ㅤㅤ✷ 02
It only feels this raw right now
Lost in the labyrinth of my mind
Break up, break free, break through, break down
You would break your back to make me break a smile
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Severus Snape não fica nervoso. Por mais que estivesse passando na frente dos Três Vassouras pela quarta vez com a garganta seca, ele não estava nervoso. Não tinha motivo nenhum, nada plausível que devesse deixá-lo emocionalmente desestabilizado.
─ Se você der mais uma volta, acho que vou conseguir ver a grama verde por debaixo dessa neve.
Nenhum além daquele fatídico dia. É seu aniversário, nove de janeiro, está frio, e a última coisa que ele queria era estar de frente com os Três Vassouras. Se não fosse por Ethelyn... Com a perceptível amizade que a garota tanto impunha para cima deles, Severus acreditava ser de bom tom que ele poderia chamar ela de uma grande filha da put-
Na aula de Trato das Criaturas Mágicas, o sonserino acabou escolhendo ignorar o acenar incessante da loira do outro lado e sentou-se em uma mesa para fazer dupla com uma colega de sua casa. Se ele viu, em algum momento, como a sobrancelha dela franziu e um bico se formou, Severus também prontamente ignorou.
Isso até ela encostar o ombro dela contra o dele enquanto eles estavam pegando os utensílios para a atividade, os Amassos esperando ansiosamente para serem alimentados e acariciados.
─ Aposto que ela vai puxar os bigodes e ele vai te arranhar.
─ Isso mais parece uma ameaça do que uma aposta. ─ A loira apenas o encarou de relance, o bico parecendo cada vez maior. Severus teve que segurar a vontade de sorrir e escolheu apenas suspirar. ─ Eu aposto que...Invés de me arranhar, vai arranhar ela.
Com a resposta dele, Ethelyn apenas riu e saltou para longe dele. Os passos alegres deveriam deixá-lo irritado, com uma azaração na ponta da língua para fazê-la tropeçar na frente de todos. No entanto, Severus Snape ficou preocupado – ele não ficou nervoso! –, pois nada mais assustador do que uma Ethelyn é uma Ethelyn animada.
Maldito momento em que resolveu apostar com Ethelyn. Ele devia ter entendido que a lufana era, no final das contas, uma trapaceira, e ai dele se por acaso acusá-la de algum tipo de adulteração de resultados! Mordiscando o canto de suas unhas e xingando alto ao remexer a gaze que escondia seu arranhado, ele tomou a decisão de conversar seriamente com o chapéu seletor.
─ Você sabe que é só uma porta, não é? Tipo, você só precisa erguer a mão e-
─ Cala a boca, Rivers. ─ E ela riu. Entrelaçou seu braço com o dele e riu.
As bochechas vermelhas de Severus eram por causa do choque térmico, pois foi Ethelyn que o apressou para sair das masmorras, encarar o vento gelado que parecia congelar as gotículas de baba que saíram da boca dele para gritar com ela, e agora ele estava sendo bruscamente puxado para um ambiente calorento, cheio de adolescentes.
Ethelyn se aconchegou contra seu braço, xingando um rapaz que quase derrubou um copo de chá quente em ambos. Severus ficou em um tom esquisito de vermelho, claramente por causa do choque térmico.
Isso até que risadas conhecidas ecoaram por todo o local, magicamente buscando se sobressair de qualquer outro tipo de barulho. Os olhos de Severus correram por todas as mesas, e ele sentiu seu coração bater em uma pancada alta. Fios ruivos jogados para trás enquanto ela dava risada, com a cabeça encostada no braço de um rapaz alto, de cachos raivosos e óculos trincados, esfumaçados por causa do calor da cerveja amanteigada.
Severus virou o rosto. Ele não estava nervoso; suas mãos tremiam por causa do frio.
Quando ele pensou em rastejar sua mão para a nuca, um tique que ele adquiriu depois de ter o cabelo cortado, Severus sentiu os dedos quentes de Ethelyn o envolverem e o puxarem para atravessar todo o saguão. Tudo o que ele via era apenas um borrão, enquanto seus olhos ficaram presos na estampa de coelhos ridiculamente tricotados na parte de trás do suéter dela. Queria apenas ficar ali; ele não queria ver fios ruivos e óculos trincados.
Eles passaram pelo balcão, chegando até uma pequena mesa de canto, escondida o suficiente da mesa dos Marotos e afastada do ambiente caótico que os Três Vassouras ostentavam nos dias de excursão. Havia uma figura vestida completamente de preto sentada em um dos banquinhos do balcão, algo que Severus não se importou realmente, pois Hogsmeade estava cheio de bruxos excêntricos e esquisitões.
Tentou respirar calmamente e ignorar o olhar curioso de Ethelyn. Ele não estava pronto e usava a desculpa de que a lufana não era sua amiga; ele não devia explicações sobre sua vida. Quem está tentando se intrometer é ela.
─ Então, vai querer beber ou comer o que?
─ Não quero nada.
─ Vou pegar uma cerveja amanteigada e um chá com mel pra você, já que você odeia colocar açúcar.
E como se fosse a dona do mundo, ela simplesmente se levantou e andou até o balcão, fazendo o próprio pedido e o dele – por mais que ele tenha dito que não queria. Queria se sentir irritado por ver como ela se deixava levar com o que queria e ignorava completamente o que ele dizia. Ele realmente queria...
A garota sabia como ele gostava de tomar chá. Isso era apenas algo normal quando você passa muito tempo abusando do tempo livre de alguém. Normal. Mas Severus sentiu seu corpo relaxar no assento, e as bochechas pareciam queimar mais ainda.
─ Deixando uma garota fazer seu pedido?
Aquela voz irritante, o som anasalado querendo segurar uma risada e o tom de desgosto; Sirius Black estava com o corpo apoiado na coluna de madeira próxima à mesa em que Severus estava. O corpo do sonserino tensionou tanto que ele sentiu vontade de chorar com a dor que se afligiu, mas ele apenas fez uma careta.
─ Me escapa o momento em que eu te disse que lhe devo algum tipo de satisfação envolvendo minha vida, Black.
O sorriso de Sirius aumentou, e Severus sentiu seu dedo tremer contra a coxa.
─ E pensar que, depois de tirar todo aquele musgo seboso do seu cabelo, você conseguiria pensar. ─ Ergueu os ombros, balançando a cabeça com descrença e suspirando forçadamente, como se estivesse cansado. ─ Acredito ter esperado muito de você, não é?
Severus queria erguer a mão, ele queria arranhar a nuca e sentir como seus fios de cabelo estavam curtos. Agora você virou um homem. Um engasgar audível se mascarou como um murmúrio de indiferença vindo de Severus, que se ajeitou na cadeira com a intenção de ignorar Black, mas é claro que isso não funcionou.
O garoto da Grifinória puxou uma cadeira e a colocou do outro lado da mesa, procurando ficar de frente com Severus e tentando agradá-lo com a presença tão claramente indesejada. Severus conteve a vontade de puxar a saliva e cuspir com toda a força na cara de Sirius.
─ Sabe, foi bem estranho ver como aquela loirinha estava te seguindo para cima e para baixo, até porque você não é o tipo de pessoa que valeria a pena perder tempo... ─ Black se inclinou um pouco mais para frente, com os olhos brilhando daquele mesmo jeito de quando ele retirava a varinha da manga e atingia Severus até ele ter colorações roxas nos ombros e braços. Severus, instintivamente, puxou a varinha do bolso. ─ Vou ser um pouco caridoso, irei te dar um conselho: se afasta.
Ele não queria perguntar, mas o calor que o sufocava no pescoço o fez soltar a pergunta em tom de desafio: ─ Ou o que?
─ Ou vai doer mais ainda quando ela se cansar de você.
Ele queria abrir a boca, xingar Sirius Black em alto e bom tom, porque Ethelyn podia ser uma desmiolada extremamente contente com a vida, mas não era o tipo de pessoa que soltava a mão de alguém na primeira oportunidade. Porém, foi apenas isso: ele apenas abriu a boca... Porque havia alguém que ele também acreditava que iria agir da mesma forma, e essa pessoa mostrou como ele estava errado.
Sua respiração ficou presa no peito, ardendo e apenas crescendo. Severus ficou em silêncio, por mais que quisesse gritar, mas ele rapidamente sacou sua varinha e estava prestes a enfiá-la na garganta de Black, sem se importar com onde estava.
Isso até ele ver Ethelyn Rivers correr na direção da mesa em que ele estava. A xícara de chá que seria dele estava completamente esquecida do lado daquele esquisitão todo de preto, mas a cerveja amanteigada estava em suas mãos, tão quente e fumegante que ela estava usando a manga do suéter para não entrar em contato com a alça do caneco de vidro.
Severus queria dizer que ela não iria ser burra o suficiente para tropeçar no ar, mas a careta raivosa e os passos largos – que suas pernas curtas podiam suportar – chegaram tão próximos de derrubar a cerveja que o sonserino, por um momento, quis avisá-la do perigo. Mas ele não fez nada... Nada além de ver Ethelyn Rivers despejar de maneira tão graciosa e, ao mesmo tempo, tão bagunçada toda a sua bebida em cima de Sirius Black, que gritou alto e caiu no chão xingando tudo e a todos.
─ Oh, droga! ─ Colocou a mão na boca, esbugalhando seus olhos azuis de uma forma tão falsamente inocente que Severus quis rir. ─ Minha cerveja amanteigada quente acabou caindo em cima de você, que eu claramente não vi, puxa vida, como sou tão desastrada.
─ Qual é a porra do teu problema Rivers?! ─ foi o que Sirius gritou na direção da menina, enquanto seu rosto ficava vermelho e era ajudado por James Potter, que saiu correndo para abraçar seu manto de amigo salvador, como sempre.
─ Eu tenho vários, só que vai ser difícil listar.
A única coisa que Severus fez foi voltar a observá-la. Ela foi até o balcão, conversou com a figura de preto – é claro que ela conversou com aquela pessoa; Ethelyn fazia amizade com as pessoas mais esquisitas, aparentemente – e voltou para a mesa com a xícara de chá de Severus. Nesse meio tempo, Potter limpou a roupa encharcada de Black e evaporou a poça de cerveja que já estava querendo grudar no chão. O tempo todo, Potter olhava para Severus com olhares de culpa, e Severus ignorou cada um.
─ Filha da puta maluca... ─ Black rosnou, e Severus teve que segurar a vontade de rir, mas ficou quieto ao notar que ele estava falando diretamente com Ethelyn. ─ Vocês dois se merecem.
─ Oh ─ a garota arrastou o som, fazendo ecoar por todo o lugar, como se Black tivesse acabado de fazer um discurso muito emotivo.─ Muito obrigada por sua bênção, Sirius. Não sabia que você amava tanto assim o Sevy a esse ponto!
Afastando Potter com um empurrão, que riu com o comentário da lufana, Sirius Black saiu dos Três Vassouras pisando forte e abrindo as portas a ponto de fazê-las bater contra a parede. Assim que ele atravessou para o lado de fora, não demorou muito para o local voltar à conversa eufórica e às risadas, com o restante dos Marotos e companhia indo atrás de Black.
Com James sendo o único a ficar para trás, ele tentou dizer algo através de seus olhos, alternando-se entre Ethelyn e Severus. Quando o sonserino começou a formar uma expressão azeda e estava pronto para xingar a próxima geração de Potters, Ethelyn apenas disse um simples, porém firme:
─ Tchau James. ─ E assim eles viram o rapaz ir embora.
Quando ela se sentou, colocou as mãos apoiadas na mesa e espreguiçou o corpo para trás, enquanto Severus a observava com os cotovelos apoiados na madeira. Ela virou o rosto maquiado, com aquela sombra azul-clara que parecia ser do mesmo tom dos olhos dela – que Severus passava horas tentando encontrar nas pedras à margem do lago – e mostrou lentamente um sorriso malicioso nos lábios pintados de vermelho.
Vendo essa expressão, Severus não conseguiu se conter por muito mais tempo e deu risada, atraindo olhares para a mesa deles. Olhares que, em qualquer outro momento, o incomodariam profundamente, mas agora ele estava pouco se importando. Ethelyn Rivers e Severus Snape riam como se tivessem ganhado um prêmio ou feito uma descoberta grandiosa.
Ele queria perguntar por que ela se meteu com Sirius, sendo ele o pior entre os Marotos na opinião dele. Ele também queria perguntar se ela não estava com frio, já que usava um suéter ridículo e, aparentemente, fino demais para aquele clima. Estava prestes a oferecer o chá gelado para ela quando ambos foram interrompidos pelo som de um caneco novo de cerveja amanteigada sendo colocado com força sobre a mesa.
Vivi, como Ethelyn carinhosamente chamava a dona dos Três Vassouras, não deu muita atenção e apenas disse que o caneco era do novo amigo de balcão da garota. A figura vestida de preto, quando apareceu na visão dos dois, fez um leve aceno para a loira ao lado de Severus, e ela retribuiu com alegria.
Ethelyn preencheu o silêncio que se instalou, tagarelando sobre um trabalho de Herbologia ou sobre um pobre idiota que escorregou no pátio, enquanto esperava sua bebida esfriar. Pois é claro que ela pede uma bebida quente só para esperar esfriar. Severus não queria perguntar; mordeu a própria língua e continuou a morder durante um bom tempo. No entanto, sua expressão o entregou, e Ethelyn soltou uma risada fraca antes de explicar.
─ Acho que o nome dele é Darty, ou algo do tipo. ─ Ela batucou as unhas longas no caneco, fazendo um tilintar que Severus deveria achar irritante. No entanto, isso apenas o fez sorrir. ─ Ele tem um problema de respiração severo, entendi nada que ele disse boa parte do tempo!
Isso causou em Severus uma risada anasalada. Típico de Ethelyn Rivers. ─ E se ele estivesse confessando um assassinato?
─ Então eu estaria claramente virando uma cúmplice. Mas, bom ─ Ethelyn se virou para Severus, colocando uma mão estendida abaixo do queixo, como se quisesse mostrar seu rosto adorável ─, eu pelo menos seria uma cúmplice muito bonita!
Sim, você seria. Mas Severus não disse nada.
─ Quer apostar quanto que a Vivi deixou minha cerveja amarga só porque joguei a outra com tudo na cara daquele idiota?
─ Hoje é meu aniversário. Eu não vou apostar nada.
─ Sem graça.
Na primeira golada, ela tentou manter uma expressão neutra, mas os cantos de seus lábios estavam subindo e descendo constantemente. A barriga de Severus começou a doer de tanto que ele segurava a risada, e piorou quando Ethelyn mostrou a língua, como uma criança birrenta, fazendo uma careta de desgosto ao engolir o que restava na boca.
Em algum momento, um pequeno cupcake decorado apareceu para Severus e, fazendo um incrível esforço para manter o tom, Ethelyn cantou "parabéns" baixinho para o sonserino, que ficou vermelho, apenas implorando para ela parar de cantar. Ao assoprar a vela, Severus se surpreendeu quando a menina pegou seu rosto, bagunçando seu cabelo para todos os lados com as mãos, e distribuiu vários beijos em suas bochechas.
Saíram dos Três Vassouras com os estômagos cheios, seus rostos manchados pelo frio com tons de vermelho diferentes – Severus, ao chegar mais tarde na frente do espelho mágico do seu dormitório, apenas escutaria "Uh, lalá, rapaz. Não sei dizer o que é mais vermelho: suas bochechas ou essas 'marconas' de batom!" e ficaria ainda mais vermelho. Severus deixou escapar algumas risadas altas quando Ethelyn tropeçou pela segunda vez ao tentar se firmar no caminho de grama molhada.
Até que, em um lampejo de entendimento, Snape engasgou audivelmente.
─ Porra... Ethelyn, você quis dizer Darth Vader?!
─ Então era esse o nome dele? Os pais dele devem odiar ele, tadinho.
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