ㅤㅤ✷ 05

Uh-oh, I'm falling in love
Oh no, I'm falling in love again
Oh, I'm falling in love
I thought the plane was going down
How'd you turn it right around?

Havia algo curioso sobre gravatas: quando você está de péssimo humor, aquele pedaço de tecido parece ganhar vida própria, com o único objetivo de te sufocar antes que você consiga bufar de frustração. Era exatamente assim que Severus se sentia naquele momento – a um passo de bufar enquanto sentia a gravata apertar levemente o pescoço.

Ele poderia facilmente usar a varinha para desamassar o acessório, mas precisava mexer as mãos. Estava tenso, ansioso até, com as palmas suando e o pé batucando contra o tapete, o som ecoando pelo quarto.

─ Continue assim, e vão acreditar que você é a noiva.

Severus lançou um olhar cortante para a garota ao seu lado. Alice Longbottom, que arrumava pela quarta vez o cabelo da outra madrinha, sorriu de maneira ampla, ignorando a fúria evidente nos olhos dele. Ela riu e, gentilmente, empurrou Marlene para frente, indicando que estava pronta. Então, aproximou-se de Severus, tanto quanto sua barriga de grávida permitia, para ajeitar sua gravata.

─ Ainda acho que essa ideia foi estúpida. ─ Severus resmungou, sentindo-se como uma criança sendo ajeitada pela mãe. Sabia, contudo, que quando se tratava de Alice, o melhor era aceitar o "afago" sem resistência. ─ Quem em sã consciência chamaria um homem pra ser "madrinha de casamento"?

─ Bom, isso tem nome e sobrenome: Lily Evans. E você a conhece há mais tempo do que nós, então já deveria estar acostumado. ─ Comentou Marlene, casualmente mordendo um biscoito que havia tirado de sua bolsa. Ela ofereceu um para Severus e Alice, que recusaram, ambos desconfiando da procedência do lanche.

─ Além disso, você não é uma "madrinha". É o "padrinho" dela. ─ Alice corrigiu com firmeza, enquanto alisava a gravata de Severus e dava dois tapinhas em seu ombro. ─ Ela está feliz por ter você de volta, Severus. Dá um desconto.

E ele dava. Sempre daria esse desconto à sua melhor amiga.

Havia-se passado quase dois desde o último ano de Hogwarts, e na primeira semana em que Severus abriu sua própria loja de poções, lá estava Lily Evans, como um furacão de cabelos ruivos e olhos verdes marejados, gritando com ele até que fosse forçada a ser arrastada para o escritório. Ele não queria chamar atenção indesejada.

Como os melhores amigos que já haviam sido um dia, houve gritos e xingamentos de ambos os lados. Mas também houve lágrimas – dela – e toques hesitantes nos ombros – dele. Severus não mentiria: já havia imaginado esse confronto antes. Os dois finalmente encarando o que acontecera anos atrás, revisitando a dor de uma palavra cruel que havia rompido sua amizade.

Após a discussão, veio o silêncio. E, no meio desse vazio, um pedido hesitante: remédio para enjoo. A despedida foi amarga, mas dias depois uma carta chegou. Era de Lily. Ela estava grávida. E Severus foi a primeira pessoa a saber – nem mesmo o pai, James Potter (a quem Severus respondeu na carta com um sarcástico "Que Merlin proteja essa criança do ego inflado dele"), sabia ainda.

Parecia absurdo, mas aquela criança que estava sendo gerada acabou salvando o que restava da amizade entre Severus e Lily. Eles nunca seriam como antes. Nunca seriam "Sevy&Lily", os inseparáveis teimosos de quando eram crianças. Agora, eram apenas Severus e Lily – dois antigos melhores amigos que estavam prontos para se conhecerem de novo.

─ Só vê se para de tentar se enforcar com essa merda de gravata e se acalma. ─ Marlene comentou, ainda mexendo no cabelo enquanto Alice a encarava com uma expressão de censura. ─ A Ethelyn vai vir.

E ali estava o motivo de todo o nervosismo. Ela tinha nome, sobrenome, sorriso, curvas e uma melodia na voz que Severus não conseguia ignorar.

Severus e Ethelyn mantinham contato mesmo após a separação: ele se especializando em poções e se tornando o mestre de poções mais jovem da história, enquanto ela seguia a carreira de medibruxa. Com o apoio financeiro da família, Ethelyn aproveitava para viajar por diversos lugares, sempre em busca de novos conhecimentos. O ex-sonserino não podia negar o quanto ela era dedicada e esforçada, mas, com certeza, negaria qualquer menção sobre como a ausência dela parecia ter bagunçado o que quer que fosse dentro dele.

Foi apenas quando recebeu cartas vindas da Grécia que ele começou a entender, ainda que de forma hesitante, o que sentia. E, sinceramente, sentiu-se um completo idiota quando Regulus gargalhou ao perceber o óbvio, enquanto Pandora tentava oferecer um chá para acalmá-lo, provavelmente temendo que Severus saltasse por cima da mesa de centro do apartamento só para agarrar o Black mais novo pelo colarinho.

Severus estava apaixonado – algo que acreditava ser impossível desde que seu coração fora despedaçado por Lily. Mas estava, e, pior, era o tipo mais insuportável de apaixonado.

Do tipo que encomenda uma caixa feita da melhor madeira, com entalhes precisos, apenas para guardar as cartas dela. O tipo que abre essas cartas como se fossem tomos raros da biblioteca de Hogwarts, manuseando-as com o maior cuidado. Ele passava os dedos pelas palavras escritas à mão e pelos rabiscos que ela jurava serem plantas exóticas vistas durante seus estudos, mas que, para ele, pareciam mais arte abstrata.

Era do tipo que revivia a risada dela em sua mente como uma música constante. Mas também do tipo que recusava usar a lareira e o sistema de Flu, temendo encará-la nos olhos e simplesmente ceder – ceder ao impulso de implorar para que ela o amasse de volta. Ele sabia que, se o fizesse, provavelmente agiria de forma que o faria se odiar depois.

E, ainda assim, talvez não ligasse. Porque no fim, tudo o que ele precisava era de um "sim" dela. E isso bastava.

E isso... era assustador.

Tão preso em pensamentos, Severus quase perdeu o início da cerimônia, não fosse alguém pisar em seu pé. Ele ergueu os olhos, procurando a culpada, e encontrou Dorcas, que agora, de salto, parecia mais alta que ele. Quase devolveu o gesto com um chute no calcanhar dela, mas limitou-se a revirar os olhos.

─ Perdido na lua, pequeno príncipe?

─ Me arrependendo de ter te mostrado a literatura trouxa, Dorcas.

Ela mostrou a língua para ele, arrancando um pequeno riso. Logo, ambos se ajeitaram, assumindo uma postura ereta. A amizade entre Severus e Dorcas era, no mínimo, inesperada. Enquanto acreditava que Marlene e Alice eram apenas gentis, Dorcas lembrava tanto Lily que talvez fosse essa a razão de sua proximidade. A relação começara de forma inusitada: Meadowes simplesmente apareceu na loja dele, exigiu sua hora de almoço, e o arrastou até uma lanchonete trouxa onde Lily os esperava.

Severus sentia-se cercado por pessoas completamente estúpidas – uma crítica direta aos Marotos – e incrivelmente excêntricas. Queria dizer que se importava menos, mas era difícil, especialmente quando Dorcas o chutava de novo e fingia inocência, como uma verdadeira criança crescida.

Foram os primeiros a entrar. Dorcas postou-se ao lado direito de Severus, assegurando-se de ficar próxima ao noivo. Ele ainda se lembrava do quanto Lily insistira em tê-lo ao lado dela, enquanto James queria Sirius ao seu. Se não fosse por Sirius ter cedido o lugar, Severus podia facilmente imaginar Lily forçando uma solução que os fizesse entrar juntos – e o pensamento já começava a provocar uma gastrite nervosa.

A cerimônia foi linda; Severus não era fã de casamentos, mas daria o braço a torcer e admitiria que aquele merecia elogios. Enquanto sua amiga chorava e engasgava durante os votos, ele, distraído, procurava discretamente por alguma sombra ou silhueta de cachos loiros. No entanto, tudo o que conseguia enxergar era o véu de Lily voando em sua direção, acompanhado da risada abafada de Alice ao seu lado.

Quando os recém-casados levaram os convidados para a grande tenda montada para a festa, Severus logo viu Lily pegar alguns bolinhos doces – feitos por Molly – e enfiá-los na boca sem cerimônia. Depois de cortarem o bolo e terem a primeira dança, o caos rapidamente se instaurou. Severus, por muito pouco, conseguiu escapar das garras de Dorcas e Marlene.

Se encontrando finalmente sozinho do lado de fora, pôde apreciar o silêncio relativo. As risadas altas que vinham da tenda não o incomodavam como teriam feito em outros tempos; pelo contrário, apenas o deixavam cansado, mas com um discreto sorriso no rosto. Ele decidiu que ficaria ali por mais alguns minutos antes de partir, retornando ao apartamento trouxa que dividia com Pandora – com Regulus sendo o colega de quarto não oficial.

Acreditava que o dia tinha chegado ao fim. Ethelyn não apareceu, o sol já estava começando a se pôr, e o frio começava a passar pelo tecido do terno, causando desconforto. Com um suspiro, Severus começou a ajeitar os botões do traje e passou a mão pelos cabelos, enquanto arquitetava a desculpa perfeita que daria para uma certa mulher grávida.

─ Não ouse ir embora sem ao menos dizer oi.

Severus se virou tão rápido que quase tropeçou nas pedras, quase arrancando um botão da roupa junto com seus próprios dedos. Deveria se sentir envergonhado pela reação – parecia um peixe fora d'água, abrindo e fechando a boca sem encontrar palavras, com um brilho de descrença nos olhos.

Usando um vestido rosa que deixava os ombros à mostra, o tecido justo destacando cada curva, combinando com saltos altos de tom mais claro, e maquiagem sofisticada – mas ainda mantendo o estilo marcante que a acompanhou durante os anos em Hogwarts –, Ethelyn Rivers estava linda. Não, mais do que isso. Por razões que ele mal conseguia listar, ela estava perfeita.

Queria andar até ela, talvez abraçá-la, sentir o perfume floral do shampoo dela. Queria apertar seus braços ao redor dela, absorver o calor que só ela parecia exalar. Ele ouviria sua risada, um exagerado pedido de socorro e tapas no ombro, pedindo para soltá-la. E então ele a beijaria... com certeza a beijaria.

Mas tudo o que conseguiu dizer, sem sair do lugar, foi:

─ Eu não irei.

─ Ótimo. ─ Ela deu o primeiro passo, abrindo um sorriso que destacava os lábios brilhantes em um rosa claro. ─ Por que eu não sei aparatar até sua casa.

─ Por que eu sinto que isso é uma mentira? ─ Era, e ele sabia. Ela conhecia o endereço dele de cor e salteado, pela quantidade absurda de cartas que ele recebia por dia.

Ethelyn riu baixinho, e Severus viu as bochechas dela se tingirem de um vermelho que se destacava do blush. Ele não conseguiria descrever o que aquela visão fez com o peito dele.

Coçando a garganta, Ethelyn sussurrou:

─ Ei, quer fazer uma aposta? ─ Severus inclinou o corpo para frente, dando um passo. Ela fez o mesmo.

Mais do que ninguém, ele sabia que apostar com Ethelyn era um caso perdido. Ainda assim, isso o fez lembrar a primeira vez que conversaram, e ele sorriu, nostálgico.

─ Sim. ─ Apenas mais um, 'unzinho' sequer, e seus corpos estariam praticamente colados. ─ O que vamos apostar?

─ Algo que vai acontecer na festa. ─ O tom confiante dela deveria assustá-lo, mas apenas fazia seu coração acelerar, com um sorriso querendo escapar de seus lábios.

─ Hm... ─ Ele inclinou a cabeça, fingindo pensar. Na verdade, queria só prolongar o momento, aproveitando mais alguns segundos para observá-la. ─ Eu aposto que o Black vai beber antes de fazer o discurso, vai subir na mesa e tropeçar na própria estupidez. Se eu ganhar, você vai ter que ser minha cobaia das minhas poções experimentais.

Isso seria uma mentira; ele nunca a colocaria como cobaia e sempre fez questão de testar suas próprias poções em si mesmo. Severus não conseguiria imaginar em deixar algo acontecer com ela. Apenas queria uma desculpa para ter sua companhia

─ Você aposta muito sobre o cachorro, tem certeza que não tem uma paixão enrustida por ele? ─ Ethelyn provocou, fazendo Severus revirar os olhos e fingir vomitar.

─ Sua vez, o que você aposta?

─ Eu aposto que a bolsa da Alice vai estourar hoje. ─ Falou com tamanha convicção que Severus por um momento acreditou, mas logo balançou a cabeça.

Soltando uma risada anasalada, ele rapidamente explicou quando a viu fitar com uma sobrancelha erguida. Era a forma de Ethelyn dizer "tente bater de frente comigo" e isso fazia um arrepio se alastrar pelo corpo de Severus.

─ Alice comentou que ela só ganharia daqui a duas semanas, ainda tá longe.

Ethelyn apenas deu de ombros, descartando a explicação como se fosse irrelevante e ele se sentiu ligeiramente ofendido. Ele não sabia o que estava acontecendo com as mulheres grávidas ao seu redor, mas sentia-se estupidamente feliz por ser alguém na qual elas confiam certas informações – era uma arma ótima quando corrigia Sirius ao vê-lo tentar dizer algo sobre os bebês.

Puta merda, Alice!

Alguém chama o Frank– pelas calças de Merlin, isso é xixi?

PORRA SIRIUS, MINHA BOLSA ESTOUROU, SEU IDIOTA!

O sorriso de Ethelyn parecia dizer tudo. Era aquele sorriso de olhos semicerrados e ombros erguidos, transbordando uma ingenuidade falsa que Severus conhecia bem demais. Merlin, como ele amava essa filha da puta.

─ As vantagens de ser parteira das nossas amigas. ─ Ethelyn comentou, avançando alguns passos até ficar frente a frente com ele. Tão próxima que seu rosto quase roçava no dele. Ele podia sentir a respiração dela, o perfume doce do gloss, e a ponta do nariz dela tocou levemente no seu. ─ Agora você vai ter que arrumar espaço no seu guarda-roupa e deixar o lado direito da cama livre, porque eu odeio dormir do lado esquerdo.

E da forma na qual ela veio, bagunçando a cabeça e iluminando qualquer sombra que estivesse dentro dele, Ethelyn correu para a tenda antes mesmo que ele pudesse se inclinar pelo menos um pouco e tomar os lábios dela.

Severus fechou os olhos e riu, mas logo correu atrás. Maldita Ethelyn... Sua maldita Ethelyn.

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