1.Noiva do Inimigo
O sangue fervia em suas veias quando ela se infiltrou no acampamento inimigo, os pés leves como o de uma raposa, o coração carregado de ódio e vingança. A lâmina curva descansava em suas mãos, a única herança deixada por seu pai, o antigo senhor que tombara diante do impiedoso avanço do xogunato. Agora, ela estava ali, em busca de retaliação, e seu alvo era ninguém menos que Okita Souji, o prodígio da espada.
Os espiões lhe contaram sobre a rotina do jovem capitão do Shinsengumi. Sabia que ele sempre treinava sozinho ao amanhecer, afastado do burburinho dos outros guerreiros. Era sua chance. Escondida entre as sombras da floresta, conteve a respiração enquanto ele se movia, o katana riscando o ar como uma extensão de seu próprio corpo.
Ela avançou, sem hesitação.
A lâmina cortou o espaço entre os dois em um ataque veloz, mas ele se moveu com a graça de um espectro, desviando com facilidade. Em resposta, Souji sorriu, os olhos vivos de um predador que se diverte com a presa.
— Um assassino? — perguntou ele, a voz carregada de ironia, como se soubesse exatamente de quem se tratava. — Que descuido o seu, tentar matar alguém como eu de forma tão direta.
Ela não respondeu, girando a espada e atacando novamente. Cada golpe era imbuído de raiva, de uma dor que só poderia ser aliviada pela morte do homem à sua frente. Mas Okita Souji não era um oponente comum. Ele bloqueava seus ataques sem esforço, com uma velocidade que beirava o impossível.
Até que um deslize custou tudo.
Em um movimento preciso, Souji desarmou-a, a lâmina voando de seus dedos e cravando-se no chão distante. Antes que pudesse se afastar, ele a imobilizou, uma mão segurando seu pulso, a outra empunhando a katana que agora repousava ameaçadora contra sua garganta.
Foi nesse instante que ele percebeu.
O véu negro que cobria parte de seu rosto se desfez, revelando a pele delicada e os olhos flamejantes de uma mulher. Uma princesa.
O choque passou por seu olhar como um relâmpago, mas logo foi substituído por algo mais enigmático. Um suspiro escapou de seus lábios.
— Uma mulher, hein? Isso complica as coisas. — Respirou pesado empunhando a espada de uma forma que não a cortaria, mas a deixaria extremamente dolorida
Ela cerrava os dentes, a vergonha e a frustração queimando em seu peito. Esperava a lâmina finalizar seu destino, mas o golpe não veio, principalmente quando viu o símbolo da realeza estampado no peito. Ao invés disso, foi atacada no momento em que tentou ferí-lo. O baque seco no estômago a fez perder o ar, certeiro o suficiente para fazê-la se ajoelhar e ser levada para o quartel do Shinsengumi, as mãos amarradas firmemente. Não era mais uma assassina oculta, e sim uma prisioneira de guerra.
⸙
O senhor feudal que Souji servia era um homem de estratégia e pouco misericordioso. Após saber da identidade da princesa rebelde, cogitou sua execução, mas viu ali uma oportunidade melhor: um casamento. Unir o sangue da antiga linhagem derrotada ao do novo regime seria uma forma de selar o conflito e impedir futuros levantes.
— Você se casará com Okita Souji — decretou o Daimyo, sem espaço para questionamentos.
Ela sentiu a ira lhe consumir.
— Prefiro morrer!
O senhor feudal sorriu, um sorriso frio e calculista.
— É uma escolha que você não pode fazer.
Ela lançou um olhar mortal a Souji, que permaneceu calmo, observando-a como se ela fosse um quebra-cabeça intrigante.
— Parece que teremos um casamento interessante — murmurou ele, com a sombra de um sorriso no rosto.
E assim, a princesa rebelde se viu presa a um destino que jamais poderia imaginar: tornar-se a noiva de seu inimigo.
─••• Notas finais •••─
─••• Glossário:
• Daimyo (大名) significa "grande nome". Era um título dado aos senhores feudais poderosos no Japão durante os períodos Sengoku (1467-1603) e Edo (1603-1868). Eles governavam grandes extensões de terra e comandavam exércitos de samurais, exercendo grande influência política, militar e econômica.
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