18.Apaixonados
Aoi despertou lentamente, sentindo o peso do próprio corpo afundar no futton macio. Seu corpo parecia mais quente do que o habitual, envolvido por um calor que ia além do espesso cobertor de seda que a cobria. A brisa da madrugada dançava pelas frestas da porta de correr, agitando as cortinas de linho e espalhando pelo ar um aroma sutil de incenso misturado à fragrância natural da madeira do aposento.
Seu olhar percorreu o teto de madeira escura antes de descer, fitando as sombras trêmulas projetadas pelas velas quase apagadas. Pétalas de ameixa ainda decoravam o chão ao redor, algumas espalhadas pelo tecido do futton, como uma lembrança silenciosa da noite que compartilhara com Okita.
Foi então que sentiu. Seu corpo dolorido, mas de um jeito diferente, um calor estranho ainda vibrando entre suas pernas, como se a presença dele ainda estivesse ali. Um arrepio percorreu sua espinha ao se lembrar das mãos dele explorando sua pele, dos beijos ardentes que consumiram ambos, da forma como seus corpos se encaixaram em perfeita harmonia.
Seus dedos deslizaram lentamente pelo lençol de algodão, sentindo a maciez contra a pele nua. Nua. Essa consciência a fez corar violentamente, trazendo-a de volta à realidade. Ela virou o rosto para o lado e, ali, viu Okita.
Ele ainda dormia. Os cabelos escuros, sempre organizados, agora estavam soltos ligeiramente desalinhados, algumas mechas caindo displicentes sobre os olhos cerrados. Sua respiração era lenta e ritmada, e o braço que antes a envolvia repousava sobre o próprio peito, como se ainda sentisse a presença dela em seus braços. O lençol cobria apenas parte de seu corpo, deixando à mostra a pele marcada por arranhões discretos, vestígios da paixão compartilhada horas antes.
Aoi engoliu em seco. Nunca pensara que um homem pudesse ser tão belo e ao mesmo tempo tão perigoso. O calor subiu por seu rosto novamente, e ela teve de desviar o olhar antes que se perdesse mais na imagem dele. Tentou se mover, mas logo sentiu a resistência em seus músculos, um lembrete do que haviam feito.
Seu olhar se fixou em sua própria mão, lembrando-se de como ele a segurara, como a guiara com paciência e desejo. As palavras sussurradas contra sua pele ainda ecoavam em sua mente, carregadas de carinho e posse.
Uma mistura de emoções tomou conta dela: timidez, felicidade e uma ponta de receio. Ela agora era completamente dele, mas o que isso significava para ambos? Com um suspiro, ela tentou se erguer lentamente, puxando o lençol contra o corpo para se cobrir. No entanto, no momento em que fez o menor movimento, Okita resmungou e, em um gesto quase automático, puxou-a de volta para perto.
- Onde pensa que está indo? - Sua voz rouca e sonolenta fez com que ela paralisasse. Ele entreabriu os olhos e sorriu de forma preguiçosa ao vê-la corada. - Ainda é cedo para fugir de mim, princesa.
Aoi sentiu o coração acelerar. Ele a puxou contra si, seu rosto muito próximo ao dela, e sem aviso, depositou um beijo em sua testa, antes de esconder o rosto na curva de seu pescoço.
- Fique um pouco mais... - murmurou contra sua pele, seu tom carregado de carinho e desejo contido.
Ela suspirou, sentindo-se derreter em seus braços. Talvez pudesse permanecer ali só mais um pouco... apenas mais um momento.
⸙
O aroma sutil de incenso queimado ainda pairava no ar, misturando-se ao cheiro de velas derretidas e à fragrância floral das pétalas espalhadas pelo chão de tatame. Para pessoas acostumadas a acordar com o nascer do sol, saber que ele já havia levantado e que a luz suave da manhã filtrava-se pelas frestas da porta de madeira, desenhando sombras delicadas pelo aposento era uma pequena quebra na rotina. O futon onde Aoi repousava estava levemente desalinhado, um testemunho silencioso da intensidade da noite anterior e do momento logo pela primeira hora da manhã onde Okita conseguiu segurá-la mais um pouco na cama.
Seu corpo estava envolto pelo tecido leve do yukata que Okita havia gentilmente colocado sobre seus ombros após deslizá-lo por sua pele durante a madrugada. Os fios castanhos de seu cabelo espalhavam-se pelo travesseiro, alguns grudados em sua bochecha devido ao calor da noite. Aoi piscou algumas vezes, sentindo as pálpebras pesadas, o corpo exausto, mas preenchido por uma sensação estranhamente doce e acolhedora.
Ainda havia vestígios de carícias por sua pele. A ponta dos dedos deslizou levemente sobre o ombro nu, onde sentiu o toque fantasma dos lábios de Okita. Seu coração acelerou apenas de lembrar do modo como ele a segurara, da forma como sussurrou palavras roucas contra sua pele, conduzindo-a pacientemente, respeitoso, mas ao mesmo tempo impiedoso ao reclamar para si cada reação de seu corpo.
Virando-se lentamente, sentiu a dor leve percorrendo suas pernas, arrancando-lhe um pequeno suspiro. Seus olhos encontraram a figura de Okita ao seu lado, deitado de costas, um braço dobrado sobre a testa, o outro repousando sobre o abdômen. Os lençóis desciam até sua cintura, revelando a pele pálida do peito e a curva dos músculos definidos. O cabelo escuro estava bagunçado, algumas mechas caindo sobre sua testa, e seus lábios entreabertos numa respiração tranquila.
Aoi não pôde evitar o calor que subiu até suas bochechas. Tudo parecia tão novo, tão íntimo e profundo. Sentiu a necessidade de tocar nele, de garantir que tudo aquilo não tinha sido apenas um sonho. Com a ponta dos dedos, deslizou suavemente pela clavícula dele, sentindo a pele quente sob seu toque.
- Está admirando a vista logo cedo, princesa? - A voz rouca de Okita soou, puxando-a bruscamente de seus devaneios. Seu olhar castanho encontrou o dela com um brilho divertido.
Aoi engoliu seco e desviou o olhar.
- Eu... só estava verificando se ainda estava respirando - murmurou, tentando esconder o embaraço.
Okita sorriu preguiçosamente, esticando o braço para puxá-la para mais perto. Seu corpo ainda estava quente, e Aoi sentiu a firmeza dos músculos sob os dedos quando sua mão deslizou até o peito dele.
- Estou bem vivo, e por sua causa - ele murmurou contra os cabelos dela, deixando um beijo suave na testa. - Como está se sentindo?
Ela hesitou por um instante antes de responder.
- Um pouco... dolorida - confessou baixinho.
Ele soltou um suspiro baixo, os dedos deslizando preguiçosamente pela curva da cintura dela, fazendo-a se encolher levemente.
- Eu fui muito rude com você?
Aoi negou rapidamente, sentindo o calor tomar conta de suas bochechas novamente.
- Não... foi perfeito. Apenas... diferente de tudo o que imaginei.
Okita sorriu satisfeito, inclinando-se para capturar os lábios dela em um beijo lento e delicado. Quando se separaram, ele repousou a testa contra a dela, murmurando suavemente:
- Então, que tal tornarmos essa manhã igualmente inesquecível?
Aoi sequer teve tempo de protestar antes de ser novamente envolvida nos braços de seu marido.
Eles não saberiam dizer com precisão quando foi que se apaixonaram, se foi mediante as provocações do jovem Souji ou as negações da princesa, porém os mais próximos sabiam que algo estava acontecendo. Que o casamento por obrigação tinha dado mais do que certo.
Bastava olhar par Aoi envergonhada em certos momentos e ver o rosto de Souji vermelho indicando que foi beliscado por alguma provocação. Ou o quanto ele ficava feliz em retornar para casa e saber que teria alguém o esperando e esse alguém era a sua mulher.
Sua amada esposa.
Aoi nunca imaginou que pudesse se sentir tão confortável ao lado de alguém, especialmente alguém tão impulsivo e travesso quanto Okita Souji. Mas ali estava ela, sentada no jardim da residência que agora chamava de lar, observando o marido praticar golpes com sua katana sob a luz do entardecer.
Os meses ao lado dele passaram como uma brisa suave, e cada dia lhe trazia algo novo para sentir e entender. O casamento que começou como um dever lentamente se transformou em algo precioso e insubstituível.
E ele...
Ele parecia saber disso melhor do que ninguém.
Souji fazia questão de buscá-la sempre que podia, de provocá-la até o limite do aceitável apenas para arrancar dela aquelas expressões que tanto amava. Ainda assim, também sabia o momento exato de conter-se e apenas olhá-la com admiração, como fazia naquele instante ao perceber que Aoi o observava.
- Princesa, se continuar me olhando assim, vou achar que se apaixonou por mim. - Ele sorriu com aquele brilho travesso no olhar, abaixando a espada e caminhando em direção a ela.
Aoi, como sempre, revirou os olhos e desviou o olhar para as flores ao seu lado.
- Ridículo. Eu estava apenas observando sua postura. Você ainda tem muito o que melhorar.
A risada dele ecoou pelo jardim antes que ele se abaixasse para ficar ao nível dela. Os olhos castanhos estudavam seu rosto com atenção, e então ele segurou uma mecha de seu cabelo entre os dedos.
- E ainda é tão teimosa. - Ele murmurou.
Aoi sentiu o coração disparar quando Souji deslizou os dedos pela lateral de seu rosto, afastando uma mecha solta. Ele estava perto demais. Próximo o suficiente para sentir seu cheiro, para perceber o calor que emanava de sua pele.
- O que foi? - Sua voz saiu mais baixa do que pretendia.
- Nada. Só gosto de te olhar. - O sorriso dele suavizou, e pela primeira vez naquela noite, Aoi não viu provocação ali. Apenas um carinho silencioso, uma verdade escondida na simplicidade de suas palavras.
Antes que pudesse reagir, ele tomou seu queixo entre os dedos e inclinou o rosto na direção dela, roçando os lábios com delicadeza antes de aprofundar o beijo. O calor que a tomou era quase incapacitante, e quando deu por si, suas mãos já estavam nos ombros dele, segurando-o firme, como se temesse que escapasse.
Souji sorriu contra seus lábios antes de beijá-la novamente. Mais forte. Mais intenso.
E foi ali, entre beijos roubados e suspiros entrecortados, que ambos perceberam que aquela noite não terminaria como as anteriores.
Eles não resistiriam mais.
Não havia mais por que negar.
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