CHAPTER 9. chalet in Berkeley

9. CHALÉ DE BERKELEY

Na segunda-feira minha mãe acordou cedo para preparar as coisas para o feriado. Sairíamos de casa às oito da manhã para chegar em Berkeley até às dez e conseguir caminhar até a cachoeira antes do almoço. Isso poderia até ter dado certo, mas tia Liz não era o sinônimo de pontual.

Mamãe estava irritada com o atraso de Liz – o que ela já deveria ter se acostumado, assim como eu já estava – tanto que decidiu que iríamos ir na frente caso Elisa não atendesse a ligação.

— Da próxima vez eu marco às seis para estar lá ao meio dia. — Murmurou. —Finalmente você atendeu, Elisa!

Mamãe começou a dar uma de suas lições de moral em sua melhor amiga, mesmo sabendo que ela não iria prestar atenção em nenhuma palavra. Pelas informações repassadas à mim, passaríamos na casa da tia Liz para buscar Asher e depois iniciar o percurso. O motivo do atraso era Andrew, que foi convidado de última hora e resolveu demorar demais no banho. Eu não sabia se Diana iria, mas sabia que se passássemos uma semana na mesma casa, seria um grande desconforto para mim.

— A namorada do Andrew vai? — Questionei minha mãe assim que estacionamos na frente da casa dos Hawks.

— Não sei, querida. Mas eu acho que sim. Os dois moram juntos, provavelmente ela não irá desgrudar dele. — Esclareceu e eu assenti, virando para a casa e observando Asher carregar sua mochila camuflada. — Cadê o resto de suas roupas, garoto?

— Tudo o que eu preciso está aqui, Docinho. — Sorriu. — Aproveitem que hoje eu acordei de bom humor, família!

Aurora revirou os olhos e deu a partida no carro. Eu queria perguntar para Asher se Diana nos acompanharia, mas depois de dez minutos na estrada ele adormeceu no banco de trás.

Alguma música da Normani — que eu só sabia o refrão tocava na rádio —, mas eu estava tão desanimada que o volume me deixava ainda mais estressada.

— Aconteceu alguma coisa que você gostaria de me contar? — Mamãe perguntou e eu a olhei, pensando se falava ou não. — Eu sei que há algo de errado.

— Eu fiz besteira no baile de máscaras. — Suspirei, fazendo careta. — E eu não fiz sozinha.

— Transou sem preservativo?!

— Não, claro que não. E-eu...

— Desembucha, garota!

— Ela e o Drew se beijaram, tia Aurora. — Ao ouvir a voz de Asher, o meu coração disparou.

Não sabia qual seria a reação dela, mas ela permaneceu em silêncio e eu só queria que ela me falasse algo.

— Ele... não tem namorada?

— Isso é complicado, mãe. E eu vou te matar, Asher! — Esbravejei e Asher riu, fazendo bico e ajeitando o boné na frente dos seus olhos para voltar a dormir.

Depois de explicar tudo o que havia acontecido no baile e contar o motivo de ter dormido fora, minha mãe não sabia o que falar. Claro que eu tinha a consciência que a culpa desse transtorno não era cem por cento minha, e que Diana tinha beijado outro garoto, mas isso acabava pesando em minha mente.

Quando chegamos na Chalé, fui direto para o meu quarto. Na verdade, o quarto em que eu iria dividir com Asher. Estávamos animados. Passar quase uma semana inteira seria divertido.

Apesar de tudo, eu ficaria sem trabalhar por uma semana, ou seja, ficaria sem receber por uma semana também. É, teria uma grande diferença no final do mês.

­— Eu fico com a cama da janela! — Asher passou por mim como um furacão, fazendo com que eu me desequilibrasse e quase caísse. Graças a porta, eu me firmei antes que algo acontecesse.

— Você parece uma criança animada!

— Mas eu sou uma criança animada. Olha esse lugar... é incrível!

E de fato, era.

A casa inteira era de madeira e havia dois andares. Todos os quartos e um banheiro ficavam no segundo andar, enquanto o banheiro social, a cozinha e a sala ficavam no andar debaixo. A cama da janela que Asher tanto queria, oferecia uma vista para a linda cachoeira que ficava há poucos metros daqui. Apesar do silêncio, as águas caindo preenchiam o ambiente.

— Vamos na cachoeira agora. Espero que estejam com uma roupa confortável. — Liz avisou e nós assentimos, largando nossas mochilas e seguindo a loira escada à baixo.

Andrew e Diana haviam ido na frente, mas minha mãe e tia Liz resolveram nos esperar. Quanto mais chegávamos perto, a gritaria de pessoas ficavam mais altas. Além da música agitada, claro.

Quando chegamos, vários homens e mulheres estavam na beira da cachoeira. Pareciam ter a minha idade, talvez um pouco mais velhos que eu.

— Quem diria que eu iria gostar tanto de uma cachoeira, hein? — Asher sorriu maliciosa assim que uma morena passou por nós, fazendo careta quando ouviu o comentário do garoto. — O que foi? Eu gosto de água!

— Aposto que gosta.

Asher sorriu e foi junto do seu irmão, me deixando sozinha. Aproximei-me de minha mãe e ela lançou um sorriso materno assim que me viu. Deitei minha cabeça em seu ombro e cruzei os braços, olhando tudo em minha volta.

— Lugar bonito, não é? — Disse. — Eu vim aqui algumas vezes quando ainda estava na faculdade. Lembro que aqui sempre estava lotado de universitários e, pelo que eu vejo, não mudou nada.

Antes que eu pudesse responde-la, um dos universitários se aproximou de nós. Ele era extremamente bonito, diga-se de passagem. O garoto era bem alto e tinha um abdômen definido. Seus olhos eram um tom caramelo e passava a mão nos fios castanhos. Estava completamente molhado e usava apenas uma bermuda. A barba era rala e havia uma pequena cicatriz em sua bochecha.

Não demorou para que Andrew, Diana e Asher se juntassem a nós. Asher manteve os braços cruzados e os olhos semicerrados, desconfiando de tudo em sua volta.

— Quem é você, meliante? — Asher indagou, com a sua habitual postura marrenta.

— Meu nome é Jason. Moro em Daly City. — Talvez eu possa ser muito convencida, porém parecia que Jason não tirava os olhos de mim. — E vocês, são de onde?

— Palo Alto. — Respondi rapidamente. Ignorei as sobrancelhas arqueadas que Asher me lançou. — Sou a Ariel.

— Nome de princesa para uma bela princesa. — Flertou e eu sorri de canto.

— É sério que você vai flertar com a Ariel sendo que a mãe dela está do seu lado? – Asher perguntou indignado, arrancando uma gargalhada de Aurora e Liz.

— Ela não é mais criança, não é? — Antes que alguém pudesse falar qualquer coisa, quatro garotos começaram a chamar por ele. Ele voltou a atenção para nós e deu de ombros. — Já que vocês estão só de passagem, apareçam aqui à noite. Vai rolar um luau. Você pode trazer seu cãozinho de guarda também, Ariel.

Andrew cospe a água que estava bebendo da garrafa ao tentar prender o riso e Asher lança um olhar fulminante para os dois universitários. Jason pisca e se vira, indo em direção aos seus amigos.

— Gostei daquele cara. — Drew sorriu sapeca para o irmão mais novo, que agora carregava uma expressão emburrada. — Vamos cãozinho de guarda, não se deixe abalar.

Asher acabou marcando o braço de Andrew com um soco e o maior riu, como se aquilo não houvesse efeito algum em seu corpo musculoso.

Quando voltamos para o chalé, fui direto para o meu quarto organizar minhas coisas. Asher preferiu deixar seus pertences todos jogados pela cama e eu não iria mover um dedo para mudar isso.

Uma música tocava na cozinha enquanto tia Liz e minha mãe faziam almoço. O som ambiente dava para ser ouvido daqui e eu aproveitava para escutá-la enquanto arrumava as minhas roupas.

— Toc toc. — Olhei para a dona de voz e Diana estava encostada no batente da porta, agora com a entrada mais exposta. — Posso entrar?

Assenti e ela seguiu caminho, sentando-se em minha cama. Permaneci em silêncio e ela também. Era aquele tão famoso silêncio constrangedor e aquilo estava me deixando ainda mais nervosa.

— Você está me evitando? — Questionou.

— Não, claro que não. Por que eu faria isso?

— Não sei. Toda vez que eu tento chegar perto você faz algo pra se distanciar. — Esclareceu. — Olha, Ariel, se você está com a consciência pesada por causa do Drew, pode ficar tranquila. A última coisa que eu quero é criar uma rivalidade feminina por conta de um acidente.

— Desculpa por beijar seu namorado.

— Não foi proposital e eu sei que não significou nada para ambos. — Sorriu carinhosa. — Amigas então?

Eu estava desenhando algumas roupas, sentada na cadeira de balanço, localizada na varando do chalé. O vento gélido e o som das árvores acabavam se tornando uma ótima inspiração. Eu amava o trabalho que minha mãe fazia e desde criança eu gostava de desenhar roupas para as minhas bonecas e pedia para Aurora costurá-las. Anos depois, quando não havia mais perigo aparente, minha mãe me ensinou costurar e me deu um manequim de presente. Agora, toda vez que estou fazendo um desenho, o manequim é o meu modelo particular.

Meu sonho sempre foi abrir uma loja de roupas com marcas exclusivamente minhas. Meus desenhos sairiam do papel e de um manequim e poderiam ser usada por pessoas que eu nunca vi em toda minha vida.

Já estava escuro quando Andrew saiu do Chalé e sentou-se nos degraus de entrada. As árvores e os grilos eram as únicas coisas que poderiam ser escutadas. Além do meu lápis marcando a folha, claro.

— Vai ficar esse clima estranho entre nós? — Indagou, chamando a minha atenção.

— Você não esperava que fosse diferente, certo? — Respondi, sem tirar a minha atenção da jaqueta de couro que eu estava quase terminando. — Nos beijamos na frente da sua namorada, Andrew. Éramos melhores amigos. Até você fugir e nunca mais ligar.

— Eu nunca fugi.

— Quem não se despede e deixa a melhor amiga te esperando que nem uma idiota num parque é porque fugiu. — Retruquei, ainda sem olhá-lo.

— Você guarda rancor de mim, Ariel? — Foi naquele exato momento em que eu o olhei, pela primeira vez desde que havia sentado na escada.

Andrew não usava sua roupa pesada habitual. Ele usava apenas uma bermuda e uma camiseta cinza, deixando seus pés tocarem na folhagem seca.

Andrew me encarava firmemente, esperando uma resposta minha. Assim que ele notou que o silêncio já lhe havia dado a resposta, soltou um suspiro e desviou seu olhar para as árvores.

— Eu não queria ter te deixado. — Murmurou. — A morte dele foi difícil para mim.

— Você acha que para mim também não foi? Trey era como um pai pra mim. —Proferi ríspida e Andrew se calou.

— Você está certa. Mas olha pelo lado bom: O Asher é seu novo melhor amigo. — Andrew sorriu, como se aquilo fosse resolver tudo.

— Cale a boca, Andrew.

Levantei-me e adentrei a residência, indo em direção ao meu quarto com a intenção de me arrumar para o luau. Asher estava deitado em sua cama lendo um gibi qualquer de super-herói. Ele estava tão concentrado que nem percebeu a minha entrada.

— Anda, a festa já começou. — Mandei, jogando uma camiseta limpa no rosto de Asher.

Levei meu biquíni e a muda de roupa para o banheiro e me troquei rapidamente, fazendo um rabo de cavalo nos meus fios escuros. Assim que saí, Asher já estava pronto e com cara de quem iria aprontar.

— Estamos indo, mãe! — Avisei e ela fez jóinha, sem tirar os olhos do filme antigo que assistia junto com Liz.

— Espere a gente! — Não demorou muito para que Diana e Andrew aparecessem em nosso campo de visão. Diana estava sorridente e Andrew não parecia estar animado com a ideia. — Eu adoro festas universitárias.

Ri e abri a porta, iniciando um caminho até a cachoeira. Quando chegamos, o lugar estava bem mais movimentado do que mais cedo e havia latinhas de cerveja em todo canto do mato.

Procurei por Jason com os olhos e não o encontrei em lugar algum. A falta de gente que estava no controle da situação me deixava nervosa.

— Você veio! — Olhei para trás e o moreno carregava um sorriso estampado em seu rosto. Ele tinha duas latas de cerveja na mão e umas elas ofereceu para mim. — Não está batizada e nem nada, não tenho capacidade pra esse tipo de coisa.

Sorri e assenti. De qualquer jeito, eu morava bem mais perto que algum pervertido e tinha a consciência de correr o mais rápido possível caso eu sentisse uma ameaça por perto.

— Fiquem a vontade. — Sorriu. — E você vem comigo.

Jason agarrou minha mão e me puxou para o meio de seus amigos, me apresentando para todos eles. Cada um faziam um curso diferente, mas moravam na mesma fraternidade.

— Quer entrar? — Jason apontou para a água e eu sorri, dando de ombros. – Primeiro as damas, então.

Tirei minha camiseta e meu short e joguei em algum lugar próximo. Mergulhei na água e logo senti a água se mexendo, avisando que mais alguém havia entrado também.

— Belo nome, belo rosto, belo corpo, belo humor e belo caráter. Você é real mesmo ou apenas uma miragem? — Brincou e eu ri, jogando um pouco de água em seu rosto. — Você gosta de carros também? Pois se gostar, eu te agarro aqui mesmo.

— De carros eu não gosto muito. Mas dirijo um. Serve também? — Questionei e ele sorriu de lado, se aproximando e colocando uma de suas mãos em minha cintura submersa.

— Acho que serve. — Piscou e eu segurei seu rosto, depositando um selinho em seus lábios.

O beijo logo se estendeu e eu entrelacei meus dedos em seus fios de cabelo, dando leves puxões. Ele apertava ainda mais a minha cintura, porém não baixou a mão em nenhum momento, sinalizando respeito.

— Belo beijo também. — Disse, ao nos separarmos. — Tô achando que você é um anjo, porque real não pode ser.

— Vou pegar uma lata de cerveja. Quer uma? — Perguntei e ele negou, continuando na água.

Ao sair e vestir meu short, comecei a procurar por algum baú que ainda houvesse alguma lata. Elas já estavam acabando, então algumas garotos foram para a cidade comprar mais.

O único baú que tinha cerveja era um pouco distante da cachoeira e me peguei agradecendo por conseguir pegar a última.

— Está sozinha? — Ouvi uma voz masculina e eu olhei assustada para trás, dando de cara com algum universitário desconhecido. — Essa é a última lata?

— Sim.

— Quer fazer uma boa ação e me dar?

— Vai sonhando. — Ri, pensando que ele só estava brincando. Mas pode acreditar, ele não estava. O homem começou a se aproximar e minha pele se arrepiou de medo assim que ele colocou sua mão gelada em mim, colocando-me contra uma árvore. — Me solta!

— Já que não vai me dar a cerveja, poderia me dar outra coisa, não é?

O cara era bem mais alto e forte que eu. O tronco da árvore arranhava as minhas costas e eu tinha certeza que em alguns arranhões já teria um pouco de sangue. Tentei inúmeras vezes me soltar, mas ele parecia se prender ainda mais a mim.

E aí, o que vocês acharam só novo personagem? Aprovado??

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