𝒊. a disastrous christmas
ꉂ'🍥'˖ *A DISASTROUS CHRISTMAS
──★ ˙supntrl, 2024 ̟ !!
JÁ NÃO HAVIA MAIS APOCALIPSES. Nem fins do mundo. As ameaças que antes pairavam sobre eles, forçando-os a encontrar soluções impossíveis para problemas que estavam fora de seu alcance, desapareceram.
Era difícil acreditar que, após tudo o que enfrentaram ― as batalhas, as perdas, a luta contra o tempo ― finalmente estavam livres. Verdadeiramente livres. Livres da responsabilidade de salvar um mundo que já não existia para ser salvo. A paz reinava, e não precisavam mais suportar o peso de serem os heróis improváveis, sempre flertando com o abismo entre a vida e o colapso do universo.
Os poderes? Bem, já não possuíam a mesma importância de outrora. Aquelas habilidades incríveis, que um dia foram essenciais para a sobrevivência de todos, agora pareciam algo distante, como uma lembrança de épocas sombrias que haviam superado. Continuavam ali, ainda vibrando dentro deles, mas não havia mais necessidade de empregá-las. Não como antes. Talvez, em uma situação inesperada, esses talentos pudessem ser valiosos, mas essa chance parecia cada vez mais improvável.
Luther, Diego, Allison, Klaus, Cinco e Viktor já não precisavam mais se preocupar com o futuro do mundo. Eles não eram mais obrigados a serem os guardiões de uma realidade que sempre os desprezou. O peso da Umbrella Academy havia se dissipado com a destruição iminente que frequentemente os ameaçava. Aquela designação, outrora tão pesada, havia perdido seu significado. Agora, eles eram apenas eles mesmos ― livres da sombra da responsabilidade que antes os perseguia.
Tudo isso se tornou viável graças a Ben.
Ele se sacrificou para que todos pudessem sobreviver, oferecendo-lhes a oportunidade de viver sem o temor constante da morte. Embora nunca houvesse confessado isso abertamente, os Umbrellas se transformaram em sua família após os Sparrows. Ben tinha plena consciência disso, e talvez eles também, ainda que preferissem não abordar o assunto. Contudo, ele não era o mesmo Ben que conheciam, e jamais poderia a ser. Existia algo distinto nele, uma disparidade essencial, algo que o separava do Ben que todos amavam.
Talvez essa fosse a razão pela qual ele decidiu se sacrificar. Talvez ele compreendesse que essa era a sua forma de finalmente se sentir parte, de alcançar a paz em uma vida que nunca foi verdadeiramente sua. Talvez esse fosse o seu destino, após tudo.
Um sacrifício silencioso, sem grandes adeus, sem garantias de um retorno. Ben estava consciente de que, no fundo, seu laço com os Umbrellas, apesar de genuíno, era delicado. Ele nunca foi o Ben que eles haviam perdido ― aquele irmão que receberam amor e luto. Ele se tornara uma sombra do que já foi, uma versão moldada pelas marcas de uma vida distinta, em uma realidade paralela. E, ainda assim, ele os salvou. Ele escolheu a família que o destino lhe ofereceu, mesmo que nunca fosse completamente parte dela como os demais.
Agora, os Umbrellas precisavam enfrentar o vazio deixado pela morte. Não se tratava apenas da dor da perda, mas também da ausência de um propósito. Eles sempre tiveram uma missão clara: lutar, sobreviver e evitar o apocalipse. Mas e agora? Agora, não havia mais um amanhã em perigo para proteger, nem batalhas a serem enfrentadas. Estavam livres, mas essa liberdade trazia consigo um incomum fardo de insegurança. O que estava por vir? Como se adaptariam a uma vida sem catástrofes mundiais e sem obrigações sobre-humanas?
A Umbrella Academy já não se fazia mais necessária, e essa revelação trazia consigo uma mistura de libertação e dor. Tudo que conheciam estava, de alguma maneira, atrelado àqueles perigos e àquela ameaça incessante. Contudo, com o sacrifício de Ben, o ciclo finalmente foi rompido. Agora, cabia a cada um deles descobrir um novo caminho, afastando-se do que sempre julgaram ser seu destino.
Talvez essa fosse a verdadeira intenção de Ben ao tomar sua decisão. Ao se sacrificar, ele não apenas protegeu o mundo, mas também proporcionou a seus irmãos a liberdade de se desvencilharem do fardo que os mantinha tão atados ao passado. Ele lhes deu a oportunidade de experimentar algo que nenhum deles imaginou ser possível: uma vida comum. E, mesmo que nunca tenha expressado isso em palavras, eles sabiam. Sabiam que, de alguma forma, Ben sempre desejou que eles tivessem essa chance.
Agora, o desafio deixou de ser apenas sobreviver. Era, na verdade, viver plenamente.
Para Diego, talvez essa tarefa fosse ainda mais complexa. Enquanto os demais lentamente começavam a se adaptar à nova realidade, ele se via preso em uma luta interna que nenhum poder externo poderia resolver. A perspectiva de levar uma vida comum parecia um objetivo distante para ele, não por falta de capacidade, mas porque seu coração permanecia atrelado ao passado.
Ele alimentava a esperança de recuperar o que sobrou de seu relacionamento com Lila, agarrando-se à crença de que ainda havia uma oportunidade. Existia entre eles algo que ele não conseguia soltar, uma conexão intensa que o fazia acreditar, de tempos em tempos, que ainda não era tarde demais. Que talvez, se tentassem novamente, pudessem descobrir um caminho para se reerguer - juntos.
Em sua essência, ele mantinha a crença de que ainda havia algo que valia a pena resgatar, um vestígio de amor, uma centelha que poderia ser reacendida se ambos se esforçassem e desejassem. Mas será que Lila compartilhava da mesma sensação? Ou ela já estaria tão distante, lidando com suas próprias feridas e cicatrizes?
Agora, sem a missão de salvar o mundo, sua batalha tornava-se mais íntima e complexa. As habilidades que um dia o tornaram um herói não eram mais necessárias; no entanto, talvez ele necessitasse de um desafio ainda maior: a vulnerabilidade. Precisaria confrontar não um adversário externo, mas a si mesmo, suas fraquezas e suas dores.
Ele estava preparado para tentar novamente, decidido a oferecer a Lila a oportunidade que acreditava que ambos mereciam. A esperança vibrava em seu coração enquanto pensava em como abordaria a situação, elaborando palavras cuidadosamente selecionadas e gestos autênticos que poderiam tocar profundamente o coração dela.
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Na aconchegante sala de estar, os Hargreeves estavam reunidos, engajados em conversas animadas enquanto comiam, bebiam e fingiam assistir aos filmes natalinos que passavam na TV. Apenas Claire parecia realmente interessada nos filmes com temática de Natal.
Desta vez, a família estava junta não para salvar o mundo, mas para comemorar a tão aguardada liberdade de suas antigas responsabilidades. Após inúmeras tentativas, finalmente estavam livres.
Cinco, no entanto, não parecia tão à vontade quanto os demais. Visivelmente desconfortável, mal havia dito mais de duas frases, o que naturalmente chamou a atenção de seus irmãos.
─ O que você tem? ─ indagou Luther, franzindo a testa, claramente confuso. ─ Você quase não falou nada, Cinco. Quando é que isso acontece?
─ Isso se chama pensar, Luther. Devia tentar um dia. ─ retrucou Cinco com desdém.
─ Ei...
─ Uou, uou, que deselegante, hein? ─ Klaus murmurou, falando de boca cheia. Estava mais entretido com as comidas de natal do que o papo entre os irmãos.
─ Cala a boca. ─ Cinco respondeu, indiferente.
─ Eu penso sim... que você é um babaca. ─ Luther rebateu, visivelmente ofendido.
─ O vovô não tirou o soninho da beleza. ─ Viktor debochou, provocando.
─ Dá pra gente não fazer isso agora? É Natal. ─ Allison interveio, tentando apaziguar o clima.
─ Não, sabe de uma coisa? Vamos fazer isso agora. ─ Cinco exclamou, levantando-se abruptamente do sofá. ─ Todos nós falhamos com o Ben, de novo. E não conseguimos fazer nada para evitar que ele morresse.
Claro, aquilo o corroía por dentro. Queria ter encontrado uma solução melhor, uma em que Ben não precisasse morrer. De novo. Mas não era só isso.
─ Cinco, vai ficar tudo bem. ─ Lila tentou intervir, sua voz calma em uma tentativa de apazigua-ló. ─ A gente fez o que podia.
─ Não, não vai ficar tudo bem! ─ Cinco rebateu, sua frustração evidente.
─ Opa! Não, não, não fala com a minha esposa desse jeito, cara. ─ Diego entrou na discussão, levantando-se da poltrona e se aproximando do irmão. ─ Não aqui, não durante o Natal.
─ E você vai fazer alguma coisa, seu babaca? ─ Cinco devolveu, sem hesitar.
─ Nossa. ─ Klaus murmurou, aproveitando a confusão para se levantar do chão e se acomodar no lugar que Cinco ocupava.
─ Vou sim. Vou te dar um soco na cara, moleque. ─ Diego ameaçou, mas antes que pudesse agir, Lila se colocou entre os dois, interrompendo o embate.
─ Ai! ─ interveio, separando os dois. ─ Eu quero que vocês parem, tá? ─ ela afastou Diego, colocando a mão em seu ombro, o que fez com que ele notasse algo em seu pulso.
─ O que é isso? ─ perguntou, franzindo o cenho.
─ O que é o quê?
─ Essa coisa no seu pulso. ─ Diego segurou o braço dela delicadamente. ─ Você detesta pulseiras.
─ Detesto não. ─ Lila respondeu de forma defensiva, claramente desconfortável.
Os irmãos no sofá assistiam à cena com atenção, como se estivessem vendo o último capítulo de uma novela dramática.
─ Detesta sim. Eu te dei uma no Dia dos Namorados e você trocou por um aspirador de pó! ─ Diego retrucou, seu tom acusador. Lila ficou em silêncio, e a sala inteira mergulhou em uma tensão desconfortável. Diego alternou o olhar entre Lila e Cinco. ─ Você deu essa pulseira pra ela?
Cinco manteve o olhar fixo no irmão, mas permaneceu em silêncio.
─ Responde a pergunta, Cinco. ─ Diego se aproximou ainda mais, tentando intimidá-lo, mas ele não recuou.
O clima na sala ficou tenso, e todos no sofá prenderam a respiração, esperando o desenrolar.
─ Eu que fiz. ─ Cinco finalmente respondeu, erguendo o queixo com firmeza.
─ Pra ela!?
─ Com certeza pra você é que não foi. ─ Cinco retrucou, sarcástico.
Diego se virou para Lila, já com uma ideia formanda em sua mente, mas relutando em acreditar que pudesse ser verdade.
─ Tem alguma coisa rolando entre vocês dois? ─ perguntou, a voz carregada de desconfiança.
Ele temia a resposta, mas sabia que seria pior se mentissem. No fundo, torcia para estar enganado.
E então, seu mundo desabou em questão de segundos.
Lila suspirou profundamente, seus olhos vagando por um ponto distante enquanto tentava encontrar as palavras certas. Cada segundo de silêncio parecia pesar ainda mais no ar entre eles.
─ Diego... ─ foi tudo o que ela disse, mas foi o suficiente para que ele e todos os outros entendessem.
─ Não... ─ Diego desviou o olhar, incapaz de continuar a encará-la. ─ Caralho!
A reação de todos foi imediata. As bocas se abriram em choque, e murmúrios perplexos preencheram o silêncio da sala.
─ Puta que pariu! Caralho, eu tava certo! ─ Diego explodiu, voltando-se para Lila. ─ O clube do livro, esse tempo todo eu sabia que você tava me traindo com esse merdinha!
─ Eu não tava te traindo... Quer dizer, não enquanto achou que eu tava. ─ Lila tentou argumentar, hesitante.
─ Vambora, é melhor a gente ir. ─ Allison murmurou para Luther, tocando levemente o ombro dele.
─ Não, não se abandona fofoca no meio! ─ Klaus protestou, determinado a acompanhar o desenrolar da cena.
Diego se aproximou de Cinco novamente, a fúria estampada no rosto.
─ Você transou com ela?
─ Calma, você tem que me ouvir, tá? ─ Lila se colocou entre os dois de novo, afastando Diego com urgência, temendo que a situação explodisse de vez. ─ Mesmo que isso soe muito estranho, me escuta. O Cinco e eu... Nos perdemos no metrô.
Diego soltou uma risada nervosa, incrédulo diante da explicação absurda que acabara de ouvir.
Mas, mesmo sendo verdade, isso não justificava o que os dois fizeram. Diego confiava neles, confiava em sua esposa, confiava em seu irmão. Trair essa confiança era uma das coisas que doía mais.
─ Não é um metrô qualquer. ─ Lila continuou. ─ É um cruzamento entre linhas do tempo alternativas no mesmo momento.
─ Sei, e você acha que eu vou acreditar nessa palhaçada? ─ indagou, retórico, cruzando os braços.
─ Ela está falando a verdade. ─ Cinco afirmou. ─ Ficamos perdidos, não conseguimos encontrar o caminho de volta.
─ A gente procurou por sete anos, Diego. ─ Lila prosseguiu.
Mas nada que ela dissesse poderia diminuir o estrago já causado. Nenhuma justificativa iria fazer a insuportável sensação de insuficiência passar. Diego já não a olhava da mesma forma; ele não a via mais como antes. Não mais.
Ele tentou conter as lágrimas de decepção que ameaçavam transbordar, fechando os olhos por um breve momento enquanto abaixava a cabeça. Sentou-se no puff, de costas para a lareira crepitante, afundando o rosto entre as mãos em busca de consolo.
Lila se acomodou ao lado dele, o coração apertado, procurando as palavras certas para explicar melhor o que realmente havia acontecido.
─ A gente ia de uma linha do tempo pra outra, e não fazia ideia do que ia encontrar. ─ começou, com a voz trêmula. ─ Fomos perseguidos, atacados, e até baleados. ─ seu olhar encontrou o de Diego quando ele finalmente a encarou, e naquele momento, a dor nos olhos dele a atingiu em cheio. ─ Eu nunca parei de tentar encontrar o caminho de casa.
As lembranças daquelas experiências a atormentavam, e Lila se lembrou das noites sem dormir, dos sustos e dos sufoco, da constante luta pela sobrevivência. Ela se esforçou para transmitir a intensidade daquilo que viveram, na esperança de que Diego pudesse entender a profundidade de sua dor e a impossibilidade de uma escolha simples.
Ele desviou o olhar para um ponto qualquer no chão, perdido em seus pensamentos. Perguntava-se como e quando haviam chegado a esse ponto. Jurava que ainda havia salvação para eles, uma forma de continuar o que havia começado de maneira errada, uma jornada que, pelo visto, também estava chegando ao fim da mesma forma.
─ Mas eu fiquei cansada e precisei parar. E foi aí que aconteceu. ─ Lila concluiu, a voz embargada pela emoção.
Diego respirou fundo antes de falar.
─ Você ama o Cinco? ─ perguntou, a pergunta saindo como um sussurro. Ele temia a resposta, mas precisava saber; a incerteza o consumia.
Naquele momento, ele não tinha ideia do que realmente sentia. A mistura de raiva, ódio, decepção e mágoa era esmagadora, enquanto o amor parecia uma lembrança distante, quase inexistente.
Cinco a olhou, assim como os outros, que observavam a cena com pesar por um irmão e raiva pelo outro. A tensão no ar era palpável, e cada um dos Hargreeves sentia o peso da situação.
─ Diego, agora não é... ─ Lila tentou desconversar, mas foi interrompida.
─ Você ama ou não? ─ ele a pressionou, seus olhos fixos nos dela, exigindo uma resposta. A intensidade de seu olhar refletia sua dor e sua vulnerabilidade, e ele não conseguia se afastar daquela necessidade urgente de saber.
Mas Lila não respondeu. O silêncio se instalou entre eles, pesado e carregado de significado. Ela não precisava dizer nada; seu silêncio ensurdecedor falava por si só.
E Diego, consumido pela decepção, tomou isso como uma resposta clara e definitiva, a confirmação de que o que ele temia havia se tornado realidade.
Não havia mais volta.
─ Já respondeu minha pergunta. ─ afirmou, levantando-se de seu assento. Sem pensar duas vezes, pegou um casaco e vestiu-o rapidamente, sua necessidade de escapar se tornando urgente. Ele precisava sair daquela casa o mais rápido possível, antes que cometesse uma loucura que o fizesse perder o controle.
─ Onde você vai? ─ Lila perguntou, levantando-se também, a preocupação em sua voz.
─ Pra algum lugar onde eu não tenha que olhar pra a cara de vocês. ─ respondeu, dirigindo-se para a porta da frente. Ignorou os chamados da ex-esposa, cada palavra dela ecoando em sua mente, mas ele não estava disposto a ouvir. A necessidade de se afastar, de respirar longe daquela dor, era mais forte do que qualquer outra coisa.
Era doloroso e estranho pensar em Lila daquela forma. Ex-esposa.
Ele estava tão acostumado àquela dinâmica que nunca imaginou que chegaria a esse ponto; confiava plenamente nela, e ela nunca lhe deu motivos para duvidar. E o pior: era uma traição dupla, pois seu irmão estava no meio disso tudo.
Aquela revelação tornava a dor ainda mais insuportável e difícil de lidar. A traição não era apenas de Lila, mas de alguém que deveria ser seu aliado. Fugir era o melhor que ele poderia fazer naquele momento, a única maneira de evitar um colapso emocional que parecia iminente. Ele precisava de espaço para processar a tempestade de sentimentos que o consumia, longe de rostos familiares que agora se tornavam estranhos e desconfortáveis.
Após a saída abrupta de Diego, o ambiente na casa ficou insuportavelmente pesado. Todos os irmãos sentiram que qualquer tentativa de manter a celebração seria forçada. Allison, visivelmente desconcertada, foi a primeira a sair, segurando a mão da filha e lançando um olhar resignado para Lila. Klaus, sem perder a oportunidade, decidiu ir junto com elas, balançando a cabeça como se quisesse afastar a tensão da situação.
Luther não demorou muito para seguir o mesmo caminho, lançando um rápido aceno de cabeça para os que ficaram, claramente sem palavras para expressar o que sentia.
Viktor, o último a sair, parou por um momento na porta, olhando diretamente para Cinco. ─ Mandou mal, cara ─ disse, com a voz baixa, mas firme.
Cinco, sentado no sofá, não demonstrou qualquer reação. Continuou encarando o nada, ignorando completamente os olhares de desapontamento que havia recebido dos outros.
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