03
Blue skies
Smiling at me
Nothing but blue skies
Do I see
Blue Skies - Ella Fitzgerald
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A sinestesia toque-som é definida por ouvir algum tipo de som quando se é tocado. Apesar de envolver a audição e o tato, para Jungkook cada toque trazia alguma sensação junto. Não era exatamente como ocorria com as melodias, mas ele ouvia sutilmente o som de alguma situação em si, como se fosse carregado em partes para algum cenário específico.
Cada pessoa trazia uma sensação e um som diferente. Jimin, por exemplo, fazia-o se sentir em um piquenique onde risadas eram ouvidas. Lembrou-se de algumas vezes em que seu professor de filosofia tocara em seu braço e foi como se ele estivesse assistindo a um concerto de ópera. O toque do seu primo tinha som de bipes de um monitor multiparâmetro fazendo leituras de um coração pulsando, como se ele estivesse em um hospital. Apesar de saber claramente o que cada sensação trazia, nenhuma carregava detalhes específicos do que ocorria ao redor.
No entanto, Jungkook não conseguia pensar em nenhuma outra ocorrência para comparar ao que sentia agora. Estava perplexo. A mulher na frente dele, que ainda tinha uma das mãos agarrando seu pulso e a outra em sua testa, trazia uma sensação diferente, Jungkook estava em um conflito interno pois aquele era um dos sons mais... bonitos que já ouvira. Não porque era algo anormal, mas pela primeira vez, não se sentia parcialmente puxado para a situação, e sim completamente.
Podia descrever cada mínimo detalhe daquele toque.
Podia dizer que estava em um bosque, até mesmo que era algum momento da noite. Um lindo bosque iluminado pelos astros celestes, com um caminho de pedra e diversas árvores ao redor, podia ouvir o farfalhar das folhas e a leve brisa do vento, seria capaz de dizer que o caminho levava a uma área aberta onde o céu poderia ser contemplado a olho nu e lá haviam constelações, e era nesse ponto que ficava intrigado, pois o toque se misturava com a profundeza do olhar dela, Jungkook afirmaria facilmente que, ao fitar aqueles orbes, poderia contemplar estrelas. Se sentia, pela segunda vez naquele dia, imerso.
Todo o som que aquele cenário causava era pacífico e calmo, e toda essa calma havia sido cortada subitamente. Jungkook piscou algumas vezes tentando assimilar o que estava acontecendo, e foi quando se deu conta que as mãos haviam se afastado dele, e ela agora andava aflita pelo quarto, parecendo ter esquecido do corte na testa de Jungkook.
— Quem é você? — Jungkook perguntou novamente, um tanto quanto baixo, porém soando mais confiante, ou ele pensava que sim.
— Minji. Choi Minji. — Ela respondeu depois de alguns segundos avaliando-o, o tom de voz igualmente baixo, como se estivesse com medo de que alguém além dele pudesse ouvir. — E você?
— Jeon Jungkook.
Minji franziu a testa, olhando para o chão com uma expressão engraçada, como se estivesse pensando profundamente em algo. De repente o rosto dela se iluminou, provavelmente chegando a uma conclusão interna, e levantou o olhar novamente.
— Você é do terceiro período do curso de artes, não é?
Jungkook balançou a cabeça em um ato afirmativo, estranhando o fato de Minji saber daquela informação, pois não lembrava-se dela de lugar algum, e saberia caso a conhecesse. Minji, por sua vez, parecia alegre por estar certa.
— Oh, sabia que estava te reconhecendo de algum lugar! Já tivemos algumas aulas juntos, e provavelmente vamos continuar tendo nesse semestre, sou do segundo período, mas me inscrevi em algumas matérias do terceiro também. — Ela abriu um pequeno sorriso. — Você tem alguma especialidade?
Isso era algo na faculdade de artes que cursavam, as aulas e matérias presentes na grade geral eram obrigatórias, mas cada aluno poderia escolher uma especialidade e se aprofundar mais em tal habilidade, garantindo melhores orientações e oportunidades para participar de projetos dentro e fora da universidade. Não era algo imposto, os estudantes podem ou não querer, e em qualquer momento do curso, mas Jungkook de fato tinha uma.
— Pintura. — Respondeu.
Todas aquelas cores, sons e sensações, somadas ao fato de que havia uma pessoa desconhecida em seu quarto deixavam Jeongguk um pouco ansioso e sem reação. Ele então reparou no casaco em cima da cadeira, pegando rapidamente para vestir e colocando o capuz escuro sobre a cabeça. Não tinha um motivo específico para isso, apenas se sentia menos desconfortável com algo o cobrindo parcialmente, e seu fiel moletom sempre fora de ótima ajuda.
— Que legal! Também tenho uma. — Ela parecia empolgada ao dizer. — A minha especialidade é des...
Minji arregalou os olhos quando Jungkook repentinamente tapou a boca dela com uma das mãos, cortando-a no meio da frase. Jungkook podia sentir e ouvir toda aquela sensação novamente, mas havia feito isso por impulso, pois cores diferentes das que Minji exalava haviam se misturado novamente com a dela. Seokjin e Sr. Jung estavam se aproximando novamente, e ele conseguia diferenciar suas vozes mesmo que distantes.
— Acho que foi só um dos meninos batendo a porta de brincadeira, você sabe como eles são... — Agora a voz de Seokjin estava mais perto, as cores mais fortes. Estavam exatamente do outro lado da parede. — Não tem nenhuma garota por aqui, vamos desistir.
— Falta checarmos apenas mais um quarto nesse corredor. — Sr. Jong falou, e logo em seguida três batidas foram deferidas na madeira da porta, fazendo pequenas nuances beges surgirem na visão de Jungkook.
Do lado de dentro, Minji pareceu ter finalmente entendido a situação, e aqueles olhos se arregalaram ainda mais. A cena seria cômica se a situação não fosse tão tensa. Jungkook olhou ao redor e, sem muita alternativa, acabou puxando Minji até o banheiro, afastou-se dela e ligou o chuveiro.
— Tranque a porta e só abra quando eu pedir. — Ele disse, e tudo o que recebeu em resposta foi um aceno de cabeça. — Vou tentar despistá-los.
Jungkook saiu do banheiro indo em direção à porta do quarto, onde as batidas ainda eram deferidas. Não sabia porque havia decidido ajudar Minji, mas também não era como se pudesse fazer outra coisa, pois como explicaria o motivo de ter uma mulher em seu quarto? Duvidava que acreditariam nele mesmo se dissesse a verdade.
Mais uma batida antes que Jungkook finalmente abrisse a porta, vislumbrando um senhor rabugento e um Seokjin impaciente e assustado.
— Por que demorou a abrir? — Sr. Jong perguntou desconfiado, o marrom esverdeado fazendo com que Jungkook quisesse fechar a porta na cara deles.
— Estava dormindo. — Jungkook não era nenhum ator, mas torceu para soar convincente enquanto coçava um dos olhos, em seguida se curvou em reverência. — Peço desculpas... O que fazem aqui? Aconteceu alguma coisa?
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Dentro do banheiro Minji rodou a chave na fechadura com cuidado e encostou o ouvido na madeira fria a fim de conseguir escutar algo. Se o inspetor decidisse revistar o local e a encontrasse, ficaria em maus lençóis, e Jungkook com certeza ficaria também, já que a estava acobertando, e apesar de Minji não entender o porquê disso, sentia-se imensamente grata.
Quando estava na presença dele alguns minutos atrás, Minji percebeu que Jungkook não era um rosto completamente desconhecido, lembrou-se de tê-lo visto algumas vezes pelo corredor no ano anterior, eles já até tiveram uma ou duas aulas juntos. Jeon Jungkook sempre foi um mistério, raramente falava com alguém além dos professores e quase nunca era visto fora da classe, mas vendo-o mais de perto, Minji tinha que admitir para si mesma que ele era realmente bonito.
Enquanto mordia a ponta da unha por conta do nervosismo, olhava para todos os lugares tentando pensar no que fazer, até que uma janela basculante média presente na parte alta da parede chamou sua atenção. Minji achava que conseguiria facilmente alcançá-la se subisse no vaso sanitário. Calculou mentalmente as possibilidades e, pelo que parecia ser a décima vez naquele dia, se perguntou se deveria ou não fazer algo.
Antes que pudesse decidir, as vozes do lado de fora, agora mais audíveis, tiraram-na momentaneamente de seu dilema.
— Uma garota? Aqui? — Pôde ouvir a voz de Jungkook. — Acho que não.
— De qualquer forma, precisamos verificar.
Por um momento tudo ficou silencioso, e Minji imaginava que eles estavam averiguando cada canto do quarto, até que batidas foram deferidas na porta do banheiro e o coração dela foi parar na garganta em completo desespero.
— Quem está aí? — Sr. Jong perguntou um pouco alto do outro lado.
Minji prendeu a própria respiração, sentindo o medo invadir todo o corpo. Não teria outro jeito. Cautelosamente aproximou-se da porta e cobriu a chave com a ajuda do casaco que vestia, apertando o objeto sob o tecido, fechou os olhos sentindo seu coração bater cada vez mais acelerado e girou a chave.
Suspirou de alívio por ter tido sucesso em sua tentativa de destrancar a porta sem fazer barulho, agora faltava concluir o restante do plano pensado de última hora.
Minji subiu na tampa da privada e empurrou a folha da janela com cuidado, não era uma abertura exatamente grande, mas felizmente o basculante tinha uma abertura de 90º e ela poderia passar sem grandes dificuldades. Já havia feito coisas parecidas com Taehyung algumas vezes antes, então não estava tão desacostumada a fugir de encrencas. Minji apoiou as mãos no peitoril para pegar impulso, quando a cabeça e ombros chegaram ao outro plano reparou que havia uma saída de incêndio no edifício à frente, e como se tratava de prédios espelhados, significava que estava saindo para o lado da saída de incêndio da própria construção em que se encontrava.
Apesar do local ser escondido conseguia ver o pátio, então não se preocupou muito em descobrir como desceria. Rapidamente olhou para baixo e sorriu ao ver que a pouco menos de dois metros abaixo tinha uma espécie de plataforma metálica, logo percebendo que era o patamar em extensão das escadas de ferro. Minji voltou à posição inicial em cima do vaso e logo depois deu outro impulso, dessa vez levando o pé esquerdo junto. Não demorou muito para que estivesse sentada desajeitadamente sobre a janela, com a coluna completamente curvada, e praguejou baixinho pensando que a porta de serviço daria um acesso muito mais fácil àquela saída, mas não adiantava pensar nisso agora.
Apesar de tudo, conseguiu chegar ao lado de fora sem muitas dificuldades. Minji esticou o corpo e estralou o pescoço antes de correr para descer os degraus, e quando estava quase no final da escada percebeu que ela terminava a uma certa altura antes do chão, abaixo do patamar metálico provavelmente tinha uma escada de marinheiro guardada para ser destravada nos momentos certos, mas como aquele com certeza não era o momento certo, teria que pular. E assim Minji o fez, mas o que ela não esperava era que houvessem sacos de lixo naquele exato lugar, fazendo com que se desequilibrasse e caísse com tudo por cima deles. Minji choramingou, perguntando-se o que poderia piorar naquele dia.
— Quem é que coloca lixo logo abaixo de uma saída de emergência? — Perguntou para o vento assim que se levantou, sentindo um misto de raiva e nojo. — Droga.
Sentia-se completamente frustrada com toda a situação, mas o que mais a irritava era o fato de ter passado por tudo aquilo e ainda assim estar sem o celular.
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— Jimin está tomando banho. Ele não costuma ouvir quando o chamamos nesses momentos.
Jungkook mentiu. Sabia que Jimin estava estudando na biblioteca e que Hoseok, seu outro colega de quarto, provavelmente estava na sala de dança. Aproveitou o momento para dar essa desculpa, e os outros dois pareceram acreditar. Sr. Jong ainda parecia estar desconfiado, mas não podia abrir a porta do banheiro para comprovar, então apenas se deu por vencido.
— Viu? Falei que não tinha nenhuma garota por aqui. — Seokjin disse parecendo aliviado e sorriu para Jungkook, que sorriu de volta porque adorava ver as cores dele.
Depois que se despediram e saíram do quarto, Jungkook respirou aliviado e foi até a porta do banheiro, batendo algumas vezes e chamando por Minji dizendo que ela já poderia sair, mas após a quinta batida estranhou a falta de resposta. Preocupado, levou uma das mãos até a maçaneta e girou tentativamente, surpreendendo-se quando a porta não apresentou resistência ao abrir, então não demorou para adentrar o cômodo.
— Ué? — Jungkook estranhou o ambiente vazio. Só depois que fechou o registro do chuveiro, reparou na janela aberta. — Ela não... Como isso é possível?
Jungkook então subiu na tampa fechada da privada e pôde ter a ampla visão do lado de fora pela janela, focou o olhar no pátio quando uma leve movimentação chamou sua atenção, e constatou que era Minji ali, correndo apressadamente e sem jeito. Reprimiu uma risada quando ela tropeçou e caiu, mas logo se recompôs ao bater nos joelhos e voltar a correr.
"Pelo menos estamos quites agora" pensou levando a mão ao corte na testa.
Não sabia exatamente o motivo de ter ajudado Minji, apenas sentiu que deveria fazer isso. Ficou ali observando até que ela sumisse de vista.
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Jungkook examinava a obra inacabada em sua frente, maneou levemente a cabeça se perguntando o que faltava ali, interiormente sabendo que ainda demoraria para completar aquela pintura. Estava se sentindo estranho, mas feliz, pois pintar algo que não seja música era uma coisa realmente inusitada para ele.
Novamente se debruçou sobre o quadro com a pintura incompleta, o rosto contendo uma expressão de total concentração ao fazer uma de suas coisas favoritas no mundo. A mão de Jungkook movimentava-se com maestria ao realizar traçados com o pincel, deixando com que o instrumento revelasse os sentimentos e emoções que ele sentia. A sinestesia faz com que ele normalmente se perca nas cores, e ele não podia negar que amava isso, amava também retratar sua forma de ver o mundo e se perder ainda mais nessas cores que tanto o encantam.
Com a outra mão, Jungkook pressionava uma bolsinha de gelo na testa, porque quando havia se olhado no espelho pela última vez, viu que abaixo do corte havia se formado um pequeno relevo côncavo.
— O que aconteceu aí? — Jimin, que Jungkook não notara que havia chegado, perguntou se aproximando e afastando a mão dele com a bolsinha de gelo da testa, pelo rosto de Jimin o tamanho do galo com certeza não havia diminuído. — O que é isso?
— Tá nascendo um chifre, não tá vendo?
Jungkook falou zombeteiramente, mas sabia que Jimin não iria aguentar prender a risada, e foi exatamente isso que aconteceu, o rosa e azul vibraram conforme a gargalhada de Jimin se fez presente, e quando ele começou a desferir tapas no ombro ombro de Jungkook, ele não aguentou e começou a rir junto.
— Idiota! Mas é sério... — Jimin enxugava os olhos, tentando acalmar as risadas. — O que realmente aconteceu?
— A ponta da porta bateu aqui. — Jungkook respondeu se dando por vencido.
— A do nosso dormitório? — Perguntou e Jungkook assentiu — Como isso aconteceu?
— Alguém abriu a porta e eu tive o infeliz azar de estar perto no momento em que aconteceu. — Não fez questão de elaborar muito mais que isso.
— Quem abriu a porta? — Jimin ainda ria, fazendo com que Jungkook se distraísse com o tom rosa. — Hobi hyung?
— Não.
— Quem então?
Jungkook o olhou com cara de tédio, odiava quando ele fazia tantas perguntas, porém sabia que o amigo não iria desistir até que contasse a história completa, além disso, Jimin tinha uma feição fofamente curiosa ao qual Jungkook não poderia resistir por muito tempo.
— Para falar a verdade... Foi uma garota.
— Uma garota esteve aqui? — Jimin parecia chocado, mas um sorriso que Jungkook conhecia muito bem estava crescendo no rosto dele.
— Não pense besteira, hyung.
— Jeon Jungkook, você é um assanhado.
No campo de visão de Jungkook, nuvens rosas se destacaram no céu azul enquanto ele mantinha uma expressão indignada no rosto. Jimin só conseguiu parar de gargalhar quando percebeu que ele estava desconfortável com a situação.
— Por que raios tinha uma garota aqui? — Jimin questionou tentando se recuperar.
— Não vou te responder.
— Jungkook-ah...
— Para de rir da minha cara.
— Eu já parei! — Jimin tentava convencer os dois, mas assim que Jungkook o olhou desconfiado, ele deixou mais algumas risadinhas escaparem, fazendo-o revirar os olhos.
— Por que você só está chegando agora? — Dessa vez Jungkook questionou em uma tentativa de mudar o rumo da conversa.
— Só percebi que estava próximo da meia-noite quando a bibliotecária brigou comigo.
— Você tem que parar de estudar tanto, só estamos no primeiro dia de aula e você já está assim.
— Dessa vez eu quero conseguir um papel importante para a peça anual. Estou treinando minha gramática e gravando falas de algumas obras, tenho que ir bem na audição.
— Você vai bem. Não se cobre tanto, hyung.
— Mas e você? Quer falar de quem? Tá aí pintando como se sua vida dependesse disso. Já reparou que tá todo sujo? — Jimin pegou um espelhinho de cima da mesa e segurou na frente do rosto de Jungkook, que de fato tinha um traço laranja pincelado na bochecha, além disso, reparando melhor também notou diversos rabiscos coloridos espalhados pelas mangas de seu casaco preto. — Você tá há quanto tempo trabalhando nesse quadro?
— Acho que desde umas nove horas. — Respondeu depois de pensar um pouco.
— Então por que está brigando comigo quando você faz o mesmo? E continuaria fazendo se eu não tivesse chegado.
— Isso é diferente!
— E por que é diferente? — Jimin colocou a mão na cintura agindo defensivamente.
— Estou pintando porque estou me sentindo inspirado.
E era verdade, uma maré de inspiração havia preenchido Jungkook, e antes que percebesse já estava dando pinceladas em um quadro. Jimin semicerrou os olhos e andou os poucos passos que faltavam para que pudesse visualizar a pintura.
— Uau, Jungkookie! Está ficando bonito. É uma música? — Ele perguntou interessado, mas Jungkook negou com a cabeça. — O que é então?
— Eu não sei... — Também encarava a arte, tentando decifrar o que saíra de suas mãos, ele apenas deixou-se ser levado pela mente. Jungkook apoiou a ponta do pincel na bochecha, e quando percebeu tirou rapidamente. Era por isso que vivia sujo de tinta. — Não é uma música, mas... Quando estiver pronto, vou saber.
A música foi, sem dúvidas, um dos maiores motivos para Jungkook querer cursar artes. Ele sempre amou as cores que elas exalavam pois eram diferentes, cada nota musical possuía uma cor, e juntas formavam ondas harmoniosas, texturas fascinantes aos olhos dele. Jungkook era apaixonado por música antes mesmo de saber que tinha sinestesia, aquelas aquarelas dançavam na frente dele e eram sempre suas referências quando pegava um papel para desenhar.
Quando criança, apesar de sempre ter achado mágico, pensava que todos viam da forma que via, mas quando perguntavam o que ele havia desenhado, simplesmente não conseguia entender como as pessoas não sabiam o que era, chegou a pensar que não sabia pintar, até que um dia descobriu que era único, que sua condição era rara e que só ele conseguia ver as músicas. Atualmente seus quadros abstratos e coloridos tendem a retratar exatamente o que vê, por isso era bem comum para ele usar os fones de ouvido quando o assunto era pintar.
Mas não hoje.
Jungkook suspirou desviando a atenção da pintura quando Jimin tirou da mochila dois potes de cup noodles, e automaticamente seu estômago roncou, denunciando a fome que sentia. Não demorou para que se levantasse, pôs o saquinho com gelo na estante, espreguiçou-se e logo em seguida foi atrás de seu hyung. Terminaria o quadro outra hora.
— Por que Hoseok hyung não veio com você? — Perguntou observando o outro.
Jimin caminhava para o pequeno espaço denominado "cozinha", que não era exatamente uma cozinha, e sim uma pequena área que continha um balcão minúsculo com cuba, filtro de água e alguns eletrodomésticos como frigobar e um microondas. Jimin havia acabado de colocar a água para esquentar quando virou-se para Jungkook novamente.
— Ele disse que sairia com alguns amigos, e que não era para esperarmos por ele. — Riu balançando a cabeça. — Esse hyung não toma jeito.
— Só espero que ele não seja barrado por causa do toque de recolher... Aliás, como você conseguiu entrar?
— Jin hyung.
— Isso não me surpreende! — Jungkook disse rindo.
— Mas Jungkook-ah... — Jimin chamou-o depois de algum tempo, fazendo com que Jungkook contemplasse o azul e rosa brincando entre si, e logo desviou sua atenção para ele. — Que história é essa de que uma garota esteve aqui?
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Minji não conseguia pregar os olhos. Sentia-se completamente irritada, os joelhos ardiam, e por mais que já tivesse tomado dois banhos, cismou que ainda havia resquícios de lixo pelo corpo e cabelo.
Também havia se irritado com Yonju, pois assim que chegou no quarto e contou a situação, a amiga zombou da cara dela e fez diversas piadinhas com o aparente fedor, e claro, os inúmeros "eu avisei" não ficaram de fora. Agora Yonju dormia tranquilamente, e Minji pensava seriamente em pegar a lixeira do quarto e jogar todo o conteúdo em cima dela, porém antes que pudesse trazer seus pensamentos para a vida real, a inconsciência se tornou presente, e sem que percebesse, adormeceu.
Minji não sabia dizer se horas ou minutos haviam passado quando acordou sentindo um peso sobre o corpo, não tinha muita certeza, pois ainda estava carregada pelo sono, mas a sensação se fortificara, fazendo-a abrir lentamente os olhos. Assim que o fez, pôde confirmar que sua suspeita não era apenas fruto da imaginação sonolenta.
Yonju estava em cima de Minji e fazia uma pose engraçada enquanto tentava cheirar o cabelo dela.
— O que você tá fazendo? — Perguntou meio grogue, assustando Yonju e empurrando-a.
— Tentando evitar que você passe vergonha!
— O quê? — Coçava os olhos ao mesmo tempo que tentava entender a lógica da amiga àquela hora da manhã.
— Estou checando se você ainda está fedendo. — Yonju se aproximou novamente, dando leves fungadas. — Talvez você precise de outro banho.
— Ya! Sai daqui! — Minji bufou irritada. Como se não bastasse ser acordada, ainda tinha que ser daquela forma.
Minji levantou e marchou até o guarda-roupa, tirou algumas peças de roupa de dentro e encaminhou-se para o banheiro evitando olhar para Yonju, que ria descontroladamente. Ela sempre arranjava formas peculiares para acordá-la, e nesses momentos Minji preferia sinceramente não ter uma colega de quarto.
Assim que entrou no banheiro, despiu-se e tomou um banho esfregando a esponja com força em cada superfície da pele. Quando terminou, passou um creme corporal, se vestiu e borrifou perfume por todo o corpo. Agora estava definitivamente cheirosa, obrigada! Sabia que Yonju estava apenas brincando antes, mas como a mente paranóica levava certos tipos de brincadeiras um pouco a sério, tirou o frasco de perfume mais uma vez do lugar e espirrou mais algumas vezes pelo corpo.
Minutos depois, já fora do dormitório, seguia para o prédio de artes plásticas com um pacote de biscoito em uma mão e uma caixinha de suco na outra. Minji apressou os passos quando avistou o edifício, porque já estava atrasada, por isso não se deu ao trabalho de esperar o elevador e correu para as escadas.
Os corredores já estavam praticamente vazios, e quando abriu a porta da sala, viu que não tinha ninguém lá dentro, mas antes que pudesse se desesperar, ouviu uma voz chamando o seu nome.
— Minji-ssi! — Era Jihoon, seu colega de turma e curso. Pelo visto não era a única atrasada. — Acabei de perguntar lá embaixo, me informaram que hoje vamos ter as duas primeiras aulas com a turma do terceiro período. Acho que o professor deles faltou... Ou foi o nosso? Ah, de qualquer forma, juntaram as turmas.
— Oh?! Ok, obrigada. — Sorriu agradecida para o fofo Jihoon. — Sabe em que sala estão?
Ele negou com a cabeça, fazendo uma pequena careta. Não demorou para que ambos começassem a andar pelo corredor, abrindo portas aleatórias e errando o lugar todas as vezes. Uma sala em específico chamou a atenção de Minji, a sala de pintura, não havia entrado lá muitas vezes, e a curiosidade acabou falando mais alto.
O local estava vazio, e no interior havia vários quadros pendurados. Minji caminhou fascinada, contemplando as obras de artes feitas pelos alunos, não tinha todo esse talento, mas gostaria de poder um dia alcançá-lo.
Minji parou em frente a uma tela cuja composição chamou-lhe a atenção, por alguns momentos sentiu-se hipnotizada por aquelas cores em sincronia, entretanto, um pequeno detalhe sobre aquele quadro a intrigou: não havia assinatura.
— Minji-ssi? — Jihoon colocou apenas a cabeça para o lado de dentro da sala. — O que você tá fazendo? Estamos muito atrasados. Vamos, acho que os encontrei.
Minji se desculpou, e não demorou para que o acompanhasse até a porta da sala que ele indicara.
— Será que já fizeram a chamada? — Perguntou sentindo-se apreensiva para entrar no lugar onde encontravam-se seus colegas e sunbaes. Sabia que estava prestes a se tornar o centro das atenções, e odiava isso.
Pelo menos não estava sozinha.
— Espero que não... — Jihoon murmurou já girando a maçaneta e abrindo a porta.
O professor os avaliou com um olhar um tanto quanto repreendedor, mas não parecia estar irritado. Sr. Sam era um dos professores favoritos de Minji, ele dava aulas de fotografia, era divertido e sarcástico, só fingia ser superior, mas não precisava disso para que fosse respeitado, já que era bastante querido.
— Desculpe, sonsaengnim. — Os dois disseram juntos e se curvaram brevemente.
— Dessa vez vou deixar passar, mas da próxima vão precisar se esforçar mais para me bajular. — Sr. Sam abriu mais a porta e piscou para eles, indicando que estava brincando. — Entrem, estamos no início ainda.
Já dentro da enorme sala que abrigava os alunos de diferentes períodos, ocorreu exatamente o que Minji temia. Todos os olhares foram direcionados a eles, sentia que estava sendo julgada por ter chegado atrasada apenas no segundo dia de aula, e não conseguia esconder a vergonha. Contudo, um rosto em particular chamou a atenção dela em meio aquele mar de pessoas.
Jeon Jungkook.
⌜⋆・ 。・🌌・。・⋆⌟
Opa, e ai??
Esse capítulo é uma junção dos antigos capítulos 3 e 4, editadinhos pra vocês!
Espero que estejam gostando de acompanhar :)
I wish you would love me again...
Deem muito amor e apoio ao nosso Taehyung nessa era solo dele <3
Até mais e um abração ♡
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