11.Entre Silêncios e Dívidas
O sol do meio-dia derramava sua luz dourada sobre a varanda da residência, onde Aoi e Okita compartilhavam uma refeição em um silêncio carregado. O leve tilintar dos hashi contra as tigelas era o único som que rompia a quietude entre eles.
Okita comia devagar, sem pressa, seus olhos deslizando de tempos em tempos para a mulher à sua frente. Aoi mantinha a postura impecável, seu olhar fixo na comida, como se fosse mais interessante do que a companhia.
Ele soltou um suspiro baixo, largando os hashi sobre a mesa.
— Vamos dar um passeio depois do almoço.
Aoi ergueu os olhos, arqueando uma sobrancelha.
— Não, obrigada.
— Não era um pedido.
Ela estreitou o olhar.
— Eu disse que não vou.
Okita inclinou a cabeça, um sorriso travesso brincando em seus lábios.
— Eu também disse que não era um pedido.
Ela abriu a boca para retrucar, mas o olhar confiante dele a irritava de um jeito que a fez apenas bufar e voltar a comer.
Apesar da relutância inicial, Aoi acabou cedendo.
O jardim dos fundos era amplo, com cerejeiras cujas folhas secas dançavam ao vento, prenunciando o fim do outono. Eles caminhavam lado a lado, os passos ritmados, sem pressa.
— Você sempre foi tão mandão? — Aoi perguntou, cruzando os braços.
— Só quando é divertido.
Ela revirou os olhos, mas o canto de sua boca tremeu levemente, quase formando um sorriso.
Eles se sentaram próximos a uma das árvores, a brisa fresca balançando os fios de cabelo dela. O silêncio que se instalou era diferente do da refeição — menos incômodo, mais natural.
Por um momento, apenas observaram as folhas caindo suavemente ao chão.
Foi quando Okita percebeu. Uma folha de coloração amarronzada estava presa nos cabelos de Aoi.
Sem pensar muito, ele estendeu a mão, afastando os fios castanhos com um toque surpreendentemente gentil.
Ela congelou.
Os olhos dela se arregalaram levemente ao sentir os dedos dele deslizarem por sua têmpora, removendo a folha e ajeitando a mecha fora do lugar.
A pele de Aoi esquentou e Okita notou de imediato.
O leve rubor que tomou conta do rosto dela arrancou um sorriso satisfeito dele.
— Ora... — Ele murmurou, inclinando-se ligeiramente, os olhos analisando-a de perto. — Então você também sabe corar?
Aoi virou o rosto bruscamente, tentando disfarçar.
— É o sol.
Ele riu baixo, mas não contestou. Apenas girou a folha entre os dedos antes de jogá-la ao vento.
E então, como se tivesse acabado de lembrar, virou-se para ela com um brilho travesso nos olhos.
— Ah... A propósito, você ainda me deve algo.
Aoi piscou, confusa.
— O quê?
— A aposta. — Ele sorriu, satisfeito ao ver a expressão dela mudar. — Eu ganhei. Ainda posso escolher o que quiser.
Ela crispou os lábios, sentindo a irritação tomar conta de seu rosto.
— E o que você quer?
Okita apoiou o queixo na mão, parecendo pensativo.
— Ainda não decidi. Mas não se preocupe... — Ele inclinou-se ligeiramente, o sorriso misterioso brincando em seus lábios. — Quando eu souber, você será a primeira a saber.
Aoi sentiu um arrepio subir por sua espinha.
E, pela primeira vez, desejou que ele simplesmente esquecesse essa maldita aposta.
⸙
O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados, mas no jardim o clima ainda permanecia pesado entre os dois. Aoi sentia a presença de Okita mais forte do que nunca, e aquele toque simples no cabelo ainda fazia seu coração bater mais rápido do que gostaria de admitir. Ela odiava se sentir vulnerável perto dele, mas sabia que isso era algo que não conseguia controlar.
Okita observou o comportamento dela com um sorriso, sabendo exatamente como afetá-la. Nunca havia sido o tipo de homem que se preocupava em esconder seus sentimentos, e quando se tratava de Aoi, ele gostava de brincar com as reações dela.
— Você está tensa. — Comentou, mantendo o tom descontraído.
Aoi o encarou de relance, seu olhar desafiador, mas suas mãos estavam apertadas atrás de suas costas, traindo a tensão que tentava esconder.
— Você me deixa tensa, Okita. — Ela respondeu, finalmente quebrando o silêncio.
Ele não conseguiu conter uma risada baixa e se aproximou um pouco mais.
— Ah, então você admite? — Ele sussurrou, inclinando-se levemente, mas mantendo uma distância que, para ela, era igualmente desconcertante.
Aoi engoliu em seco e tentou se afastar, mas ele, mais rápido, deu um passo à frente, bloqueando seu caminho.
— Não se afaste. — O tom dele misturava autoridade e diversão, como se realmente estivesse se divertindo com a situação.
Ela o olhou com desafio nos olhos, sentindo o calor crescer em seu peito. Tudo nele era provocação, e tudo nela era resistência.
— Você acha que consegue me intimidar? — Ela questionou, seu tom ácido.
Ele sorriu, como se soubesse algo que ela ainda não entendia.
— Não. Só estou tentando te entender. Você é uma mulher interessante, Aoi. Mais do que imagina.
Ela franziu a testa, estreitando os olhos.
— E isso deveria significar o quê?
Ele deu de ombros, sem perder o sorriso.
— Apenas que você tem mais camadas do que parece. E isso, por si só, já é interessante.
Aoi sentiu um arrepio subir por sua espinha. Não gostava da ideia de ser analisada, mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia esconder o que estava acontecendo dentro de si mesma.
Seus olhos se desviaram para o chão, e Okita, percebendo aquele pequeno momento de vulnerabilidade, deu um passo atrás, lhe dando o espaço que parecia precisar. Mas, antes que pudesse afastar-se totalmente, ele falou, com mais suavidade do que ela esperava.
— Talvez, um dia, você me deixe realmente conhecê-la.
Aoi o olhou de volta, e algo em seu olhar parecia mais suave, mas ela não respondeu. Não podia se dar ao luxo de cair nas suas armadilhas.
— Talvez. — Foi tudo o que ela disse, e seguiu em frente, sem esperar pela reação dele.
Okita observou sua figura se afastando, com um sorriso discreto.
— Ah, Aoi... — Ele murmurou, ainda a observando. — Não esqueça da sua dívida...
Ela parou no meio do caminho, sem se virar, e respirou fundo.
— Eu não esqueci.
Ele cruzou os braços, claramente satisfeito.
— Ótimo. Porque eu vou cobrar essa dívida antes que a noite termine.
Aoi sentiu o sangue ferver, tanto de irritação quanto por algo que não queria admitir. Seu casamento com Okita seria naquela mesma noite, uma decisão inesperada e imposta pelo daimyo. Era estranho pensar que, em poucas horas, ele seria oficialmente seu marido.
E, conhecendo Okita como conhecia, Aoi tinha certeza de que ele não deixaria que ela se esquecesse desse detalhe nem por um segundo.
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