5.Percebendo e aceitando
Okita estava sentado na casa principal, o olhar fixo no chá fumegante à sua frente, mas sua mente vagava para um lugar completamente diferente. A imagem de Aoi, sua pele cintilando sob a água quente da fonte, teimava em invadir seus pensamentos. Ele não entendia por que aquilo o incomodava tanto. Não era como se nunca tivesse visto uma mulher antes, mas havia algo nela, na sua teimosia e na forma como desafiava tudo e todos, que o prendia de um jeito diferente ainda estava preso aos pensamentos do ocorrido na fonte. A lembrança da água quente envolvendo a pele de Aoi, os fios escuros de cabelo colados à sua nuca, e a expressão surpresa ao notar sua presença não saíam de sua mente. O rubor inesperado que sentiu ao ver sua noiva daquela forma o incomodava mais do que deveria.
O rubor em seu rosto quando ele a flagrou na fonte, a pressa desajeitada em se esconder... aquilo o divertiu mais do que deveria. Ela era orgulhosa demais para admitir qualquer fraqueza, mas no fim das contas, era apenas uma garota assustada tentando manter sua dignidade.
Ele riu baixinho para si mesmo, tentando afastar qualquer possibilidade de que ela estivesse interessada. Afinal, ele sabia como ninguém lidar com mulheres e suas reações era só ser claro e óbvio que não estava interessado que elas paravam de encher o saco, mas Aoi era diferente. Ela não era como as outras que ele já havia conhecido. E isso só o deixava mais intrigado.
"Maldita, teimosa e orgulhosa..." Ele não sabia se a odiava mais por causa da resistência dela ou se, de alguma forma, aquilo o atraía ainda mais. E, por algum motivo, isso o fez sentir algo próximo de ternura, um sentimento estranho e incômodo para alguém acostumado apenas com batalhas.
Seu pensamento foi interrompido quando Kondo falou novamente, e ele percebeu que estava prestes a ser repreendido por sua distração.
— Você entendeu, Okita? — A voz de Kondo ecoou, tirando-o abruptamente de seus devaneios. O mais velho arqueou uma sobrancelha ao ver o jovem espadachim completamente alheio à conversa.
— Ah... sim, claro — respondeu rapidamente, sem ter ideia do que o mais velho acabara de dizer.
— O quê? Ah, sim! Claro. — Okita se recompôs, forçando um sorriso, mas não passou despercebido pelo mais velho.
Kondo sorriu com divertimento, mas não insistiu. Apenas tomou um gole do chá e comentou casualmente:
— Não sei o que está acontecendo, mas trate de não se distrair. Sua noiva não está te dando trabalho demais, está?
— Ela sempre dá trabalho. — Okita resmungou, mas seus lábios se curvaram levemente, como se achasse graça da própria resposta. Relações e sentimentos complicados não tinham espaço em sua vida, para completar desde o noivado forçado que Hijikata vinha lhe dando conselhos, um pior que o outro. Mas o modo como Aoi olhava para ele, o jeito como a tensão pairava no ar sempre que estavam perto... era impossível negar que algo estava acontecendo.
Kondo respirou fundo achando a atitude do garoto engraçada e isso o fez lembrar de algo importante, afinal não havia comunicado a Okita que sua esposa desejava conhecer a princesa.
— Aoi sairá hoje com Yukari para ver os tecidos do casamento.
Souji arqueou uma sobrancelha, interessado. Não esperava que a rebelde princesa estivesse tão envolvida nos preparativos.
Após terminar a conversa com Kondo, ele seguiu para seu quarto, a mente ainda repleta de imagens inconvenientes. No corredor, avistou Aoi vindo em sua direção. Ela ergueu o queixo de forma soberba, os olhos cheios de arrogância, e passou direto, ignorando-o como se ele fosse invisível
"O que foi isso? " pensou, ainda tenso. Ele não era o tipo de homem que se deixava dominar pelas emoções. Mas, ao olhar para Aoi no corredor, algo dentro dele estremeceu.
Ela o ignorou, e isso o deixou com uma sensação estranha, uma mistura de frustração e... fascínio. Ele ficou parado por um momento, observando-a passar, seus olhos seguindo cada movimento dela. Ela caminhava com uma arrogância que ele não conseguia ignorar, mas o brilho travesso nos seus olhos o fez perceber que, talvez, ela não fosse tão indiferente quanto parecia.
"Você acha que pode me ignorar, princesa? O pensamento surgiu em sua mente com uma risada interna. Eu vou fazer você notar. Cada pequeno gesto meu vai te fazer perceber que não pode fugir de mim." Mas ele sabia que tinha que ser cuidadoso. Era como uma dança, uma provocação constante, e, em algum momento, ele teria que ser mais inteligente para conseguir o que queria. Mas o que era isso? O que ele queria?
Ele revirou os olhos pelas perguntas sem respostas e novamente se viu preso nela. Quando aceitou o "convite" de Yukari, algo dentro de si se agitava.
"Aoi indo para um passeio com a esposa de Kondo? O que ela pensa que vai fazer? Será que vai se comportar? Será que vai tentar fugir? " Ele torcia para que ela ficasse na dela, ou a responsabilidade cairia no colo dele. Contudo, ao se recordar da forma como ela o ignorou anteriormente, levantando o nariz com desdém, apenas para, segundos depois, sorrir com diversão, sentiu-se levemente irritado. Ela estava claramente se divertindo às suas custas.
Okita se recostou contra a parede de seu quarto, os olhos fechados por um momento, pensando nas pequenas coisas: o jeito que Aoi o desafiava, sua resistência constante, e a maneira como ela reagia à sua presença. A cada dia que passava, ele começava a se dar conta de que as linhas entre a provocação e o desejo estavam ficando cada vez mais tênues. E isso o assustava.
"Isso é apenas um acordo e nada deve importar. Só é um título que colocaram sobre nós." Foi o último pensamento dele antes de adormecer.
No dia seguinte, as mulheres saíram cedo. Conforme caminharam tranquilamente pelas ruas da cidade, Aoi começou a se sentir mais confortável ao lado de Yukari.
A senhora Yukari Kondo era gentil e perspicaz de feições suaves e sorriso acolhedor. E apesar de sua aparência delicada, ela possuía uma força interior que se fazia presente em cada palavra e gesto. Ela sempre fora gentil e respeitosa com todos ao redor, e embora tivesse um porte sério de quem sabia o seu lugar, havia algo de maternal em sua atitude que chamava a atenção, talvez fosse pelo fato de não ter filhos e tratar parte do esquadrão como tal.
Com um olhar atento, ela observava Aoi com uma curiosidade mansa, mas também com um toque de compreensão, como se soubesse das tensões nas quais a jovem estava imersa, não forçava conversas, mas sempre sabia a coisa certa a dizer, o que deixava a jovem princesa cada vez mais relaxada, ambas parava paravam e observavam ao redor admirando os tecidos expostos nas tendas, essa era a única parte comercial da pequena "cidade". Aoi, embora relutante no início, se permitiu aproveitar o momento e ouvir as sugestões de Yukari, que parecia entender bem seus gostos. Entre um comentário e outro sobre os padrões e cores dos quimonos, ambas se viram sorrindo e trocando confidências sutis.
A jovem se recordou da flecha e do tecido, ela respirou pesado pois havia levado consigo aquele pedaço de pano e o olhar de Yukari foi direto a ele.
— Foi um presente do seu noivo imagino. — Aoi assentiu, preferiu concordar do quê explicar como ele deu aquilo.
— É um bom tecido. — Aoi passou as mãos pelo pedaço de pano levando a mais velha a sorrir.
— É da mesma casa que fez as roupas dele e as nossas também.
Por um lado ela queria dizer que não se importava, mas pelo sorriso da senhora entendeu que o jovem espadachim estava tentando honrar todos aqueles que passavam por seu caminho e por esse único motivo, segundo a própria Aoi aceitaria que fosse esse o tecido do quimono cerimonial.
— Então será esse. — Afirmou, levando a senhora a crer que foi uma escolha apropriada para uma noiva já adaptada a sua nova condição de vida.
Depois da decisão bastava ir a loja ter a certeza da cor e de outros detalhes, Yukari aproveitou para conversar com ela, não via problema algum em adentrar partes do que julgava ser a vida íntima do futuro casal, uma vez que eles pareciam confortáveis consigo.
— Como tem sido para você aqui? — Perguntou suavemente, mas de forma genuína. — Sei que foi uma grande mudança. Deve ser difícil, mas eu gostaria de ouvir como você se sente, se isso ajudar.
Aoi mordeu o lábio inferior, a mente tentando digerir as palavras. Ela não estava acostumada a se abrir facilmente, mas a maneira tranquila de Yukari, quase maternal, parecia lhe dar um pouco de conforto. Ela suspirou, pensando nas palavras.
— Difícil... — começou a dizer, mas rapidamente se corrigiu. — Eu não gosto daqui, mas... é melhor do que onde eu estava antes.
Yukari manteve o olhar firme, não demonstrando surpresa com a resposta, mas seu sorriso suavizou ainda mais, como se ela tivesse esperado por algo desse tipo. Sem pressa, ela continuou andando ao lado de Aoi, o ritmo de seus passos em sintonia, deixando que o silêncio os envolvesse por um momento.
— Às vezes, estamos presos a um lugar porque não conseguimos ver nada além dele. Mas, com o tempo, a vida pode se mostrar diferente. — disse a mais velha com uma leveza em sua voz, sua experiência com as mudanças e os altos e baixos da vida transparecendo. — Eu sei que é difícil aceitar mudanças, Aoi. Mas quero que saiba que você não está sozinha aqui. Podemos começar com pequenos passos, sem pressa.
Aoi a olhou por um momento, um pouco surpresa pela simpatia que a mulher emanava. Ela não sabia se acreditava totalmente nas palavras de Yukari, mas o fato de alguém genuinamente se preocupar, mesmo sem ser obrigada, despertava algo dentro dela. Algo que ela não havia sentido há muito tempo.
— Não estou acostumada com isso... — Aoi murmurou, sua voz trêmula pela primeira vez. — Nunca pensei que alguém se importasse... como você está fazendo agora.
A mulher sorriu suavemente, colocando uma mão gentil sobre o ombro dela, oferecendo um apoio silencioso e reconfortante.
— Às vezes, as pessoas só precisam de uma chance para mostrar que se importam. Não é fácil, mas quem sabe, Aoi... Talvez o que você precisa aqui seja mais do que você imagina.
O caminho à frente ainda parecia cheio de incertezas, mas naquele momento, com a suavidade de Haruka ao seu lado, Aoi sentiu algo de inesperado — uma abertura, uma chance, uma possibilidade. Ela respirou profundamente e deu um passo à frente, ainda com o coração pesado, mas talvez um pouco mais leve do que antes.
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