10.Retorno e Conflitos

O som dos cascos dos cavalos ecoava pela estrada de terra quando Okita finalmente retornou. O cheiro de sangue e poeira impregnava suas vestes, e a exaustão pesava sobre seus ombros, mas sua expressão permanecia inabalável. Ele havia voltado inteiro, como o daimyo exigia, mas as cicatrizes invisíveis da guerra ainda queimavam sob sua pele.

Aoi observava de longe, escondida atrás de uma das colunas da residência principal. Por mais que tentasse manter-se indiferente, não conseguiu evitar que seus olhos se prendessem à figura dele. O cansaço era evidente, mas Okita ainda mantinha aquele ar despreocupado e irritantemente confiante.

Ele desmontou do cavalo com um movimento ágil, seus olhos vasculhando o pátio até que, por um breve momento, encontraram os dela.

— Já voltou a me vigiar, princesa? — A voz dele era rouca, carregada de fadiga, mas ainda havia um tom provocativo.

Aoi estreitou os olhos.

— Só estou certificando-me de que realmente sobreviveu. — Respondeu com frieza. — Seria uma pena se tudo isso fosse em vão.

Ele riu baixo, balançando a cabeça antes de se virar para os outros samurais que o aguardavam.

Tinha algo a resolver o daimyo esperava por suas notificações e definitivamente Aoi não era a prioridade daquele momento.

Mais tarde, após Okita se banhar e trocar de roupas, Yukari se aproximou dele com um olhar hesitante.

— Há algo que precisa saber. — Ela começou, a voz mais suave do que o normal.

Ele ergueu uma sobrancelha, bebendo o chá que lhe foi oferecido.

— O daimyo decretou que seu casamento será em dois dias.

O silêncio que se seguiu foi denso.

Okita parou por um momento, a xícara entre os dedos. Ele não se moveu, mas algo em seu olhar mudou.

— Dois dias? — Sua voz soou perigosamente calma.

— Eu tentei pedir mais tempo para que você descansasse. Ele me concedeu apenas isso. — Yukari explicou.

Ele soltou um suspiro pesado, passando a mão pelos cabelos úmidos.

— Esse velho desgraçado...

Era esperado, claro. O daimyo nunca cederia em algo tão importante, não importava quantas vitórias tivessem conquistado. Mas isso não significava que Okita aceitava de bom grado.


No dia seguinte, apesar da exaustão, Okita decidiu treinar. Ele precisava aliviar a tensão que queimava dentro dele, e a melhor forma de fazer isso era com a espada em mãos.

Aoi, por outro lado, mantinha-se próxima, observando de longe.

— Você não deveria estar descansando? — Ela perguntou, os braços cruzados enquanto o via cortar o ar com golpes precisos.

Ele girou a espada antes de se virar para encará-la, o olhar afiado como lâminas.

— Você realmente quer me dar ordens agora, princesa?

Ela ergueu o queixo, mantendo a postura desafiadora.

— Não quero um marido que desmaie no meio da cerimônia.

Okita riu, mas havia algo sombrio em seus olhos.

— Quem disse que quero ser seu marido?

Aoi não respondeu de imediato. O incômodo em sua expressão foi suficiente para que Okita notasse que suas palavras a atingiram.

— Isso não muda nada. — Ela disse, finalmente. — O casamento vai acontecer, quer você goste ou não.

Ele apertou os dedos no cabo da espada, olhando para ela por um longo momento antes de se virar para continuar seu treino.

Aoi permaneceu ali por um instante antes de se afastar, sentindo algo inquietante crescer dentro dela.

Ela deveria estar satisfeita por ter conseguido revidar, mas pela primeira vez, não tinha certeza se realmente havia vencido aquela provocação.



A lua já estava alta quando Aoi caminhou pelos corredores da residência, seus passos leves sobre o assoalho de madeira. O casamento aconteceria ao amanhecer, e por mais que tentasse ignorar, seu peito estava pesado com algo que não conseguia nomear.

O silêncio da noite foi interrompido pelo som rítmico de uma lâmina cortando o ar. Ela não precisou ver para saber quem estava ali.

Okita ainda estava treinando.

Aoi parou na entrada do dojo, observando-o na penumbra. O suor escorria pelo pescoço dele, os fios de cabelo grudando na pele. O cansaço era evidente, mas Okita continuava, golpeando um alvo invisível com precisão mortal.

— Se continuar assim, não terá forças para se levantar amanhã.

A voz dela quebrou o silêncio.

Okita parou no mesmo instante. Ele não se virou, apenas inclinou a cabeça levemente, reconhecendo sua presença.

— E se eu não quiser me levantar?

Aoi sentiu algo se prender em sua garganta.

— Está planejando fugir?

Ele riu, um som seco e sem humor.

— Não. Apenas me perguntando se vale a pena acordar.

Ela caminhou até ele, parando a poucos passos de distância. O cheiro metálico da lâmina recém-polida misturava-se ao perfume amadeirado que sempre impregnava suas roupas.

— O que quer dizer com isso?

Okita finalmente se virou, seus olhos analisando os dela.

— Para você, este casamento é apenas um dever, algo que foi imposto. Mas para mim... é um lembrete do que não posso mudar.

Aoi franziu a testa.

— Então é isso? Você se vê como uma vítima?

Ele soltou um riso nasalado.

— Eu me vejo como alguém que não tem escolha quanto a isso.

O silêncio que se seguiu foi quase sufocante.

Aoi desviou o olhar, cruzando os braços.

— Nenhum de nós tem. Mas fugir disso não é uma opção.

Okita permaneceu imóvel por um momento antes de suspirar.

— Você está nervosa?

Ela hesitou, mas não mentiria.

— Sim.

A resposta curta o surpreendeu.

Okita observou-a por um longo tempo antes de murmurar:

— Então estamos na mesma situação.

Aoi não respondeu. Apenas ficou ali, olhando para ele.

E pela primeira vez, nenhum dos dois tentou provocar o outro.

Amanhã, estariam casados.

Mas essa noite ainda pertencia apenas a eles.


─••• Glossário •••─

• Dojo (道場) - é um termo japonês que se refere a um local dedicado ao treinamento de artes marciais, meditação ou práticas espirituais. A palavra dojo significa literalmente "local do caminho" (道 = caminho; 場 = lugar), refletindo a ideia de um espaço onde se busca o aperfeiçoamento físico, mental e espiritual.

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