6.Sentir ciúme é algo horrível
Enquanto caminhavam pelas ruas movimentadas da cidade, Aoi sentia os olhares sobre si. Ainda não havia se acostumado com a sensação de ser observada como se fosse uma fera enjaulada, mas mantinha a postura altiva e impenetrável que aprendera desde a infância. Como princesa de um clã inimigo, sua presença ali era motivo de desconfiança e até desprezo para alguns, mas Haruka, sempre atenta, mantinha-se ao seu lado, conversando de maneira casual para aliviar o peso do momento.
— Este distrito é conhecido por seus artesãos habilidosos. Os tecidos daqui são dos mais refinados de Kyoto. — Yukari comentou, guiando-a até uma loja bem decorada, onde rolos de algodão de alta qualidade estavam expostos.
— Parte dos quimonos dos capitães vem daqui.
Aoi correu os dedos pelos tecidos, sentindo a textura delicada de cada um. Cores vibrantes se misturavam aos tons mais suaves, criando combinações que chamavam sua atenção. No entanto, havia algo em seu peito que a impedia de se empolgar com aquilo. Ela estava escolhendo os tecidos para seu próprio casamento—um casamento arranjado, uma aliança forçada. A noção daquilo a incomodava mais do que ela gostaria de admitir.
— O que acha deste? — Yukari estendeu um rolo de seda azul celeste com bordados dourados. — É um tom refinado, realça a nobreza sem ser excessivo.
Aoi analisou a peça por um momento, considerando-a. Gostava da cor, mas hesitou antes de responder.
— É bonito... — murmurou, sem grande entusiasmo.
A senhora sorriu de canto, percebendo sua relutância, mas nada disse. Apenas continuou guiando-a pelas opções, respeitando seu silêncio.
Depois de algum tempo, ambas decidiram os tecidos principais para o quimono da noiva levando em consideração o tom favorito dela, e então começaram a caminhada de volta. O sol já estava mais baixo no céu, tingindo a cidade com tons dourados. Aoi sentia-se aliviada por finalmente estar longe dos olhares da loja, mas a sensação de tranquilidade não durou muito.
No meio do caminho, um grupo de samurais caminhava na direção oposta, conversando animadamente. Um deles, ao notar Aoi, parou abruptamente, seus olhos se fixando nela com interesse evidente.
— Mas que surpresa... — O homem murmurou antes de abrir um sorriso charmoso. Ele era alto, de cabelos escuros e olhar afiado. Sua postura indicava confiança, talvez até ousadia. — Não esperava encontrar uma beleza como você vagando por aqui.
Aoi franziu o cenho, imediatamente desconfiada. Haruka, ao seu lado, endureceu levemente, mas não interveio ainda.
— Quem é você? — Aoi perguntou, sua voz fria e cortante.
O samurai riu baixo, divertido com sua atitude desafiadora.
— Meu nome não importa, princesa. Mas você, sim, é alguém que desperta curiosidade. Dizem que é a noiva do Okita... Isso é verdade?
Aoi manteve a expressão impassível, mas por dentro sentia uma irritação crescente. O tom casual e provocador do homem a incomodava.
— E se for? — rebateu, cruzando os braços.
— Apenas acho uma pena. — Ele inclinou ligeiramente a cabeça, os olhos ainda presos nela. — Você não combina com um homem como ele. Talvez devesse considerar outras opções...
Aoi sentiu um misto de raiva e surpresa com a ousadia daquele estranho. Antes que pudesse responder, Haruka deu um passo à frente, a expressão firme.
— Acho que já falamos o suficiente. Com licença.
Aoi lançou um último olhar frio ao homem antes de virar nos calcanhares e seguir com Haruka. Seu coração ainda batia forte, não de nervosismo, mas de irritação. Como alguém ousava abordá-la daquele jeito? E por que aquilo a incomodava tanto?
O incidente poderia ter sido esquecido ali... se não fosse por Okita.
Quando a notícia chegou aos ouvidos dele, a reação foi instantânea. Ele estava sentado no dojo, afiando sua lâmina, quando um dos homens comentou casualmente sobre o encontro de Aoi com um samurai na cidade.
— Parece que um sujeito metido achou que poderia impressionar a sua noiva... — O comentário veio como uma brincadeira, mas Okita congelou no mesmo instante.
Seus dedos apertaram o cabo da katana com força, os olhos se estreitando perigosamente.
— O quê?
— Ah, nada demais. Só um cara qualquer que achou que podia chamar a atenção dela. Mas parece que ela nem deu bola.
Okita se levantou lentamente, sua expressão sombria. Um incômodo profundo se instalou em seu peito, algo quente e possessivo. A ideia de outro homem ousando se aproximar de Aoi, falando com ela como se tivesse qualquer direito... isso o irritava mais do que deveria.
Ele precisava vê-la. Agora...
Okita saiu do dojo sem dizer nada, os passos firmes e rápidos, ignorando os olhares curiosos dos outros samurais. Seu peito queimava com um sentimento que ele não sabia nomear direito—raiva, frustração, algo mais profundo que o incomodava.
Aoi era sua noiva, mesmo que não tivessem escolhido isso. E mesmo que ela o irritasse constantemente com sua atitude desafiadora, ele não gostava da ideia de outro homem se aproximando dela com intenções duvidosas.
Ao chegar à casa principal, ele avistou Yukari sentada no alpendre, bebendo chá tranquilamente. Ela notou sua presença e arqueou uma sobrancelha.
— Procurando por alguém, Okita?
— Onde ela está? — Ele perguntou sem rodeios, a voz mais afiada do que pretendia.
A mulher suspirou e pousou a xícara de chá no apoio.
— No quarto. Mas se pretende ir até lá nesse estado, sugiro que respire fundo antes.
Ele não respondeu, apenas seguiu adiante, ignorando o aviso.
Ao deslizar a porta do quarto, encontrou Aoi sentada no tatame, penteando os longos cabelos com calma. Ela nem precisou se virar para saber que era ele.
— Veio reclamar de algo? — Sua voz soou indiferente, mas ele percebeu a forma como seus ombros ficaram ligeiramente tensos.
Ele cruzou os braços e encostou-se ao batente da porta, os olhos analisando-a com atenção.
— Parece que você teve um encontro interessante na cidade hoje.
Aoi pausou por um instante antes de continuar a escovar os fios.
— Se está falando do samurai que se dirigiu a mim sem permissão, então sim, foi bem... interessante.
O tom dela, tão frio e casual, só fez a irritação dele crescer.
— E você simplesmente ficou lá ouvindo?
Ela finalmente virou o rosto para encará-lo, os olhos brilhando com um misto de provocação e desafio.
— Você esperava o quê? Que eu sacasse uma lâmina e o desafiasse ali mesmo?
Okita apertou a mandíbula, a respiração pesada. A resposta dela fazia sentido, mas não acalmava o que ele sentia.
— Eu esperava que você não desse qualquer motivo para alguém pensar que pode te abordar desse jeito.
Aoi riu baixo, descrente.
— Ah, então a culpa é minha agora? Se não quer que outros homens falem comigo, talvez devesse começar a agir como meu noivo de verdade, Okita.
Provocou, se arrependendo pelo silêncio entre eles que ficou carregado. Ele percebeu que ela o desafiava deliberadamente, testando seus limites.
— Se eu fizer isso, vai aguentar as consequências, princesa?
Ela não desviou o olhar, e por um instante, algo elétrico passou entre os dois. Mas Aoi apenas voltou a escovar os cabelos, encerrando a conversa sem dizer mais nada.
Okita ficou ali por mais alguns segundos antes de sair, ainda irritado. Ele não sabia se queria estrangulá-la ou puxá-la para si e mostrar de uma vez por todas que sua paciência tinha limites.
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