9.O Peso da Partida
O vento da manhã soprava suave, carregando o cheiro de folhas secas e o som das bandeiras tremulando no pátio do quartel. O dia da partida havia chegado.
Os samurais do Shinsengumi estavam reunidos, equipados e prontos para partir, suas expressões impassíveis enquanto realizavam os últimos preparativos. Entre eles, Okita ajustava a lâmina à cintura, a postura firme como sempre, mas com algo nos olhos que apenas quem o conhecia bem poderia notar.
Aoi observava de longe, os dedos apertando levemente o tecido do próprio quimono. Desde o anúncio da partida, ela havia se mantido distante, evitando qualquer conversa desnecessária.
Na noite anterior, enquanto todos celebravam com saquê e histórias de batalhas, ela preferiu se recolher cedo, fingindo que nada daquilo lhe dizia respeito. Mas agora, vendo-o ali, prestes a partir, uma inquietação estranha se alojava em seu peito.
— Está preocupada, querida?
A voz de Yukari Kondo, a esposa do comandante, soou gentil ao seu lado. Aoi piscou, saindo de seus pensamentos, e virou-se para a mulher que a havia levado à cidade dias atrás.
— Claro que não. — Respondeu de imediato, erguendo o queixo com arrogância. — Mas seria um incômodo precisar de um novo noivo arranjado ou até mesmo forçado caso ele morra.
Yukari riu baixinho, achava uma graça que ambos fingiam tão mal.
— Certo... Mas, se me permite dizer, não é essa a impressão que você passa.
Aoi não respondeu. Apenas voltou os olhos para Okita, que, naquele instante, também a encarava. Seus olhares se cruzaram por um breve momento antes de ele desviar, finalizando os últimos ajustes da armadura leve.
Pouco depois, Hijikata deu o sinal.
— É hora de partir.
O pátio se encheu de despedidas rápidas. Alguns samurais se despediam discretamente de suas famílias, outros apenas montavam seus cavalos sem olhar para trás.
Okita, no entanto, caminhou em direção a Aoi.
— Não vai dizer nada, princesa? — Ele provocou, parando diante dela com um pequeno sorriso.
Aoi cruzou os braços.
— O que quer que eu diga? Para tomar cuidado? Para não morrer? Acha que me importo?
— Eu não sei. Você se importa?
Ela abriu a boca para responder com mais um de seus comentários afiados, mas as palavras simplesmente não saíram. O olhar dele estava fixo nela de um jeito que a deixava inquieta.
— Apenas vá logo. — Disse por fim, desviando o rosto.
Okita soltou um riso baixo, mas não insistiu. Apenas deu um passo à frente e, antes que ela percebesse o que estava acontecendo, inclinou-se ligeiramente e murmurou ao pé do ouvido dela:
— Tente não sentir muito minha falta.
E então, sem esperar resposta, virou-se e seguiu em direção ao portão, montando seu cavalo.
Aoi ficou ali, imóvel, vendo-o partir com os demais.
O barulho dos cascos ecoou pela estrada, até que finalmente desapareceram no horizonte.
Ela soltou um suspiro lento, sentindo uma irritação absurda consigo mesma.
"Tente não sentir minha falta", ele havia dito.
O pior era que talvez isso fosse mais difícil do que imaginava.
⸙
Os dias sem Okita foram estranhamente silenciosos. Aoi não percebia o quanto sua presença preenchia aquele lugar até que ele se foi. O pátio de treinos ainda era ruidoso com o som de espadas se chocando, os samurais discutindo estratégias e as movimentações do quartel, mas para ela, faltava algo.
Na ausência de Okita, ela passou a treinar mais. Se não podia fugir desse destino, ao menos se recusava a ser uma esposa frágil e submissa. O nome dela ainda era um eco do império derrotado, e seu orgulho não a deixava esquecer disso.
Yukari, sempre gentil, tentava distraí-la com passeios na cidade, mas Aoi recusava a maioria deles. Não queria ser vista como uma mulher à espera do marido. No entanto, naquela manhã em particular, a esposa do comandante pediu para que ela a acompanhasse ao castelo.
— O daimyo deseja falar conosco. — Yukari explicou, seu tom mais sério do que o usual.
Aoi franziu o cenho. Nunca era bom sinal quando o daimyo convocava alguém.
O salão do castelo era frio, com o aroma sutil de incenso queimando em algum canto. O daimyo estava sentado com postura rígida, os olhos afiados analisando Aoi assim que ela entrou.
— Você tem sorte, menina. — A voz dele carregava uma calma inquietante. — Com a antecipação da nossa vitória, seu casamento foi adiado. Mas não se engane, isso não mudará o que foi decidido.
Aoi manteve o rosto impassível, mas seu coração acelerou com a menção do casamento.
— Assim que Okita retornar e estiver inteiro, vocês se casarão imediatamente.
Ela sentiu os dedos se apertarem contra o tecido de seu quimono.
— O senhor poderia ao menos dar tempo para que ele se recupere? — Yukari interveio, a voz suave, mas firme.
O daimyo arqueou a sobrancelha.
— Dois dias. — Ele decidiu. — Não mais do que isso.
Aoi manteve-se calada, mas sua mente fervilhava. Dois dias. Dois míseros dias para que ele voltasse de uma batalha e fosse empurrado diretamente para um casamento?
Ela apertou os lábios, contendo a frustração. Não era apenas sobre Okita. Era sobre o fato de que, não importava o quanto resistisse, sua liberdade estava presa a uma ordem que não poderia desfazer.
Ao sair do castelo, Yukari olhou para ela com preocupação.
— Sei que não é o que você quer, mas... talvez as coisas não sejam tão ruins quanto parecem.
Aoi soltou um suspiro curto.
— São sempre piores.
Ainda assim, ao olhar para o horizonte, onde Okita e os demais samurais ainda estavam em batalha, uma incerteza crescia dentro dela.
Quantos deles voltariam?
E, mais do que isso...
O que Okita sentiria ao descobrir que o casamento já estava decretado para dois dias após seu retorno?
⸙
Aoi estava irritada, desde que o casamento precoce foi instaurado ela passou a ter que dedicar a isso, os treinos tiveram que ficar para depois. Ela e Okita já tinha uma casa, o quartel era logo na entrada da propriedade onde o senhor Kondo liderava parte dos treinos, logo depois vinham as casas dos espadachins e mais a cima a casa principal do próprio Kondo e a secundária sendo essa a de Okita e como Yukari era a anfitriã jamais deixaria que o vestido fosse feito em outro local que não fosse a sua casa.
O daimyo exigia a máxima excelência nessa união e agora ela respirava pesado.
O aroma de incenso pairava no ar, misturado ao perfume suave das flores de ameixeira dispostas no salão. O sol mal havia nascido quando as criadas começaram os preparativos. O casamento de Aoi e Okita já era um fato decidido, e não havia mais espaço para hesitação.
Dentro do aposento reservado às mulheres, Aoi estava sentada diante de um espelho de bronze, observando as servas trabalharem diligentemente no quimono que usaria. O tecido branco reluzia sob a luz bruxuleante da lamparina, um shiro-muku, símbolo de pureza e submissão ao marido. A ideia a fez rir, um som breve e seco.
— Senhora, pedimos que fique imóvel — murmurou uma das mulheres, deslizando um pente pelos longos cabelos de Aoi.
Ela obedeceu, o olhar fixo no reflexo. Apesar de ter crescido sabendo que casamentos nobres eram pouco mais do que contratos entre famílias, a visão do traje tradicional fez seu peito apertar de um jeito incômodo.
Submissão? A palavra ecoou em sua mente, amarga e estranha. Ela sabia que não era uma noiva comum, e Okita, muito menos, um marido convencional.
Yukari entrou no aposento logo depois, analisando o progresso dos preparativos. Seu olhar pousou na jovem sentada diante do espelho.
— A costura do quimono foi finalizada esta manhã — disse com suavidade. — As camadas foram feitas de acordo com o padrão da corte.
Aoi suspirou.
— Ao menos ficarei bela para um casamento que não escolhi.
Yukari sorriu, aproximando-se dela.
— Talvez não tenha escolhido este casamento, mas isso não significa que está completamente fora de seu controle.
Aoi encontrou o olhar da mulher pelo reflexo no espelho.
— O que quer dizer?
— Você e Okita não são simples peças. São guerreiros. E guerreiros não se dobram tão facilmente às regras impostas por outros.
Aoi não respondeu de imediato, mas algo naquelas palavras ficou preso em sua mente.
Enquanto as criadas continuavam a preparar os adornos para a cerimônia, a jovem deslizou os dedos sobre o tecido do quimono branco. Em poucos dias, Okita voltaria da guerra, e quando isso acontecesse, ela teria que encará-lo como sua única verdade absoluta.
Seu destino estava selado. Mas até que ponto ela poderia moldá-lo com suas próprias mãos?
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