manchas difíceis dos tecidos. Eu vivo mexendo com tintas, isso não foi nada anormal.

— Espero que ela consiga tirar, mas caso não consiga, me avise, ok? Eu compro outras.

— Minji-ssi, já disse que não precisa se preocupar com isso. — Ele riu. — Não pense muito sobre minhas roupas, na verdade eu gostaria apenas de saber como você irá lidar com isso...

Jungkook jogou uma parte da frente do cabelo para trás e o segurou, dando a ampla visão de sua testa, Minji se assustou levemente com a ação, mas quando notou que havia uma mancha azul um pouco desgastada ali, não pôde deixar de gargalhar. Jungkook entrou em uma rápida explicação sobre como o produto que usava havia acabado, o que a fez rir ainda mais, até que ele começou a rir também em meio ao seu argumento.

— Não tem no ateliê? — Perguntou assim que se recuperou, secando algumas lágrimas dos olhos.

— Eu não tinha pensado nisso! — Jungkook exclamou. — Depois vou dar uma olhada. Obrigado.

— E ainda se acha no direito de me chamar de lerda. — Retrucou, fingindo ser convencida.

Eles continuaram andando e conversando, bem mais confortáveis com a presença um do outro. Era novo para Minji vê-lo ser todo brincalhão e mais aberto, poderia dizer que efetivamente gostou daquilo. Ela percebeu que Jungkook vez ou outra olhava para o dedo indicador, onde um pequeno corte estava, e viu que sangrava um pouquinho.

— Espere um momento. — Minji parou no lugar ao pensar em algo e Jungkook a olhou sem entender. — Já volto! Fique aqui, ou vai pro refeitório e eu te encontro lá.

Minji não esperou Jungkook responder, saiu correndo determinada a encontrar o que queria.

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Jungkook ficou parado no local por alguns minutos, extremamente confuso, mas optou por esperar Minji por ali mesmo e sentou-se em um banco. Sem muita pressa abriu o bolso frontal da mochila e remexeu um pouco até achar uma caixinha de band-aids, nunca realmente havia usado aquilo, mas sabia que sua mãe colocava esse tipo de coisas em sua bolsa quando ia visitá-la. Riu consigo mesmo abrindo o pacote tirando um band-aid de lá e tentou, de maneira atrapalhada, enfaixar o próprio dedo. Depois de feito, ficou mexendo no celular por alguns minutos até Minji aparecer novamente, ela se apoiou nos joelhos, ofegante por conta da corrida.

— Por que a enfermaria tinha que ser tão longe? — Ela indagou quando conseguiu recuperar o fôlego.

— Enfermaria? — Jeongguk perguntou, levantando-se do banco. — Foi fazer o que lá?

— Pegar isso aqui. — Ergueu a mão que estava segurando uma pequena caixa de band-aids. — Não se ache muito.

Em um milésimo de segundo Jungkook assimilou que aquilo era para o dedo dele e se sentiu mal por ter tido a mesma ideia antes que ela voltasse. Pensou em todo o trabalho que Minji teve para se preocupar em pegar os band-aids e, sem pensar muito, colocou as mãos atrás do corpo. Enquanto Minji abria o pacote, ele tentava se livrar da bandagem adesiva que estava em seu dedo sem que ela percebesse, não estava sendo uma tarefa fácil, porém conseguiu tirar no momento exato em que Minji pediu para ele estender a mão, e assim o fez.

— Eu ia trazer uma pomada anti-inflamatória também, mas não achei. — Tirou com cautela os pequenos papéis do band-aid. Jungkook sentia as bochechas cada vez mais quentes.

— Não precisava fazer isso...

Calou-se assim que ela tocou em sua mão. Minji estava sendo cuidadosa nos atos, mas apenas com aquele leve tato, Jungkook pôde mergulhar naquela sensação inigualável e vislumbrar novamente o bosque.

— Pronto! — Ela afastou as mãos e riu enrugando o nariz. — Que lindinho.

Só então Jungkook saiu do transe e olhou para o dedo indicador, reparando que o curativo era de ursinhos pandas. Riu balançando a cabeça.

— Você pegou esses de propósito, não foi?

— Talvez... — Minji falou de uma maneira que provou que o que fez fora totalmente proposital e indicou o caminho para que eles voltassem a andar, e assim o fizeram. — Mas é fofo, vai...

— Ah... Que vergonha. — Jungkook riu e olhou novamente para o dedo. — Mas sim, é fofo.

Após chegarem ao refeitório, pegarem as bandejas sem muitas delongas porque praticamente já não havia mais fila, então passaram a procurar Jimin, que também não foi difícil, já que ele estava acenando freneticamente para eles em uma mesa no canto, e assim que o alcançaram, foram recebidos com um grande sorriso, típico de Jimin.

— Vocês demoraram. Minha comida já deve ter esfriado.

— Nos perdoe pela demora, Jimin-ssi. — Minji disse, sentando-se ao lado dele e Jungkook de frente para eles. — Jungkook é o culpado.

— Por que eu? — Perguntou após engolir a comida. — Você que saiu correndo pra pegar band-aid.

— Eu não precisaria ter feito isso se você não tivesse machucado o dedo. — Um tom verde na voz dela inclinava-se para uma espécie de diversão, Jungkook cerrou os olhos.

— Que história é essa? — Jimin interveio.

Eles contaram brevemente o que havia acontecido, e logo entraram em alguns outros assuntos, dessa vez Jungkook não se sentia tão deslocado, mas ainda assim falava menos do que os outros dois. Em certo ponto Jimin o cutucou e lhe enviou um sorriso que Jungkook entendeu como "estou feliz e orgulhoso de você" ao que Jungkook retribuiu um pouco envergonhado. A conversa continuou fluindo normalmente, até Minji arregalar os olhos comicamente ao fixá-los em um ponto no braço de Jimin.

— Ai meu Deus, não se mexe. — Ela sussurrou meio que gritando. — Tem uma aranha no seu braço.

— Aranha? Não tem nada demais elas são inofen... — Jimin ia respondendo calmamente enquanto tentava achá-la com os olhos, que também se arregalaram comicamente a notar o tamanho da criatura. Ele visivelmente começou a se desesperar e falar rápido e exasperado. — Tira! Tira, tira, tira isso de mim!

— O que eu faço? — Minji dizia tão rápido quanto ele, com uma voz mais alta e fina que o comum. Jungkook estava se divertindo com as cores.

— Tira ela do meu braço. — Choramingou.

Jimin parecia mais nervoso e Minji desesperava-se junto com ele. Jimin começou a gritar para ela tirar enquanto a aranha subia cada vez mais e Minji gritava de volta dizendo que não queria matar um ser vivo. Todavia, as vozes agudas de ambos misturavam-se em uma variação de cores, Jimin sacudia o braço e Minji parecia mais perdida que tudo enquanto ele choramingava, até que tudo aconteceu muito rápido, de um segundo para o outro ela deu um forte tapa no braço esquerdo de Jimin, e em seguida abriu a boca parecendo indignada.

— Eu sou uma assassina!

Jimin olhava do braço para Minji, a pele atingida ganhando um tom avermelhado em forma de dedos, ele então começou a olhar para as roupas e mesa. Jungkook distraidamente esfregou o próprio braço sentindo um leve formigamento.

— Acho que não, ela provavelmente caiu e fugiu... — Jimin constatou após não ter achado o cadáver da aranha. — Ah Minji-ssi, agora meu braço está ardendo.

Jimin acariciou o próprio braço resmungando enquanto Minji se desculpava consecutivamente. Foi então que Jimin parou e olhou repentinamente para Jungkook, provavelmente notando seu silêncio durante toda a situação. Jungkook ainda esfregava o braço direito da mesma forma que Jimin fazia alguns segundos antes, então um lampejo de reconhecimento brilhou no olhar dele, entendendo que Jungkook estava, em algum nível, sentindo o tapa que o próprio Jimin havia levado.

Empatia: ação de se colocar no lugar de outra pessoa.

Jungkook ainda acariciava o braço esperando que aquela sensação incômoda fosse embora. Não passava de um leve formigamento, provavelmente nada na intensidade que o amigo sentia, mas ainda assim Jimin o olhava com um pequeno sorriso provocativo nos lábios, forçando-o rolar os olhos e ignorá-lo.

Minji, por sua vez, dizia algumas coisas um pouco incomuns relacionadas à família da aranha que ela supostamente matou, e não tardou para que o sorriso de Jimin evoluísse para uma gargalhada ao ouvir tais coisas.

— Você quer levar outro tapa, Jimin? Dessa vez será proposital. — Minji parecia muito dedicada em defender seu ponto de vista.

— Eu adoraria também, mas por favor, sem mais tapas. Um já foi suficiente. — Jungkook por fim se pronunciou, recebendo um olhar confuso de Minji.

— Por que você...

— Eu sou muito importante na vida dele. — Jimin a interrompeu, ainda rindo. Jungkook bufou e colocou as mãos em frente aos olhos após fechá-los.

— Minji-ssi, por favor, bata nele.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Vocês estão dizendo coisas que não fazem muito sentido pra mim. — As cores dela ainda bailavam através dos olhos fechados de Jungkook.

Sinestesia espelho-toque, uma das mais interessantes para Jungkook - e a que ele mais demorou para se acostumar entre as quatro - é uma condição rara em que a percepção de um toque no corpo de outra pessoa induz naquele que a observou a sensação de ter sido tocado da mesma maneira. Os que a possuem sentem os toques que vêem os outros receberem, como carícias ou pancadas, ou faz com que sintam dor apenas de ver uma outra pessoa, por exemplo, levando um tombo ou sendo picada por algum inseto. Se um sinesteta estiver parado na frente de outro indivíduo e este for atingido no braço direito, o sinesteta sentirá no braço esquerdo, como um espelho. Além de sentir as dores e os contatos que os outros recebem, os portadores desse distúrbio geralmente estão geralmente em contato com os sentimentos dos outros e têm maior habilidade em reconhecer emoções.

Depois de algumas pesquisas e idas ao neurologista, Jungkook descobriu que isso acontece por causa dos neurônios-espelho, que são neurônios especializados e normalmente ativam-se quando alguém está realizando uma atividade ou vendo outra pessoa fazer uma atividade. Mas, nos sinestetas espelho-toque, os neurônios-espelho são extremamente ativos, determinando o desenvolvimento excessivo da empatia emocional involuntariamente.

Apesar de ser curiosamente rara, há uma característica ainda mais peculiar no modo em que ela se manifesta em Jungkook, a tornando menos comum ainda: essa sinestesia revela-se nele apenas quando engloba alguém no qual ele possui um elo afetivo, ou melhor dizendo, Jungkook só é o "espelho" de pessoas consideradas importantes, de forma emocional, para ele. Mas não é sempre e nem com todas as pessoas que considera especiais, e também não ocorre com todos os toques e dores, na verdade é bem seletivo e se manifesta em momentos aleatórios, porque às vezes nem acontece. Como esse tapa em Jimin, ele sentiu ao assistir, mas poderia acontecer de não sentir nada também, porém quando surgem essas aleatoriedades, são sempre com pessoas que ele realmente gosta. Além disso, ele não sente a dor real que a pessoa sente, mas ele sente algo, às vezes mais forte, outras vezes menos intenso, geralmente surge em forma de formigamento. Jungkook desistiu de entender, porque era estranho até mesmo para ele, mas preferia assim, pois já havia visto casos em que os sinestetas sentiam com qualquer pessoa, e pensa que deve ser horrível conviver com o medo, apesar de os entender, sabe que para eles deve ser ainda pior.

Jungkook conhecia Jimin desde sempre, pois os pais de ambos eram amigos pessoais e de negócios, ele tinha vagas lembranças de tê-lo odiado quando o conheceu, e ria sempre que lembrava disso. Uma vez, quando ainda eram pequenos, Jimin havia caído com tudo no chão, e Jungkook, ao observar, sentiu uma dor se alastrar por todo o seu joelho. Perguntava-se em que momento havia caído para ter se machucado assim, era como se ele também tivesse levado uma queda. Não conseguia entender aquela ardência na pele e devido a isso começou a chorar muito, o pequeno Jimin, que olhava para a própria perna com lágrimas pinicando seus olhos, caminhou com dificuldades até ele ao ouvir Jungkook gritar e chorar. Aquele dia foi apenas a primeira das infinitas vezes que Jimin mostrou que tinha o maior coração que Jungkook conhecia, porque mesmo que ele não estivesse entendendo nada, segurou as próprias lágrimas para confortá-lo, e a partir dali eles se tornaram melhores amigos.

No ano anterior, quando entraram na faculdade, a dupla havia conseguido ficar no mesmo dormitório com uma pequena ajuda de seus pais, o quarto já era ocupado por Hoseok, que os recebeu com muita alegria e comentava a todo o tempo o quanto estava feliz por ter ganhado dois irmãos mais novos tão fofos. Ele estava sendo um hyung tão carinhoso e legal para Jungkook, que demorou menos de três meses para que ele soubesse que Hoseok era realmente importante para si durante uma situação aleatória em que acabou vendo ele batendo o ombro com força no batente da porta. Era assim que ocorria, ele não controlava.

— Nada demais. — Jungkook respondeu respondeu a pergunta que Minji havia feito, abaixando as mãos. Era um pouco complicado explicar sobre, ainda mais se tratando das nuances da sua.

Minji o encarou por alguns segundos, mas por fim decidiu não questionar. Jimin, o anjo que era, sabia que esse não era o assunto favorito de Jungkook e rapidamente quebrou a bolha silenciosa falando alguma coisa qualquer sobre filmes de animais, fazendo com que Minji contribuísse com as opiniões dela. Jungkook então voltou ao conforto do silêncio, permitindo-se mergulhar nos próprios pensamentos e nem notando o tempo passar.

— Você está quieto demais. — A cachoeira de cores preencheu sua visão, e só então havia percebido que Minji estava sem falar nada por um tempo também.

Jungkook estava olhando fixamente para o band-aid em seu dedo não pensando em nada específico, só estava distraído demais e imerso nas paletas coloridas ao seu redor, isso era uma ocorrência constante na vida dele.

— Tava até engraçado ver você viajando aí, mas percebi que você provavelmente seria capaz de ficar assim por horas.

— Cadê Jimin? — Jungkook arqueou as sobrancelhas ao perceber que o melhor amigo não estava mais ali.

— Saiu tem uns cinco minutos. — Minji riu ao olhar para o rosto de Jungkook. — Ele se despediu, não lembra?

— Não... — Riu fraco, sentindo-se um pouco idiota e tímido. — Ele falou aonde iria?

— Acho que para a biblioteca. Ele disse que precisava estudar.

— Certo... — Suspirou olhando para o resto de comida em sua frente e empurrou um pouco sua bandeja, já estava satisfeito.

Os dois entraram em uma nova conversa, dessa vez sobre as aulas que Jungkook daria, e resolveram que iriam marcar algum momento depois por mensagens, visto que ambos eram muito indecisos para conseguirem determinar algo naquele momento. Eles levantaram e levaram as bandejas de volta e caminharam lado a lado em direção ao pátio que dava acesso às alas dos dormitórios. Conversavam distraidamente até uma cabeça se enfiar entre eles, assustando-os.

— Taehyung! — Minji revirou os olhos, mas acabou rindo ao olhar para o rosto de Jungkook.

— Minji! — O estranho respondeu de volta, também rindo, e voltou a atenção para Jungkook. — E você é...?

— O quê? Ah... — Coçou a garganta, tentando puxar na memória onde havia visto aquele cara antes. — Jeon Jungkook.

— Espera... Jungkook? — O tal Taehyung parou de andar de repente, fazendo com que Jungkook e Minji também parassem, e começou a apontar para ele enquanto olhava para Minji com uma feição questionadora. — Foi ele que...?

— Kim Taehyung, é melhor você calar a sua boca.

Kim Taehyung! Jungkook lembrou. Já tinha ouvido Minji falar dele algumas vezes, demorou a associar que se tratava do irmão da própria. A pessoa que se tornou a nova adição na conversa respondeu Minji e Jungkook pôde, desta vez com mais atenção, observar àquelas novas cores.

Taehyung tinha uma voz verde, mas não um verde escuro e opaco, era um verde quase ciano, um verde água, Jungkook diria. Vinha em ondas calmas que lembravam um mar sendo movimentado pacificamente pelo vento, a tonalidade grave também trazia linhas e espirais laranjas brilhantes, bailando suavemente entre as oscilações.

— Jeon Jungkook. — Taehyung o encarou de forma muito séria. — Você é um idiota.

— Eu sei... Calma aí! O quê? — Jungkook não estava entendendo muito bem aquelas ações e intimidades inexistentes da parte do outro. — De graça assim?

— Você é um idiota. — Taehyung repetiu.

— Você também é! — Jungkook cruzou os braços sentindo-se ofendido.

— Não me chame de idiota, você nem me conhece.

— Você também não me conhece e está me chamando de idiota.

— Você deixou a minha irmã tr...

— Será que dá pra vocês pararem? — Minji interrompeu a sentença e olhou-os com muito julgamento.

— Ele que começou! — Jungkook acusou e Taehyung o imitou fazendo careta.

— Vocês acabaram de sair do jardim de infância? — Ela questionou novamente.

— Você não pode falar de ninguém, tava quase chorando por ter matado uma aranha. — Jungkook rebateu.

— Você matou uma aranha? — Taehyung olhou-a de forma abismada.

— Isso não vem ao caso agora. — Minji suspirou ao coçar a testa com o dedo indicador. — De qualquer forma, Jungkook, esse é Taehyung, meu irmão. Tae, esse é o Jungkook e... Está tudo bem agora, não se preocupe. — Ela olhou para Taehyung de forma significativa.

Os irmãos se encararam por alguns segundos, fazendo uma espécie de troca silenciosa, então, sem mais nem menos, Taehyung olhou para Jungkook e sorriu abertamente como se nada tivesse acontecido. Jungkook observava o comportamento alheio com cuidado ao notar que Taehyung se aproximava com uma expressão curiosa.

— Olá. — Falou um pouco próximo do ouvido do ouvido de Jungkook, em um tom de voz desnecessariamente alto. Minji bateu na própria testa.

— O que você está fazendo? — Minji puxou o irmão pela camisa.

— Você não disse que ele tem aquela coisa engraçada?

— Sim, mas não precisa gritar no ouvido dele.

— Só queria testar. — Taehyung riu parecendo um pouco envergonhado.

— Coisa engraçada? — Jungkook sentiu-se um pouco ofendido.

— Deve ser divertido ter. — Taehyung parecia realmente genuíno, sem nenhuma espécie de zombaria no rosto ou voz, Jungkook então saiu da defensiva.

— Tudo bem. — Respondeu rindo um pouco. — Só nunca chamaram minha sinestesia assim antes.

— Gosto de ser o primeiro a fazer algo. — Taehyung de de ombros.

— Nem parece que estavam se chamando de idiotas alguns minutos atrás. — Minji debochou.

— As melhores amizades começam assim. — Taehyung respondeu, levando uma das mãos até a cabeça de Jungkook e bagunçando levemente seu cabelo. — Sinto que seremos grandes amigos... Se você não deixar a Minji triste de novo, é claro.

Jungkook estava tímido e não sabia o que responder, mas sentiu algo pesar em seu interior ao saber que havia entristecido Minji. Percebeu que Taehyung o olhava atentamente, como se tentasse descobrir o que passava em sua mente.

— Eu não vou. — Disse firme.

— Ótimo! — Taehyung sorriu novamente e levou uma das mãos até a bochecha de Jungkook, apertando levemente. — Você é fofo.

Baixas gargalhadas infantis ecoaram nos ouvidos de Jungkook, como se crianças alegres estivessem brincando em um parquinho, algumas capturas fotográficas também podiam ser sutilmente ouvidas. Era um cenário agradável e caloroso, se sentiu feliz e acolhido por poder vislumbrar tal coisa com o toque de Taehyung.

— Obrigado... — Sorriu com a boca fechada, sentindo-se estranhamente envergonhado. Estava achando Taehyung um garoto engraçado.

— Bom, vou indo nessa, acabei vendo vocês por acaso e quis dar um oi. Foi um prazer te conhecer, Jungkookie. — Taehyung deu leves tapinhas no ombro de dele e um beijo na bochecha de Minji antes de se afastar cantarolando alguma coisa.

— Desculpe por isso. Meu irmão é um pouco... hiperativo, digamos assim. — Minji falou após alguns momentos quando ambos tornaram a caminhada.

— Tudo bem, ele parece ser legal. — Jungkook riu e logo pensou em algo. — E foi a única pessoa que não me perguntou as cores que tem.

— Deve ser chato ouvir essa pergunta sempre, não é? — Minji carregava uma certa culpa no tom de voz, algo diferente nas cores também.

— Eu já estou acostumado... É como se me perguntassem o meu nome.

Minji riu com a comparação e eles retornaram a um silêncio confortável. Quando perceberam já estavam no meio do pátio que separava as alas masculina e feminina, cada um teria que ir para um lado, contudo, era como se as palavras de despedida houvessem fugido, então passaram mais tempo que o esperado olhando timidamente um para o outro. Jungkook mordeu uma das argolas do lábio inferior, tentando puxar na mente alguma coisa que pudesse falar.

— Por que isso sempre acontece? — Minji riu olhando para baixo e Jungkook a acompanhou.

— Acho que é porque não estamos habituados a situações assim.

Quando olhou para cima novamente, Jungkook vislumbrou um lindo sorriso e olhos brilhantes adornando o rosto de Minji, não entendendo exatamente o motivo de ter sentido um leve sopro no fundo do estômago.

— Estou feliz por termos nos resolvido, Jungkook-ssi. — Minji falou de repente, surpreendendo-o. — Sério, você realmente tirou um peso de dentro de mim e... até que você não é tão chato assim.

— Ei! Você não consegue ser legal comigo sem me ofender em seguida, não é? — Jungkook reclamou brincando, no fundo, para se distrair da timidez causada pelas palavras anteriores de Minji, pois não sabia como responder.

— Desculpa, é que você é tão fácil de irritar. — As cores da voz dela exalavam nem um pouco de culpa. — Até mais, Jungkook-ssi.

— Tchau, Minji. — Jungkook acenou.

Jungkook observou-a partir até ela sumir de vista, antes de dar a volta e caminhar lentamente para o dormitório, mexendo, de forma inconsciente, com a ponta do band-aid colado no dedo indicador.

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Muito Jungkook tímido nesse capítulo kkkk

Entãooo... Oi kk

Não quero ficar dando desculpas, minha vida tá na fase mais caótica e enfim... realmente sinto muito pela demora, muito mesmo :(

Tá meio incontrolável por aqui, então não posso prometer uma constância de atualizações, mas saibam que eu não vou desistir apesar dos imprevistos da vida, ok? 

Obrigada de verdade por quem continua acompanhando LOC, vocês são as estrelinhas do meu céu! Estou sempre por aqui vendo os comentários e publicações no meu perfil, não mereço vocês, mas sou realmente grata.

Outra coisa, tá rolando umas mudanças em umas coisas específicas da fic e tô tentando ver como vou encaixar, torcendo pra vocês gostarem do que vem por aí!

Enfim, espero que tenham gostado do capítulo.

Até mais, meus amores <3